quinta-feira, 3 de novembro de 2022

O Grupo Mercenário Wagner está recrutando comandos afegãos treinados pelos EUA para lutar na Ucrânia, diz seu ex-general

Por Safiullah Stanikzai, Soldier of Fortune, 1º de novembro de 2022.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de novembro de 2022.

Um ex-funcionário do Ministério da Defesa afegão reiterou as alegações de que comandos afegãos foram recrutados para lutar como mercenários na Ucrânia.

Relatos começaram a circular no final da semana passada de que o sombrio Grupo Wagner, uma força mercenária russa privada com laços estreitos com o Kremlin, está tentando aumentar suas fileiras na Ucrânia recrutando comandos afegãos treinados pelos EUA e outras forças de segurança, os quais fugiram para o Irã após a tomada do Afeganistão pelo Talibã.

Um ex-general afegão esta semana repetiu as alegações.

Comandos afegãos com máscaras de caveira durante uma parada militar.

Cerca de 15 ex-comandos afegãos já se juntaram ao grupo paramilitar Vagner e milhares mais podem ser recrutados com a ajuda do Irã para lutar na Ucrânia, de acordo com o General Abdul Raouf Arghandiwal, ex-autoridade do Ministério da Defesa afegão e comandante do Corpo de Exército Zafar 207 de elite do Afeganistão.

O Grupo Wagner planeja “recrutar 1.000 pessoas na primeira fase e 1.000 pessoas na segunda fase como um batalhão, e continuar gradualmente esse processo”, disse Arghandiwal à Rádio Azadi da RFE/RL por telefone dos Estados Unidos.

Outro general, Hibatullah Alizai, o último chefe do exército afegão antes do Talibã assumir, disse que o esforço está sendo ajudado por um ex-comandante das forças especiais afegãs que fala russo e que já viveu na Rússia.

A Rússia ocupou inicialmente grandes áreas da Ucrânia após sua invasão em grande escala em fevereiro, mas há meses sofre perdas significativas de tropas e perdas territoriais devido em grande parte a uma contra-ofensiva ucraniana em duas frentes.

Os contratempos, que deixaram a Rússia tentando manter a linha em partes do sul e leste da Ucrânia que ainda ocupa e reivindica como sua, forçaram o Kremlin a introduzir um alistamento militar e a contar cada vez mais com mercenários Wagner e tropas chechenas para reabastecer suas forças esgotadas.

Arghandiwal diz que foi informado pessoalmente da campanha de recrutamento por “centenas” de seus ex-soldados. “Os russos, através da empresa de segurança Wagner e em cooperação com o país anfitrião [Irã], onde a maioria das forças de segurança e defesa do Afeganistão estão [agora] localizadas, bem como alguns afegãos que anteriormente se mudaram para o Irã e a Rússia, estão tentando recrutar comandos”, disse ele.

O general afegão disse que ex-membros do Exército Nacional Afegão, da Polícia Nacional Afegã e outras ex-forças de segurança são os próximos na fila para o recrutamento a ser realizado na Rússia e depois lutar na Ucrânia.

Combatentes do Talibã assumem o controle do palácio presidencial afegão depois que o presidente afegão Ashraf Ghani fugiu do país, em Cabul, Afeganistão, 15 de agosto de 2021.

Dezenas de milhares de soldados afegãos e pessoal de segurança foram treinados pelas forças armadas americanas durante a guerra de quase 20 anos no Afeganistão, que terminou com uma retirada caótica de forças estrangeiras e o Talibã retomando o poder em Cabul em agosto de 2021. Temendo retribuição do Talibã, muitos membros do exército e da polícia do Afeganistão, bem como oficiais militares e de inteligência leais ao governo deposto fugiram para o Irã, Paquistão e outros países.

O Inspetor Geral Especial dos EUA para a Reconstrução do Afeganistão (SIGAR) informou em maio que, mesmo antes da queda de Cabul, “cerca de 3.000 forças de segurança afegãs, compostas de oficiais de alto escalão a soldados de infantaria, juntamente com seus equipamentos militares e veículos, cruzaram a fronteira para o Irã”, embora muitos tenham retornado ao Afeganistão depois que o Talibã ofereceu uma anistia geral.

Logo após o Talibã retornar ao poder, o Irã teria oferecido vistos temporários aos afegãos que pudessem provar que serviram nas forças armadas afegãs.

