domingo, 15 de novembro de 2020

PERFIL: Jean Gabin, astro de cinema e fuzileiro naval da 2e Division Blindée

 

Jean Gabin,
famoso ator da era clássica do cinema e fuzileiro naval da França Livre.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 15 de novembro de 2020.

Jean Gabin (Jean Alexis Moncorgé, nascido em 17 de maio de 1904 e falecido em 15 de novembro de 1976) prestou o serviço militar na Marinha Nacional francesa, primeiro como fuzileiro naval em Lorient, depois no Ministério da Marinha em Paris, de 1924 a 1925. Durante uma de suas primeiras licenças, em 26 de fevereiro de 1925, casou-se com uma admiradora, a futura atriz Marie-Louise Basset, conhecida como Gaby, com quem não teve filhos.

Deixou o serviço para se tornar uma estrela do cinema, tendo já atuado como ator desde os 15 anos, debutou no Moulin Rouge em 1929. Sua filmografia incluiu grandes produções como O Mártir do Gólgota (Golgotha, 1935), onde interpretou Pôncius Pilatos; A Grande Ilusão (La grande illusion1937), onde interpretou o Tenente Maréchal e contracenou com Dita Parlo; e Cais das Sombras (Le quai des brumes, 1938) onde interpreta o protagonista, o desertor Jean, e contracena com Michèle Morgan. 

Jean Gabin (Jean) e Michèle Morgan (Anna) no filme Cais das Sombras, 1938.

Com a invasão alemã da Polônia, Gabin foi mobilizado em 3 de setembro de 1939 e designado para Cherbourg. Após a queda da França, o país foi dividido entre Zona Ocupada, no norte e administrada pelos alemães, e Zona Livre, no sul, sediada em Vichy. Em outubro de 1940, acompanhou Michèle Morgan à estação Saint-Charles em Marselha, que partia para Barcelona, ​​depois Portugal, com destino aos Estados Unidos. Também desejando juntar-se a ela, ele foi a Vichy para obter uma autorização.

Em 2 de fevereiro de 1941, recusando-se a atuar para os alemães durante a ocupação, ele cruzou a fronteira espanhola em fevereiro de 1941, sem saber se o fez legalmente. Em Barcelona, obteve visto no consulado americano e pôde ir para Nova York a bordo do navio Exeter. Ele emigrou para Hollywood nos Estados Unidos onde conheceu outros expatriados franceses como Jean Renoir, Julien Duvivier, Charles Boyer, Jean-Pierre Aumont, etc. Continuou atuando, participando de filmes em Hollywood, destacadamente no filme Brumas (Moontide, 1942), onde foi o protagonista interpretando o aventureiro Bobo, contracenando com Ida Lupino.

Página do Ciné-Miroir de 24 de dezembro de 1939.

Durante este período nos EUA, ele se encontrou brevemente com Ginger Rogers e Patricia Morison. Tendo retornado de Los Angeles após um período de tédio, durante o verão de 1941, ele conheceu Marlene Dietrich em Nova York. Ele se mudou com ela para a Califórnia em uma villa que Greta Garbo alugou para eles, então em 1006 Cove Way, em uma villa em Beverly Hills.

Com saudades de casa, Marlene Dietrich tenta aliviá-lo com sua comida ou distrações que o fazem lembrar da França. Em 18 de janeiro de 1943, o tribunal de Aix pronunciou a sentença de divórcio com sua segunda esposa Jeanne Mauchain.

Já muito famoso, ele poderia tentar a carreira de ator nos Estados Unidos, mas recusa apesar do seu contrato com a Fox (ele havia assinado o primeiro contrato em 1937, mas não o honrou). Além disso, o ator estava menos interessado nos estúdios de Hollywood durante esse período de guerra: eles não tinham mais acesso aos cinemas europeus e, portanto, ao público habitual de Jean Gabin. Mesmo assim, a imprensa o recebeu com entusiasmo, e a revista Photoplay publicou uma reportagem de quatro páginas com o título "Escaped from the Nazis" ("Escapou dos nazistas").

Marlene Dietrich e Jean Gabin nos Estados Unidos, 1942.

