sábado, 25 de abril de 2020

GALERIA: Pinturas em aquarela sobre o GIGN do artista Alexis Le Borgne


Do site GIGN Historique, 27 de fevereiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 25 de abril de 2020.

Com apenas 23 anos, Alexis Le Borgne já reconhecido por sua arte, foi recompensado em 11 de outubro de 2019 pelo GIGN (Groupe d'intervention de la Gendarmerie nationale) por suas 12 pinturas em homenagem a essa unidade com a qual ele sonhava quando mais jovem.

Alexis Le Borgne recebeu o troféu GIGN pelas doze pinturas apresentadas à unidade de elite. (Foto D. R.-B.)

Alexis Le Borgne é um artista extraordinário. Com apenas 23 anos, ele vive de sua arte há três anos e já ganhou inúmeros prêmios. Como autêntico criador, o pintor aprendeu a seguir a dinâmica de seus arranjos interiores. O que às vezes o leva a universos onde não projetamos espontaneamente a arte como evidência. Por exemplo, na área das forças de segurança. Nenhum hiato estético assusta o jovem, baseado em Plérin (22), que acaba de realizar em três meses uma proeza tanto física quanto técnica: entregar doze acrílicos em papel aquarela ao prestigioso GIGN. Um presente que ele sem dúvida amadureceu desde a infância. E que ele próprio trouxe para o quartel de Pasquier, lar da elite da Gendarmeria, em 11 de outubro.

Tir de confiance (Tiro de confiança).

Visto pelo comandante do GIGN

"Sempre fui fascinado pelo GIGN, acho que tenho visto todos as reportagens sobre eles desde pequeno. Então, eu sempre quis desenhá-los, mas não tinha o nível ou o equipamento quando estava no colégio."

Effraction à chaud (Arrombamento).

Doze pinturas, seis horas por tela: "No começo, eu vi fotos de operações. Fui inspirado por elas, mas recriei minhas próprias cenas. Eu queria contar aspectos da profissão, mas acima de tudo, trazer à tona as emoções específicas daquilo que os operacionais experimentam em momentos específicos. A vertigem dos paraquedistas, por exemplo”. A estética das telas devia estar a serviço estrito das atmosferas que o pintor não podia conhecer, mas também de uma verdade do operacional. “Uma pintura pode ser bonita, mas acima de tudo, tem que contar uma história. E lá, eu também queria expressar a força, a coesão e a irmandade do grupo, era o que eu queria destacar".

A exigência compartilhado

Dernier appel (Última chamada).

Trabalhador exigente, Alexis Le Borgne encontra as chaves para uma concentração talvez um pouco nova. "Eu não tinha espaço para erro! Isso me levou a me esforçar, a ter um requisito de estar a serviço da excelência". Ele ganhou um "grande passo técnico". "Eu progredi em fineza, e no desbotamento..." Porque o exercício não é simples. Não há cores brilhantes para realçar. Um universo de nuances e tensões a serem reveladas. "Uma pintura sussurrando", traduz Alexis Le Borgne.

Mover o pincel sobre a paleta militar também era novo. Mas a qualidade de seu trabalho tocou indubitavelmente algo do inexprimível que forma a base das unidades de elite. "O general convidou toda a unidade para o quartel em torno do bar comum", lembra os plérinais. Enquanto os soldados descobrem as pinturas, ele conhece esses homens a quem tanto admira e que são "sensíveis à arte". "Eles têm muitas fotos, quadrinhos também."

Chut’Ops (Salto livre).

Desde então, ele tem sido muito procurado. "Os bombeiros de Paris escreveram para mim. Mas digo a mim mesmo que existem outros assuntos que não são muito tratados na pintura, como os médicos, por exemplo". A arte tem essa capacidade de "ligar tudo". “Na pintura, é preciso muito trabalho. E então, criamos uma linguagem visual e nos abrimos para o mundo". Mas funciona, desde que você tenha "uma verdadeira cultura de humildade". Eu me questiono o tempo todo e não esqueço de onde venho... O garotinho que rabiscou na casa dos pais. Pintar não é uma história de dom, é disciplina, determinação e suor." Sem dúvida, isso vai falar aos homens do GIGN.

Assaut (Assalto).

Poignée fraternelle (Aperto de mão fraternal).

Portrait d’un ops (Retrato de um operacional).

Présentation au drapeau (Apresentação da bandeira).

Plongeurs en infiltration (Mergulhadores em infiltração).

Maître et chien (Tratador e cachorro).

Les yeux et les oreilles (Os olhos e os ouvidos).

Colonne d’assaut (Coluna de assalto).

En chouffe (No mato).

Bibliografia recomendada:

FOTO: Patrulha urbana pós-apocalíptica

Legionários do 1er REG (engenharia) participando da vigilância e proteção do Hospital Laveran, em Marselha, 24 de abril de 2020.
(COMLE/DRPLE)

Patrulha urbana como parte da Operação Sentinela, mas agora com máscaras por conta do coronavírus, proveniente da China. E pensar que tão cedo quanto 2019 a série The Division, da logomarca Tom Clancy, era vista como tendo uma história "muito fora da realidade".

O jogo The Division (2016) e sua continuação The Division 2 (2019) são ambientados em um futuro próximo distópico onde a sociedade moderna foi completamente destruída por um vírus mortal transferido pelas cédulas de dinheiro. As pessoas precisam andar na rua com proteções contra o contágio.

Curta metragem sobre o The Division

GALERIA: Operação de limpeza com blindados em Tu Vu

Carros de combate Sherman M4A1 do RBCEO desdobrados em defesa auto-guardada, com os canhões de 75mm apontados em setores de tiro diferentes, prontos para reagir rapidamente a tentativas de emboscadas contra a coluna blindada.
(
Defives Guy/ ECPAD)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog25 de abril de 2020.