Recrutas do treinamento básico treinam combate em compartimento (CQB) como parte do currículo de Operações Militares em Terreno Urbano do Centro de Treinamento Militar de Cabul, 10 de maio de 2010.

Enquanto mais de 80.000 afegãos em risco que trabalharam ou lutaram ao lado dos EUA e outras forças ocidentais foram retirados de avião quando o Talibãn avançou sobre Cabul, dezenas de milhares foram deixados para trás no Afeganistão, onde mais de 100 assassinatos extrajudiciais de ex-militares e funcionários do governo foram registradas nos primeiros meses do regime talibã, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

A situação levou a preocupações dos líderes militares e políticos dos EUA de que Washington não estava fazendo o suficiente para evacuar os afegãos que lutaram contra o Talibã, abrindo a possibilidade de que cerca de 20.000 a 30.000 soldados treinados pelos EUA não tivessem outra alternativa a não ser se juntar ao Talibã ou a um adversário regional.

Em agosto, uma investigação do Congresso americano liderada pelos republicanos, crítica à retirada dos EUA, destacou o risco representado para os Estados Unidos por ex-forças afegãs que fugiram para o Irã, “devido ao fato de que esse pessoal afegão conhece as táticas, técnicas e procedimentos da comunidade militar e de inteligência americanas”.

Indignados com o grande número de tropas afegãs que não foram transportadas de avião para fora do Afeganistão nos últimos dias da guerra liderada pelos EUA, vários grupos liderados por veteranos americanos da guerra foram lançados para ajudar a tirar seus aliados afegãos do país.

“Nenhuma outra opção”

Operadores do 6º Kandak de Operações Especiais praticando a limpeza de um compartimento durante um exercício de treinamento em Cabul, província de Cabul, Afeganistão, 26 de novembro de 2013.

Mike Edwards, ex-treinador das forças especiais afegãs que formaram a organização voluntária Exodus Relief, disse à RFE/RL em março que “esses caras não têm outra opção a não ser serem mortos ou, se tiverem sorte, serem recrutados para o outro lado." Se eles escolherem o último, disse Edwards, isso significaria ter “alguns dos melhores que já treinamos trabalhando contra nós”.

Arghandiwal diz que as autoridades iranianas estavam dando às forças especiais afegãs que se mudaram para o Irã um ultimato para retornar ao Afeganistão ou lutar pela Rússia na Ucrânia.

A RFE/RL não conseguiu verificar de forma independente as alegações de Arghandiwal.

A Foreign Policy informou na semana passada que comandos afegãos estavam sendo recrutados para lutar na Ucrânia, citando ex-combatentes dizendo que estavam sendo contatados nos serviços de mensagens WhatsApp e Signal. Uma fonte militar disse à revista que até 10.000 ex-comandos afegãos podem estar dispostos a aceitar a oferta do Grupo Wagner.

Sequência com os Comandos do 6º Kandak na porta prestes a entrarem.

A AP informou esta semana que membros das forças especiais afegãs estavam sendo atraídos com a promessa de US$ 1.500 por mês e refúgio seguro para seus familiares. A agência de notícias citou um ex-comando afegão atualmente no Irã dizendo que cerca de 400 combatentes estavam pensando em se juntar ao Grupo Wagner.

O ex-comando disse que muitos de seus colegas soldados se sentiram abandonados por Washington e que sua oferta incluía vistos para a Rússia para ele, assim como para seus filhos e esposa, que estão no Afeganistão.

Sírios também foram oferecidos dinheiro para se tornarem mercenários

O Grupo Wagner esteve envolvido na guerra da Rússia na Ucrânia desde o início, com relatos no início do conflito sugerindo que o grupo mercenário estava oferecendo aos sírios US $ 3.000 por mês para se juntarem à luta.

A inteligência ucraniana disse que cerca de 40.000 sírios estavam se preparando para se aliar às forças russas na Ucrânia, mas acredita-se que apenas algumas centenas de sírios realmente chegaram ao campo de batalha e o esforço de recrutamento acabou sendo amplamente descartado como desinformação russa.

Comandos da 6º Kandak de Operações Especiais se protegem durante um tiroteio noturno com o Talibã no distrito de Ghorband, província de Parwan, em 15 de janeiro de 2014.

