domingo, 26 de abril de 2020

GALERIA: O Renault R 35 em serviço na Romênia

Renault R 35 no Museu Nacional Militar Rei Ferdinando em Bucareste, capital da Romênia.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de abril de 2020.

No total 1.540 unidades do R 35 foram produzidas na França, incluindo variantes, entre 1936 e 1940. Em 1938, a Romênia entrou em negociações com a França para a produção do R 35 sob licença. O esforço de mobilização francês encerrou a idéia quando ela já se encontrava em situação avançada e, em agosto e setembro de 1939, os romenos compraram 40 blindados R 35 como medida paliativa. Esses tanques serviram como o carro de combate principal do recém-formado 2º Regimento Blindado do Exército Real Romeno, sendo designados em serviço como "Carul de Luptă R35".

2º Regimento Blindado do Exército Real romeno com os R 35 e caminhões Laffly S15.

No final de setembro de 1939, mais 34 carros R 35 saídos da fábrica foram transferidos para os romenos quando o 21º Batalhão de Tanques Leves polonês (Batalion Czołgów Lekkich, BCL) cruzou a fronteira fugindo dos alemães. Com 74 tanques, o 2º Regimento Blindado foi expandido em dois batalhões.

Carros de combate Carul de Luptă R35 em desfile após sua invasão bem-sucedida de Odessa, 1941.

Os romenos usaram o R 35 na União Soviética, e, após a Batalha de Stalingrado, decidiram que os R 35 exigiam uma melhora significativa de sua capacidade anti-tanque.

Inicialmente, a torre de um R 35 do 2º Regimento Blindado da 1ª Divisão Blindada foi trocada pela torre de um T-26 soviético capturado. Em última análise, no início de 1943, foi decidido manter a blindagem mais espessa da torre francesa. Assim, a arma de 45mm do T-26 foi adotada como substituta da arma original de 37mm. A arma soviética foi anexada à torre francesa com a ajuda de uma extensão que continha o mecanismo de recuo da peça de 45mm. A desvantagem disso foi que, após essas modificações, não havia mais espaço suficiente na torre para manter a metralhadora coaxial, que foi então removida.

Blindado Vânătorul de Care R35, o Renault R35 com uma canhão soviético de 45mm.

Os tanques modernizados foram adotados como destruidores de tanques sob a designação "Vânătorul de Care R35", com trinta R 35 convertidos até junho de 1944 pela fábrica de Leonida em Bucareste. As armas soviéticas de 45mm foram retiradas dos tanques T-26 e BT-7 capturados. Essas unidades foram reformadas no Arsenal do Exército em Târgoviște enquanto as novas sustentações dos canhões, contendo o mecanismo de recuo, foram feitas na Oficina Concordia em Ploiești. Estes veículos serviram até o final da guerra.

Soldado soviético posando com um Vânătorul de Care R35 armado com o canhão do T-26. A Romênia trocou de lado em 1944, com os soviéticos pressionando suas fronteiras. 

Uma quantidade significativa das peças originais feitas na França, tanto dos tanques R 35 originais quanto dos convertidos, foi substituída por peças produzidas na Romênia em 1941-1942. As fábricas romenas produziram engrenagens de acionamento, eixos de acionamento, lagartas, novas rodas de metal e cabeças de cilindro. As rodas foram projetadas localmente para serem dez vezes mais duráveis. Adicionado a estes foram os suportes para os canhões de 45mm, adicionados como extensões de torre, que continham o mecanismo de recuo. Assim, o R 35 convertido romeno tinha partes significativas fabricadas na Romênia em seu chassis, transmissão e torre.

Vânătorul de Care R35 destruído na Ferrovia de Znojmo, 1945.

Outro ângulo do mesmo blindado, mostrando a situação difícil de defasagem onde os tanquistas romenos operavam em 1945.

Havia sessenta tanques R 35 no inventário romeno em 19 de julho de 1944, dos quais trinta haviam sido rearmados com canhões de 45mm.

Bibliografia 
recomendada:

Third Axis Fourth Ally: Romanian Armed Forces in the European War, 1941-1945 (1995), de Mark Axworthy, Cornel Scafeș e Cristian Craciunoiu.