Como parte de uma operação de limpeza no setor de Tu Vu, em janeiro de 1952, várias unidades estão ocupadas esquadrinhando o terreno para detectar melhor qualquer presença de elementos do Viet Minh. A operação próxima a Hoa Binh, no Tonquim (norte da Indochina) foi fotografa por Defives Guy para o ECPAD.

Um trator nivela uma pista e soldados de infantaria tentam rastrear minas usando um detector SCR 625 (chamado "poêle à frire", frigideira, pelos franceses); um esquadrão do RBCEO (Régiment Blindé Colonial d'Extrême-OrientRegimento Colonial Blindado do Extremo Oriente) é desdobrado no terreno, os escaramuçadores de um BMNA (Bataillon de Marche Nord-AfricainBatalhão de Marcha Norte-Africano) avançam com seu mascote, um filhote de cachorro preso na tralha de um soldado.

Um tanque Sherman M4A1 do RBCEO avança dentro de uma coluna e aponta sua arma de 75mm em seu setor de tiro. Ao fundo o canhão de outro Sherman também pode ser visto. Eles são sobrevoados por um avião "Toucan" (Tucano, a forma como os franceses chamavam o Junker 52 de origem alemã), preparando-se para lançar paraquedistas.

As operações de remoção de minas e o avanço dos tanques do RBCEO continuam quando paraquedistas são lançados nas proximidades, sob os olhares de tanquistas coloniais.

Outro tanque Sherman M4A1 do RBCEO, chamado "Murat", abre o caminho através da grama alta, apontando o canhão de 75mm na direção da progressão. A tripulação está em alerta, na esperança de detectar quaisquer elementos do Viet-Minh escondidos na vegetação e para neutralizar todas as tentativas de abordagem e destruição por uma equipe de sapadores do Viet-Minh.

Um tanque M3 Lee (versão de recuperação) do RBCEO foi vítima de uma mina do Viet-minh. Este tanque era normalmente armado com dois canhões fictícios em chapa (37mm na torre e 75mm na lateral direita), bem como um guincho na parte traseira.

Um blindado "Lee" de recuperação do RBCEO sofreu pesados danos por mina ou carga explosiva, tendo a lagarta rompida e sofrido perda da torre. Outros tanques do RBCEO continuam avançando na chuva, assim como os soldados de infantaria.

Um tanque Sherman M4A1 do RBCEO chamado "Cambronne" faz marcha ré para rebocar um veículo em dificuldade enquanto os tanquistas coloniais estão prestes a fixar um cabo de reboque.

O "Cambronne" rebocando o veículo em apuros.

O terreno da Indochina era desafiador para homens e blindados. O terreno, a chuva e a vegetação apresentavam obstáculos formidáveis, que davam aos guerrilheiros do Viet Minh uma grande vantagem para ações de emboscada. Ainda assim, a presença de blindados era considerada essencial e muito bem vinda pela infantaria francesa.

O Sherman M4A1 "Masséna" progride pelo terreno encharcado,
dando carona para seus colegas de infantaria.

Bibliografia recomendada:

French Armour in Vietnam 1945-54.
Simon Dustan e Henry Morshead.

Leitura recomendada:

GALERIA: Manobras com o Sherman no Brasil, 1957,  30 de janeiro de 2020.




FOTO: Somua S 35 na Tunísia26 de março de 2020.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

FOTO: A última patrulha

Polícia de Campanha sul-vietnamita nas ruas de Saigon na manhã do fatídico 30 de abril de 1975.

A Força de Polícia Nacional de Campanha (Cãnh Sát Dã ChiếnCSDC) era uma força paramilitar da Polícia Nacional do Vietnã do Sul, criada em 27 de janeiro de 1966. Suas duas tarefas principais eram destruir a infra-estrutura vietcongue nas áreas habitadas rurais e urbanas, além de suprimir distúrbios civis. Seus efetivos eram formados por voluntários da polícia vietnamitas e das forças armadas, incluindo um influxo de forças especiais quando da dissolução do LLDB (Lực Lượng Đặc Biệt Quân Lực Việt Nam Cộng Hòa, Forças Especiais do Exército da República do Vietnã) em dezembro de 1970. Os militares  da Polícia de Campanha passavam por escolas do ARVN, como a Escola de Infantaria de Thu Duc, além de cursos em Dalat para oficiais e sargentos. Também era comum que militares da Polícia de Campanha fossem enviados para treinamentos em países vizinhos, como a Malásia e as Filipinas.

Em 30 de abril de 1975, depois que o presidente Duong Van Minh anunciou a rendição, o comandante da CSDC, o Tenente-Coronel Nguyen Van Long, cometeu suicídio ao pé do monumento do Corpo de Fuzileiros Navais sul-vietnamitas.

Leitura recomendada:



Experiências de Combate da Infantaria Brasileira na Itália


Por José da Fonseca e Silva, veterano do 11º Regimento de Infantaria, em palestra proferida no comando da 4ª Região Militar, Revista do Exército Brasileiro 125 (2); pg. 97-98, abril/junho de 1988.

(...)A partir daí, fiquei com o meu pelotão em apuros e correndo um risco tremendo, pois chegamos a ouvir a metralha inimiga, embora distante, mas bem atrás das nossas posições. Uma meia hora depois, recebi ordem de retirar o pelotão para uma posição a uns seiscentos metros mais atrás, para que a região fosse batida pela artilharia.

Assim também aconteceu com toda a minha Cia. Foi duro, mas valeu a pena, pois lá da nova posição assisti a um espetáculo que nunca mais vou ver. Na escuridão da noite, as explosões continuadas das granadas de nossa artilharia, que encurtava e alongava a alça, davam a impressão de que aquilo rolava para lá e para cá. Entendi por que esta era chamada de “barragem rolante”.


