sábado, 25 de janeiro de 2020

O impacto decisivo da inteligência militar francesa na ofensiva alemã de Marneschutz-Reims


Por David Retherford e Richard WillisStrategy Bridge, 29 de julho de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 06 de agosto de 2019.

15 de julho de 1918 viu o início da quinta e última ofensiva alemã da Primeira Guerra Mundial. Naquele dia, os alemães lançaram a fase de abertura da Segunda Batalha do Marne, com o codinome de Operação Marneschutz-Reims, mudando todo o ímpeto da guerra das Potências Centrais para a Entente. Um dos principais fatores que contribuíram para essa mudança foi a inteligência tática de combate. [1] Este artigo analisa o processo de análise e disseminação dessa inteligência. [2] A educação militar profissional (PME) ou os leitores especializados encontrarão essa batalha e a subsequente mudança de de ímpeto interessantes e leitores comuns serão igualmente envolvidos por uma narrativa orientada pela inteligência.[3]

[1] Heymont, Irving. Combat Intelligence in Modern Warfare. (Harrisburg: Military Service Division The Stackpole Company, 1960), pg 6.
[2] Heymont, Irving, pg 6.
[3] Neiberg, Michael. The Second Battle of the Marne. (Bloomington: Indiana University Press, 2008), pg 131.

Ludendorff em seus estudos no Quartel-General do Exército. (Arquivos Federais Alemães/Wikimedia)

Em meados de 1918, os alemães estavam procurando um golpe decisivo pelo qual a Entente seria forçada a buscar a paz. [4] O Primeiro Intendente-Geral Erich Ludendorff detalhou o ataque em 14 de junho: o Sétimo Exército atacaria a área do rio Marne (o elemento de defesa Marne) em torno de Mery, enquanto o Primeiro Exército atacaria a leste de Reims, com 10 de julho destinado a um ataque ao longo de uma frente de setenta e quatro milhas (113km). [5] O ataque foi planejado como uma distração, com o alvo principal em outro ataque mais ao norte, no Flandres, planejado para o início de agosto - Operação Hagen. O objetivo era atravessar o Marne e enganar os aliados a acreditarem que o alvo era Paris, para que os franceses e britânicos precipitassem suas reservas para proteger a capital francesa, causando pânico entre a população francesa.

[4] Neiberg, Michael, pg 77.
[5] United States. General Service Schools, and Conrad Hammons Lanza. The German Offensive of July 15, 1918 (Marne Source Book). Fort Leavenworth, Kan.: The General Service Schools Press, 1923, pg 11-12; Zabecki, (2004), pg 460.

Um mês de preparação proporcionou a oportunidade de completar planos meticulosos, mas também teve dois efeitos colaterais infelizes. Primeiro, o planejamento estendido permitiu que Ludendorff estendesse o escopo original em uma operação maior, exigindo significativamente mais mão-de-obra. Segundo, os eventos no terreno significavam que logo após os planos serem elaborados, eles tiveram de ser descartados e redesenhados. Embora parte integrante da guerra, era perceptível que muitas divisões foram ordenadas a se mover para novos locais, apenas para que essas ordens fossem mudadas e às vezes mudadas novamente - muitas vezes depois de terem começado o movimento - causando perturbação, atraso e frustração nas tropas envolvidas.

A inteligência militar desempenhou um papel fundamental no apoio ao planejamento da ofensiva e foi responsabilidade do Departamento Abteilung IIIb, reportando-se ao Oberste Heeresleitung, Comando Supremo do Exército alemão. A culpa pelo fracasso da ofensiva pode ser rastreada até falhas sistêmicas e operacionais evidentes dentro do Abteilung IIIb, enquanto a disciplina ruim do exército e o acaso também desempenharam um papel. Embora o Deuxième Bureau, a Inteligência Militar francesa, usasse as mesmas fontes e tipos de informações disponíveis a todos os beligerantes - interrogatórios de prisioneiros, reconhecimento aéreo, observação visual, documentos capturados e espionagem -, ele demonstrou uma capacidade superior de interpretar a inteligência resultante em comparação ao Abteilung IIIb.[6]

[6] Gauché, Capitaine (1924), ‘La recherche du renseignement avant la bataille du 15 juillet 1918,’ La Revue d’infanterie, dezembro, pg 831.