Leitura recomendada:

sábado, 25 de abril de 2020

GALERIA: Pinturas em aquarela sobre o GIGN do artista Alexis Le Borgne


Do site GIGN Historique, 27 de fevereiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 25 de abril de 2020.

Com apenas 23 anos, Alexis Le Borgne já reconhecido por sua arte, foi recompensado em 11 de outubro de 2019 pelo GIGN (Groupe d'intervention de la Gendarmerie nationale) por suas 12 pinturas em homenagem a essa unidade com a qual ele sonhava quando mais jovem.

Alexis Le Borgne recebeu o troféu GIGN pelas doze pinturas apresentadas à unidade de elite. (Foto D. R.-B.)

Alexis Le Borgne é um artista extraordinário. Com apenas 23 anos, ele vive de sua arte há três anos e já ganhou inúmeros prêmios. Como autêntico criador, o pintor aprendeu a seguir a dinâmica de seus arranjos interiores. O que às vezes o leva a universos onde não projetamos espontaneamente a arte como evidência. Por exemplo, na área das forças de segurança. Nenhum hiato estético assusta o jovem, baseado em Plérin (22), que acaba de realizar em três meses uma proeza tanto física quanto técnica: entregar doze acrílicos em papel aquarela ao prestigioso GIGN. Um presente que ele sem dúvida amadureceu desde a infância. E que ele próprio trouxe para o quartel de Pasquier, lar da elite da Gendarmeria, em 11 de outubro.

Tir de confiance (Tiro de confiança).

Visto pelo comandante do GIGN

"Sempre fui fascinado pelo GIGN, acho que tenho visto todos as reportagens sobre eles desde pequeno. Então, eu sempre quis desenhá-los, mas não tinha o nível ou o equipamento quando estava no colégio."

Effraction à chaud (Arrombamento).

Doze pinturas, seis horas por tela: "No começo, eu vi fotos de operações. Fui inspirado por elas, mas recriei minhas próprias cenas. Eu queria contar aspectos da profissão, mas acima de tudo, trazer à tona as emoções específicas daquilo que os operacionais experimentam em momentos específicos. A vertigem dos paraquedistas, por exemplo”. A estética das telas devia estar a serviço estrito das atmosferas que o pintor não podia conhecer, mas também de uma verdade do operacional. “Uma pintura pode ser bonita, mas acima de tudo, tem que contar uma história. E lá, eu também queria expressar a força, a coesão e a irmandade do grupo, era o que eu queria destacar".

A exigência compartilhado

Dernier appel (Última chamada).

Trabalhador exigente, Alexis Le Borgne encontra as chaves para uma concentração talvez um pouco nova. "Eu não tinha espaço para erro! Isso me levou a me esforçar, a ter um requisito de estar a serviço da excelência". Ele ganhou um "grande passo técnico". "Eu progredi em fineza, e no desbotamento..." Porque o exercício não é simples. Não há cores brilhantes para realçar. Um universo de nuances e tensões a serem reveladas. "Uma pintura sussurrando", traduz Alexis Le Borgne.

Mover o pincel sobre a paleta militar também era novo. Mas a qualidade de seu trabalho tocou indubitavelmente algo do inexprimível que forma a base das unidades de elite. "O general convidou toda a unidade para o quartel em torno do bar comum", lembra os plérinais. Enquanto os soldados descobrem as pinturas, ele conhece esses homens a quem tanto admira e que são "sensíveis à arte". "Eles têm muitas fotos, quadrinhos também."

Chut’Ops (Salto livre).

Desde então, ele tem sido muito procurado. "Os bombeiros de Paris escreveram para mim. Mas digo a mim mesmo que existem outros assuntos que não são muito tratados na pintura, como os médicos, por exemplo". A arte tem essa capacidade de "ligar tudo". “Na pintura, é preciso muito trabalho. E então, criamos uma linguagem visual e nos abrimos para o mundo". Mas funciona, desde que você tenha "uma verdadeira cultura de humildade". Eu me questiono o tempo todo e não esqueço de onde venho... O garotinho que rabiscou na casa dos pais. Pintar não é uma história de dom, é disciplina, determinação e suor." Sem dúvida, isso vai falar aos homens do GIGN.

