terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Saara Marroquino: a defesa da zona tampão de Guergarate

 

Do Jean-Yves de Cara, Theatrum Belli, 15 de novembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 8 de dezembro de 2020.

[Nota: As opiniões expressas nesse artigo pertencem ao seu autor e não representam, necessariamente, àquelas do blog Warfare.]

No dia 13 de novembro, diante das graves e inaceitáveis ​​provocações a que as milícias “Polisário” se engajaram na zona tampão de Guergarate no Saara marroquino, “o Marrocos decidiu agir, respeitando suas atribuições, em virtude de seus deveres e no pleno respeito à legalidade internacional”, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Cooperação e dos Marroquinos residentes no estrangeiro (Ministère des Affaires étrangères, de la Coopération et des Marocains résidant à l’étranger). As Forças Armadas Reais (Forces armées royalesFAR) estabeleceram um cordão de segurança para garantir o fluxo de mercadorias e pessoas através da zona tampão de Guerguerate que liga o Marrocos à Mauritânia. Esta medida decorre, em particular, do bloqueio do trânsito rodoviário por um grupo de pessoas formadas por milicianos armados da Polisário.

Militantes da Frente Polisário na Argélia. Ao lado, o selo da Frente Polisário.

Esse incidente não é nada novo. Em várias ocasiões, os rebeldes da Polisário, com o apoio da Argélia, tentaram ataques violentos, limitaram as ocupações ou paralisaram o tráfego internacional na área. A travessia do Saara pelo rally anual de automóveis Africa Eco Race já havia gerado especulações sobre as tentativas de bloqueio em 2019 e, de vez em quando, a Polisário alega a perseguição de garimpeiros ilegais ou traficantes de drogas para tentar penetrar na zona.

Zonas tampão sempre existiram. Instituídas pelo Concerto Europeu (Holanda, Escandinávia, Suíça), criadas por potências rivais (Espanha e Reino Unido em Gibraltar), estabelecidas pelas conferências de paz durante o Tratado de Versalhes (Renânia) e pela conferência de Genebra sobre o Vietnã, elas assumem a forma de uma zona desmilitarizada definida pelas partes (trégua de Tangku entre Japão e China em 1933, armistício de Panmunjom na Coréia em 1953), uma zona neutra , uma zona de segurança, uma zona protegida ou uma terra de ninguém (Faixa de Gaza). Com o objetivo de separar as partes de um conflito, a zona tampão é geralmente controlada por uma força de manutenção da paz, muitas vezes sob a responsabilidade da ONU, às vezes da OTAN, entre a Sérvia e Kosovo. Internas a um estado, podem resultar de uma ocupação (linha verde em Chipre), de um conflito interno (zona de distensão na Colômbia no âmbito das negociações com as FARC) ou mesmo de uma tentativa de secessão tal como a zona tampão que separa a Moldávia da auto-proclamada República da Transnístria.

Soldados sul e norte-coreanos se encarando na Zona Desmilitarizada no paralelo 38.

Para o jurista, elas levantam dois tipos de questões que dizem respeito às regras que regem a criação da zona tampão e às aplicáveis ​​dentro da zona tampão.

Como uma ferramenta de gestão de conflitos, essas zonas são frequentemente impostas como parte de um acordo de paz internacional. Elas tendem a resolver ou atenuar tensões políticas, militares e humanitárias complexas, que muitas vezes são duradouras. Elas podem então ser determinados de uma maneira convencional ou por uma instituição internacional para congelar um conflito de fronteira e as forças de segurança nacional das partes são excluídas. Poderes de intervenção também podem procurar impor tal solução para separar as partes ou isolar grupos incontroláveis, mas isso pressupõe o acordo dos Estados interessados.

A Zona Tampão de Guergarate

Finalmente, a zona tampão também pode consistir em um glacis criado por um Estado ao longo de suas fronteiras com o objetivo de proteger seu território contra incursões de tropas estrangeiras, grupos armados pagos por um Estado estrangeiro ou atividades de grupos rebeldes ou terroristas. É o caso da área de Guerguerate no Saara marroquino.