O impacto potencial dos comandos afegãos - considerados combatentes altamente qualificados e treinados - se lutarem na Ucrânia é contestado. Um ex-alto funcionário de segurança afegão sugeriu à Foreign Policy que sua entrada na guerra Rússia-Ucrânia “seria um divisor de águas” para o esforço de guerra do Kremlin.

Sergei Danilov, vice-diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio da Academia Russa de Ciências, disse em entrevista ao Current Time que não tinha dúvidas de que a Rússia estava tentando recrutar afegãos. Mas ele disse que as forças afegãs estavam dispersas demais para serem recrutadas em grande número para formar uma força de combate unida, e observou suas falhas na defesa do Afeganistão contra o Talibã.

“Eles são treinados, mas não estão absolutamente motivados”, disse Danilov. “Eles não representam uma ameaça. Alguns conseguiram ir para o Paquistão – ou mesmo para o Irã – e agora estão na região e além…. Mas isso não é dezenas de milhares ou mesmo milhares.”

Bibliografia recomendada:

História dos Mercenários:
De 1789 aos nossos dias,
Walter Bruyère-Ostells.

Leitura recomendada:


FOTO: Equipamento das Forças Especiais eslovenas


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 3 de novembro de 2022.

Soldado das Forças Especiais do Exército Esloveno posando com equipamentos comuns à unidade, 2022. Ele porta um fuzil FN SCAR com miras ópticas e mira laser. Nas costas ele tem equipamento de rádio e no capacete um óculos de visão noturna (OVN). O uniforme camuflado com zíper nos bolsos e as luvas táticas são também parte do novo padrão de operador que emergiu da Guerra ao Terror no Afeganistão e Iraque.

Bibliografia recomendada:

A História Secreta das Forças Especiais,
Éric Denécé.

Leitura recomendada:

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Protestos se espalham pelo Brasil na esteira das eleições presidenciais


Por Susan Katz Keating, Soldier of Fortune, 1º de novembro de 2022.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 1º de novembro de 2022.

Relatos do Brasil mostram cada vez mais cenas como as mostradas abaixo, com cidadãos protestando contra os resultados da eleição presidencial. Uma grande manifestação está marcada para terça-feira, do lado de fora do quartel do Exército. A disputa gira em torno da vitória tênue do candidato Luiz Inácio Lula da Silva sobre o titular Jair Bolsonaro.

A Soldier of Fortune está a caminho para reportar de dentro do Brasil.

Os apoiadores de Bolsonaro, liderados por caminhoneiros, se espalharam pelo país, já que o presidente brasileiro até agora se recusou a admitir a derrota. Os apoiadores de Bolsonaro alegaram que a eleição foi decidida por meio de fraude.

Manifestantes bloquearam estradas em 23 estados e na capital, junto com o aeroporto internacional de São Paulo na noite de segunda-feira. Vários voos foram cancelados. Mais de 300 rodovias federais foram parcial ou totalmente bloqueadas em algum ponto, segundo a polícia.

Leitura recomendada:

COMENTÁRIO: Eleição sem povo11 de setembro de 2022.

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Italianos da Divisão Brescia no Cerco de Tobruk

Ilustração de Steve Noon, Italian Soldier in North Africa 1941-1943.
(Osprey Publishing)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 28 de outubro de 2022.

Em 12 de abril de 1941, quando as forças italianas e alemãs começaram seu Cerco de Tobruk, a Divisão Brescia junto com o 3º Batalhão de Reconhecimento alemão capturaram o porto de Bardia, tomando várias centenas prisioneiros e uma grande quantidade de saque. Mas o ataque parou e Rommel foi forçado a pedir reforços. Na noite de 30 de abril, uma poderosa força ítalo-alemã ataca as defesas de Tobruk novamente, e a Ariete, Brescia, o 8º Regimento Bersaglieri e Guastatori (engenheiros de combate) envolveram e capturaram sete pontos fortes (R2, R3, R4, R5, R6, R7 e R8). Na noite de 3 de maio, os australianos contra-atacaram mas os italianos, na forma das Divisões Trento, Pavia e alguns Panzergrenadiers repeliram o ataque e os atacantes só conseguiram recuperar um ponto forte das tropas italianas defensoras. Na noite de 16 de maio, a Divisão Brescia retalia com a ajuda de dois pelotões do 32º Batalhão de Engenharia de Combate e abre uma brecha no perímetro defensivo dos 2/9º e 2/10º Batalhões. Com os obstáculos removidos, as tropas da Brescia envolvidas, que trazem equipes de lança-chamas e tanques, capturam os pontos fortes S8, S9 e S10.