Assaut (Assalto).

Poignée fraternelle (Aperto de mão fraternal).

Portrait d’un ops (Retrato de um operacional).

Présentation au drapeau (Apresentação da bandeira).

Plongeurs en infiltration (Mergulhadores em infiltração).

Maître et chien (Tratador e cachorro).

Les yeux et les oreilles (Os olhos e os ouvidos).

Colonne d’assaut (Coluna de assalto).

En chouffe (No mato).

Bibliografia recomendada:

FOTO: Patrulha urbana pós-apocalíptica

Legionários do 1er REG (engenharia) participando da vigilância e proteção do Hospital Laveran, em Marselha, 24 de abril de 2020.
(COMLE/DRPLE)

Patrulha urbana como parte da Operação Sentinela, mas agora com máscaras por conta do coronavírus, proveniente da China. E pensar que tão cedo quanto 2019 a série The Division, da logomarca Tom Clancy, era vista como tendo uma história "muito fora da realidade".

O jogo The Division (2016) e sua continuação The Division 2 (2019) são ambientados em um futuro próximo distópico onde a sociedade moderna foi completamente destruída por um vírus mortal transferido pelas cédulas de dinheiro. As pessoas precisam andar na rua com proteções contra o contágio.

Curta metragem sobre o The Division

GALERIA: Operação de limpeza com blindados em Tu Vu

Carros de combate Sherman M4A1 do RBCEO desdobrados em defesa auto-guardada, com os canhões de 75mm apontados em setores de tiro diferentes, prontos para reagir rapidamente a tentativas de emboscadas contra a coluna blindada.
(
Defives Guy/ ECPAD)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog25 de abril de 2020.

Como parte de uma operação de limpeza no setor de Tu Vu, em janeiro de 1952, várias unidades estão ocupadas esquadrinhando o terreno para detectar melhor qualquer presença de elementos do Viet Minh. A operação próxima a Hoa Binh, no Tonquim (norte da Indochina) foi fotografa por Defives Guy para o ECPAD.

Um trator nivela uma pista e soldados de infantaria tentam rastrear minas usando um detector SCR 625 (chamado "poêle à frire", frigideira, pelos franceses); um esquadrão do RBCEO (Régiment Blindé Colonial d'Extrême-OrientRegimento Colonial Blindado do Extremo Oriente) é desdobrado no terreno, os escaramuçadores de um BMNA (Bataillon de Marche Nord-AfricainBatalhão de Marcha Norte-Africano) avançam com seu mascote, um filhote de cachorro preso na tralha de um soldado.

Um tanque Sherman M4A1 do RBCEO avança dentro de uma coluna e aponta sua arma de 75mm em seu setor de tiro. Ao fundo o canhão de outro Sherman também pode ser visto. Eles são sobrevoados por um avião "Toucan" (Tucano, a forma como os franceses chamavam o Junker 52 de origem alemã), preparando-se para lançar paraquedistas.

As operações de remoção de minas e o avanço dos tanques do RBCEO continuam quando paraquedistas são lançados nas proximidades, sob os olhares de tanquistas coloniais.

Outro tanque Sherman M4A1 do RBCEO, chamado "Murat", abre o caminho através da grama alta, apontando o canhão de 75mm na direção da progressão. A tripulação está em alerta, na esperança de detectar quaisquer elementos do Viet-Minh escondidos na vegetação e para neutralizar todas as tentativas de abordagem e destruição por uma equipe de sapadores do Viet-Minh.

Um tanque M3 Lee (versão de recuperação) do RBCEO foi vítima de uma mina do Viet-minh. Este tanque era normalmente armado com dois canhões fictícios em chapa (37mm na torre e 75mm na lateral direita), bem como um guincho na parte traseira.

Um blindado "Lee" de recuperação do RBCEO sofreu pesados danos por mina ou carga explosiva, tendo a lagarta rompida e sofrido perda da torre. Outros tanques do RBCEO continuam avançando na chuva, assim como os soldados de infantaria.