As quatro ofensivas anteriores seguiram um padrão similar de ataque. Os alemães usaram surpresa tática com três componentes principais: lugar, tempo e peso. [7] Com base nessa experiência, o Alto Comando francês acreditava que sabia o que esperar quando o ataque começou. Mas a chave seria obter informações sobre a localização exata e, tão importante quanto, a data do ataque. Entender a força e o tamanho da força de ataque também ajudaria a determinar os requisitos de qualquer resposta defensiva.

[7] Falls, Cyril. The Great War (New York: G.P. Putnam's Sons, 1959), pg 349.

Ao contrário dos alemães, que estavam obcecados em saber qual divisão da Entente em frente às posições alemãs, os franceses não estavam particularmente interessados nesse nível de detalhe. Os franceses se basearam em ofensivas anteriores de que a maioria das tropas de choque alemãs chegou à linha de frente no último minuto - precisamente antes do ataque -, tornando a identificação prévia das unidades na linha um exercício inútil. Era, portanto, importante que os franceses levassem a coleta de informações para áreas remotas usando reconhecimento aéreo distante para identificar movimentos mais gerais de tropas e suprimentos.

Apesar de ser expressamente proibido por Ludendorff, em 30 de junho um oficial pioneiro alemão nadou até a margem sul do Marne e foi devidamente capturado. [8] Esta foi a descoberta de inteligência que o Deuxième Bureau procurava. O interrogatório do oficial pioneiro revelou a localização exata da próxima ofensiva alemã e uma data aproximada no início de julho. Isso foi então confirmado por espiões franceses baseados em Madri - na Espanha neutra - como provavelmente no dia 4 de julho. No entanto, nenhum ataque ocorreu naquela data e o Deuxième Bureau ordenou ao Quarto Exército que redobrasse seus esforços e enviasse mais grupos incursores para capturar documentos e prisioneiros.

[8] Ludendorff, Eric (1919) A história do próprio Ludendorff, de agosto de 1914 a novembro de 1918; a Grande Guerra desde o cerco de Liège até a assinatura do armistício visto do grande quartel-general do Exército Alemão, pg 308.

Os franceses ordenaram que todas as divisões ao longo da frente de 50 quilômetros ocupada pelo Quarto Exército francês participassem de incursões para capturar soldados alemães, especialmente oficiais, com o objetivo de obter informações sobre o que sabiam sobre a planejada ofensiva alemã. Um estudo do Sexto Exército francês divulgado no dia 4 de julho indicou que um ataque estava agendado para o dia 9 entre Reims e Château-Thierry.[9] Isso incluía o conhecimento das florestas nas quais as tropas já estavam se reunindo e um aumento notável no tráfego de aeronaves e veículos na área. Treze prisioneiros capturados em 5 e 6 de julho na área a leste de Suippe apresentaram mais evidências de que um ataque era iminente.[10] Apesar de repassar livremente os detalhes do ataque às autoridades francesas, todos os prisioneiros forneceram uma história notavelmente consistente, o que despertou a suspeita do Deuxième Bureau. Mas a história também continha elementos de fato, os quais o Deuxième Bureau conseguiu reunir, indicando a localização geográfica do ataque como sendo Reims. Um dia depois, três prisioneiros franceses fugidos escaparam de volta para as linhas francesas - todos confirmaram um ataque alemão iminente. Pouco a pouco, o Deuxième Bureau eliminou as opções e reduziu a localização provável do ataque, melhorando as chances de interceptar o avanço.

[9] Marne Sourcebook, pg 383.
[10] Gauché, pg 813.