Para proteger o seu território, o Reino do Marrocos construiu um muro de areia, recuado da fronteira e estabeleceu voluntariamente uma zona tampão que recebeu a aprovação das Nações Unidas. Assim, o Marrocos participa tanto na gestão internacional da situação, como protege o seu território e as populações locais.

Guerrilheiras da Frente Polisário.

Nessas circunstâncias, a criação de uma zona tampão implica assegurar que a lei seja respeitada para os civis que nela residem ou que passam pela zona. Igualmente importante é garantir a segurança e a natureza neutra e desmilitarizada da zona tampão.

Sem dúvida, o direito internacional se aplica nesses espaços, em particular o direito humanitário no caso de uso de força armada, mas não resolve tudo. Não obstante, nestas áreas, por hipótese pacíficas, podem surgir questões jurídicas relacionadas com o direito civil, a propriedade, o tráfego, o direito penal e, em geral, a ordem pública. Na ausência de uma administração internacional, a prática reconhece uma certa competência no Estado cuja soberania territorial é afetada pelo estabelecimento de uma zona tampão.

Além disso, a manutenção da segurança ou, simplesmente, da tranquilidade pública na área pode justificar uma ação limitada para restaurar a ordem. A urgência, ausência ou fraqueza das forças internacionais permite ao exército ou à polícia nacional intervir para conter uma guerra de guerrilha ou restaurar a ordem. Assim, em 2000, a entrada do exército iugoslavo na zona tampão que separa a Sérvia do Kosovo para pôr fim às infiltrações da guerrilha albanesa.

Necessidade e proporcionalidade

Por analogia com a legítima defesa, a intervenção do poder territorial em causa na zona tampão está sujeita a duas condições: necessidade e proporcionalidade.

A necessidade é a base da competência do Estado para agir. Trata-se de um desmembramento da jurisdição territorial originária que o Estado exercia sobre a área que hoje constitui a zona tampão. As províncias do sul foram, desde tempos imemoriais, território do Império Xarifiano e depois do Reino do Marrocos; este último incluiu a questão do Saara, então ocupado pela Espanha, na agenda das Nações Unidas em 1963. Diante das atividades da Polisário, criada e utilizada pela Argélia desde 1973, o Marrocos, num espírito de consulta e para a manutenção da paz no seu território, criou a zona tampão sobre a qual, em consequência, renunciou temporariamente ao exercício da sua jurisdição territorial. Agora, sobre a zona tampão, essa competência é subsidiária e temporária.

Pacificadores da MINURSO no Saara Ocidental.

Neste caso, através da intervenção das FAR, o Marrocos exerceu uma jurisdição substituta para manter o caráter neutro e pacífico da zona sob o controle da MINURSO (Mission des Nations Unies pour l'Organisation d'un Référendum au Sahara Occidental) e para garantir a circulação num eixo de comunicação internacional. Não se tratava de fazer face a um risco ou de prevenir um ataque, mas de fazer face a uma situação presente e atual, na sequência de várias comunicações dirigidas, durante anos, pelas FAR à MINURSO, nas quais as forças marroquinas se incomodaram com a presença de civis e militares, com as incursões e provocações da Polisário [1]. No entanto, “devido à ausência de jurisdição”, nota o Secretário-Geral da ONU, “esta zona tampão entre os pontos de passagem marroquino e mauritano continuou a representar um certo risco para os observadores militares da MINURSO. , devido à falta de jurisdição na área, o que impede garantir a segurança da Missão”. [2]

[1] S/2020/938, Relatório do Secretário-Geral, 23 de setembro de 2020, pontos 29-31.

[2] Ibidem, ponto 46.

Soldados marroquinos e observadores internacionais no Saara Ocidental.

A intervenção das FAR ficou, portanto, limitada no seu objetivo, satisfazendo assim a condição da proporcionalidade. Por outro lado, o autor dos fatos que condicionaram a ação defensiva, a Polisário, é culpada. A defesa da zona tampão não implica exclusivamente agressão. Os "fatos-condições" que podem ser atribuídos a um ator não-estatal podem ser constituídos por atos limitados ou provocações, incursões, notadas no presente caso pela MINURSO e relatadas pelo Secretário-Geral.