Mas, enquanto ocorria o drama no batalhão vizinho, no meu pelotão houve uma “guerrinha particular” de fazer vergonha a qualquer soldado. À direita e em frente das posições havia uma depressão do terreno que não permitia a rasância da arma automática do GC que defendia aquele setor. Então, determinei que o local fosse batido por granadas de mão, lançadas à vontade, em grande quantidade. As nossas posições eram protegidas por algumas castanheiras, árvores ainda novas. Então, na fatídica noite, alguém denunciou ter ouvido barulho na depressão. Determinei o lançamento de granadas mas, concomitantemente ao nosso lançamento, recebemos também, vindas da depressão, umas três granadas de mão. Quem ali estava havia se aproximado bastante, pois o seu lançamento era morro acima, o que reduzia o alcance. Repetimos a dose com um lançamento de umas vinte granadas. Recebemos umas quatro, também. Avisei ao meu comandante da iminência de ser abordado pelo tedesco. Ele ficou preocupado e pedia informação a todo momento. Lá pelas tantas, suspendi o lançamento, aguardando que nos atacassem, pois não seriam muitos, pela quantidade de granadas que lançaram. Tudo voltou à calma. Não lançamos mais granadas e também não recebemos nenhuma. Assim que terminou a tal barragem “rolante” da artilharia, voltamos às nossas posições e o dia já estava clareando. Fui logo ver se o alemão havia pisado na tal depressão. Nada, não havia sinal nenhum além das marcas de nossas granadas. Voltei ao meu abrigo e correndo os olhos nos galhos das castanheiras entendi o problema que nós mesmos criamos. Alguns galhos apresentavam pequenas mossas, sinais de que algumas granadas que lançamos bateram neles e simplesmente caíram em cima da gente. Aqui, no tempo de paz, a gente lança granada em lugar completamente limpo e sem obstáculos para evitar acidentes. O tipo de granadas que usávamos e a mecânica de seu lançamento dificultavam quando estávamos no meio de árvores.


Ao voltar da guerra, vez por outra, eu me lembrava daquelas malditas lanternas que os tedescos acenderam em Castello. Mais tarde, como instrutor de combate do 11º RI, montei uma coisa parecida num exercício de defesa (linha de postos avançados). O curso era constituído só de sargentos e uns 70% haviam pertencido à FEB. O efetivo era de uns cem. Desejava testar causa e efeito. Comandei uma patrulha contra os Postos Avançados, enquanto mandei uns três homens, com lanternas, acendê-las ligeiramente em outro ponto oposto ao da patrulha. A coisa funcionou como eu esperava, pois, encostado a um dos Postos, ouvi comando de fogo e, mais tarde, o aviso do atirador de que o festim havia acabado de tanto atirar. Assim, penetrei no dispositivo e fui abordando os demais postos pela retaguarda, até que cheguei ao comandante de toda a linha de defesa (normalmente um sargento, para exercitar-se no comando) e ainda o ouvi, comentando com os demais, os erros que a patrulha estava cometendo ao acender lanternas e que se admirava como eu permitia aquilo. Repeti a experiência mais duas vezes com outros cursos de aperfeiçoamento que funcionaram posteriormente. O resultado foi sempre o mesmo. Em combate, o nervosismo durante o batismo de fogo era normal. Mas no tempo de paz, estranhei que uma tropa constituída só de sargentos atirasse em lanternas. Como eles estavam sob a vista do instrutor, que tinha de atribuir-lhes grau e conceito, poderiam ficar nervosos e fazer tolice também.


Mas, com alguma reserva, tendo vista o grau de formação que eu possuía na época, cheguei à conclusão de que tudo aquilo era provocada por reflexo condicionado errado, vindo da instrução noturna, que ocorria no início do primeiro período de formação. A turma em semi-círculo, no alto de um morro, via a figuração atirar num homem que fumava e que caía espalhafatosamente; atirar em lanternas, atirar em figurantes que faziam barulho com o equipamento. Assim, o homem mentalizava que, vendo luz e ouvindo barulho, devia atirar, quando o certo seria informar. Ele não percebia a necessidade de resguardar o sigilo da posição. Somente mais tarde, nos cursos de sargento, é que o instrutor ia dizer que a abertura de fogo, em uma situação tática, era reservada ao comandante da fração. Os soldados, então nem tomavam conhecimento disto e ficavam com o aprendizado anterior de: vendo, atirar; ouvindo, atirar. Talvez o alemão tenha explorado este lado fraco de nossa instrução. Foi a única explicação que encontrei para que eles usassem lanternas naquela noite no Monte Castello. Por via das dúvidas, mesmo não sendo uma verdade absoluta, passei a dar esta instrução com mais cuidado, e mesmo aos recrutas avisava repetidamente “que a abertura de fogo numa posição obedecia a uma situação tática e era reservada ao comandante da fração”, que o soldado deveria informar o que via e ouvia. Poderia atirar em casos imprevistos, de surpresa, para defender-se ou como aviso a todo o pelotão. Foi mais uma dura experiência colhida.

Leitura recomendada:

A FEB e os jipes, 12 de março de 2020.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

FOTO: Os amotinados e o mistério do FAMAS na Papua Nova Guiné

Os soldados amotinados da PNG no quartel de Taurama entregam as armas para simbolizar o fim da tentativa de golpe.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 23 de abril de 2020.

O motim da Força de Defesa da Papua Nova Guiné (Papua New Guinea Defence Force, PNGDF) em 2012 ocorreu em 26 de janeiro de 2012, quando um grupo de militares chefiados pelo coronel aposentado Yaura Sasa ocupou o quartel de Murray (Murray Barracks), o quartel-general da PNGDF por conta da disputa pelo posto de primeiro ministro da Papua Nova Guiné entre o ex-ministro Sir Michael Somare, iniciada dezembro de 2011, quando o Supremo Tribunal da Papua-Nova Guiné ordenou que Somare fosse restabelecido como primeiro-ministro, enquanto o parlamento do país apoiava O'Neill.