Prisioneiros alemães sendo guardados por tropas australianas, 23 de abril de 1918. (Museu Imperial de Guerra/Wikimedia)

Em 10 de julho, o Deuxième Bureau estava confiante o suficiente para publicar um relatório de inteligência afirmando que um ataque alemão de 28 divisões atravessaria o Marne por volta do dia 14 entre Jaulgonne-Vrigny, na direção de Epernay. Simultaneamente, haveria um ataque de 16 divisões na frente Suippe-Main de Massiges na direção de Châlons e um terceiro ataque na frente Pompelle-Suippe por 14 divisões.[11] Isto foi confirmado por novas capturas de prisioneiros, revelando que a ofensiva recebeu o codinome Friedensturm (a Ofensiva da Paz) e o ataque seria em uma frente de 150 quilômetros a oeste e leste de Reims, enquanto a cidade em si não seria atacada frontalmente.[12] Uma série de explosões violentas em depósitos de munição entre 7 e 11 de julho foi mais uma prova de que munição adicional havia sido trazida para perto da primeira linha e já estava em posição. Um grande número de Minenwerfers [morteiros] com copiosos suprimentos de munição nas proximidades foram localizados em K2 e K3, a segunda e terceira trincheiras de combate, juntamente com um número extremamente grande de metralhadoras logo ao norte do rio.[13] Um relatório de interrogatório datado de 12 de julho explicou que os soldados foram capturados com uma reserva de comida de três ou quatro dias. O que a princípio poderia parecer banal era, na verdade, uma forte indicação da data iminente do ataque. Além disso, 14 de julho foi o Dia da Bastilha, um feriado nacional francês, e isso foi considerado significativo por causa da chance de que a população francesa pudesse temporariamente baixar a guarda enquanto comemorava.

[11] Nota do 2e bureau/GQG n° 9056 », citado no SHD/GR e no 16 nº 917:« Relevé chronologique et analyse succincte des principaux ordres, instructions, directives et études concernant la recherche et le traitement des renseignements personnels au cours de la campagne », GQG/2e bureau, 17 de julho de 1919.
[12] Marne Sourcebook, pg 298. Gauché, pg 814.
[13] Gauché, pg 827.

Uma incursão executada por quatro oficiais e 170 homens do 366º RI francês sob o comando do tenente Balestie às 19:55 de 14 de julho capturou 27 prisioneiros das 73ª e 19ª Divisões de Reserva e dos 7º e 11º Batalhões de Minenwerfers.[14] Entre os documentos capturados, havia um mapa do sistema completo dos Minenwerfers, incluindo direções de disparos e objetivos. Mas foi um comportamento acidental de um prisioneiro alemão capturado que finalmente entregou o jogo. Um oficial e 19 homens da 19ª Divisão de Reserva alemã foram capturados no setor do Quarto Exército francês às 21:30 do dia 14 e insistiram em ter suas máscaras de gás urgentemente devolvidas a eles.[15] Suspeitoso, o guarda perguntou por que os alemães exigiam suas máscaras de gás. Percebendo que ele havia revelado involuntariamente que um ataque alemão era iminente e que envolveria gás, o prisioneiro admitiu que um ataque começaria com uma preparação de artilharia envolvendo grandes quantidades de gás à meia-noite por quatro horas, seguido de um assalto de infantaria protegido por um barragem rolante.[16] Esta peça final do quebra-cabeça foi urgentemente comunicada à cadeia de comando, dando aos franceses tempo suficiente para organizar seu próprio ataque de artilharia. Às 23:45 isto foi passado pelo XXXVIII Corpo francês para a 3ª Divisão norte-americana na linha de frente a leste de Château-Thierry.[17] Às 23:50, apenas dez minutos antes do início da planejada ofensiva alemã, a artilharia pré-arranjada abriu fogo sobre pontos de reunião conhecidos, amontoados de soldados prontos para subir as trincheiras e fogo de contra-bateria sobre posições da artilharia alemã, causando baixas generalizadas e explosões em vários depósitos de munição.

[14] Révue Militaire Française (1923): Un coup de main historique exécuté par la 132e DI le 14 Juillet 1918.
[15] Lahaie, Olivier (2014) LES INTERROGATOIRES DE PRISONNIERS ALLEMANDS PAR LES SERVICES DE RENSEIGNEMENTS FRANÇAIS (1914-1918).
[16] Era 01:00h no horário alemão.
[17] Marne Sourcebook, pg 645.