Cabe, portanto, à Polisário acabar com as provocações e violações do direito internacional e dos direitos humanos na região, respeitar o estatuto da zona, "cooperar plenamente com a MINURSO, inclusive no que diz respeito à sua liberdade de interagir com todos os seus interlocutores e de tomar as medidas necessárias para garantir a segurança, bem como a plena liberdade de movimento” [3]. Compete ao Estado que inspirou a criação do movimento que é seu instrumento, a Argélia, retomar as negociações sob os auspícios da ONU, "sem pré-requisitos e de boa fé" [4] para pôr fim ao conflito artificial que criou e permitir ao Marrocos recuperar totalmente a sua integridade territorial.

[3] S/RES/2548 (2020) Resolução do Conselho de Segurança de 30 de outubro de 2020.

[4] S/RES/2494 (2019), resolução de 30 de outubro de 2019.

O Professor Jean-Yves de Cara é Presidente do Conselho Científico do Observatório de Estudos Geopolíticos (conseil scientifique de l’Observatoire d’études géopolitiques).

Leitura recomendada:

Capacetes Azuis Marroquinos: valores e compromissos1º de julho de 2020.

GALERIA: Com os Tirailleurs Marroquinos na Operação Aspic na região de Phu My, 14 de outubro de 2020.

Morreu Chuck Yeager, primeiro piloto supersônico da Força Aérea dos Estados Unidos

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de dezembro de 2020.

Morreu ontem aos 97 anos o piloto de teste Chuck Yeager, da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), conhecido como "o homem mais rápido vivo". Yeager quebrou a barreira do som quando testou o avião X-1 em outubro de 1947. O feito seria anunciado ao público apenas em 1948.

Sua segunda esposa, Victoria, confirmou que Yeager havia falecido ao tuitar da conta verificada de Yeager que o ás da aviação havia morrido. “Uma vida incrível e bem vivida, o maior piloto da América”, ela tuitou 12 horas atrás. Seu legado também capturou as gerações posteriores, sendo apresentado no livro e no filme de 1983, "The Right Stuff" (Os Eleitos: Onde o Futuro Começa, título do filme no Brasil).

"Este é um dia triste para a América", disse John Nicoletti, amigo de Yeager e chefe da equipe. "Depois que ele quebrou a barreira do som, todos nós agora temos permissão para quebrar barreiras." Yeager passou por alguns desafios físicos nos últimos anos e teve uma queda que levou a complicações e outros problemas devido à sua idade. Yeager residia no norte da Califórnia, mas morreu em um hospital de Los Angeles. "Yeager nunca desistiu", comentou seu amigo Nicoletti. "Ele era um homem incrivelmente corajoso."

Nascido em 1923 e criado na Virgínia Ocidental, Yeager se alistou no Army Air Corps aos 18 anos em 1941 (a força aérea americana seria criada em 1947). Em 1943, Yeager foi comissionado oficial de vôo da reserva antes de se tornar um piloto no comando de caça da 8ª Força Aérea, estacionado na Inglaterra. Ao longo da Segunda Guerra Mundial, ele voou 64 missões e abateu 13 aviões alemães. “Muitos não sobreviveram à Segunda Guerra Mundial. Muitos não sobreviveram aos primeiros dias de testes de pilotagem”, explicou Nicoletti.

Yeager foi abatido sobre a França em março de 1944 em sua oitava missão de combate, mas conseguiu escapar da captura com a ajuda da resistência francesa, disse seu site. Ele voltou aos Estados Unidos em 1945 e se casou com sua esposa Glennis, para quem ele havia nomeado vários de seus aviões de combate.

Barricada da resistência francesa durante a Batalha de Paris, agosto de 1944.

Após a guerra, Yeager tornou-se instrutor de vôo e piloto de teste, trabalhando como oficial assistente de manutenção na Seção de Caça da Divisão de Teste de Vôo em Wright Field, em Ohio. As habilidades excepcionais de Yeager foram rapidamente reconhecidas e ele foi convidado a atuar em shows aéreos, bem como testes de serviço para novos aviões.

Em 1946, o Coronel Albert Boyd era o chefe da Divisão de Teste de Vôo e escolheu Yeager a dedo para ser um aluno na nova escola de pilotos de teste em Wright Field. Embora tivesse apenas o ensino médio, Yeager creditou seu sucesso no programa às suas habilidades de vôo. O Coronel Boyd escolheu Yeager para ser o primeiro a pilotar o Bell X-1 movido a foguete porque o considerava o melhor piloto 'instintivo' que já tinha visto e demonstrou uma capacidade extraordinária de permanecer calmo e focado em situações estressantes.