Mais tarde, Jean Gabin confidenciou: “Eu estava cansado da idéia de ser obrigado a terminar minha vida nos Estados Unidos. Não podia ficar com as mãos nos bolsos, continuar a fazer caretas na frente de uma câmera - enquanto era bem pago - e esperar em silêncio que os outros fossem fuzilados para que eu retornasse à minha cidade natal”.

Depois de entrar em contato com a França combatente no final de 1942, juntou-se às Forças Navais Francesas Livres do General de Gaulle, em abril de 1943, para libertar seu país. Embarcado como artilheiro, chefe de peça do navio-tanque Elorn, ele cruzou o Atlântico em um comboio com destino a Casablanca, no Marrocos francês. O comboio foi atacado por submarinos e por aviões alemães nas aproximações do Mediterrâneo e ao largo do Cabo Ténès.

Nesse período, as Forças Francesas Livres começaram a receber material americano e a formar novas divisões para a libertação da Europa. Um Corpo Expedicionário Francês com mais de 100 mil homens foi enviado para a Itália, onde se destacou no rompimento do dispositivo alemão no Monte Cassino.

Durante esse período de trabalho febril, e apesar de poder servir em funções de apoio devido à idade, a seu pedido, Jean Gabin foi voluntário do Regimento Blindado de Fuzileiros Navais (Régiment blindé de fusiliers-marins, RBFM); uma unidade nova criada à partir do Batalhão Bizerta, que se destacou na campanha da Tunísia. O RBFM contava 5 esquadrões de combate e um esquadrão de estado-maior. Gabin passou pelo treinamento de blindados em tornou-se comandante do M10 Wolverine "Souffleur II", um caça-tanques (Tank Destroyer, TD) no 2º esquadrão sob as ordens do então enseigne de vaisseau (guarda-marinha), e futuro vice-almirante, André Gélinet. O RBFM foi colocado na famosa 2ª Divisão Blindada (2e Division Blindée, 2e DB) do General Leclerc, herói de Kufra e futuro libertador de Paris.

Ordem de Batalha:

  • Esquadrão de Estado-Maior: LV Brisset e Carsin;
  • 1º Esquadrão (Recon): LV Pauly e Divorne;
  • 2º Esquadrão (TD): LV Guillon e Gélinet;
  • 3º Esquadrão (TD): LV Bonnet;
  • 4º Esquadrão (TD): LV Richard;
  • Esquadrão independente: LV Ollieu e Mounié.

O esquadrão independente comportava um pelotão de motoristas de ambulância femininas, chamadas "Marinettes" (por serem da Marinha, Marine), equivalentes às Rochambettes do exército. Comandadas pela Éngagé Volontaire (EV) Carsignol, eram "as filhas da 2e DB" pertencentes ao 13º Batalhão Médico da Divisão Leclerc.

Ações de combate do RBFM

A 2ª Divisão Blindada finalmente desembarcou em solo francês à 1:30h na noite de 2-3 de agosto de 1944, em Saint Martin de Varreville, praia de Utah, onde a 4ª Divisão de Infantaria americana desembarcou em 6 de junho. 

O RBFM deixa Lastelle no dia 6 de agosto à noite, em direção a Coutances, La Haye-Pesnel, Avranches, Ducey, Saint-Laurent-de-Terregate onde está localizado o bivaque. O ritmo das operações foi altíssimo e o material rolante da divisão teve de passar por manutenção de campanha constante, com as lagartas do material rolante do 2º Esquadrão sendo trocadas já em 20 de agosto.

Como os caça-tanques da divisão, o RBFM é um elemento de manobra importante devido ao seu poder de fogo contra os tanques alemães Panther e Panzer IV. Apesar do canhão 75 do tanque americano Sherman - carro de combate padrão da 2e DB - ser capaz de perfurar a blindagem do Panther em determinadas circunstâncias, o canhão de 76,2mm do M10 Wolverine era particularmente adaptado à missão e o próprio carro era dotado de mobilidade superior, além de ser apoiado por jipes que deveriam aferrar a infantaria alemã de acompanhamento.

Modelo do M10 "Richelieu" do RBFM com os fuzileiros usando a mescla de uniformes americanos e franceses, como a tradicional cobertura naval com o "pompon rouge". (King & Country)

Em 12 de agosto de 1944, o RBFM registrou sua primeira vitória. O 3º pelotão do 3º esquadrão (veterano do Batalhão Bizerta) foi ordenado a vigiar a estrada para Alençon, pois havia muito movimento por ali. O pelotão envia os TD "Estrasburgo" e "Jean-Bart" para ocupar a posição. O caça-tanques "Jean-Bart", do 3º Esquadrão e comandado pelo Quartier-Maître Passaquet, destrói um Panther em 3 tiros a 800 metros de distância - após colocar em chamas 3 caminhões cheios de infantaria alemã na passagem.