Soldados alemães avançando passam por uma posição francesa conquistada, entre Loivre e Brimont, departamento do Marne, 1918. (Wikimedia)

O martelo alemão caiu à meia-noite de 15 de julho de 1918, com unidades conseguindo cruzar o Marne mais tarde naquela manhã. O ímpeto tinha estado com os alemães depois de cada ofensiva, mas desta vez os Aliados não só resistiram à barragem, mas, graças a um sistema de defesa em profundidade mais eficaz, foram capazes de quebrar o ataque e reduzir a sua eficácia. O ataque durou mais três dias, mas mesmo no dia 16 Ludendorff admitiu a derrota e emitiu ordens para suspender a ofensiva ao sul do rio e continuá-la apenas nas proximidades de Reims. De acordo com o historiador Jonathan Boff, “quando Marneschutz-Reims começou em 15 de julho, ela não ocorreu de forma alguma [de todo] com o planejado”.[18] Além disso, o historiador David Zabecki afirmou que um dos fracassos críticos da ofensiva alemã de 15 de julho foi a falta de surpresa.[19] A batalha é geralmente reconhecida como sendo o ponto de virada da guerra, sinalizando o fim da capacidade militar alemã de realizar operações ofensivas. Três dias depois, os aliados lançaram sua contra-ofensiva e, daquele dia até o armistício, o ímpeto passou das Potências Centrais para a Entente. O chanceler alemão, von Hertling disse mais tarde, “Nós esperávamos eventos graves em Paris para o final de julho. Isso foi no dia 15. No dia 18, até os mais otimistas entre nós entenderam que tudo estava perdido. A história do mundo foi esgotada em três dias.”[20]

[18] Boff, Jonathan. Haig’s Enemy. (Oxford: Oxford University Press, 2018), pg 231.
[19] Zabeki, David. The German 1918 Offensives. (New York: Routledge, 2006), pg 254, pg 271,pg 273.
[20] Von Hertling citado em Pershing John J, My experiences in the World War. Volume II 1931, pg 472.

Conclusão

Embora seja verdade que a inteligência de combate não disparou nenhuma granada de artilharia nem desmantelou nenhum ataque de infantaria, ela colocou informações oportunas e acionáveis nas mãos dos tomadores de decisão franceses. Mas não foi só porque o plano alemão falhou em ser levado a cabo adequadamente ou que os elementos do plano eram claramente fundamentalmente falhos. O fracasso teve tanto a ver com o fato do plano ter sido descoberto pelo Deuxième Bureau, permitindo a preempção da Entente, como teve com quaisquer limitações na execução alemã desse plano.

David Retherford é graduado pela University of Florida e possui mestrado pela Birmingham University. David está atualmente trabalhando em um segundo mestrado com foco em pesquisa sobre coleta de inteligência americana durante a Primeira Guerra Mundial.

Richard Willis é PhD em Estratégia e Mudança de Organização pela University of Newcastle e é graduado pela University of Aberdeen. Richard está atualmente trabalhando em uma monografia da AEF e BEF lutando com o Décimo Exército francês durante a Segunda Batalha do Marne.

Bibliografia recomendada:

Pyrrhic Victory:
French strategy and operations in the Great War.
Robert A. Doughty.

Leitura recomendada:

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

FOTO: Manobra Conjunta entre Rússia e China, 2019

19º Destacamento Spetsnaz "Ermak" da Guarda Nacional russa com seus colegas chineses da unidade "Lieying" da Polícia Militar chinesa, 2019. (Foto de Alexandr Kryazhev)

O exercício foi parte dos treinamentos conjuntos sino-russos da manobra "Cooperação 2019", ocorrida no Distrito de Toguchinsky, Oblast de Novosiribirsk, na Rússia.