Após meses de vôos com o X-1, Yeager quebrou a barreira do som com sua aeronave, que chamou de Glamorous Glennis em 14 de outubro de 1947, sobre o Lago Rogers Dry, no sul da Califórnia. O X-1 alcançou Mach 1,06 ou 700 mph, tornando Yeager o primeiro homem a viajar mais rápido do que a velocidade do som e ganhando o título de "Fastest Man Alive" (O homem mais rápido do mundo).

Yeager alcançou considerável notoriedade na mídia depois que quebrou a barreira do som em Glamorous Glennis. Aqui ele posa com a atriz de televisão Barbara Eden, que desempenhou o papel principal na popularíssima série “I Dream of Jeannie" (Jeannie é um Gênio, no Brasil).

Yeager passou os anos seguintes continuando a testar aeronaves e ultrapassando os limites, estabelecendo o recorde de velocidade para uma aeronave de asa reta de Mach 2,44, em dezembro de 1953; sendo premiado com o Troféu Harmon Internacional de 1953 pelo presidente Dwight D. Eisenhower. Ele então voltou ao vôo operacional em 1954, assumindo o comando do 417º Esquadrão de Bombardeiros de Caça e sendo estacionado na Base Aérea Hahn na Alemanha, e depois na Base Aérea de Toul-Rosières na França. Em 1957, Yeager retornou à Califórnia e assumiu o comando do 1st Fighter Day Squadron em George AFB.

Ele se tornou comandante da Escola de Pilotos de Pesquisa Aeroespacial com o posto de coronel em 1962. Lá, ele presidiu o desenvolvimento de uma instituição inédita, projetada para preparar pilotos de teste militares americanos para vôos espaciais. Trinta e sete formandos desse programa foram selecionados para o programa espacial dos EUA, com 26 ganhando asas de astronauta voando nos programas Gemini, Apollo e Ônibus Espacial, disse o site. Ao longo da década de 1960, sua posição na Força Aérea o levou às Filipinas, Vietnã, Tailândia e Coréia.

Yeager se aposentou da Força Aérea com o posto de Brigadeiro-General (Brigadier General) em 1975, tendo voado 10.131,6 horas em cerca de 361 tipos e modelos diferentes de aeronaves militares ao longo de sua carreira.

Enquanto seu serviço oficial terminava, Yeager continuou a ser um consultor valioso para o governo e a indústria aeroespacial. Yeager foi uma das várias pessoas que apareceram no filme de 1983, "The Right Stuff", adaptado do romance de não ficção de Tom Wolfe sobre os primeiros 15 anos do programa espacial americano. Em 1997, aos 74 anos, Yeager comemorou o 50º aniversário do seu vôo histórico no X-1, voando em um F-15 Eagle.

Brigadeiro-General Chuck Yeager, colorização da artista Marina Amaral em 14 de outubro de 2017. (@marinamaral2)

"O General Yeager representa o melhor de nós. Para mim, Chuck Yeager sempre será o som da liberdade", disse seu amigo Nicoletti.

Vídeo recomendado:

Bibliografia recomendada:

Voando nas alturas.
(Leo Janos, Chuck Yeager, 1986, Ed. Best Seller).

Leitura recomendada:

ENTREVISTA: O 1° Grupo de Aviação de Caça nos céus da Itália13 de setembro de 2020.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

IMI Magal: carabina .30M1 de volta ao jogo


Por Ronaldo Olive, The Firearm Blog, 16 de outubro de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 6 de dezembro de 2020.

Embora nunca tenham sido um item oficial das Forças de Defesa de Israel, as carabinas M1 feitas nos EUA foram uma visão muito comum em todo o país por décadas. Amplamente distribuídas entre as forças policiais e unidades da Guarda de Fronteira/Guarda Civil, essas armas da Segunda Guerra Mundial também encontraram seu caminho para realizar tarefas de segurança em kibutzim* e outros assentamentos, tornando-se até mesmo uma presença frequente nas mãos de guias turísticos particulares. As razões por trás dessa popularidade foram muitas, incluindo o fato de que elas foram aparentemente fornecidas pelo governo dos Estados Unidos a baixo ou nenhum custo; eram armas confiáveis; e o cartucho .30M1 (ou 7,62x33mm), para o qual foram calibrados se mostrarem atraentes para uso em cenários urbanos imposição da lei de curta distância.