O RBFM participaria da libertação de Paris em 25 de agosto, apoteose da 2e Division Blindée. Os esquadrões do regimento se distinguiram na avenida Luxemburgo, na Ponte de Sèvres, e na Place de la Concorde. Os alemães contra-atacaram a Ponte de Sèvres à noite, tentando puxar três peças pesadas, 1 canhão anti-carro e dois canhões anti-aéreos. Os alemães perderam 40 homens na tentativa e os fuzileiros navais perderam 3 e mantiveram a ponte.

O RBFM então avança pela Avenida Victor Hugo, desborda o Arco do Triunfo, destruindo veículos leves alemães. Quatro TD e um jipe do RBFM cruzam o Champs Elysées. Os TD "Siroco" e "Cyclone" pela esquerda, os "Simoun" e "Mistral" pela direita. De repente, três projéteis foram disparados na direção do "Simoun", mas sem alcançá-lo. Depois de alguns segundos, a tripulação deste último identificou o inimigo: um Panzer V Panther (da Divisão Panzer-Lehr), localizado na Place de la Concorde. O comandante do Simoun, este posicionado no alto da Avenida George V, ordena o ajuste da mira para 1.500 metros, mas o atirador era parisiense, e sabia que a distância do Champs Élysées era de 1.800m e ajustou a mira de acordo. O Simoun abriu fogo, disparando duas vezes e rapidamente recuando. Os dois projéteis disparados atingiram o Panther, destruindo a lagarta e o imobilizando. O Panther foi então engajado pelo Sherman "Douaumont" do 501º Regimento de Carros de Combate (501e Régiment de Chars de Combat, que operaria Panthers no pós-guerra), vindo da Rue de Rivoli.

Tendo disparado contra a blindagem frontal do Panther sem resultados, disparou em seguida uma granada de fósforo branco, cegando o adversário. O "Douaumont" então atingirá violentamente o tanque alemão antes que ele consiga virar sua torre - este episódio foi retratado no filme "Paris está em chamas?" (Paris brûle-t-il?, 1966). A tripulação do tanque Panther evacuou o veículo e se refugiou no jardim das Tuilleries. O tanque alemão abandonado seria finalmente destruído com granadas pelo sargento Marcel Bizien, comandante do tanque do "Douaumont". Outros dois Panthers foram engajados e destruídos pelos franceses, não sem antes destruírem quatro Shermans.

Em seguida, os 1º e 2º esquadrões serão posicionadas no Hipódromo de Longchamp, o 3º esquadrão em Le Bourget enquanto o 4º esquadrão ficou no Fort de la Briche, em Saint Denis. A divisão deixou Paris em 8 de setembro.

O RBFM lutou em Dompaire, destruindo grande quantidade de Panthers por meio de armas-combinadas envolvendo os caça-tanques, os Shermans e caças-bombardeiros P47 Thunderbolt. A Panzer-Brigade 112 perdeu mais da metade de seus tanques, incluindo 59 Panthers. Ela teve que recuar e "desapareceu da ordem de batalha do exército alemão". O RBFM então lutou no Bolsão de Royan e participou da tomada e defesa de Strasbourgo no fim do ano.

O mais velho chefe de blindados

Gabin, comandante do Souffleur II, junto à tripulação em Royan, fevereiro de 1945.
Da esquerda para direita: o motorista, Quartier-Maître Roger Legendre; atirador Matelot Gonidec "Gogo", Gabin; motorista auxiliar, Matelot Thiebault; municiador, Quartier-Maître Chevalier.
(Colorização por Jean M. Gillet / Colors of the Past)

Jean Gabin foi convidado a participar do filme de propaganda gaullista L'Imposteur (O Impostor, 1944), cujo sucesso de crítica e público foi misto. Longa metragem de propaganda gaullista saudando também a entrada benéfica americana na guerra, este filme foi rodado em inglês e produzido pelo serviço de propaganda americano tendo, nos créditos, apenas dois franceses: Julien Duvivier e Jean Gabin. Além disso, Gabin declararia em entrevista à Cinévie: “O que valem os filmes que se fazem em Hollywood, eu não sei. E isso não importa. Estamos fazendo, nesse momento em Paris, O Impostor. Eu não vou vê-lo. Quando o fiz, foi útil fazê-lo. Fiz filmes no estilo americano, para americanos. Foram eles que tiveram de ser tocados e fico feliz se consegui. Se agora os franceses não gostam, podem estar certos porque as circunstâncias não são as mesmas”.