A Guarda Nacional da Federação Russa (seu nome oficial) foi formada em 2016 por ordem direta do Presidente Vladmir Putin, para evitar o eterno problema de duplicidade de funções no aparato de segurança russo. A Guarda Nacional consolidou as tropas do Ministério do Interior (MVD), Unidade Especial de Resposta Rápida (SOBR), Unidade Móvel de Propósito Especial (OMON) e outras unidades paramilitares internas; somando 340 mil homens em 84 unidades espalhadas pela Rússia. A Guarda Nacional é independente das forças armadas e responde diretamente para o Presidente Putin.

A Força Policial Popular Armada chinesa (Polícia Armada Popular, PAP) é uma força paramilitar criada em 19 de junho de 1982, contando hoje 32 contingentes no Corpo de Guarda Interna PAP, 2 contingentes no Corpo Móvel PAP e 1 contingente no Corpo de Guarda Costeira PAP. Com 1,5 milhão de homens, a PAP é parte das forças armadas e mobilizável como reforço em caso de guerra.


A força Barkhane exterminou um "grupo de combate completo" da Katiba Macina


Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex360, 23 de janeiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 23 de janeiro de 2020.

Em 21 de dezembro, a força francesa Barkhane havia conduzido uma operação de oportunidade no setor florestal de Ouagadou, 150 km ao norte de Mopti [centro do Mali] contra um grupo terrorista armado [GAT] provavelmente pertencente à Katiba Macina , liderada pelo pregador jihadista Amadou Kouffa.

E em intensos combates que duraram até o amanhecer, a Barkhane colocou fora de combate 33 jihadistas. Mas as coisas não pararam por aí, uma vez que os comandos franceses foram novamente colocados em ação algumas horas depois. O apoio aéreo de uma patrulha Mirage 2000D e um drone MQ-9 Reaper armado neutralizaram outros 7 jihadistas.

No entanto, o resultado dessas lutas não desencorajou a Katiba Macina. Em 9 de janeiro, na mesma região, durante uma nova operação de comandos da Barkhane, apoiada por helicópteros de ataque Tigre e Gazelle, 9 outros terroristas foram "neutralizados", incluindo três por um ataque de um MQ-9 Reaper.

No dia seguinte, e o Estado-Maior das Forças Armadas [EMA] anunciou apenas em 23 de janeiro, uma nova operação de comandos da Barkhane tornou possível colocar três outros terroristas fora de combate, incluindo um "quadro logístico".

Mas mesmo que a região dita das "três fronteiras" [ou seja, Liptako Gourma] deve ser objeto de uma intensificação das operações militares, a de Mopti, "sujeita a atos de predação pela Katiba Macina", não escapa à vigilância da Barkhane.

Dessa forma, entre 14 e 15 de janeiro, a Barkhane mais uma vez interveio, através de uma operação helitransportada realizada ao sul de Mopti, com comandos e helicópteros de ataque. Segundo o EMA, a luta foi "amarga", a ponto de ser necessário um ataque aéreo [realizado pelo Mirage 2000D ou por um drone Reaper].

E os resultados são claros: um grupo de combate da Katiba Macina foi exterminado, ou seja, cerca de trinta jihadistas foram colocados fora de combate. "Uma vintena de motocicletas foram destruídas e uma grande quantidade de equipamentos telefônicos foi apreendida", acrescentou o EMA.

"A prioridade de Barkhane consiste em reduzir o EIGS na zona das três fronteiras [Mali-Burkina-Níger], sem excluir ações em outras partes do território", comentou o Coronel Frédéric Barbry, o porta-voz do EMA, durante a coletiva de imprensa semanal deste  23 de janeiro.

Além disso, e alinhando-se às observações que o General Lecointre, o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas [CEMA], ainda se lembrava recentemente, não há dúvida para o EMA sobre dar o total dos terroristas " neutralizados” pela Barkhane. "O indicador de sucesso não é o número de jihadistas mortos, mas a quantidade de população que não está ou não está mais sob o controle desses grupos", explicou o Coronel Barbry. Mas isso é provavelmente esquecer que, na "guerra de percepções", esse tipo de informação é algo a ser levado em consideração na opinião pública local.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Comandos Navais franceses com fuzis CETME

Wolfgang Riess, um dos Comandos que usou estes CETMEs – mais tarde ele foi trabalhar como técnico de armas da H&K. Esta história vem de suas anotações.