Renault R35 preservado onde foi atingido, próximo dos protões da Degania Alef. Ele foi destruído por um tiro de PIAT no alto da torre, com o buraco visível na foto.

*Nota do Tradutor: Kibutzim é plural de kibutz. Um kibutz é uma forma de coletividade comunitária israelita, que foi tradicionalmente baseada na agricultura. Os kibutzim começaram como comunidades utópicas, uma combinação de socialismo e sionismo. Hoje, a agricultura foi parcialmente suplantada por outros ramos econômicos, incluindo fábricas industriais e empresas de alta tecnologia. Nas últimas décadas, alguns kibutzim foram privatizados e mudanças foram feitas no estilo de vida comunitário. Um membro de um kibutz é chamado de kibutznik (plural kibbutznikim ou kibbutzniks). O primeiro kibutz, estabelecido em 1909, foi a Degania, posteriormente Degania Alef, com um kibutz gêmeo Degania Bet. As duis Deganias são famosas por repelirem os ataques sírios com tanques franceses Renault R35 na Batalha do Vale Kinarot (15–21 de maio de 1948) durante a Guerra de Independência (1948-49). O famoso general israelense Moshe Dayan nasceu no Degania Alef em 20 de maio de 1915 e participou da batalha em 1948, comandando todas as forças israelenses nas Deganias. O primeiros dos Renault R35 sírios destruídos permanece na Degania Alef como monumento.

Com isso em mente, a IMI - Israel Military Industries (agora, IWI - Israel Weapon Industries Ltd.) decidiu, em meados da década de 1990, usar esta munição, bastante disponível e apreciada, para um derivado semi-automático do Fuzil de Assalto Micro Galil 5,56x45mm, também conhecido como MAR. As mudanças necessárias no design interno foram adicionadas ao Galil operado a gás (este, em essência, amplamente baseado no AK), incluindo não apenas um novo cano de 230mm (cinco ranhuras, à direita, taxa de torção de 1:20), mas um número de alterações no ferrolho/conjunto do ferrolho e mudanças dimensionais no sistema de gás para lidar com as pressões mais baixas (em comparação com a munição 5,56x45mm) geradas pelo cartucho .30M1. Embora o carregador da Carabina M1 original de 30 tiros pudesse ser usado, a IMI também oferecia uma unidade de 27 tiros totalmente compatível que mantinha o ferrolho aberto após o último tiro disparado.

O MAR de tiro seletivo 5.56x45mm que serviu de base para a carabina Magal .30M1 semi-automática.

Uma Carabina M1 com carregador mais curto de 15 tiros (2,6kg carregado) e um Magal da Polícia Militar do Pará com carregador de 27 tiros fornecido de fábrica (3,6kg carregado).

Fora isso, as mudanças foram principalmente no departamento estético/ergonômico. O receptor superior usinado todo em aço e cada parte do mecanismo de disparo foram alojados dentro de uma parte inferior de polímero de uma peça, que incluía a empunhadura de pistola, guarda-mato de tamanho completo, compartimento do carregador e guarda-mão, este apresentando um orifício abaixo do cano para o adição de uma lanterna. Para que conste, um Magal totalmente desmontado compreende 72 peças, sendo os procedimentos de desmontagem de primeiro escalão semelhantes àqueles da família Galil.

Meus arquivos antigos me dizem que um lote inicial de cerca de 1.000 dessas carabinas IMI foram entregues a agências policiais para uso nos conflitos israelense-palestinos de 1999-2000, mas muitos relatos negativos do seu uso em serviço começaram a voltar, incluindo falhas operacionais atribuídas ao cano muito curto que produziu pressão de gás insuficiente (piorou quando os acessórios de controle de distúrbios foram fixados ao cano) e superaquecimento do cano durante o fogo contínuo. Foi relatado que o fabricante planejou uma produção inicial de 4.000 armas, mas eu me pergunto se isso jamais chegou a ser concluído.