Os australianos reagem e o Oficial Comandante dos Guastatori, o Coronel Emilio Caizzo, é morto em um ataque de mochilas explosivas (satchel) e ganha uma Medalha de Ouro por valor póstuma (Medalha de Ouro ao Valor Militar, mais alta condecoração italiana). Embora a História Oficial Australiana admita perder três posições, ela afirma que os atacantes eram "alemães". No entanto, uma narrativa italiana registrou:

"Com grande habilidade e velocidade, os Guastatori abrem três pistas nas minas e obstáculos para permitir passagem aos Fucielieri da Brescia. Lado a lado com as tropas de assalto da Brescia, eles infligem grandes perdas ao inimigo e tomam outros pontos fortes com explosivos e lança-chamas."

O historiador militar australiano Mark Johnston afirma que havia uma "relutância em reconhecer os reveses contra os italianos" nos relatos oficiais australianos.

O Major-General Leslie Morshead estava furioso e ordenou que os australianos ficassem mais vigilantes no futuro. Entre os objetivos inicialmente selecionados durante o planejamento da Operação Brevity estava a recaptura dos pontos fortes S8 e S9, mas isso foi abandonado quando descobriu-se que os australianos os recuperaram.

Em 24 de maio, a Divisão Brescia, que assumiu a frente ocidental de Tobruk, repeliu uma força de infantaria atacante, apoiada por tanques. Em 2 de agosto, um outro ataque foi lançado para recuperar os pontos fortes perdidos, mas as forças atacantes dos batalhões australianos 2/43º e 2/28º são repelidos. Este foi o último esforço australiano para recuperar as fortificações perdidas. Como parte das forças assediadoras em torno de Tobruk, a Brescia resistiu contra a ofensiva britânica de 24 de novembro de 1941 até 10 de dezembro de 1941, quando a 70ª Divisão Britânica (Brigada Independente de Fuzileiros dos Cárpatos polonesa capturou a posição de White Knoll) finalmente atravessou a retaguarda da Brescia e levantou o cerco de Tobruk durante a Operação Crusader. Avançando em plena luz do dia em 11 de dezembro, um batalhão da Brescia chegou a 50 jardas do 23º Batalhão da Nova Zelândia, mas foi cortado pelas metralhadoras dos neozelandeses. A retirada inicial foi para o Ayn al-Ghazalah. Em 15 de dezembro, a Divisão Brescia manteve a sua posição no Ayn al-Ghazalah (Gazala) contra a 2ª Divisão Neo-zelandesa e a Brigada Polonesa, permitindo que uma poderosa força blindada ítalo-alemã contra-atacasse e derrotasse o 1º Batalhão Britânico, The Buffs. Em 18 de dezembro, presa às forças britânicas e flanqueado pelo sul, a divisão começou a se retirar para Ajdabiya e chegou às posições planejadas em 22 de dezembro de 1941.

Uma veterana da Guerra da Abissínia, a Divisão Brescia lutaria ainda em Gazala e Mersa Matruh, e depois nas batalhas de El-Alamein. Depois que a Segunda Batalha de El Alamein começou em 24 de outubro de 1942, a Brescia foi capaz de manter suas posições contra as unidades blindadas britânicas até 4 de novembro de 1942. Com a frente já em desordem, recuou pela rota Deir Sha'la - Fukah. A falta de meios de transporte resultou em unidades aliadas alcançando e aniquilando os remanescentes da Divisão Brescia em 7 de novembro de 1942, à vista de Fouka onde outras unidades do Eixo despedaçadas já se reuniram. A divisão foi oficialmente dissolvida em 25 de novembro de 1942.

Bibliografia recomendada:

Italian Soldier in North Africa 1941-43.
P. Crociani e P.P. Battistelli.

Leitura recomendada:


FOTO: Guarda-bandeira da Brigada Franco-Alemã

Soldado francês escudado por alemães,
22 de janeiro de 2020.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 28 de outubro de 2022.

Guarda-bandeira binacional da Brigada Franco-Alemã, todos armados com fuzis FAMAS F1, o famoso bullpup francês. Os soldados usam camuflados dos seus respectivos países, manoplas brancas e a boina azul da brigada que é usada "à inglesa", com o distintivo do lado esquerdo.