Às 3:00 da manhã de 26 de janeiro, cerca de 20 soldados do 1º Batalhão do Real Regimento das Ilhas do Pacífico (Royal Pacific Islands Regiment,1 RPIR) prenderam Agwi e dois outros oficiais considerados leais ao ministro O'Neill, depois de surpreenderem guardas em Taurama Barracks, o quartel do 1º Batalhão do RPIR, nos subúrbios da capital da PNG, Port Moresby. Vários tiros foram disparados durante esta operação. O grupo então transportou Agwi para o quartel de Murray, perto do centro da cidade, onde ele foi colocado em prisão domiciliar. 

Então comandante da PNGDF, General-de-Brigada Francis Agwi, em junho de 2011.

O Coronel Sasa anunciou que a ação não era um motim ou um golpe, pois Samore era o primeiro-ministro legítimo do país. Através de sua filha, o ex-premier Samore confirmou ter ordenado o motim chamando o governo de ilegal. A rebelião não tinha o apoio da maior da PNGDF, com apenas 30 homens leais ao golpe no quartel de Murray. Em 27 de janeiro os amotinados continuavam armados, com o impasse institucional imobilizando a todos - o comandante da polícia se recusou a intervir, alegando que as atitudes do coronel eram uma questão interna das forças armadas.

Sasa foi preso por policiais na noite de 28 de janeiro e acusado de motim. Em 30 de janeiro, os soldados que participaram do motim entregaram suas armas em troca da anistia após um desfile no quartel de Taurama diante do Ministro da Defesa Belden Namah, que fez um discurso para cerca de 200 membros do 1 RPIR, incluindo os 30 amotinados, durante o qual afirmou que os soldados que haviam participado do motim receberiam uma anistia no final da tarde; mas no entanto ameaçando que novos rebeldes "enfrentariam o peso total da lei". Apesar das duras palavras, o Coronel Sasa foi solto pelo Supremo Tribunal em 1º de agosto de 2012.


Mas de onde vieram os FAMAS? Alguns grupos de entusiastas na internet começaram a debater como os amotinados conseguiram os fuzis FAMAS vistos nas filmagens e na foto da rendição no dia 30; apresentando as teorias conspiratórias mais mirabolantes de conexões clandestinas com países vizinhos operando o FAMAS.

Os misteriosos FAMAS dos amotinados.

O primeiro candidato mencionado foi Vanuatu, que adquiriu o FAMAS em 1994 e adotando como padrão em 2009. Outro candidato foi a Indonésia, que possui dotação de fuzis FAMAS no exército, marinha e polícia; levando à teoria do golpe ter sido orquestrado por Jacarta. Apesar da Indonésia ser conhecida por sua política violenta de interferência nos países vizinhos, entrando em conflito com os holandeses, com a Commonwealth na Emergência Malásia, e inclusive mantendo uma ocupação violenta no Timor Leste de 1975 a 1999.

A realidade, no entanto, é mais mundana. O PNGDF comprou os fuzis FAMAS legalmente na década de 90. A Força possui 7 quartéis pelo país: Murray, Taurama, Goldie, Lombrum, Igam, Vanimo e Moem. O FAMAS foi colocado no quartel-general de Murray, para funções de segurança e cerimonial; o mesmo quartel onde os amotinados mantiveram o General Agwi.

"Nunca atribua à malícia/maldade o que pode ser adequadamente explicado pela estupidez."

- Navalha de Hanlon.

Operador do KOPASSUS, forças especiais do Exército Nacional Indonésio (TNI-AD), com um FAMAS G2.

Os "entusiastas conspiratórios" alegavam que a PNGDF era armada apenas com fuzis M16 e FAL, mas a PNGDF é conhecida justamente por um número excessivo de armamentos, de várias procedências, e que não são propriamente guardados nos arsenais. Além do fuzil padrão M16A2 (o Constabulário usa o AR15 semi-automático) e do antigo SLR australiano (FAL imperial), há o SIG 540, o SR-88 (Singapore Rifle 88, Fuzil de Cingapura 88), SAR-80 (Singapore Assault Rifle 80, Fuzil de Assalto de Cingapura 80), Galil, HK 33, os modelos bullpup FAMAS, SA-80 Enfield e Steyr AUG.

Um diplomata de defesa comentou que a PNGDF tinha "armas demais para o tamanho de sua força". Os soldados e policiais da Papua Nova Guiné são majoritariamente primitivos e entregam armas dos arsenais governamentais aos parentes de forma a manterem a competitividade das suas famílias nas milhares de mini-guerras tribais que ocorrem simultaneamente na ilha. Os arsenais estão sempre desfalcados, geralmente em cerca 45% (menos da metade). A revisão da Commonwealth observou a "indisciplina, embriaguez e roubo de armas... [e] perdas não investigadas e inexplicáveis [de armas portáteis]" e lamentou a baixa penalidade pela perda de uma arma - PGK 40, meros 13 dólares. É mais fácil para os locais roubarem armas do governo do que contrabandearem do exterior.

Um delegado das Ilhas do Pacífico, falando em um seminário de armas portáteis em Tóquio disse "Eu sou o homem mais poderoso do país. Eu seguro a chave do arsenal". As suas palavras não são exageradas e demonstram as dificuldade institucionais nesses pequenos países.

Em um relatório especial da Small Arms Survey, de Genebra, publicado em 1º de janeiro de 2005, cita uma auditoria feita em agosto de 2004, on cerca de 1.500 armas haviam sumido. O relatório apontou 11 fuzis FAMAS desaparecidos, 3 do modelo F1 e 8 do modelo G2.

A PNGDF é uma instituição com excesso de pessoal, corrupta e ineficaz. Em março de 2001, uma revisão do Grupo de Pessoas Eminentes da Commonwealth (Commonwealth Eminent Persons GroupEPG) recomendou reduzir o número de tropas de mais de 4.000 homens para apenas 1.900 militares, o que foi apreciado pelo primeiro-ministro Sir Mekere MorautaEntre 30 e 50 soldados assumiram o controle do quartel de Moem na cidade de Wewak, forçando o primeiro-ministro a recuar. O porta-voz PNGDF  disse que soldados no quartel de Igam, na cidade de Lae, 155 quilômetros ao norte de Port Moresby, não se juntaram ao motim, mas expressaram simpatia pela questão da redução de custos.