Um tanque Sherman M4A1 do RBCEO chamado "Cambronne" faz marcha ré para rebocar um veículo em dificuldade enquanto os tanquistas coloniais estão prestes a fixar um cabo de reboque.

O "Cambronne" rebocando o veículo em apuros.

O terreno da Indochina era desafiador para homens e blindados. O terreno, a chuva e a vegetação apresentavam obstáculos formidáveis, que davam aos guerrilheiros do Viet Minh uma grande vantagem para ações de emboscada. Ainda assim, a presença de blindados era considerada essencial e muito bem vinda pela infantaria francesa.

O Sherman M4A1 "Masséna" progride pelo terreno encharcado,
dando carona para seus colegas de infantaria.

Bibliografia recomendada:

French Armour in Vietnam 1945-54.
Simon Dustan e Henry Morshead.

Leitura recomendada:

GALERIA: Manobras com o Sherman no Brasil, 1957,  30 de janeiro de 2020.




FOTO: Somua S 35 na Tunísia26 de março de 2020.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

FOTO: A última patrulha

Polícia de Campanha sul-vietnamita nas ruas de Saigon na manhã do fatídico 30 de abril de 1975.

A Força de Polícia Nacional de Campanha (Cãnh Sát Dã ChiếnCSDC) era uma força paramilitar da Polícia Nacional do Vietnã do Sul, criada em 27 de janeiro de 1966. Suas duas tarefas principais eram destruir a infra-estrutura vietcongue nas áreas habitadas rurais e urbanas, além de suprimir distúrbios civis. Seus efetivos eram formados por voluntários da polícia vietnamitas e das forças armadas, incluindo um influxo de forças especiais quando da dissolução do LLDB (Lực Lượng Đặc Biệt Quân Lực Việt Nam Cộng Hòa, Forças Especiais do Exército da República do Vietnã) em dezembro de 1970. Os militares  da Polícia de Campanha passavam por escolas do ARVN, como a Escola de Infantaria de Thu Duc, além de cursos em Dalat para oficiais e sargentos. Também era comum que militares da Polícia de Campanha fossem enviados para treinamentos em países vizinhos, como a Malásia e as Filipinas.

Em 30 de abril de 1975, depois que o presidente Duong Van Minh anunciou a rendição, o comandante da CSDC, o Tenente-Coronel Nguyen Van Long, cometeu suicídio ao pé do monumento do Corpo de Fuzileiros Navais sul-vietnamitas.

Leitura recomendada:



Experiências de Combate da Infantaria Brasileira na Itália


Por José da Fonseca e Silva, veterano do 11º Regimento de Infantaria, em palestra proferida no comando da 4ª Região Militar, Revista do Exército Brasileiro 125 (2); pg. 97-98, abril/junho de 1988.

(...)A partir daí, fiquei com o meu pelotão em apuros e correndo um risco tremendo, pois chegamos a ouvir a metralha inimiga, embora distante, mas bem atrás das nossas posições. Uma meia hora depois, recebi ordem de retirar o pelotão para uma posição a uns seiscentos metros mais atrás, para que a região fosse batida pela artilharia.

Assim também aconteceu com toda a minha Cia. Foi duro, mas valeu a pena, pois lá da nova posição assisti a um espetáculo que nunca mais vou ver. Na escuridão da noite, as explosões continuadas das granadas de nossa artilharia, que encurtava e alongava a alça, davam a impressão de que aquilo rolava para lá e para cá. Entendi por que esta era chamada de “barragem rolante”.