Duas carabinas Magal nas mãos de agentes da polícia israelense, por volta de 2000, além de uma arma do tipo M4 ao lado.

Com a coronha dobrada para a direita, o Magal tem 485mm de comprimento (740mm, comprimento total). A arma vista ao lado com a coronha estendida é equipada com um acessório adicional no cano para uso com munições anti-motim.

No entanto, o Magal também foi promovido no exterior. Que eu saiba, o único pedido de exportação confirmado veio da PMPA - Polícia Militar do Pará (Polícia Militar do Estado do Pará), que recebeu 555 exemplares em 2001 ou mais. Observe que o Magal já havia sido testado, aprovado e certificado (ReTEx No.1711/00. 8 de novembro de 2000) pelo Exército Brasileiro antes de sua adoção pelo PMPA. Este escriba teve a sorte de ter sido convidado para ir à cidade de Belém, capital do Estado do Pará, para um rápido encontro prático com a carabina israelense naquela época. Ah, sim: o Magal ainda é visto em uso ocasional hoje pelos policiais militares daquele estado da região da Amazônia.

O autor com um Magal do PMPA durante visita a Belém, no início dos anos 2000. A arma está equipada com uma mira reflexiva iluminada Meprolight MEPRO 21, dia e noite, na montagem Picattiny dianteira, além de uma lanterna no orifício do guarda-mão. Não me lembro da mira ter sido, de fato, adotada por aquela polícia militar.

A alavanca de manejo do lado direito é, no entanto, facilmente manipulada com a mão esquerda. O guarda-mato de mão inteira e o retém do carregador pressionável para frente são evidentes.

A alavanca seletora de tiro tipo AK na posição “Segura”.

O seletor duplicado no lado esquerdo, acima da empunhadura de pistola, agora está definido para “Fogo”.

A alça de mira com abertura em forma de L tem configurações para 150 (aqui) e 250 metros, com orelhas de proteção resistentes.

A massa de mira, igualmente bem protegida, possui uma pequena inserção de trítio para ajudar em situações de pouca luz.

Algumas centenas de cartuchos de ponta macia revestidos disparados sem interrupções em Belém me deram uma boa impressão geral sobre o Magal, não obstante os problemas relatados no texto.

A missão final da pouco conhecida carabina IMI Magal nas mãos de um agente da Polícia Militar do Pará. Ele é integrante da unidade de Motopatrulhamento (Patrulhamento de Motocicleta), um dos primeiros usuários locais da arma israelense.

FICHA TÉCNICA
Tipo: Carabina.
Miras: Alça tipo peep sight com regulagem para 150 e 250 metros.
Peso: 2,78 kg.
Sistema de operação: A gás com trancamento rotativo do ferrolho.
Calibre: .30 M1.
Capacidade: 15, 27 ou 30 munições.
Comprimento Total: 73 cm (coronha estendida)
Comprimento do Cano: 9 polegadas.
Velocidade na Boca do Cano: 600 m/seg
Cadência de tiro: Semi Automático.

Autor: Ronaldo Olive "Kid"

Ronaldo Olive é um escritor brasileiro de longa data (começando na década de 1960) sobre assuntos de aviação, forças armadas, imposição da lei e armas, com artigos publicados em periódicos locais e internacionais (Reino Unido, Suíça e EUA). Sua vasta experiência o tornou um palestrante convidado frequente e instrutor nas forças armadas e policiais do Brasil.

Bibliografia recomendada:

The M1 Carbine.
Leroy Thompson.

Leitura recomendada:

domingo, 6 de dezembro de 2020

O 2º Esquadrão do SAS australiano foi dissolvido devido a problemas de disciplina


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 6 de dezembro de 2020.

O comandante do exército australiano dissolveu o 2º Esquadrão do Regimento SAS devido a problemas de disciplina.

O Chefe do Exército (Chief of Army), Tenente-General Rick Burr, removeu o 2º Esquadrão do Regimento do Serviço Aéreo Especial da Ordem de Batalha do Exército após a divulgação do inquérito do IGADF (Inspector-General of the Australian Defence Force) sobre crimes de guerra cometidos no Afeganistão.