Desfile da Brigada Franco-Alemã em Reims em homenagem ao 50º aniversário da amizade franco-alemã, 19 de outubro de 2012.

A criação da Brigada Franco-Alemã foi um dos gestos de aproximação entre a França e a Alemanha depois de quase um século de animosidade permanente. No dia 22 de janeiro de 1963, dezoito anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o presidente Charles de Gaulle e o chanceler alemão Konrad Adenauer assinaram o Tratado do Élysée, estabelecendo a amizade franco-alemã.

A Brigada de mesmo nome foi acionada em 2 de outubro de 1989, sob o comando do General Jean-Pierre Sengeisen; o comando da brigada sendo alternado entre as duas nacionalidades. Seu atual comandante é o General Marc Rudkiewicz, e as tropas são - desde 2016 - provenientes da 1re Division Blindée francesa e a 10. Panzerdivision alemã, formando uma brigada de infantaria mecanizada de 5.980 homens. Seu lema é:

Le devoir d'excellence
Dem Besten verpflichtet
("O dever da excelência")

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

FOTO: T-72 ucraniano decapitado

T-72 ucraniano com a torre explodida na frente da Cracóvia, 17 de outubro de 2022.
(Повёрнутые на войне)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 21 de outubro de 2022.

Um carro de combate principal T-72 ucraniano decapitado com um dos tripulantes morto perto da vila de Yakovlivka, na frente de Kharkov (Cracóvia), em 17 de outubro de 2022. Uma das imagens do canal russo Повёрнутые на войне ("Virou na guerra"), que liberou o vídeo e as imagens do resultado da batalha de 16 para 17 de outubro em Yakovlika.

O T-72 tem um rolo de mina na frente. A torre foi lançada no ar com violência, caindo de ponta-cabeça. Isso é comum nos veículos de desenho soviético por causa do carrossel de munição.


O soldado morto teve as botas arrancadas por soldados russos, algo elementar na estação fria que se aproxima. Ter calçados de boa qualidade pode significar a vida ou a morte no leste europeu durante o inverno, porque  o congelamento e queimadura causadas pelo frio pode necrosar os pés dos soldados. Outras imagens mostram dois mortos numa toca e um transporte blindado destruído.

Soldados ucranianos mortos numa toca de dois homens.
É visível um fuzil Kalashnikov e algumas granadas.

Blindado de transporte ucraniano destruído.
O escudo da cúpula tem a insígnia do Exército Ucraniano com as cores amarelo e azul da Ucrânia.
A metralhadora é a DShK "Dushka".

Bibliografia recomendada:

T-72 Main Battle Tank 1974-93,
Steven J. Zaloga e Peter Laurier.

Leitura recomendada:

FOTO: Um T-64 sem cabeça, 1º de novembro de 2020.

sábado, 15 de outubro de 2022

OSHKOSH M-ATV - Um jeep com muito "esteroide"!


Oshkosh M-ATV
FICHA TÉCNICA
Velocidade máxima: 105 Km/h.
Alcance Máximo: 510 Km.
Motor:  Um motor Caterpillar C7 turbo diesel 6 cilindros em linha  com 370 Hp de potência.;
Peso: 14,74 toneladas.
Altura: 2,67 m.
Comprimento: 6,24 m.
Largura: 2,49 m.
Tripulação: 4+1.
Armamento: 1 metralhadora M-240 cal 7,62X51 mm ou uma metralhadora M-2HB cal .50 (12,7 mm), Um lançador de granadas MK-19 de 40 mm. As metralhadoras podem ser empregadas em uma torre remotamente controlada. Um lançador de míssil antitanque BGM-71 TOW ou um lançador de míssil antitanque Milan, 1 canhão M-230 Chain Gun de calibre 30 mm
Trincheira: 0,50 m
Inclinação frontal: 60º
Inclinação lateral: 40º
Obstáculo vertical: 0,50 m
Passagem de vau: 0,90 m