Mas, enquanto ocorria o drama no batalhão vizinho, no meu pelotão houve uma “guerrinha particular” de fazer vergonha a qualquer soldado. À direita e em frente das posições havia uma depressão do terreno que não permitia a rasância da arma automática do GC que defendia aquele setor. Então, determinei que o local fosse batido por granadas de mão, lançadas à vontade, em grande quantidade. As nossas posições eram protegidas por algumas castanheiras, árvores ainda novas. Então, na fatídica noite, alguém denunciou ter ouvido barulho na depressão. Determinei o lançamento de granadas mas, concomitantemente ao nosso lançamento, recebemos também, vindas da depressão, umas três granadas de mão. Quem ali estava havia se aproximado bastante, pois o seu lançamento era morro acima, o que reduzia o alcance. Repetimos a dose com um lançamento de umas vinte granadas. Recebemos umas quatro, também. Avisei ao meu comandante da iminência de ser abordado pelo tedesco. Ele ficou preocupado e pedia informação a todo momento. Lá pelas tantas, suspendi o lançamento, aguardando que nos atacassem, pois não seriam muitos, pela quantidade de granadas que lançaram. Tudo voltou à calma. Não lançamos mais granadas e também não recebemos nenhuma. Assim que terminou a tal barragem “rolante” da artilharia, voltamos às nossas posições e o dia já estava clareando. Fui logo ver se o alemão havia pisado na tal depressão. Nada, não havia sinal nenhum além das marcas de nossas granadas. Voltei ao meu abrigo e correndo os olhos nos galhos das castanheiras entendi o problema que nós mesmos criamos. Alguns galhos apresentavam pequenas mossas, sinais de que algumas granadas que lançamos bateram neles e simplesmente caíram em cima da gente. Aqui, no tempo de paz, a gente lança granada em lugar completamente limpo e sem obstáculos para evitar acidentes. O tipo de granadas que usávamos e a mecânica de seu lançamento dificultavam quando estávamos no meio de árvores.


Ao voltar da guerra, vez por outra, eu me lembrava daquelas malditas lanternas que os tedescos acenderam em Castello. Mais tarde, como instrutor de combate do 11º RI, montei uma coisa parecida num exercício de defesa (linha de postos avançados). O curso era constituído só de sargentos e uns 70% haviam pertencido à FEB. O efetivo era de uns cem. Desejava testar causa e efeito. Comandei uma patrulha contra os Postos Avançados, enquanto mandei uns três homens, com lanternas, acendê-las ligeiramente em outro ponto oposto ao da patrulha. A coisa funcionou como eu esperava, pois, encostado a um dos Postos, ouvi comando de fogo e, mais tarde, o aviso do atirador de que o festim havia acabado de tanto atirar. Assim, penetrei no dispositivo e fui abordando os demais postos pela retaguarda, até que cheguei ao comandante de toda a linha de defesa (normalmente um sargento, para exercitar-se no comando) e ainda o ouvi, comentando com os demais, os erros que a patrulha estava cometendo ao acender lanternas e que se admirava como eu permitia aquilo. Repeti a experiência mais duas vezes com outros cursos de aperfeiçoamento que funcionaram posteriormente. O resultado foi sempre o mesmo. Em combate, o nervosismo durante o batismo de fogo era normal. Mas no tempo de paz, estranhei que uma tropa constituída só de sargentos atirasse em lanternas. Como eles estavam sob a vista do instrutor, que tinha de atribuir-lhes grau e conceito, poderiam ficar nervosos e fazer tolice também.


Mas, com alguma reserva, tendo vista o grau de formação que eu possuía na época, cheguei à conclusão de que tudo aquilo era provocada por reflexo condicionado errado, vindo da instrução noturna, que ocorria no início do primeiro período de formação. A turma em semi-círculo, no alto de um morro, via a figuração atirar num homem que fumava e que caía espalhafatosamente; atirar em lanternas, atirar em figurantes que faziam barulho com o equipamento. Assim, o homem mentalizava que, vendo luz e ouvindo barulho, devia atirar, quando o certo seria informar. Ele não percebia a necessidade de resguardar o sigilo da posição. Somente mais tarde, nos cursos de sargento, é que o instrutor ia dizer que a abertura de fogo, em uma situação tática, era reservada ao comandante da fração. Os soldados, então nem tomavam conhecimento disto e ficavam com o aprendizado anterior de: vendo, atirar; ouvindo, atirar. Talvez o alemão tenha explorado este lado fraco de nossa instrução. Foi a única explicação que encontrei para que eles usassem lanternas naquela noite no Monte Castello. Por via das dúvidas, mesmo não sendo uma verdade absoluta, passei a dar esta instrução com mais cuidado, e mesmo aos recrutas avisava repetidamente “que a abertura de fogo numa posição obedecia a uma situação tática e era reservada ao comandante da fração”, que o soldado deveria informar o que via e ouvia. Poderia atirar em casos imprevistos, de surpresa, para defender-se ou como aviso a todo o pelotão. Foi mais uma dura experiência colhida.