Em janeiro de 1945, Gabin estava presente no RBFM e seria promovido a chefe do 2º Esquadrão em fevereiro com o posto de "second maître" durante a Batalha do Bolsão de Royan (setembro de 1944 a abril de 1945). Ele então ficará acantonado com o regimento no Château de Bouges antes de partir para a campanha da Alemanha, que o levará ao Ninho da Águia de Adolf Hitler em Berchtesgaden.

Jean e Marlene se encontraram na Alemanha e voltaram juntos à Paris.
Marlene Dietrich trabalhava no entretenimento das tropas americanas como parte do United Service Organizations (USO).

Em julho de 1945, aos 41 anos, o “comandante de tanque mais velho da França Livre” foi desmobilizado e voltou ao mundo do entretenimento com cabelos brancos. Jean Gabin encontrará com Marlene Dietrich na Alemanha, durante uma parada militar com a presença do General de Gaulle. Voltando com ela para a França, ele se abstém de participar do desfile da vitório no Champs-Élysées e assiste seu velho caça-tanques desfilar de uma varanda do hotel Claridge. Por seus serviços, Jean foi condecorado com a Médaille Militaire e a Croix de Guerre.

De volta à França, Jean quer retomar à carreira de ator, mas ele mudou física e moralmente e novos atores românticos apareceram, como Jean Marais, Gérard Philipe ou Daniel Gélin. Ele desiste de interpretar Portas da Noite (Les portes de la nuit, 1946), de Marcel Carné, com sua namorada Marlene Dietrich porque esta se recusa a interpretar a filha de um colaboracionista. Em 1946, após comprar os direitos do romance, interpreta o papel-título de Martin Roumagnac, ao lado de Marlene Dietrich. O filme, atacado à exaustão pela crítica, obteve na época um sucesso comercial com dois milhões de ingressos. No entanto, o filme é vítima de uma lenda que se costuma ler e ouvir, alegando que ele foi um amargo fracasso comercial. Sua carreira de artista se estendeu até 1976.


Marlene e Jean em Paris, 1946.

Após a guerra, A relação com Marlene Dietrich, então com 43 anos, vai se deteriorando de 1945 a 1946, com Jean Garbin se relacionando com a atriz Maria Mauban, e depois, em 1947, com Colette Mars. Essas relações permanecem sem resultado. Em 1949, ele se casou com a modelo Christiane Fournier, com quem teve três filhos.

Jean Garbin faleceu em 15 de novembro de 1976, aos 72 anos, em Neuilly-sur-Seine. Durante toda a vida manteve-se muito ligado à marinha nacional e próximo do seu líder, o Vice-Almirante Gélinet e sua família. Um dos seus últimos desejos foi autorizado pelo Presidente da República: no dia 19 de novembro, homenagens militares foram-lhe rendidas a bordo do Aviso Détroyat e suas cinzas foram espalhadas ao largo de Brest.

Quepes azul e branco usados na guerra.

Cinto com o coldre da pistola adornado com adereços alemães.

Mala civil americana com a inscrição
"Jean Gabin Moncorgé 22550, F.N.F.L., 43".

Bibliografia recomendada:

Gabin-Dietrich:
Un couple dans la Guerre,
Patrick Glâtre.

Leitura recomendada:

Uma avaliação francesa do tanque Panther30 de janeiro de 2020.

FOTO: Fuga de Berlim Oriental2 de setembro de 2020.

FOTO: Prisioneiros alemães na Itália26 de março de 2020.

GALERIA: Forças Especiais Sauditas no Iêmen

 


Forças especiais sauditas no Iêmen. Eles vêm participando da problemática intervenção da Arábia Saudita conduzindo raides e controle de apoio aéreo, além de trabalharem com milícias iemenitas leais.