Por Ian McCollum, Forgotten Weapons, 1º de junho de 2016.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 2017.

Eu estava lendo sobre os primeiros fuzis com retardo do recuo por roletes (no livro requintadamente técnico e detalhado de Blake Stevens (Full Circle: A Treatise on Roller Locking/ Círculo Completo: Um Tratado sobre Trancamento por Roletes) e me deparei com essa história muito legal, que eu queria compartilhar…

A Espanha adotou formalmente o CETME Modelo B em 1958. Era mecanicamente praticamente a mesma arma que conhecemos hoje como o CETME-C ou G3, mas que ainda calibrado para o cartucho 7,62 NATO-CETME. Esta foi uma resposta espanhola aos requisitos de cartuchos da OTAN – era dimensionalmente idêntica 7,62 mm OTAN, mas disparou um projétil de 125 grãos a 2300 fps, em vez dos 143gr a 2790fps do padrão da OTAN. Os espanhóis viram que o cartucho padrão era muito potente para ser eficaz em um fuzil de tiro seletivo, e a carga reduzida foi desenvolvida para reduzir o recuo a um nível manejável. Isso foi feito apenas por alguns anos, até que eles se renderam e adotaram o Modelo C em 1964 usando munição padrão. O CETME-B ainda usaria a munição da OTAN, mas ela foi dura com as armas.

De qualquer forma, os franceses estavam ocupados lutando contra os rebeldes argelinos neste momento, e em março de 1961 um cargueiro dinamarquês chamado Margot Hansen foi visto por um avião de patrulha marítima francesa e parou na costa da Argélia. Durante a abordagem e inspeção, descobriu-se que o navio carregava 200 novos fuzis CETME-B e munição para eles, destinados (ilegalmente) aos grupos rebeldes da ANL e da FLN. As armas foram confiscadas, é claro, e colocadas em depósito no depósito naval francês em Mers El Kebir. Este depósito também possuía outras armas apreendidas, principalmente de origem alemã da Segunda Guerra Mundial – Kar 98k Mausers e fuzis de assalto StG-44. Quando os 200 CETMEs chegaram, rapidamente chamaram a atenção dos Comandos Navais Franceses que estavam estacionados no porto.

Os franceses na época usavam fuzis MAS 49/56, apenas semiautomáticos e com carregadores de 10 tiros. O poder de fogo automático suplementar era fornecido pelos fuzis-metralhadores Châtellerault 24/29, que possuíam carregadores tipo cofre de 20 tiros (que ocasionalmente eram adaptadas a fuzis 49/56, mas essa é uma história diferente). Os Comandos Navais estavam muito interessados nesse novo fuzil, que parecia oferecer as capacidades de seus fuzis e FMs em um único pacote leve. Como eram uma unidade da Marinha Francesa e as armas foram apreendidas pela Marinha e armazenadas em um depósito da Marinha, os Comandos puderam requisitar as armas e munição apreendidas para seu próprio uso sem muita dificuldade.

Comandos Navais franceses testam seus fuzis CETME-B no Djibuti.

O único obstáculo que surgiu foi quando alguém notou que todos os fuzis estavam faltando os percussores. Por quê? Ninguém sabe ao certo, mas muito provavelmente porque os contrabandistas estavam planejando retê-los por segurança ou por um pagamento adicional. Também é possível que toda a configuração do contrabando fosse na verdade uma operação falsa que estava sendo executada pelo SDECE (Inteligência do Exército Francês), mas quaisquer registros que pudessem confirmar isso há muito tempo foram destruídos. De qualquer forma, os Navais não permitiram que uma questão menor, como percussores, os detivesse, e os operadores de máquinas dos depósitos fabricaram por engenharia reversa o projeto e fabricaram um grande número de substitutos. Eles nunca conseguiram acertar o material e o tratamento de calor, e seus percussores aparentemente tinham uma tendência de quebrar com frequência – então os Navais carregavam um monte de peças sobressalentes sempre que usavam as armas.