Estes dois eventos não foram os únicos golpes militares na Papua Nova Guiné: A Unidade das Forças Especiais assumiu ilegalmente o controle do centro de operações da PNGDF no quartel de Murray, em 28 de julho de 1997, durante o Sandline Affair (Caso Sandline).


Recentemente, a PNGDF suspendeu o recrutamento por causa de acusações gravíssimas de nepotismo, patronato e suborno na aceitação de voluntários.

Leitura recomendada:

GALERIA: O FAMAS em Vanuatu22 de abril de 2020.

O FAMAS no mercado de exportação4 de novembro de 2019.



VÍDEO: A Revolta Alemã de 1953


Leitura recomendada:

GALERIA: A revolta anti-comunista na Alemanha Oriental de 1953, 26 de fevereiro de 2020.

Preocupações do Pacto de Varsóvia: A Polônia e Alemanha Oriental não eram exatamente os melhores dos "aliados"8 de abril de 2020.

O identidade da Stasi do Putin foi encontrada em arquivo alemão11 de março de 2020.

FOTO: Reais Fuzileiros Navais de Tonga no exercício RIMPAC 2012

Reais Fuzileiros Navais de Tonga no RIMPAC 2012.

Tonga contribuiu com um pelotão de infantaria de 30 homens reais fuzileiros navais; as armações inferiores dos fuzis estão gastas por causa de uso e limpeza. Os Reais Fuzileiros Navais Tonganeses são um único batalhão com uma companhia de comando e serviço e três companhias de infantaria leve, com sede em Fuaʻamotu. Os fuzileiros tonganeses, assim como as demais forças tonganesas, participaram nas missões no Afeganistão e no Iraque, apenas do tamanho diminuto do país.

Os reais fuzileiros navais tonganeses participam de um "sipi tau", uma dança cerimonial, fazendo a Haka durante uma cerimônia de arriamento da bandeira à bordo do acampamento Leatherneck, província de Helmand, Afeganistão, em 28 de abril de 2014.


O RIMPAC (Rim of the Pacific Exercise), o Exercício da Orla do Pacífico, é o maior exercício de guerra marítima internacional do mundo. O RIMPAC é realizado bienalmente durante junho e julho dos anos pares à partir de Honolulu, Havaí. É hospedado e administrado pelo Comando Indo-Pacífico da Marinha dos Estados Unidos, com sede em Pearl Harbor, em conjunto com as forças do Corpo de Fuzileiros Navais, da Guarda Costeira e da Guarda Nacional do Havaí, sob o controle do Governador do Havaí. 


Os EUA convidam forças militares da Orla do Pacífico e além para participarem. Até o momento, o Brasil participou apenas com observadores, cancelando a sua participação duas vezes, em 2016 e 2018, alegando "compromissos de agendamento imprevistos".

O RIMPAC 2012 foi o 23º exercício da série e começou em 29 de junho de 2012, com a participação de 42 navios, incluindo o porta-aviões USS Nimitz e outros elementos do Carrier Strike Group 11, seis submarinos, 200 aeronaves e 25.000 militares de 22 nações. O exercício envolveu combatentes de superfície dos EUA, Canadá, Japão, Austrália, Coréia do Sul e Chile.

A Marinha dos EUA demonstrou sua "Grande Frota Verde" de embarcações movidas a biocombustíveis, para as quais comprou 450.000 galões de biocombustível, a maior compra individual de biocombustível da história a um custo de US$ 12 milhões. Em 17 de julho, o USNS Henry J. Kaiser entregou 900.000 galões de biocombustível e combustível tradicional à base de petróleo ao Carrier Strike Group 11.


Os exercícios de 2012 incluíram unidades ou pessoal dos seguintes países:
- Austrália, 
- Canadá, 
- Chile, 
- Colômbia, 
- França, 
- Índia, 
- Indonésia, 
- Japão, 
- Malásia, 
- México, 
- Holanda, 
- Nova Zelândia, 
- Noruega, 
- Peru, 
- República da Coréia, 
- República das Filipinas, 
- Rússia, 
- Cingapura , 
- Tailândia, 
- Tonga, 
- Reino Unido,
- Estados Unidos. 

A Rússia participou ativamente pela primeira vez, assim como as Filipinas, devido às crescentes tensões com a República Popular da China sobre a propriedade do Banco de Areia de Scarborough.


O RIMPAC 2012 também foi o cenário principal do filme Battleship (Battleship: A Batalha dos Mares, 2012).

Leitura recomendada:

GALERIA: O FAMAS em Vanuatu22 de abril de 2020.

Mausers FN e a luta por Israel

As armas produzidas pela Fabrique Nationale e usadas na luta de Israel por um estado independente incluem: (oposto, de cima para baixo): um Mauser pré-guerra convertido em Israel na configuração K98; um Mauser de contrato etíope pré-guerra coronha estilo K98 convertido para 7,62x51mm OTAN em Israel; um Mauser produzido na década de 1950, fornecido a Israel e convertido em 7,62x51mm OTAN; uma Carabina calibrada em .22 Long Rifle de treinamento, estilo Mauser; uma rara pistola High Power do pré-guerra (l.) com mira fixa e armação com fenda, enviada para Tel Aviv em 1938; e uma High Power israelense de apresentação do pós-guerra fornecida em 1954.

Por Anthony Vanderlinden, American Rifleman, 19 de outubro de 2018.

Tradução Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 21 de abril de 2020.

Desde a criação das Nações Unidas, poucas medidas atraíram tanta atenção quanto a Resolução 181 (II). Aparelhos de rádio e televisão em todo o mundo sintonizaram em 29 de novembro de 1947, para a votação para propor um estado judeu independente na Palestina. A polêmica votação foi aprovada com a aprovação de 33 nações, enquanto 13 países votaram contra e 11 se abstiveram ou estavam ausentes.