Em um comunicado, o General Burr disse que crimes foram cometidos "em todo o Regimento", mas que havia um "nexo de atividades" no 2 Esquadrão. Ele também disse que a lacuna no sistema de numeração do esquadrão "lembrará as gerações futuras deste momento". “Como Chefe do Exército, esta não é uma decisão que tomei levianamente”, disse o Gal. Burr. "Os problemas no relatório de inquérito são tão chocantes que uma mensagem clara é necessária."

2º Esquadrão, SASR (Special Air Service Regiment), ao lado de combatentes afegãos.

Australian Defence Magazine publicou a declaração do General Burr, feita no dia 20 de novembro de 2020, na íntegra:

"Hoje estive em Perth, Austrália Ocidental, no Regimento de Serviço Aéreo Especial do Exército Australiano.

O Chefe da Força de Defesa, General Angus Campbell, AO, DSC, dirigiu ações específicas em resposta ao Inquérito. Alguns deles se aplicam a honras e prêmios individuais e coletivos.

Como Chefe do Exército, também dirigi a remoção do título: 2 Squadron, Special Air Service Regiment, da Ordem de Batalha do Exército Australiano.

Embora os incidentes delineados no Inquérito tenham ocorrido em todo o Regimento, o relatório deixou claro que havia um nexo de supostas atividades criminosas graves no 2º Esquadrão, Regimento do Serviço Aéreo Especial em um determinado momento. Esta alegada má conduta grave prejudicou seriamente nossa posição profissional.

Esta ação não reflete nenhum julgamento sobre os atuais membros do 2º Esquadrão, Regimento do Serviço Aéreo Especial, mas todos nós devemos aceitar os erros do passado.

Os atuais membros do esquadrão serão transferidos para outras subunidades do Regimento. Um plano de implementação deliberado será desenvolvido para apoiar isso.

Como Chefe do Exército, esta não é uma decisão que tomei levianamente.

Os problemas no relatório de inquérito são tão chocantes que é necessária uma mensagem clara.

É importante aprendermos com essa experiência e começar o processo de cura para que possamos nos concentrar no futuro. Isso nunca deve acontecer novamente, em qualquer lugar de nosso exército. Nossa profissão exige que sempre operemos de forma legal, ética e responsável. Mesmo nos ambientes mais complexos e desafiadores.

As gerações futuras serão lembradas deste momento em nossa história militar pela lacuna em nosso sistema de numeração de esquadrões.

À medida que continuo a analisar as extensas descobertas, tenha certeza de que, onde houver evidência de má conduta, as pessoas serão responsabilizadas. Isso pode ser por meio de ação disciplinar ou administrativa.

Uma reforma significativa está em andamento no Comando de Operações Especiais e de forma mais ampla em nosso Exército nos últimos cinco anos. Um progresso importante foi feito e este trabalho continua.

Essas reformas receberão um foco, ênfase e urgência aumentados com base nas conclusões e recomendações do relatório do Inquérito.

Vou acelerar os planos existentes de mobilidade da força de trabalho para o pessoal do Comando de Operações Especiais. Espera-se que indivíduos dentro do Comando de Operações Especiais recebam postagens fora do Comando. Isso permitirá descanso, regeneração, ampliação de perspectivas e compartilhamento de conhecimentos e habilidades em todo o Exército. Isso traz benefícios individuais e coletivos para toda a Força de Defesa Australiana. A supervisão de postagem independente para o Comando garantirá que a força de trabalho e a estratégia estejam alinhadas.

Continuaremos a fortalecer os fundamentos de governança, garantia e responsabilidade. Isso inclui reforçar a importância da cultura, liderança, responsabilidade, ética e nossos valores por meio da iniciativa do Bom Soldado do Exército (Army’s Good Soldiering initiative).

O Centro de Liderança do Exército Australiano será o centro de nosso treinamento e de como nos conduzimos como líderes éticos, capazes e eficazes em todos os níveis do nosso Exército.

Hoje começamos um novo capítulo e nos comprometemos a restaurar a confiança da nação que juramos defender. Um símbolo desta renovação contínua é o desfile de boinas de amanhã para novos membros do Regimento do Serviço Aéreo Especial e o desfile de boinas recente para o 2º Regimento Comando.

