terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Operação Quartzo - Rodésia 1980

T-55A rodesiano com a camuflagem final sul-africana.

Por R. Allport, Rhodesia.nl.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 11 de julho de 2019.

As eleições de 1980

Após a eleição do governo do Bispo Muzorewa em 1979, os rodesianos esperavam que a Grã-Bretanha e a comunidade internacional reconhecessem sua administração e acabassem com as sanções. Afinal, observadores britânicos haviam declarado a eleição livre e justa em seu relatório oficial. Os eleitores africanos compareceram em grande número para votar no Bispo e, com algumas poucas exceções, não houve intimidação ou coerção. Os rodesianos achavam, com razão, que haviam cumprido as exigências da comunidade internacional para o governo de maioria africana na Rodésia, agora renomeada Zimbábue-Rodésia.

Nyerere da Tanzânia e Kaunda da Zâmbia, no entanto, opuseram-se à reunião de Chefes de Governo da Commonwealth em Lusaka em agosto de 1979, exigindo que seus protegidos, Mugabe e Nkomo, líderes dos dois principais grupos terroristas em busca de poder, fossem incluídos em qualquer acordo final para o governo de maioria na Rodésia. Sua pressão foi fundamental para levar Thatcher a reter o reconhecimento. O fato de Muzorewa ter sido democraticamente eleito ao poder por uma maioria de 67%, enquanto seus críticos, Kaunda e Nyerere, serem ambos chefes de ditaduras de partido único com economias instáveis (Kaunda foi até mesmo incapaz de providenciar um tapete vermelho para a Rainha na reunião de Lusaka e foi obrigado a pegar um tapete emprestado da "arqui-inimiga" África do Sul...).

A pressão foi assim aumentou para que os rodesianos realizassem novas eleições, novamente monitoradas pela Commonwealth, mas desta vez incluindo os partidos de Mugabe e Nkomo. Cansado da guerra e das sanções, e com o crescente nível de emigração branca afetando seriamente a economia, Muzorewa acabou sendo forçado a aceitar um acordo para uma nova eleição.

O fato de as forças de segurança rodesianas estarem aumentando as suas operações transfronteiriças contra bases terroristas na Zâmbia e em Moçambique persuadiu os presidentes Kaunda e Machel a exercerem a sua influência sobre Nkomo e Mugabe para moderarem as suas condições para participarem na nova eleição. Mugabe, por exemplo, exigira inicialmente que as forças de segurança rodesianas fossem dissolvidas antes da eleição e que o país fosse policiado por uma combinação das forças terroristas. Essa era uma condição com a qual os rodesianos nunca concordariam, pois era uma tentativa claramente transparente da ZANU de garantir que suas forças tivessem o controle de fato do país antes da eleição, e de permitir que ele [Mugabe] influenciasse a votação e ignorasse qualquer resultado desfavorável à ZANU. A desconfiança resultante que os rodesianos sentiram pelos métodos e manobras de Mugabe foi provavelmente a principal razão por trás da preparação de um plano de contingência.

Manutenção de rotina no Quartel Nkomo.

Por fim, chegou-se a um acordo para a realização de novas eleições. Forças de monitoramento da Commonwealth chegaram à Rodésia e as forças terroristas da ZAPU e da ZANU começaram a enviar seus homens para os Pontos de Reunião por todo o país.

À meia-noite de 28 de dezembro de 1979, um cessar-fogo entrou em vigor. A maioria dos rodesianos brancos queriam ou esperavam que Muzorewa asseguraria novamente o voto majoritário. No entanto, não demorou muito para que especialistas como John Redfern, Diretor de Inteligência Militar, concluíssem que isso não aconteceria. Por um lado, milhares de terroristas armados do ZANLA permaneceram em liberdade dentro do país. Em seu lugar nos Pontos de Reunião havia milhares de jovens disfarçados de guerrilheiros, deixando os verdadeiros terroristas livres para intimidar a população e influenciar a votação. Comandantes das forças de segurança da Rodésia informaram isso ao General Walls, e ele tentou persuadir Lord Soames, o governador temporário enviado pela Grã-Bretanha para presidir a eleição, a desqualificar a ZANU. Soames deu vários avisos a Mugabe, mas não tomou mais nenhuma providência para impedir que a ZANU participasse da eleição.