Leitura recomendada:

A FEB e os jipes, 12 de março de 2020.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

FOTO: Os amotinados e o mistério do FAMAS na Papua Nova Guiné

Os soldados amotinados da PNG no quartel de Taurama entregam as armas para simbolizar o fim da tentativa de golpe.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 23 de abril de 2020.

O motim da Força de Defesa da Papua Nova Guiné (Papua New Guinea Defence Force, PNGDF) em 2012 ocorreu em 26 de janeiro de 2012, quando um grupo de militares chefiados pelo coronel aposentado Yaura Sasa ocupou o quartel de Murray (Murray Barracks), o quartel-general da PNGDF por conta da disputa pelo posto de primeiro ministro da Papua Nova Guiné entre o ex-ministro Sir Michael Somare, iniciada dezembro de 2011, quando o Supremo Tribunal da Papua-Nova Guiné ordenou que Somare fosse restabelecido como primeiro-ministro, enquanto o parlamento do país apoiava O'Neill.

Às 3:00 da manhã de 26 de janeiro, cerca de 20 soldados do 1º Batalhão do Real Regimento das Ilhas do Pacífico (Royal Pacific Islands Regiment,1 RPIR) prenderam Agwi e dois outros oficiais considerados leais ao ministro O'Neill, depois de surpreenderem guardas em Taurama Barracks, o quartel do 1º Batalhão do RPIR, nos subúrbios da capital da PNG, Port Moresby. Vários tiros foram disparados durante esta operação. O grupo então transportou Agwi para o quartel de Murray, perto do centro da cidade, onde ele foi colocado em prisão domiciliar. 

Então comandante da PNGDF, General-de-Brigada Francis Agwi, em junho de 2011.

O Coronel Sasa anunciou que a ação não era um motim ou um golpe, pois Samore era o primeiro-ministro legítimo do país. Através de sua filha, o ex-premier Samore confirmou ter ordenado o motim chamando o governo de ilegal. A rebelião não tinha o apoio da maior da PNGDF, com apenas 30 homens leais ao golpe no quartel de Murray. Em 27 de janeiro os amotinados continuavam armados, com o impasse institucional imobilizando a todos - o comandante da polícia se recusou a intervir, alegando que as atitudes do coronel eram uma questão interna das forças armadas.

Sasa foi preso por policiais na noite de 28 de janeiro e acusado de motim. Em 30 de janeiro, os soldados que participaram do motim entregaram suas armas em troca da anistia após um desfile no quartel de Taurama diante do Ministro da Defesa Belden Namah, que fez um discurso para cerca de 200 membros do 1 RPIR, incluindo os 30 amotinados, durante o qual afirmou que os soldados que haviam participado do motim receberiam uma anistia no final da tarde; mas no entanto ameaçando que novos rebeldes "enfrentariam o peso total da lei". Apesar das duras palavras, o Coronel Sasa foi solto pelo Supremo Tribunal em 1º de agosto de 2012.


Mas de onde vieram os FAMAS? Alguns grupos de entusiastas na internet começaram a debater como os amotinados conseguiram os fuzis FAMAS vistos nas filmagens e na foto da rendição no dia 30; apresentando as teorias conspiratórias mais mirabolantes de conexões clandestinas com países vizinhos operando o FAMAS.

Os misteriosos FAMAS dos amotinados.

O primeiro candidato mencionado foi Vanuatu, que adquiriu o FAMAS em 1994 e adotando como padrão em 2009. Outro candidato foi a Indonésia, que possui dotação de fuzis FAMAS no exército, marinha e polícia; levando à teoria do golpe ter sido orquestrado por Jacarta. Apesar da Indonésia ser conhecida por sua política violenta de interferência nos países vizinhos, entrando em conflito com os holandeses, com a Commonwealth na Emergência Malásia, e inclusive mantendo uma ocupação violenta no Timor Leste de 1975 a 1999.