Operador passando por um muro pichado com o acrônimo "UAE", dos Emirados Árabes Unidos (EAU).
Os emiráticos foram o principal aliado saudita no conflito.

Bibliografia recomendada:



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sexta-feira, 13 de novembro de 2020

FOTO: Caçadores de artilharia no Ártico

Caçadores de artilharia da Bateria STA norueguesa (Vigilância e Aquisição de Alvos) no Batalhão de Artilharia, praticando JTAC/FAC com helicópteros de combate Apache britânicos do 656 Squadron Army Air Corps, no campo de tiro de Setermoen, Noruega.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 13 de novembro de 2020.

A diferença entre o Observador Avançado (FO) e os caçadores de artilharia é que o FO nas forças armadas norueguesas apenas conduz fogo terrestre (fogo de artilharia ou morteiro) e esse é seu único trabalho. Eles são responsáveis por direcionar o fogo de artilharia e morteiros contra um alvo. Alguns dos membros habilitados também têm curso JTAC (apoio aéreo aproximado, mas não muitos. O FO também segue as baterias sob as quais estão subordinados durante as missões ou exercícios de treinamento - em outras palavras, se a bateria precisar se mover, o FO se move. Sem FO, sem missões de fogo.

Os caçadores de artilharia podem fazer uma plêiade de missões, mas os caçadores de artilharia trabalham principalmente muito atrás das linhas inimigas com o propósito de infligir ao inimigo o máximo de perdas possível dentro e ao redor de sua organização de retaguarda, sejam departamentos inteiros, instalações e infraestrutura. Eles também coletam informações/inteligência sobre o inimigo, detecção de alvos (para o FO) e combate a alvos com recursos de aeronaves (caças e bombardeiros), artilharia de campanha, de foguetes e de navios de trás da linha de frente. Os caçadores de artilharia também são treinados para o combate de infantaria e podem, portanto, se necessário, apoiar as unidades de manobra norueguesas na frente - como os observadores avançados. Eles também são as primeiras tropas a saírem em campanha, muito antes das baterias começarem a sair, para obter informações.

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

FOTO: Comandos camuflados no inverno, 21 de setembro de 2020.

Apaches no Ártico, 2 de março de 2020.

Sahel: A Força Barkhane elimina chefe de operações do Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos

Airbus Helicopters EC-665 Tiger

Por Laurent Lagneu, Zone Militaire Opex 360, 13 de novembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de novembro de 2020.

Durante as trocas que ele teve com os chefes do estado-maior dos três exércitos [e da gendarmeria] no final da cerimônia organizada no Arco do Triunfo para o 102º aniversário do armistício de 11 de novembro, o Presidente Macron referiu-se a uma ação que acabava de ser executada no Mali, abordando brevemente o modus operandi que tinha sido seguido. Ao mesmo tempo, duas fotos mostrando uma picape do tipo Hilux supostamente destruída por um ataque aéreo na região de Tatamakat [norte do Mali] começaram a circular nas redes sociais.

Demorou quase 48 horas para descobrir-se mais. De fato, a Ministra das Forças Armadas, Florence Parly, divulgou um comunicado de imprensa anunciando que as forças francesas haviam neutralizado um certo Bag ag Moussa, apresentado como o líder militar do Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos [GSIM ou JNIM , para Jama'a Nusrat ul-Islam wa al-Muslimin], uma das duas principais organizações jhadistas ativas no Sahel.

“Quadro histórico do movimento jihadista no Sahel, Bah ag Moussa é considerado responsável por vários ataques contra o Mali e as forças internacionais. Ele era considerado um dos principais líderes militares jihadistas no Mali, especialmente encarregado de treinar novos recrutas”, disse Parly.

A operação francesa foi lançada no dia 10 de novembro, no final da tarde, quando o veículo em que Bah ag Moussa estava sentado foi avistado por um drone no setor Tatamakat, localidade localizada cerca de cem quilômetros ao norte de Menaka. Dois helicópteros de ataque e reconhecimento e dois outros de manobra, com cerca de quinze comandos a bordo, decolaram para interceptar a pick-up, intenção inicial da Barkhane, especifica o Estado-Maior das Forças Armadas [EMA], sendo então para capturar seus ocupantes.