Antes da eleição, um estuda de inteligência militar foi preparado por oficiais rodesianos, definindo os possíveis cursos de ação para opor a ZAPU e a ZANU, e impedindo-os de ganhar a eleição. Um segundo documento de inteligência previu uma vitória de Mugabe e advertiu que isso poderia precipitar uma onda de terroristas vitoriosos convergindo na capital, Salisbury, confrontando civis brancos e as forças de segurança. Outros estudos descreveram o que seriam "Terrenos de Ativos Vitais" no caso de isso acontecer e uma ação detalhada que precisaria ser tomada para manter essas áreas estratégicas. Os estudos também enfatizaram a necessidade, neste caso, de "neutralizar" rapidamente os Pontos de Reunião terroristas. Os membros do COMOPS (Comando de Operações) e do Special Branch (serviço especial) envolvidos na elaboração desses documentos pareciam convencidos da necessidade de algum tipo de ação preventiva para evitar que o país caísse no caos.

Operação Quartzo

O projétil de 100m.

Esses documentos de inteligência provavelmente formaram a base do plano que recebeu o codinome "Operação Quartzo". Este plano previa colocar as tropas rodesianas em pontos estratégicos dos quais eles poderiam simultaneamente destruir os terroristas nos Pontos de Reunião e assassinar Mugabe e os outros líderes terroristas em seus quartéis-generais de campanha. O ataque seria auxiliado por helicópteros Puma da Força Aérea da África do Sul e envolveria a participação de unidades de elite Recce do exército sul-africano. Claramente os rodesianos haviam discutido a Operação Quartzo com suas contrapartes nas SADF (Forças de Defesa Sul-Africanas) e obtiveram sua aprovação e cooperação. Lorde Soames já havia concordado em permitir que 400 tropas sul-africanas entrassem no país para proteger a área de Beitbridge, a principal rota de fuga para os brancos se a situação degenerasse em caos e guerra total. De fato, o número de homens que as SADF enviou para além da fronteira era mais próximo de 1.000, embora alguns tenham sido retirados depois dos protestos de Mugabe.

A Operação Quartzo foi aparentemente baseada na suposição de que, se Mugabe fosse derrotado nas eleições, seria necessário realizar um ataque contra a ZANU para impedir que suas forças tentassem um golpe e tomassem o país à força. O plano pressupunha uma vitória de Nkomo ou Muzorewa ou, mais provavelmente, de uma coalizão dos dois. As forças do ZIPRA já haviam, de fato, iniciado exercícios conjuntos de treinamento com as forças rodesianas e, sem dúvida, seus líderes tinham uma ideia do que a Operação Quartzo implicaria. No entanto, Nkomo não era popular entre os brancos, e havia uma possibilidade distinta de que as tropas brancas ignorassem as ordens para evitar conflitos com o ZIPRA.

Preparando munição.

Embora os detalhes completos da Operação Quartzo nunca tenham sido tornados públicos, alguns aspectos do plano foram revelados por ex-membros das forças de segurança. O plano foi dividido em duas partes: a Operação Quartzo, um ataque aberto contra os terroristas, e a Operação Héctica, um ataque secreto para matar Mugabe e seu pessoal-chave.

Os Pontos de Reunião haviam sido acordados como parte do Acordo da Casa de Lancaster e eram simplesmente enormes campos onde milhares de terroristas se reuniam. As forças de segurança da Rodésia tinham sido encarregadas de monitorar as atividades pré-eleitorais e manter a paz. A maioria das unidades de linha de frente, portanto, já estava em posições a uma distância fácil de ataque dos campos terroristas. Os ataques nos campos seriam precedidos por ataques da Força Aérea Rodesiana.