Um soldado israelense no início dos anos 50 é mostrado segurando um fuzil K98 excedente da era da Segunda Guerra Mundial.

Mesmo antes da aprovação da resolução das Nações Unidas, toda a região da Palestina estava envolvida em uma guerra civil. Essa guerra se transformou na Guerra da Independência de Israel (ou Guerra Árabe-Israelense) depois que Israel declarou independência em 14 de maio de 1948. Jerusalém foi imediatamente sitiada em 15 de maio. A situação rapidamente se tornou desesperadora; a população judaica de 600.000 habitantes estava cercada por países árabes hostis, com uma população de mais de 15 milhões. O novo governo contou com os membros de grupos de independência mais antigos, principalmente a Haganah, "A Defesa", que lutou para proteger os interesses judaicos e pela independência por um período de décadas. Combatentes judeus mal-equipados enfrentavam exércitos bem-equipados do Egito, Iraque e Jordânia*. Os árabes juraram aniquilar os judeus. Foi uma luta pela sobrevivência e uma luta contra um segundo holocausto.

*Nota do Tradutor: Além da Síria, o segundo maior contingente, o Líbano e os voluntários do Exército de Libertação Árabe (Jaysh al-Inqadh al-Arabi), este com 6 mil combatentes e pelo menos 3.500 mobilizados no conflito. Seu quartel-general era sediado em Damasco e contava com voluntários sírios, libaneses, transjordanianos, circassianos e bósnios, além de egípcios da Irmandade Muçulmana.

Três dos países que votaram na resolução da ONU, Estados Unidos, Tchecoslováquia* e Bélgica, tiveram um impacto significativo na sobrevivência do estado judeu de Israel.

*NT: A Tchecoslováquia era apenas um domínio soviético, ocupado e governado pelo exército vermelho soviético, assim como os demais países do que viria a ser o Pacto de Varsóvia. Isso dava a Moscou 4 votos no conselho da ONU. Um outro país que votou na resolução foi justamente o Brasil, com o "Voto de Minerva" de Oswaldo Aranha; o que lhe deu status quase mítico na historiografia israelense.

Mausers israelenses, de cima para baixo:
Este FN Mauser pré-guerra foi convertido em Israel para a configuração K98 e permanece em sua calibragem 7.92x57mm JS original.
Um FN Mauser produzido na década de 1950, esse fuzil foi fornecido a Israel e convertido em calibre 7,62x51mm OTAN. O arsenal refez o acabamento em fosfato verde, suas peças correspondentes incluem o ferrolho original.
Embora em tamanho real, este fuzil de treinamento estilo FN K98 Mauser foi calibrado em .22 Long Rifle. O projeto exclusivo, vendido apenas para Israel, apresentava um ferrolho e rampa de alimentação aprimorados. Os israelenses marcaram suas coronhas com a designação "0,22".
Este FN Mauser, contrato pré-guerra da Lituânia, foi convertido em Israel para o calibre 7,62x51mm OTAN e apresenta armação estilo K98.
Esse FN Mauser do contrato pré-guerra da Etiópia também foi convertido em Israel para o calibre 7,62x51mm OTAN. A armação em estilo K98 e a base da massa de mira são características da raça.

Tchecoslováquia

A legação tcheca na ONU votou no estado judeu apenas alguns meses antes de um golpe comunista transformar a Tchecoslováquia em um estado satélite soviético. A Tchecoslováquia se tornou a engrenagem mais importante da roda para ajudar a armar o povo judeu. Excedentes de armas alemãs e tchecas da Segunda Guerra Mundial foram adquiridos do governo da Tchecoslováquia e enviados para a Palestina. A ajuda da Tchecoslováquia é bem conhecida; além de fornecer armas leves, o país tornou-se um pólo centralizado para todas as formas de ajuda material*. Embora as armas portáteis fossem importantes, os judeus precisavam de blindados e força aérea para combater os exércitos árabes. Os tchecos ajudaram a estabelecer a força aérea israelense vendendo inicialmente aviões de combate alemães excedentes Messerschmitt Bf 109, além de clones tchecos conhecidos como Avia S-199. Mais tarde, as vendas foram expandidas para incluir Spitfires excedentes. Toda essa ajuda representou enormes receitas financeiras para os tchecos. Durante esse período, Joseph Stalin permitiu apoio contínuo após o golpe comunista tcheco, não tanto para apoiar os judeus, mas para a consternação do Império Britânico.

Bélgica

Os belgas também votaram a favor da resolução da ONU depois que o ministro socialista belga das Relações Exteriores, Paul-Henri Spaak, causou polêmica ao chamar um estado judeu de "perigoso". A maioria dos belgas não compartilhava desse ponto de vista. Muitos ficaram preocupados com o destino do povo judeu durante a guerra e com o bloqueio britânico de 1946 contra imigrantes judeus. Os campos de internação britânicos no Chipre e a detenção de sobreviventes do Holocausto foram considerados escandalosos.

Publicamente, alguns políticos belgas apaziguaram seus aliados, incluindo a Grã-Bretanha, a qual favorecia os árabes enquanto defendia o embargo internacional de armas. Privadamente, algumas autoridades belgas fecharam os olhos para o embargo em favor de armar o povo judeu.

Um notório negociante internacional de armas negociou com o governo belga a compra de todas as armas portáteis alemãs de excedente de guerra disponíveis. A extensão do envolvimento do governo no negócio de armas ainda está envolta em segredo, mas as permissões de exportação foram concedidas. Não foi a primeira vez que o governo belga foi contra os desejos da Grã-Bretanha. Na década de 1930, a Fabrique Nationale (FN) havia vendido armas para a Abissínia, enquanto oficiais militares belgas aconselhavam e formavam modernas unidades de combate militar para combater a crescente ameaça da Itália fascista.