Porém, após um tiro de advertência e outro de parada, os cinco jihadistas que estavam a bordo da caminhonete abriram fogo com uma metralhadora e suas armas individuais contra os helicópteros franceses. Isso os forçou a retaliar. Os comandos foram colocados no chão, uma luta de cerca de quinze minutos se seguiu. Terminou quando os terroristas foram todos "neutralizados" [leia-se: mortos].

Posteriormente, os militares franceses recuperaram o material "utilizável" para fins de inteligência e destruíram no local o que não era de particular interesse. Quanto aos corpos dos jihadistas, garante o EMA, foram enterrados de acordo com o Direito Internacional Humanitário.

A eliminação de Bah ag Moussa não é consequência de uma operação de oportunidade mas de uma caçada de longo prazo, com a mobilização de recursos de inteligência sobre os quais o EMA não quis comentar [é provável que tenham sido solicitados recursos americanos, bem como drones….].

Para o GSIM, a eliminação do seu chefe de operações é obviamente um golpe. Ex-oficial das Forças Armadas Malinenses [Forces armées maliennesFAMa] e membro fundador do Ansar Dine, o grupo jihadista liderado por Iyad Ag Ghali antes da criação do GSIM, Bah ag Moussa estava na lista do comitê de sanções das Nações Unidas desde agosto de 2019.

Em 2013, quando os grupos jihadistas foram forçados a desistir de suas posições no norte do Mali pela operação francesa Sérval, ele se juntou ao Alto-Conselho pela Unidade de Azawad [Haut-Conseil pour l’unité de l’AzawadHCUA], acusado de jogar um jogo-duplo. Posteriormente, tendo recrutado combatentes tuaregues em nome de Ansar Dine, ele liderou um ataque mortal ao quartel de Nampala [20 mortos, em julho de 2016], antes de assumir a direção de operações do GSIM. Desde então, seu nome foi associado a vários ataques particularmente mortíferos lançados contra as FAMa.

Após a eliminação de Abdelmalek Droukdel, então chefe da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico [al-Qaïda au Maghreb islamiqueAQIM] em junho passado, e de Bah ag Moussa, a Barkhane mostra que sua ação não se concentra apenas na região das três fronteiras e o Estado Islâmico no Grande Saara.

"Indiscriminadamente, seja o Daesh ou a Al-Qaeda, a França ataca aqueles que, em nome de sua ideologia mortífera, atacam as populações civis e desejam desestabilizar os Estados da região", disse a ministra Parly, em seu comunicado à imprensa.

Bibliografia recomendada:

Estado Islâmico:
Desvendando o exército do terror.
Michael Weiss e Hassan Hassan.

Leitura recomendada:

COMENTÁRIO: Quando se está no deserto...29 de agosto de 2020.

GALERIA: Grupamento de Comandos de Montanha no Mali14 de maio de 2020.

FOTO: Salto noturno na chuva26 de setembro de 2020.

O Estilo de Guerra Francês, 12 de janeiro de 2020.

FOTO: Canadenses no Mali13 de setembro de 2020.

COMENTÁRIO: Contra o Daesh, a estranha vitória11 de setembro de 2020.

Golpe no Mali: Barkhane à prova?13 de setembro de 2020.

Capacetes Azuis Marroquinos: valores e compromissos, 1º de julho de 2020.

Como a China viu a intervenção da França no Mali: Uma análise14 de março de 2020.

O Tigre em combate - A experiência do Exército Francês27 de fevereiro de 2020.

Como construir melhores forças armadas na África: as lições do Níger8 de outubro de 2020.

FOTO: CLAnf filipino durante uma enchente

Um CLAnf KAAV-7A1 dos fuzileiros navais filipinos em operações de ajuda humanitária (Humanitarian Assistance Disaster Relief, HADR) durante as enchentes na região de Manila, após o Tufão Vamco, 13 de novembro de 2020.

O modelo KAAV-7A1 é uma versão modernizada do CLAnf AAV-7A1 da Samsung Techwin (agora Hanwha Defense) e sistemas BAE desenvolvidos e fabricados na Coréia do Sul pela Samsung Techwin.

Bibliografia recomendada:

AMTRACS:
US Amphibious Assault Vehicles,
Steven J. Zaloga e Terry Hadler.

Leitura recomendada:

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A arma excepcional da ação: O FAL em Long Tan no Vietnã

Batalha de Long Tan, 1966.
O relatório oficial pós-ação do exército australiano chamou o FAL de "a arma excepcional da ação".
Ilustração de Steve Noon.