A realidade, no entanto, é mais mundana. O PNGDF comprou os fuzis FAMAS legalmente na década de 90. A Força possui 7 quartéis pelo país: Murray, Taurama, Goldie, Lombrum, Igam, Vanimo e Moem. O FAMAS foi colocado no quartel-general de Murray, para funções de segurança e cerimonial; o mesmo quartel onde os amotinados mantiveram o General Agwi.

"Nunca atribua à malícia/maldade o que pode ser adequadamente explicado pela estupidez."

- Navalha de Hanlon.

Operador do KOPASSUS, forças especiais do Exército Nacional Indonésio (TNI-AD), com um FAMAS G2.

Os "entusiastas conspiratórios" alegavam que a PNGDF era armada apenas com fuzis M16 e FAL, mas a PNGDF é conhecida justamente por um número excessivo de armamentos, de várias procedências, e que não são propriamente guardados nos arsenais. Além do fuzil padrão M16A2 (o Constabulário usa o AR15 semi-automático) e do antigo SLR australiano (FAL imperial), há o SIG 540, o SR-88 (Singapore Rifle 88, Fuzil de Cingapura 88), SAR-80 (Singapore Assault Rifle 80, Fuzil de Assalto de Cingapura 80), Galil, HK 33, os modelos bullpup FAMAS, SA-80 Enfield e Steyr AUG.

Um diplomata de defesa comentou que a PNGDF tinha "armas demais para o tamanho de sua força". Os soldados e policiais da Papua Nova Guiné são majoritariamente primitivos e entregam armas dos arsenais governamentais aos parentes de forma a manterem a competitividade das suas famílias nas milhares de mini-guerras tribais que ocorrem simultaneamente na ilha. Os arsenais estão sempre desfalcados, geralmente em cerca 45% (menos da metade). A revisão da Commonwealth observou a "indisciplina, embriaguez e roubo de armas... [e] perdas não investigadas e inexplicáveis [de armas portáteis]" e lamentou a baixa penalidade pela perda de uma arma - PGK 40, meros 13 dólares. É mais fácil para os locais roubarem armas do governo do que contrabandearem do exterior.

Um delegado das Ilhas do Pacífico, falando em um seminário de armas portáteis em Tóquio disse "Eu sou o homem mais poderoso do país. Eu seguro a chave do arsenal". As suas palavras não são exageradas e demonstram as dificuldade institucionais nesses pequenos países.

Em um relatório especial da Small Arms Survey, de Genebra, publicado em 1º de janeiro de 2005, cita uma auditoria feita em agosto de 2004, on cerca de 1.500 armas haviam sumido. O relatório apontou 11 fuzis FAMAS desaparecidos, 3 do modelo F1 e 8 do modelo G2.

A PNGDF é uma instituição com excesso de pessoal, corrupta e ineficaz. Em março de 2001, uma revisão do Grupo de Pessoas Eminentes da Commonwealth (Commonwealth Eminent Persons GroupEPG) recomendou reduzir o número de tropas de mais de 4.000 homens para apenas 1.900 militares, o que foi apreciado pelo primeiro-ministro Sir Mekere MorautaEntre 30 e 50 soldados assumiram o controle do quartel de Moem na cidade de Wewak, forçando o primeiro-ministro a recuar. O porta-voz PNGDF  disse que soldados no quartel de Igam, na cidade de Lae, 155 quilômetros ao norte de Port Moresby, não se juntaram ao motim, mas expressaram simpatia pela questão da redução de custos.

Estes dois eventos não foram os únicos golpes militares na Papua Nova Guiné: A Unidade das Forças Especiais assumiu ilegalmente o controle do centro de operações da PNGDF no quartel de Murray, em 28 de julho de 1997, durante o Sandline Affair (Caso Sandline).


Recentemente, a PNGDF suspendeu o recrutamento por causa de acusações gravíssimas de nepotismo, patronato e suborno na aceitação de voluntários.