O traficante de armas provavelmente vendeu as armas excedentes com enorme lucro. A situação desesperadora dos judeus na Palestina era bem conhecida e os eventos de angariação de fundos foram realizados em todo o mundo. Financiar a compra de armas não era o problema; comprar armas e levá-las para a região era muito mais difícil.

As marcações das caixas da culatra nos Mausers israelenses da FN incluem (esquerda pra direita): Um brasão “FN” pré-guerra; um brasão etíope pré-guerra com a marcação “7,62” adicionada; um brasão lituano pré-guerra com "7,62"; um brasão das FDI dos anos 50 com "7,62"; e o mesmo emblema em um fuzil de treinamento calibrado em .22 Long Rifle.

Os Estados Unidos

O presidente Harry S. Truman era um defensor essencial da resolução da ONU e flexionou a força política para obter apoio internacional. O apoio veio, no entanto, depois que Truman escreveu ao Congresso em 15 de abril de 1947, para restaurar a Lei de Neutralidade. Conseqüentemente, um embargo internacional de armas entrou em vigor em 5 de dezembro de 1947.

Era ilegal para os cidadãos dos Estados Unidos venderem equipamentos para, ou lutarem pelo, Estado de Israel. Os israelenses não tinham pilotos, então o recrutamento de ex-aviadores americanos em segredo era uma alta prioridade. Apesar das restrições e riscos, vários veteranos americanos responderam ao chamado e seguiram para a Tchecoslováquia para fazerem missões de combate para Israel. Grupos clandestinos nos EUA estavam concentrados na aquisição de aviões excedentes da Segunda Guerra Mundial. Uma companhia aérea panamenha falsa foi criada para enganar o governo dos EUA sobre o verdadeiro objetivo dessas aquisições. Alguns C-46s Curtiss e algumas Lockheed Constellations militares foram comprados e transportados para o Panamá antes de seguir para Israel (via Brasil, Marrocos, Itália e Tchecoslováquia). Veteranos americanos voaram e lutaram por Israel correndo grande perigo, o Departamento de Estado dos EUA havia alertado que esses homens perderiam sua cidadania se fossem pegos violando a Lei de Neutralidade. Isso foi de pouca preocupação para aqueles em combate - com alguns pagando o preço derradeiro. Outros permaneceram em Israel após a guerra para ajudar a construir o país, especialmente a Força Aérea de Israel e a companhia aérea El Al.

As Armas de Israel

A Guerra da Independência de Israel foi, ironicamente, travada com grandes quantidades de armas fabricadas pela Alemanha nazista. As armas de pequeno porte incluíam milhares de fuzis Mauser K98, pistolas Luger, pistolas P38, pistolas FN-Browning pré-guerra e de tempo de guerra, pistolas Radom VIS, metralhadoras MG 34, e armas tchecas excedentes, incluindo pistolas CZ e metralhadoras, entre outras. Também foram usadas grandes quantidades de armas britânicas, especificamente fuzis Enfield (capturados), metralhadoras leves Bren, submetralhadoras Sten e revólveres Webley. A simplicidade da Sten tornou-a uma candidata perfeita para a fabricação doméstica; cópias já estavam sendo fabricadas na Palestina antes da Guerra de Independência. Armas americanas excedentes, como a submetralhadora Thompson, a carabina M1 e o M1 Garand, também foram usados extensivamente.Todas as armas eram vitais, por mais desafiadora que fosse a logística. Apesar da origem e conotação, as marcações alemãs em tempos de guerra raramente eram desfiguradas pelos arsenais. Os pilotos americanos receberam trajes de vôo alemães do tempo da guerra e foram convidados a lutar em aviões alemães. Sinais da Alemanha nazista estavam presentes em grande parte do equipamento.

As forças judaicas rapidamente se concentraram no K98 como seu principal fuzil de batalha, o que poderia ter sido previsto pelas grandes quantidades de fuzis excedentes obtidos na Tchecoslováquia e na Bélgica ou pelas grandes quantidades de munição 7,92x57mm disponível. Ao contrário das armas britânicas, os israelenses podiam adquirir novos fuzis K98 e munição do governo da Checoslováquia, que continuava produzindo o modelo após a guerra.

O golpe comunista em fevereiro de 1948 na Tchecoslováquia pode ter sido um fator contribuinte do motivo pelo qual a Fabrique Nationale foi contratada para fabricar uma versão do K98 para Israel. Naquela época, Joseph Stalin estava no controle das nações por trás da Cortina de Ferro, e seu apoio a Israel era pouco confiável e contraditório na melhor das hipóteses.

Enquanto os detalhes das compras belgas permanecem envoltos em mistério, o Estado de Israel começou a comprar fuzis da FN depois de declarar independência. Embora a FN tenha fabricado algumas peças do K98 durante a ocupação alemã, nunca havia construído fuzis K98 completos. Os fuzis foram marcados com o emblema das Forças de Defesa de Israel (FDI), que na verdade era o antigo logotipo da Haganah - uma espada e um ramo de oliveiras. Todos os fuzis receberam acabamento em azul ferrugem padrão da FN e foram calibrados em 7,92x57mm. Não havia fuzis calibrados em 7,62x51mm OTAN, como é frequentemente descrito. Os fuzis do contrato inicial convenientemente não possuem marcações do código do ano de produção. Essa primeira encomenda marcou o início de mais de 40 anos de cooperação entre a FN e o Estado de Israel.

O Estado de Israel comprou milhares de fuzis do tipo FN K98, incluindo 1.800 fuzis de treinamento em .22 Long Rifle, até cerca de 1956. Além disso, granadas de fuzil e lançadores Energa, pistolas FN Browning High Power e metralhadoras FN BAR também foram adquiridas. Israel carecia de veículos blindados, e a granada Energa era essencial para combater os veículos blindados dos exércitos árabes hostis.