Outro obstáculo que surgiu foi que a munição apreendida acabou por ser um lixo. Ela foi feita apressadamente a partir de componentes enviados para serem sucateados, e dimensões como o comprimento total variaram substancialmente. Alguns cartuchos não tinham os furos das espoletas. As bases das espoletas variaram significativamente, e foram misturadas dentro de caixas. Os homens conseguiram obter munição de 7,62 mm fabricada na França e acabaram usando os fuzis CETME-B em operações de combate até fins de 1978. Um histórico bem-sucedido para um lote de fuzis espanhóis, por fim usado por décadas contra os próprios grupos que se destinava a ajudar!

Um grupo de comandos franceses relaxantdo durante sua campanha na Argélia. Dois estão armados com submetralhadoras MAT-49 e dois com fuzis CETME-B apreendidos.

Como as armas conseguiram sair do controle espanhol? Esta é uma boa pergunta. Elas teriam sido os armas de uso militar de primeira linha na época, não sendo as armas excedentes ou deixadas sem vigilância. No entanto, a CETME estava trabalhando ativamente com empresas holandesas e alemãs e organizações militares na época, e os carregamentos de fuzis poderiam ter sido legitimamente destinados a qualquer um desses países. Blake Stevens sugere que uma possibilidade para a fonte é que tal carregamento tenha sido desviado por um homem como o notório contrabandista de armas alemão Otto the Strange (Otto, o Estranho) – embora isso possa ser apenas especulação.

FOTO: Tiro de raspão em um T-55 do ISIS

T-55 com telêmetro laser usado pelo ISIS é quase atingido por um ATGM em Idlib, na Síria, em 2013.

O Estado Islâmico se apoderou de vários veículos blindados do exército iraquiano e faz uso deliberado deles em sua busca pela criação de um Califado Islâmico.

Bibliografia recomendada:



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Mísseis TOW americanos foram cruciais para destruir blindados russos na Síria
21 de setembro de 2020.

FOTO: Sniper da FORAD no CENZUB

Sniper francês da FORAD (Force Adverse).

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 23 de janeiro de 2020.

Sniper francês da FORAD com equipamento de detecção laser no Centro de Treinamento de Combate em Zona Urbana (Centre d'entraînement au combat en zone urbaineCENZUB), em Sissonne, na França.

A FORAD (Force Adverse / Força Adversa) é o figurativo inimigo no Exército Francês, conhecido no Brasil como FINGIM (na Marinha) ou Força Oponente (FOROP). O padrão de camuflagem da FORAD é próprio e diferente do padrão das forças francesas para facilitar a identificação durante os exercícios.

Bibliografia recomendada:

Out of Nowhere:
A history of the Military Sniper.
Martin Pegler.

Sniper Rifles:
From the 19th to the 21st century.
Martin Pegler.

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FOTO: Snipers na Costa do Marfim12 de maio de 2021.


FOTO: Sniper na chuva, 16 de setembro de 2020.


FOTO: Sniper com baioneta calada, 9 de dezembro de 2020.

FOTO: Posto sniper na Chechênia15 de outubro de 2020.

FOTO: Sniper italiano em Sarajevo19 de fevereiro de 2021.

FOTO: 195ª Brigada Pesada de Armas Combinadas do Exército de Libertação Popular Chinês

Lobos de Zhurihe: Soldados e veículos da 195ª Brigada Pesada de Armas Combinadas do PLA, a OPFOR chinesa.

Diferente das outras formações chinesas, a 195ª é treinada e opera com doutrina e equipamentos ocidentais, servindo de OPFOR (Opposing Force, Figurativo Inimigo) em combates simulados no Centro de Treinamento de Zhurihe, em Yutian, na província de Hebei. Essa força é inspirada no "exército soviético" americano no Deserto de Mojave, na Califórnia, criado na Guerra Fria. Seu comandante atual é o Coronel-Superior Man Guangzhi.