Leitura recomendada:

GALERIA: O FAMAS em Vanuatu22 de abril de 2020.

O FAMAS no mercado de exportação4 de novembro de 2019.



VÍDEO: A Revolta Alemã de 1953


Leitura recomendada:

GALERIA: A revolta anti-comunista na Alemanha Oriental de 1953, 26 de fevereiro de 2020.

Preocupações do Pacto de Varsóvia: A Polônia e Alemanha Oriental não eram exatamente os melhores dos "aliados"8 de abril de 2020.

O identidade da Stasi do Putin foi encontrada em arquivo alemão11 de março de 2020.

FOTO: Reais Fuzileiros Navais de Tonga no exercício RIMPAC 2012

Reais Fuzileiros Navais de Tonga no RIMPAC 2012.

Tonga contribuiu com um pelotão de infantaria de 30 homens reais fuzileiros navais; as armações inferiores dos fuzis estão gastas por causa de uso e limpeza. Os Reais Fuzileiros Navais Tonganeses são um único batalhão com uma companhia de comando e serviço e três companhias de infantaria leve, com sede em Fuaʻamotu. Os fuzileiros tonganeses, assim como as demais forças tonganesas, participaram nas missões no Afeganistão e no Iraque, apenas do tamanho diminuto do país.

Os reais fuzileiros navais tonganeses participam de um "sipi tau", uma dança cerimonial, fazendo a Haka durante uma cerimônia de arriamento da bandeira à bordo do acampamento Leatherneck, província de Helmand, Afeganistão, em 28 de abril de 2014.


O RIMPAC (Rim of the Pacific Exercise), o Exercício da Orla do Pacífico, é o maior exercício de guerra marítima internacional do mundo. O RIMPAC é realizado bienalmente durante junho e julho dos anos pares à partir de Honolulu, Havaí. É hospedado e administrado pelo Comando Indo-Pacífico da Marinha dos Estados Unidos, com sede em Pearl Harbor, em conjunto com as forças do Corpo de Fuzileiros Navais, da Guarda Costeira e da Guarda Nacional do Havaí, sob o controle do Governador do Havaí. 


Os EUA convidam forças militares da Orla do Pacífico e além para participarem. Até o momento, o Brasil participou apenas com observadores, cancelando a sua participação duas vezes, em 2016 e 2018, alegando "compromissos de agendamento imprevistos".

O RIMPAC 2012 foi o 23º exercício da série e começou em 29 de junho de 2012, com a participação de 42 navios, incluindo o porta-aviões USS Nimitz e outros elementos do Carrier Strike Group 11, seis submarinos, 200 aeronaves e 25.000 militares de 22 nações. O exercício envolveu combatentes de superfície dos EUA, Canadá, Japão, Austrália, Coréia do Sul e Chile.

A Marinha dos EUA demonstrou sua "Grande Frota Verde" de embarcações movidas a biocombustíveis, para as quais comprou 450.000 galões de biocombustível, a maior compra individual de biocombustível da história a um custo de US$ 12 milhões. Em 17 de julho, o USNS Henry J. Kaiser entregou 900.000 galões de biocombustível e combustível tradicional à base de petróleo ao Carrier Strike Group 11.


Os exercícios de 2012 incluíram unidades ou pessoal dos seguintes países:
- Austrália, 
- Canadá, 
- Chile, 
- Colômbia, 
- França, 
- Índia, 
- Indonésia, 
- Japão, 
- Malásia, 
- México, 
- Holanda, 
- Nova Zelândia, 
- Noruega, 
- Peru, 
- República da Coréia, 
- República das Filipinas, 
- Rússia, 
- Cingapura , 
- Tailândia, 
- Tonga, 
- Reino Unido,
- Estados Unidos. 

A Rússia participou ativamente pela primeira vez, assim como as Filipinas, devido às crescentes tensões com a República Popular da China sobre a propriedade do Banco de Areia de Scarborough.


O RIMPAC 2012 também foi o cenário principal do filme Battleship (Battleship: A Batalha dos Mares, 2012).

Leitura recomendada:

GALERIA: O FAMAS em Vanuatu22 de abril de 2020.