A parte secreta do plano - Operação Héctica - deveria ser executada pelas tropas de elite do Serviço Aéreo Especial da Rodésia (Special Air Service, SAS). O esquadrão "A" do SAS assassinaria Mugabe, enquanto o esquadrão "B" cuidaria do vice-presidente Simon Muzenda e do contingente de 100 homens do ZANLA baseado no Centro de Artes Médicas. O esquadrão ‘C’ foi designado para eliminar os 200 homens do ZIPRA e do ZANLA com seus comandantes (Rex Nhongo, Dumiso Dabengwa e Lookout Musika) baseados no prédio de Artes Audiovisuais da Universidade da Rodésia. Tanto quanto possível, os homens do ZIPRA teriam a oportunidade de escapar, e possivelmente teriam sido informados do plano de antemão.

Carga de combate completa de 43 projéteis.

Os esquadrões do SAS seriam apoiados por tanques e carros blindados do Regimento de Carros Blindados da Rodésia, junto com uma arma surpresa na forma de canhões sem recuo de 106mm, até então desconhecidos, no arsenal rodesiano.

Os carros blindados Eland apoiariam os esquadrões "A" e "B", enquanto os tanques T-55 rodesianos apoiariam o Esquadrão "C" macetando o prédio de Artes Audiovisuais até virar um monte de entulho antes do ataque das tropas. Inicialmente, pretendia-se que todos os oito tanques T-55 fossem usados contra os prédios da universidade, porém mais tarde quatro deles foram enviados a Bulawayo para ajudar o RLI Support Commando (4ª companhia, apoio, "A Elite", Regimento Leve de Infantaria) no ataque planejado contra um grande Ponto de Reunião na área.

Os tanques foram secretamente colocados em navios de baixa carga e transferidos para uma área de reunião avançada no quartel King George VI. Os ensaios com os tanques haviam ocorrido no quartel de Kibrit, e o planejamento era completo e detalhado. Os tanques disparariam cerca de 80 projéteis de alto explosivo no prédio à queima-roupa, após o qual um único tanque derrubaria a parede de segurança ao redor da universidade. Com previsão, as tropas haviam até removido os pára-lamas dianteiros do tanque em questão, para que os destroços da parede não fossem pegos embaixo deles e sujassem nas lagartas! Este era o tanque de comando e durante os preparativos o CO (oficial comandante) estava em contato próximo com o major do SAS, Bob MacKenzie, cujas tropas subsequentemente entrariam no prédio e o limpariam. Trooper Hughes, que tirou as fotos exclusivas mostradas aqui, foi o municiador neste tanque em particular e ele lembra que os tanques também foram equipados com holofotes e totalmente abastecidos com munição extra 12,7mm e 7,62mm em adição à carga do canhão principal.

Primeiros tiros de treinamento.

As equipes do SAS usariam essa brecha para assaltar o prédio e limpá-lo de terroristas, marcando cada sala limpa com um lençol pendurado para fora da janela. Os homens do SAS estavam bem preparados para a sua tarefa, equipados com fuzis AK-47, armaduras corporais e granadas de efeito moral, semelhantes às usadas pelos seus homólogos britânicos. A operação terminaria antes que os terroristas soubessem o que estava acontecendo.

Quando a votação chegou ao fim, as tropas do SAS, do RLI e dos Selous Scouts esperaram ansiosamente que a palavra-código "Quartzo" fosse dada. Eles estavam impacientes para enfrentar finalmente o inimigo que sempre usara táticas clássicas de guerrilha de ataque e fuga. Não pode haver dúvidas de que, se a ordem tivesse sido dada, as forças terroristas teriam sido dizimadas em poucas horas. Seu número superior teria contado por pouco diante de um ataque das pequenas, mas altamente motivadas e efetivas tropas rodesianas.

O sinal nunca foi dado.

Três horas antes, a operação foi cancelada e Mugabe foi anunciado como o vencedor, seus homens exultantes nas ruas de Salisbury, enquanto as tropas rodesianas observavam em silêncio.

Segunda-feira, 04 de março de 1980 - 09:00h. História sendo feita - oportunidade perdida? Quartel Blakiston-Houston Barracks, membros do RhACR 'E' Sqn ouvem a transmissão do resultado da eleição na rádio ZRBC - Op Quartz terminou, para sempre.

A razão para o cancelamento da Operação Quartzo não é conhecida, mas existem várias explicações possíveis.