Os fuzis de treinamento calibrados em .22 Long Rifle, se desviaram dos fuzis de treinamento padrão da FN. Os israelenses não apenas exigiram que se parecesse com o K98, mas também solicitaram uma rampa de alimentação modificada e um ferrolho melhorado. Os arsenais israelenses revisaram os fuzis de treinamento em 1958 e modificaram muitos fuzis de treinamento alemães que haviam adquirido no momento da independência. Muitos desses fuzis foram modificados para a configuração padrão do estilo K98. Os fuzis de treinamento da FN foram inspecionados, reparados caso necessário, e marcações "0,22" foram adicionadas à coronha para distingui-las dos fuzis em 7,62mm. A marcação "0,22" não faz sentido, pois não é o equivalente métrico (5,6mm) do calibre .22. Os fuzis de treinamento da FN geralmente não recebiam novo acabamento, e a maioria é encontrada hoje em acabamento azul original.

As características de fabricação da Fabrique Nationale que distinguem os fuzis fabricados pela FN dos K98 alemães incluem (de esquerda pra direita): Uma alça de ferrolho inclinada com raio diferente e marcas de verificação de Liège; um anel de bandoleira tipo FN; e uma base de massa de mira simplificada.

A nação de Israel era pequena, com recursos limitados, então nada foi desperdiçado. Ao longo dos anos, Israel havia adquirido uma variedade de fuzis pré-guerra de várias fontes, todos esses fuzis foram deslocados durante a Segunda Guerra Mundial e já foram alguma vez de uso padrão tcheco, lituano ou etíope, entre outros. Esses fuzis pré-guerra foram desmontados e as ações de cano foram usadas para convertê-los em fuzis estilo K98. As marcações do contrato original não foram removidas das caixas da culatra. A grande variedade de configurações os torna fascinantes itens de colecionador, e embora a maioria tenha sido convertida para 7,62mm, alguns sobrevivem em seus calibres originais de 7,92mm com armação de estilo K98 israelense.

Uma soleira em forma de concha é consistente em todos os FN Mauser do contrato israelense.

Em 1955, Israel adotou oficialmente o FN FAL e o FALO [FAP], seguido pela metralhadora FN MAG-58. Note-se que o FAL foi gradualmente transferido em serviço, não substituindo imediatamente os fuzis Mauser. Quando as FDI adotaram o FAL, elas haviam iniciado programas para padronizar o cartucho 7,62x51mm OTAN. Em 1957, os arsenais israelenses estavam ocupados convertendo milhares de fuzis Mauser para 7,62x51mm OTAN, o FN BAR também foi convertido para 7,62x51 mm OTAN. O inovador sistema de conversão da Fabrique Nationale trabalhou com carregadores FAL padrão, e a versão de 7,62mm ficou conhecida como FN BAR DA1. A Fabrique Nationale forneceu milhares de canos inacabados da Mauser. Eles não foram testados em Liège, pois não estavam em um estado acabado: ajuste, acabamento e montagem foram todos feitos em Israel.

Os fuzis foram modernizados com os novos canos 7,62x51mm OTAN, as coronhas e as caixas da culatra foram marcadas com "7,62" para identificação rápida. Todas as peças receberam novo acabamento com um tratamento de fosfato verde. Pouca atenção foi dada à correspondência de números de peças, o que torna os fuzis "com correspondência total" extremamente raros atualmente. O programa de reforma incluiu quase todos os fuzis Mauser, incluindo fuzis K98 do tempo de guerra, fuzis K98 pós-guerra, bem como fuzis FN e VZ pré-guerra.

Os fuzis Mauser de 7,62mm foram colocados em serviço e permaneceram em serviço por décadas. Mesmo durante a Guerra dos Seis Dias (1967), os fuzis Mauser e outros fuzis excedentes ainda foram usados em combate com fuzis FAL e submetralhadoras Uzi. Durante toda a sua existência, o Estado de Israel permaneceu em um alto nível de alerta. Cidadãos comuns, de funcionários de escritórios a professores, estavam armados. Os fuzis FN Mauser continuaram a ter um papel importante como arma secundária. Somente após décadas de serviço os fuzis sobreviventes foram vendidos em todo o mundo como itens de colecionador.

Setenta anos atrás, após as atrocidades do Holocausto, homens e mulheres de todo o mundo tomaram a iniciativa de ir à Palestina e lutar por um Estado judeu independente. Sua bravura e determinação sobrevivem nas ferramentas que eles usaram: aqueles Mausers que agora estimamos como colecionáveis.

O hasteamento da bandeira em Umm Rash-rash marcou o fim da Guerra de Independência. Observe que um soldado está armado com uma carabina M1 americana.

Referências
  • Above and Beyond,” filme documentário de 2014 por Roberta Grossman.
  • The Uzi Submachine Gun, por David Gaboury.
  • FN Mauser Rifles: Arming Belgium and the World, por Anthony Vanderlinden.
FN Mauser Rifles: Arming Belgium and the World

Dedicado à história, modelos, variações, contratos e acessórios de fuzis e carabinas Mauser construídos pela Fabrique Nationale e arsenais belgas, FN Mauser Rifles: Arming Belgium and the World, de Anthony Vanderlinden, é o resultado de mais de sete anos de pesquisa. Foi possível graças à cooperação da Fabrique Nationale, da Fundação Ars Mechanica, museus e colecionadores particulares.


Este livro de capa dura de 8¾ "x11½" possui 428 pg. e cobre a linha clássica de fuzis e carabinas militares Mauser da FN, incluindo contratos para o modelo 1889, o Mauser espanhol (1893), modelo 1922, modelo 1924, modelo 1930 e variantes, bem como modelos do arsenal belga, fuzis de treinamento e até baionetas. Fuzis esportivos, incluindo o Deluxe e Supreme, estão incluídos com atenção especial àqueles importadas nos Estados Unidos. O livro tem mais de 1.250 imagens, incluindo fotografias de época nunca publicadas anteriormente.

Leitura recomendada:




Fuzis de treinamento FAL do Brasil5 de janeiro de 2020.