Por Bob Cashner, The FN FAL Battle Rifle, 2013.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 16 de julho de 2019.

As unidades australianas e neozelandesas que lutando ao lado de forças dos EUA, do Vietnã do Sul e outras no Vietnã durante as décadas de 1960 e 1970 foram armadas com o fuzil SLR L1A1 semi-automático feito pela Lithgow; eles o consideraram uma arma confiável para a luta na selva. Apesar da mão-de-obra e artilharia e apoio aéreo muito limitados quando comparados com seus aliados americanos, os australianos e neozelandeses, recebendo treinamento especial na selva, derivado das lições aprendidas nas selvas da Malásia e Bornéu, operaram de uma maneira que o Viet Cong e o NVA chegaram a temer. Pequenas patrulhas australianas e neo-zelandesas movimentavam-se como fantasmas e muitas vezes provavam ser superiores ao inimigo quando se tratava de furtividade e habilidades de campanha. Apesar do desprezo geral dos australianos pela “contagem de corpos” como uma medida de sucesso, as estatísticas fornecem uma considerável defesa dos métodos não convencionais que eles usaram.

SLR L1A1, o FAL australiano e neo-zelandês.

Algumas estimativas afirmam que as tropas americanas gastaram cerca de 200.000 cartuchos de munição de armas portáteis por baixa inimiga; para os australianos e neozelandeses armados com o L1A1, 275 tiros foram gastos por baixa inimiga (Hall & Ross 2009). As razões para isso foram muitas. Primeiro, os soldados australianos e neozelandeses foram treinados em um padrão de pontaria muito acima e além daquele do soldado de infantaria americano. Em segundo lugar, muitos veteranos da 1ª Força-Tarefa Australiana eram veteranos de Bornéu e da Malásia, reforçando o treinamento na selva que as forças australianas e neozelandesas receberam antes de serem desdobradas para o Vietnã. Em terceiro lugar, os australianos e neozelandeses freqüentemente operavam em patrulhas pequenas, silenciosas e furtivas, em vez de em enormes varreduras do tamanho de um batalhão (ou maiores).

O método australiano foi recompensado ao infligir baixas inimigas sem a necessidade de dezenas de aeronaves e milhares de granadas de artilharia por engajamento. Por exemplo, mais de um terço dos contatos inimigos dos australianos foram emboscadas. Em 34% dos casos, os Aussies e os Kiwis emboscaram o Viet Cong/Exército Norte-Vietnamita (VC/NVA), enquanto que em apenas 2% dos contatos o inimigo conseguiu surpreender os ANZACs em suas próprias emboscadas. Um estudo do SAS sobre as ações australianas no Vietnã afirmou que, apesar dos ataques aéreos e de artilharia normalmente bastante oportunos e relativamente pesados que a infantaria ocidental desfrutou na guerra, cerca de 70% das baixas inimigas foram infligidas com armas portáteis de infantaria. Os métodos táticos dos ANZAC também mantiveram o inimigo respondendo a eles em vez de vice-versa, um elemento crítico na guerra de contra-insurgência.

O Soldado Bill Stallan do 6º Batalhão, do Regimento Real Australiano, em patrulha de selva em Phuoc Tuy, 1971.
Embora os fuzis L1A1 australianos fabricados pela Lithgow fossem soberbamente confiáveis e poderosos, os soldados foram inicialmente fornecidos apenas cinco carregadores, os quais deveriam ser recarregados de bandoleiras.
(Imperial War Museum, MH 16767)

Apesar de seu comprimento de 1.143 mm (45 polegadas) dificilmente ser ideal na selva, o SLR obteve notas muito altas por sua robustez e confiabilidade. A batalha de Long Tan em agosto de 1966 ocorreu sob uma forte chuva de monções e lama viscosa, condições que causaram mais do que alguns problemas para as metralhadoras M60 e suas cintas de munição expostas, bem como o punhado dos novos fuzis americanos Armalite M16 usados pelos australianos. O L1A1 resistiu ao teste com notação perfeita; o relatório oficial pós-ação do exército australiano chamou-lhe "a arma excepcional da ação". (Australian Army 1967: 26)