O Tenente-Coronel Garth Barrett, comandante do SAS, acreditava que ela havia sido comprometida por alguém nos níveis superiores de planejamento que trabalhava secretamente para os britânicos. Uma teoria verossímil, já que várias tentativas anteriores de matar Mugabe tinham sido aparentemente prejudicadas pela má sorte - reuniões onde emboscadas foram preparadas foram canceladas no último minuto e Mugabe escapou por pouco de várias tentativas à bomba contra a sua vida. Nkomo também havia escapado por pouco de uma tentativa bem planejada e executada contra sua vida pelo SAS na Zâmbia. Era quase como se estivessem sendo avisados de antemão.

Outra teoria é que a operação foi comprometida por homens do ZIPRA que foram informados do plano, seja de propósito ou por acidente. Sua proximidade com as forças do ZANLA dificultaria que eles mantivessem suas próprias preparações em segredo por muito tempo.

Uma terceira possibilidade é que, uma vez que o General Walls tenha percebido que Mugabe havia vencido a eleição, ele cancelou a operação, alegando que ela só deveria ser implementada se Mugabe perdesse a eleição e tentasse tomar o poder pela força.

Walls afirmou mais tarde em uma entrevista que ele não sabia da Operação Quartzo, mas depois passou a explicar que ele não havia ordenado um golpe porque não teria durado 48 horas em face da oposição mundial. Ken Flower, chefe do CIO (Central Intelligence Organisation / Organização Central de Inteligência), certamente sabia dos planos, uma vez que eles haviam sido dados a ele por um oficial do Special Branch. Curiosamente, ele não fez menção à Operação Quartzo em suas memórias.

Ian Smith também teria dito a Ian Hancock, em uma entrevista em julho de 1989, que ele havia conversado com os comandantes da força em uma reunião em sua casa, em Salisbury, pouco antes das eleições, e disse que Walls lhe assegurou que Mugabe não ganharia, mas quando pressionado por Smith, Walls admitiu que havia um plano de contingência para deter Mugabe. Parece muito improvável, portanto, que Walls não estivesse ciente da existência dos planos da Operação Quartzo.

Mesmo após a vitória de Mugabe ter sido anunciada, tropas das forças de segurança esperaram em antecipação tensa e a situação permaneceu incerta até que Walls foi à televisão naquela noite e anunciou que "qualquer um que saia da linha ou por qualquer razão comece a desobedecer a lei será enquadrado com eficácia e rapidez..." Esta declaração cuidadosamente redigida sinalizou o fim de qualquer esperança de que a Operação Quartzo ainda pudesse ocorrer.

Segunda-feira 04 de março de 1980 - 0915h - 'A Realidade Bate' - membros do RhACR 'E' Sqn. ponderam os resultados eleitorais recém-anunciados pela rádio ZRBC. A ficha cai. Op Quartzo está acabada - Mugabe é o novo primeiro-ministro - a ZANU PF é o partido no poder. Alguns choram, alguns riem, os soldados estrangeiros planejam suas fugas - no fundo, o rugido dos soldados africanos. A comemoração no Quartel KG VI eleva-se mais alto!

De acordo com o jornalista Pat Scully, os detalhes sobre a Operação Quartzo tornaram-se públicos depois que Mugabe decidiu se livrar de Peter Walls, após os comentários cáusticos deste último sobre Mugabe na TV e entrevistas na África do Sul. Ao acusar Walls de ter sido o cérebro por trás de todo o plano, Mugabe poderia dispensá-lo e, ao mesmo tempo, distrair a atenção do público do "Caso Tekere" (Edgar Tekere, um dos ministros de Mugabe, foi preso pelo assassinato de um idoso fazendeiro branco), o que estava dando a Mugabe muita má publicidade no exterior na época.