De maio de 2014 a setembro de 2015, a brigada travou 33 batalhas simuladas com outras brigadas e divisões da força terrestre do PLA no Centro de Treinamento de Táticas de Armas Combinadas Zhurihe, com 32 vitórias e 1 derrota.

Bibliografia recomendada:



Leitura recomendada:



LIVRO: Forças Terrestres Chinesas29 de março de 2020.

FOTO: Mirage 2000D na Jordânia

Dois Mirages 2000D franceses decolando para um ataque de precisão contra o ISIS usando o GBU-24 Paveway III, na Jordânia, 2016.

ANIMAÇÃO: O cerco da embaixada do Irã em Londres, 1980


terça-feira, 21 de janeiro de 2020

VÍDEO: Exercício de ataque, Polenar Tactical

Termina a manifestação contra o desarmamento forçado na Virgínia

Manifestantes armados e equipados.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 21 de janeiro de 2020.

Mais de 22.000 ativistas pelos direitos do porte de armas tomaram as ruas do Capitólio do Estado da Virgínia, na segunda-feira 20 de janeiro, para protestar pacificamente pelas novas leis sobre a posse de armas que atravessam a legislatura controlada pelos democratas. Acredita-se que mais de 70% dos manifestantes estavam armados.


"Cidadãos armados são livres, cidadãos desarmados são escravos. 

A manifestação, organizada pela Liga de Defesa dos Cidadãos da Virgínia, focou legislação sobre armas sugerida pelo governador democrata Ralph Northam. O pacote de novas leis sobre armas inclui verificações universais de antecedentes para a venda de armas e ampliou a autoridade dos governos locais para proibir armas de fogo em locais públicos. O Legislativo da Virgínia também está considerando leis de “bandeira vermelha” (red flag laws) que permitiriam ao governo o confisco de armas de fogo de cidadãos.

"Armas são direitos, não um privilégio."
O dia 20 de janeiro é relevante porque é o dia de Martin Luther King, que celebra os direitos civis. Dentre estes direitos, o posse de armas.

“[Martin]Luther King mesmo sendo um pacifista e adepto da não violência, não abria mão de armas para sua defesa, estas que estavam (faziam) presentes mesmo em sua igreja”, diz Bene Barbosa, presidente do movimento Viva Brasil e especialista sobre cidadania armada e segurança pública.



Os manifestantes vieram de todas as vertentes da sociedade, incluindo milícias armadas (algo previsto na Constituição americana), atiradores, homens, mulheres, gays, negros e outros grupos; contrariando as acusações de veículos da mídia de "supremacismo branco de extrema direita". Nenhum tipo de distúrbio ou violência ocorreu durante a manifestação.

"Eu pareço uma supremacista branca pra você?"

Notar a bandeira GLS com a cobra libertária "Don't tread on me" (Não pise em mim).

Um dos principais pontos da reação enérgica à postura do governo democrata é a arbitrariedade do confisco, algo inconstitucional, que seria feito por meio das leis de bandeira vermelha. Por meio destas, unidades policiais poderiam arrombar casas e confiscarem armas de cidadãos e levá-los presos à força. 

Essa foto tinha a legenda "O casal perfeito para o boogaloo".

Os americanos possuem uma gíria chamada "boogaloo", que é o hipotético conflito entre o cidadão e o governo autoritário querendo tomar os direitos desse mesmo cidadão. A ideia não é tão absurda quanto parece, pois a retórica democrata é abertamente combativa com vários porta-vozes alardeando que tomarão todas as armas dos cidadãos. O próprio Senado da Virgínia já afirmou que, apesar das manifestações, levará para votação a SB-240 (Senate Bill 240, Lei Senatorial 240) de confisco através das leis de bandeira vermelha. Xerifes já se manifestaram dizendo que não cumprirão tais leis, pois elas são inconstitucionais.



Este cidadão atravessou três estados desarmamentistas para apoiar a manifestação.


"Vem pegá-las!", frase de Leônidas nas Termópilas.










Charge com o governador democrata Ralph Northam.



"Meu direito de me proteger não deve ser violado", paráfrase da 2ª Emenda.