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior
Durante a guerra no Afeganistão levada a cabo pelo governo dos Estados Unidos em resposta aos atentados de 11 de setembro de 2001, mostraram que os famosos veículos M1114 Humvee não forneciam a proteção adequada para os militares norte americanos em combate. Problemas com explosivos improvisados (IEDs) usados para destruir os veículos norte americanos em varias emboscadas e até mesmo perfuração da blindagem por tiros levaram a uma necessidade urgente de uma nova viatura que sobrevivesse a essas ameaças. Inicialmente foram projetados grandes veículos MRAP que se assemelham mais a um pequeno caminhão do que, propriamente a um "jeep" Isso acarretou veículos muito protegidos, mas pesados e com mobilidade reduzida. Esse tipo de veículo penou nas péssimas estradas afegãs e ao terreno montanhoso do país. Assim, em 2008, o Departamento de defesa dos Estados Unidos passou a estudar junto aos fabricantes militares um veículo que atendesse aos critérios de proteção MRAP, porém, que fosse mais leve para operar, justamente, no ambiente encontrado no Afeganistão.
Um veículo M-1114 Humvee a esquerda e o M-ATV a direita. Os incrementos na capacidade de sobrevivência deram uma boa "anabolizada" no veículo da Oshkosh.
A empresa Oshkosh, bastante famosa pelos seus excelentes caminhões militares empregados pelas forças armadas dos Estados Unidos e de vários países aliados, seguiu derrotando todas as ofertas para esse programa e abocanhou um contrato para o Exército dos Estados Unidos (US Army) e Corpo de Fuzileiros Navais (USMC) com seu M-ATV (MRAP All-Terrain Vehicle), com um contrato que já passou dos 6000 unidades entregues só para essas duas forças armadas americanas. Vários outros países também adquiriram o M-ATV posteriormente. Mais compacto que os grande MRAP, conforme mencionado, a tripulação do M-ATV é composto por 5 pessoas, sendo um deles, o artilheiro.
O M-ATV foi projetado pensando, especificamente, nas dificuldades que as forças armadas norte americanas encontraram em solo afegão durante a guerra ao terror.
Quando pronto para combate, o M-ATV pesa 14700 kg e é movido por um motor 7.2 litros Caterpillar C7 com 6 cilindros em linha que entrega 370 cv de potencia e uma relação peso potencia de 23 cavalos por tonelada. A velocidade máxima em estrada é de 105 km/h e ela é limitada eletronicamente para garantia de operação segura. E falando em segurança, a proteção blindada deste veículo foi projetada em parceria com a empresa Plasan, líder mundial no desenvolvimento de proteção para veículos aéreos, terrestres e navais. O habitáculo do M-ATV suporte impactos de munições de armas portáteis até calibre 7,62x51 mm. O assoalho do M-ATV, foi projetado em "V" para dissipar detonações de explosivos improvisados e minas terrestres (e é nesse ponto que o M-ATV supera os antigos Humvee). O motor foi projetado para conseguir seguir funcionando por, pelo menos um quilometro caso seja atingido por um disparo em calibre 7,62 mm e ocorra vazamento de óleo. Há um sistema anti-incendio no compartimento do motor. Além disso, pode ser instalado placas de blindagem que permitem ampliar a resistência até contra granadas propulsadas por foguete (RPGs).
Os pneus são do tipo run flat e podem se manter rodando por quase 50 km em caso de atingidos por tiros.
A excelente altura do solo que a suspensão do M-ATV possui, permite ele superar obstáculos de 0,50 m e inclinação frontal de 60º. 
O M-ATV pode receber diversas configurações de armamentos para sua defesa. Pode ser usado uma metralhadora de uso geral M-240 (nome que a nossa conhecida FN MASG recebe nas forças armadas norte americanas) em calibre 7,62X51 mm, ou uma metralhadora pesada M-2HB em calibre 12,7X99 mm (.50 BMG). Outras armas que podem ocupar o lugar dessas opções de fogo rápido é o lançador automático de granadas  MK-19 em calibre 40 mm capaz de disparar 360 granadas por minuto ou um lançador de mísseis BGM-71 TOW usado para destruir tanques. O TOW é uma arma bem conhecida e muito difundida entre nações aliadas dos Estados Unidos e que tem um alcance de 7350 metros, sendo guiado por fios (linha de comando) ou por radio frequência em suas versões sem fio. O míssil MILAN , de fabricação franco alemã, com alcance de 3000 metros (versão de alcance estendido ER) e guiado por comando de visão (fio).
Um exemplar do M-ATV armado com um canhão M-230 Chain Gun de calibre 30 mm montado em uma torre remotamente controlada tem sido vista em apresentações mas não há confirmação, por enquanto de que tenha sido adquirida essa configuração ainda. Aqui cabe observar que este é o canhão empregado no poderoso helicóptero de ataque AH-64 Apache, também já descrito aqui no WARFARE Blog
O M-ATV é bem maior que um Humvee. São quase 3 metros de altura (2,67 m).
Com a mudança na natureza da guerra e a mudança do campo de batalha para as áreas urbanas, um veiculo mais leve que um AVC (Armored Vehicle Carrier) e mais protegido que um Humvee ou um "jeep", cai como uma luva e por isso muitos países tem se interessado em adquirir esse tipo de viatura para sua infantaria. Hoje, especificamente o M-ATV é empregado em 12 países. Porém outros modelos de viaturas MRAP também foram desenvolvidas por outros países como é o caso do Dingo 2, já descrito nas paginas do WARFARE Blog, de fabricação alemã que atende aos requisitos MRAP.