Nathan Shamuyarira (Ministro da Informação), portanto, acusou Walls na Casa da Assembléia em 15 de agosto de traição e afirmou o seguinte:
  1. A Operação Quartzo envolveu uma aquisição militar do país em 4 de março, o dia da vitória eleitoral de Mugabe.
  2. As tropas do ZANLA tinham sido propositalmente reunidas em pontos de reunião para que a Força Aérea da Rodésia pudesse destruí-las em massa.
  3. O ZIPRA não deveria ser atacado, na esperança de promover uma aliança entre Nkomo e Muzorewa depois do ZANLA ter sido neutralizado.
  4. A Operação Quartzo foi cancelada apenas três horas antes de ser lançada, porque Walls achou que não poderia ter sucesso em vista da esmagadora vitória de Mugabe nas urnas.
John Ellison, um editor estrangeiro do "Daily Express" (Londres), que originalmente divulgou a história, afirmou mais tarde que a versão dada por Shamuyarira na Casa da Assembléia tinha sido deliberadamente distorcida para implicar Walls. A Operação Quartzo, de acordo com Ellison, era simplesmente um plano de contingência que havia sido elaborado seis semanas antes e foi projetado para proteger o governo de coalizão (Nkomo-Muzorewa), que muitos acreditavam que seria o resultado final da eleição. A operação teria sido executada, caso se provasse necessário, em apoio a um governo legalmente eleito.

O General Walls negou categoricamente as alegações de Shamuyarira, dizendo que ele nunca tinha ouvido falar da Operação Quartzo, mas Mugabe se recusou a acreditar nisso, exigindo que Walls deixasse o país o mais rápido possível. Walls já havia apontado para Mugabe que ele não tinha controle suficiente sobre as 3 ex-forças terroristas, e em uma entrevista em agosto, na SABC-TV, previu que encrenca estava chegando. Ele estava certo - três semanas depois, tiroteios entre ZIPRA e ZANLA começaram...

Os sinais da Operação Quartzo

Que a Operação Quartzo foi de fato considerada seriamente pelas forças de segurança e que os preparativos foram detalhados e muito avançados no momento da eleição, é demonstrado pela existência de alguns dos sinais originais enviados às unidades do exército. Cópias foram mantidas, contra ordens, por alguns dos oficiais, e vários desses originais estão agora em posse da Associação do Exército da Rodésia, que está preparando uma história da guerra. Os exemplos a seguir foram fornecidos pelo Capitão Peter Bray do RhACR, e são aqui reproduzidos com exatidão (incluindo erros de digitação):


Os tanques T-55 rodesianos

Esquema de camuflagem líbio original.

Antes de 1979, o exército rodesiano não possuía tanques. Em outubro daquele ano, eles receberam oito tanques T-55 da África do Sul, confiscados de um navio francês, o “Astor”, que transportava uma remessa de armas pesadas da Líbia para Idi Amin, em Uganda. O regime de Amin entrou em colapso no dia em que o navio atracou em Mombaça e foi redirecionado para Angola. O navio ligou para Durban, onde a carga, incluindo dez tanques T-55LD construídos pela Polônia (construídos em 1975), foi apreendida, e a África do Sul, naquele momento, estava considerando entrar em guerra com Angola. Dois dos tanques foram mantidos pelos sul-africanos para avaliação. Os oito restantes foram transportados para a Rodésia, juntamente com assessores das SADF, com o objetivo de treinar tripulações rodesianas. O rumor foi espalhado de que os tanques haviam sido capturados em Moçambique, a fim de obscurecer o comprometimento da África do Sul no acordo.

Esquema de camuflagem americano.

Os tanques, agora parte do Rhodesian Armoured Car Regiment (Regimento de Carros Blindados da Rodésia) - em um recém-formado “E” Squadron (Esquadrão "E") - foram levados por transportadores de tanque por vários meses para dar a impressão de que os rodesianos possuíam um grande número de tanques pesados. Ao chegarem, os T-55 usavam o esquema original de camuflagem da Líbia. O Major Winkler ordenou que eles fossem repintados em camuflagem americana, o que era eminentemente inadequado, e finalmente os instrutores sul-africanos os ordenaram pintados em camuflagem sul-africana anti-infravermelho, o que provou ser perfeito para as condições rodesianas.

A camuflagem SADF se mostra ideal.