Estou confiante de que, como resultado dessa experiência, emergiremos um Exército mais forte, capaz e eficaz.

Gostaria de agradecer às famílias, entes queridos e aqueles que apoiaram nosso Exército durante este momento desafiador. Eu encorajo fortemente qualquer pessoa que necessite de auxílio de bem-estar social a acessar os serviços disponíveis.

Elogio aqueles que tiveram a coragem de fornecer informações ao Inquérito.

Nosso povo, do passado e do presente, fez contribuições extraordinárias para a defesa da Austrália. Continuo inspirado pela esmagadora maioria de homens e mulheres profissionais que servem em nosso Exército. Nosso pessoal deve continuar a se orgulhar de seus serviços e saber que seu compromisso é valorizado.

Este é um momento desafiador para todos nós. Nosso Exército deve aprender, melhorar, apoiar uns aos outros e juntos vamos superar isso.

Continuamos, um Exército da nação, um Exército da comunidade, somos o Exército da Austrália."

Essa decisão vem na rabeira de vários problemas com unidades de operações especiais da OTAN, incluindo o KSK alemão, a Força de Serviços Especiais canadense e os SEALs americanos, além de um grupo de ex-boinas verdes americanos que foram capturados numa aventura quixotesca na Venezuela.

Bibliografia recomendada:



Leitura recomendada:

COMENTÁRIO: As Forças Especiais ainda são especiais?6 de setembro de 2020.



FOTO: Miragem sobre o Sahel

Dois caças Mirage 2000D do EC 3/3 "Ardennes" (Escadron de Chasse 3/3 Ardennes) após reabastecimento de área e partida para CAS durante a Operação Sérval, no Mali, em 20 de janeiro de 2013.

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

FOTO: Mirage 2000D na Jordânia23 de janeiro de 2020.

FOTO: F-111C sobre o porto de Sydney, na Austrália, 1973, 29 de fevereiro de 2020.

FOTO: Salto noturno na chuva, 26 de setembro de 2020.


sábado, 5 de dezembro de 2020

VÍDEO: Aquisição do T-72B1MS Águia Branca pelo Exército Sérvio

T-72B1MS Águia Branca sérvio.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 5 de dezembro de 2020.

Os sérvios receberam o carro de combate T-72B1MS Águia Branca de acordo com o novo plano russo de padronizar seus aliados com modelos T-72; além de ser o modelo padrão no Biatlo dos Tanques. Outros países que receberam essa atualização foram a Venezuela, Nicarágua, Síria e o Laos (que recebeu o mesmo modelo Águia Branca), assim como os cripto-russos no Donetsk.

O T-72B1MS "Águia Branca"(Ob'yekt 184-1MS) é o T-72B1 modernizado pela empresa Oboronprom (agora parte da Rostec), apresentado pela primeira vez no International Forum Engineering Technologies 2012, pintado de branco, daí o apelido não-oficial de "Águia Branca". As propriedades mecânicas do tanque são as mesmas do T-72B1 normal, com o mesmo motor, canhão, blindagem e pacote Kontakt-1 (K-1) ERA. No entanto, a eletrônica é fortemente atualizada, incluindo uma câmera frontal e traseira para o motorista, display digital do motorista, sistema de navegação GPS/GLONASS, visão panorâmica térmica de terceira geração "Olho de Águia" para o comandante do tanque montado no lado esquerdo traseiro da torre, mira térmica do artilheiro PN-72U Sosna-U, sistema de rastreamento de alvo, sistema de gerenciamento de chassis e metralhadora AA 12,7mm controlada remotamente. 

O Águia Branca está atualmente em serviço nas forças armadas do Laos, Uruguai, Nicarágua, e agora na Sérvia.

T-72B1MS "Águia Branca" no International Forum Engineering Technologies 2012, 29 de junho de 2012.

Bibliografia recomendada:

T-72 Main Battle Tank 1974-93,
Steven J. zaloga e Peter Laurier.

Leitura recomendada:

Carros de combate principais T-72B1MS no Laos, 22 de setembro de 2020.

Equipe nº 1 vietnamita no segundo lugar do Grupo 2 no Biatlo de Tanques na Rússia28 de novembro de 2020.