 



FOTO: Combatentes voluntárias ucranianas treinando com fuzis Kalashnikov

Combatentes voluntárias ucranianas treinando com fuzis Kalashnikov para enfrentar as forças russas, Ucrânia, 5 de março de 2022.
(Lynsey Addario/The New York Times)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 15 de outubro de 2022.

Combatentes voluntários ucranianos treinando com fuzis Kalashnikov para enfrentar as forças russas, no início da guerra na Ucrânia, 5 de março de 2022.

Mãe ucraniana, Kalashnikov em bandoleira, atravessando a rua com sua filha, em 5 de março de 2022.

A Ucrânia, invadida pelos russos em 24 de fevereiro desse ano, fizeram uma verdadeira demonstração prática do conceito de "Povo em armas" durante a sua defesa. Foram distribuídos armamentos, especialmente fuzis de assalto do tipo Kalashnikov que os arsenais ucranianos possuem em grande quantidade.

O povo ucraniano se uniu contra o agressor estrangeiro, e em meio ao esforço de guerra foram mobilizadas também mulheres. Não em tão grande número quanto os homens, e também não em funções diretas de combate, mas ainda assim desempenhando trabalhos de apoio essenciais para a logística militar e controle civil, além de liberar mais homens para a batalha.

Voluntárias ucranianas falando com uma senhora, 4 de junho de 2022.
Uma delas porta um Kalashnikov nas costas.

Bibliografia recomendada:

AK-47:
A arma que transformou a guerra,
Larry Kahaner.

Leitura recomendada:

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

GALERIA: Snipers fuzileiros navais americanos em Quantico

Atirador e observador em Quantico, Virgínia, 1986.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 14 de outubro de 2022.

Dupla de atiradores de elite, conhecidos pelos fuzileiros navais americanos como Scout Snipers (Snipers Batedores), no Comando de Desenvolvimento e Educação (Marine Corps Development and Education Commanddo Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA em Quantico, na Virgínia, em 11 de junho de 1986. Os soldados estão camuflados com trajes ghillie e armados com fuzis M40, o Remington Model 700 que é modificado na base naval de Quantico.

A legenda original da primeira foto diz:

"Um fuzileiro naval camuflado aponta um alvo para um atirador durante um exercício de campo no Comando de Desenvolvimento e Educação do Corpo de Fuzileiros Navais." (DM-ST-86-11578)

As fotos foram tiradas pelo Cabo Kenneth M. Dvorak para os Arquivos Nacionais dos EUA, e mostram as operações de atiradores de elite em situações táticas em uma floresta demonstrando capacidades de movimento camuflado e observação.

Dupla de atiradores cruzam um riacho.
(DM-ST-86-11584)

Dupla de snipers fuzileiros navais vestindo trajes ghillie patrulham uma floresta. (DM-ST-86-11582)

Um franco-atirador percorre o riacho de maneira furtiva.
(DM-ST-86-11579)

O mesmo militar.
(DM-ST-86-11580)

O observador perscruta o ambiente com binóculos.
(DM-ST-86-11575)

Atirador se deslocando.
(DM-ST-86-11576)

Atirador e observador.
(DM-ST-86-11577)

Posição invertida.
(DM-ST-86-11583)

A dupla de franco-atiradores patrulha a floresta.
(DM-ST-86-11581)

Bibliografia recomendada:

SNIPER:
A History of the US Marksman,
Martin Pegler.