Tal como acontece com o L1A1 britânico, o SLR australiano ofereceu apenas fogo semi-automático. A conservação da munição fornecida pelo modo semi-automático fez uma diferença real em Long Tan. A maioria dos soldados recebia, na melhor das hipóteses, um carregador cheio no fuzil e quatro carregadores sobressalentes em seu equipamento de lona; um total de 100 tiros ou menos não dura muito em um tiroteio de longa duração, mesmo em modo semi-automático. Ainda assim, na selva, geralmente era um procedimento operacional padrão "despejar" o primeiro carregador o mais rápido possível para estabelecer a superioridade de fogo e, em seguida, alternar para o "double-tap" ("tiro duplo") mirado.

Militares da Companhia B do 2º Batalhão do Regimento Real Australiano, avançam com cuidado após desembarcarem de helicóptero, julho de 1967.
Os ANZACs no Vietnã freqüentemente removiam as alças de transporte dos seus SLR para diminuir o peso, e os quebra-chamas para diminuir a extensão.
(Bettmann/Corbis)

Mesmo assim, uma das maiores lições de Long Tan foi a emissão de muito mais munições e carregadores para o soldado de infantaria. O fornecimento de apenas cinco carregadores, os quais deveriam ser recarregados de bandoleiras, era obviamente insuficiente para um soldado engajado em um tiroteio.

Tal como acontece com os combatentes em todo o mundo, os australianos e os neozelandeses rapidamente também fizeram uso do poder de penetração da munição de 7,62x51mm OTAN. Mais de um soldado inimigo escondido atrás do tronco de uma seringueira encontrou seu abrigo transformado em mera coberta por tiros de 7,62x51mm explodindo através dela.

Soldados do 7 RAR, armados de SLR/FAL, aguardam transporte para Phuoc Hai, em 26 de agosto de 1967.

Uma modificação semioficial do L1A1 no Vietnã, que começou no SAS australiano, foi apelidada de "The Beast" ("A Besta") ou, às vezes, de "The Bitch" ("A Megera"). Este era um L1A1 convertido para fogo totalmente automático com peças do FM L2A1 e o cano, menos o quebra-chama, cortado logo adiante do conjunto do obturador de gás. Com um carregador de 30 tiros, o qual poderia esvaziar em menos de três segundos, era uma arma de curto alcance temível. Um número nada insignificante de soldados de ambos os lados pensaram que a enorme explosão "d'A Besta" parecia uma metralhadora pesada .50, proporcionando um poderoso efeito psicológico junto com poder de fogo extra. O veterano australiano de reconhecimento, Peter Haran, descreveu suas modificações na zona de combate em seu SLR:

No Recce [reconhecimento] tínhamos escolha de arma e voltei para o SLR [ao invés do Armalite], mas fiz alguns ajustes. Substituí a trava de segurança por uma de um SLR de cano pesado L2A1 e limei a armadilha do gatilho e o pino projetado para impedir que a trava de segurança ficasse em "automático". Com uma carregador de 30 tiros em vez de um de 20 tiros, eu agora tinha a arma que queria no mato - um "Slaughtermatic", como eu a chamei: em essência, uma metralhadora totalmente automática de 7,62 mm sem alimentador de cinta, um fuzil leve com soco máximo quando em fogo automático. Considerei que carregadores demais passando sem uma pausa provavelmente derreteriam o cano, mas se algum dia acontecesse esse tipo de luta, eu provavelmente não voltaria para casa de qualquer maneira. (Crossfire: An Australian Reconnaissance Unit in Vietnam, Haran & Kearney 2001: 32)

- Bob Cashner, The FN FAL Battle Rifle, pg. 52-54.

The FN FAL Battle Rifle,
Bob Cashner.

Bibliografia recomendada:

Vietnam ANZACs:
Australian & New Zealand Troops in Vietnam 1962-72.
Kevin Lyles.

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FOTO: Tanque lança-chamas na Guerra de Continuação

Um tanque lança-chamas soviético OT-133 capturado pelos finlandeses em ação na cidade finlandesa de Petroskoi, 1º de outubro de 1941.

A cidade de Petroskoi havia sido tomada pelos soviéticos na Guerra de Inverno (1939-40) e renomeada Petrozavodsk. A foto do blindado foi tirada no dia em que os finlandeses recapturaram a cidade, em 1º de outubro de 1941.

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