Leitura recomendada:


FOTO: Retorno de uma patrulha francesa em Kapisa

Retorno de uma patrulha francesa à base de operações avançada em Kapisa, em 24 de outubro de 2008.
(Philippe de Poulpiquet/ Le Parisien)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 14 de outubro de 2022.

Retorno de uma patrulha francesa à base de operações avançada (forward operating base, FOB) de Nijrab, na província afegã de Kapisa, em 24 de outubro de 2008. As fotos foram tiradas por Philippe de Poulpiquet, do jornal Le Parisien.

Os soldados estão armados com fuzis bullpup FAMAS e metralhadoras leves FN Minimi, e foram transportados em veículos VAB. A França foi uma dos países da Coalização liderada pelos Estados Unidos no Afeganistão, majoritariamente composta de contingentes da OTAN, e deixou o país em 2012 após repetidos incidentes de ataques a seus militares pelos aliados do Exército Nacional Afegão; "green-on-blue".


Bibliografia recomendada:

GUERRA IRREGULAR:
Terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história,
Alessandro Visacro.

Leitura recomendada:

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

FOTO: Combatente curda do PKK capturada por soldados turcos

Combatente curda do PKK capturada pelos turcos,
18 de setembro de 2022.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 3 de outubro de 2022.

Combatente curda do grupo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (پارتی کرێکارانی کوردستان / Partiya Karkerên Kurdistan, PKK) capturada por soldados do Exército Turco em 18 de setembro de 2022. Segunda a Turquia, o PKK é um grupo terrorista e não é reconhecido como uma força combatente legítima e, portanto, não é protegida pela Convenção de Genebra para o tratamento humano de prisioneiros de guerra (PG).

O PKK é uma organização política militante curda, de orientação socialista, e um movimento de guerrilha armada, que historicamente operava em todo o Curdistão, mas agora está baseado principalmente nas regiões montanhosas de maioria curda no sudeste da Turquia e no norte do Iraque. A organização é famosa internacionalmente por empregar mulheres nas suas fileiras, principalmente em funções de apoio e propaganda; o que faz incessantemente.

Guerrilheiras YBŞ e PKK no norte do Curdistão em 2017.
O homem na bandeira é Abdullah Öcalan.

A ideologia do PKK era originalmente uma fusão do socialismo revolucionário e do marxismo-leninismo com o nacionalismo curdo, buscando a fundação de um Curdistão independente. O PKK foi formado como parte de um crescente descontentamento com a supressão dos curdos da Turquia, em um esforço para estabelecer direitos linguísticos, culturais e políticos para a minoria curda. Após o golpe militar de 1980 na Turquia, a língua curda foi oficialmente proibida na vida pública e privada. Muitos que falaram, publicaram ou cantaram em curdo foram detidos e presos. O governo turco negou a existência de curdos e o PKK foi retratado como tentando convencer os turcos a serem curdos.

O PKK está envolvido em confrontos armados com as forças de segurança turcas desde 1979, mas a insurgência em grande escala só começou em 15 de agosto de 1984, quando o PKK anunciou uma revolta curda. Desde o início do conflito, mais de 40.000 pessoas morreram, a maioria civis curdos. Em 1999, o líder do PKK Abdullah Öcalan foi capturado e preso. Em maio de 2007, membros ativos e ex-membros do PKK criaram a União das Comunidades do Curdistão (KCK), uma organização abrangente de organizações curdas no Curdistão turco, iraquiano, iraniano e sírio. Em 2013, o PKK declarou um cessar-fogo e começou lentamente a retirar seus combatentes para o Curdistão iraquiano como parte de um processo de paz com o Estado turco.

O cessar-fogo foi rompido em julho de 2015 quando os turcos invadiram o Iraque para combater o Estado Islâmico e os Estados Unidos abandonaram os curdos. Tanto o PKK quanto o Estado turco foram acusados de se envolver em táticas terroristas e visar civis. O PKK bombardeou os centros das cidades e recrutou crianças-soldados, enquanto a Turquia despovoou e incendiou milhares de aldeias curdas e massacrou civis curdos na tentativa de erradicar os militantes do PKK.

Bibliografia recomendada:

A Mulher Militar:
Das origens aos nossos dias,
Raymond Caire.

Leitura recomendada:

COMENTÁRIO: A Lição Curda, 30 de junho de 2021.