As tripulações dos tanques vieram do 'D' Sqn RhACR, soldados da força regular que tinham assinado um período mínimo de 3 anos. Tripulações treinadas eram vitais se os tanques fossem usados com máxima eficiência e era necessário assegurar que as tripulações permanecessem no Exército por algum tempo. Alguns poucos homens já tinham experiência com tanques, mas inicialmente havia muita experimentação e dependência dos manuais, até que o QG do Exército providenciou treinamento adequado ministrado por membros da Escola de Blindados das SADF.

O comando do 'E' Sqn foi dado ao Capitão Kaufeldt, um experiente tanquista da Alemanha Ocidental. Mais recrutas da RLI e Selous Scouts chegaram para preencher as lacunas e se saíram bem em sua nova tarefa.

Os rádios fabricados pelos soviéticos foram removidos dos tanques e substituídos pelos rádios e fones de ouvido sul-africanos usados nos blindados Eland 90. Eles usavam um sistema de microfone ativado pela garganta e eram muito superiores aos modelos soviéticos. Nos tanques soviéticos, os rádios eram operados pelo municiador, além de sua tarefa no canhão principal. Os rodesianos, argumentando que o municiador já tinha o suficiente para mantê-lo ocupado, moveram os rádios para a posição do comandante do tanque. As tripulações dos tanques receberam fuzis de assalto AKMS soviéticos novinhos em folha e estavam ansiosos para testá-los em condições de combate. Eles estavam destinados a permanecer não usados.

Ligeiramente maior que um cano de AK.

Foto Bônus:

Grupo de rodesianos posando em cima de um dos seus T-55.

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5 comentários:

  1. Em 1980, líderes negros ganharam novas eleições. A Rodésia tornou-se independente, com o nome de Zimbábue. O líder negro Robert Mugabe foi a primeira pessoa a ocupar o cargo de primeiro-ministro no país. Ele também foi eleito presidente, em 1987, e se manteve no poder por mais de 35 anos.

    Boa parte da comunidade branca irá deixar o país ao longo dos anos, e Mugabe vai se consolidando no poder, tornando-se um ditador corrupto. No início do século XXI, Zimbábue ainda permanece sob controle de Mugabe, mas a economia está destruída por uma série de decisões equivocadas do governo, que causam uma hiperinflação.

    Em 2000, seu governo começou a expropriar terras dos fazendeiros brancos. Em muitos casos, portanto, as terras passaram para as mãos de pessoas que não tinham experiência com agricultura e não sabiam cultivar alimentos. Faltou comida para a população, e o país enfrentou problemas econômicos. Muitas pessoas protestaram contra o governo, acontece que Mugabe se recusou a deixar o poder. Em novembro de 2017, os militares assumiram o controle do país e prenderam o presidente. Mugabe renunciou no dia 21 de novembro de 2017.

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  2. Um sátrapa

    Robert Mugabe dominou o Zimbábue durante 37 anos. Submeteu seu povo a matanças e fomes, embora tenha sido declarado “herói nacional” pelo mesmo Governo que o expulsou do poder

    Você sabe por que milhões de africanos querem entrar na Europa como for, arriscando-se a morrerem afogados no Mediterrâneo? Porque, para sua infelicidade, ainda há na África um bom número de tiranetes como Robert Mugabe, o sátrapa que durante 37 anos foi amo e senhor do Zimbábue e que acaba de morrer no Hospital Gleneagles, em Singapura. Tinha 95 anos de idade, era muito aficionado do críquete, das lagostas e do champanhe francês, costumava gastar 250.000 dólares em cada uma de suas festas de aniversário, e calcula-se que deixa à sua viúva, Grace – apelidada Gucci por sua afeição pelas roupas e bolsas dessa célebre grife, e várias décadas mais jovem que seu marido –, uma herança de nada menos que aproximadamente um bilhão de dólares.


    Sua mais extraordinária proeza não foram seus roubos, nem as dezenas de milhares de zimbabuanos que torturou, encarcerou e assassinou. Tampouco ter causado uma hiperinflação de 79,6 bilhões por cento ao ano – chegaram a ser impressos bilhetes de cem trilhões –, que fez a moeda nacional desaparecer. É, talvez, ter destruído a agricultura de um país sobre o qual, nos tempos do colonialismo britânico, dizia-se que aquela terra privilegiada poderia ser o celeiro de toda a África, e talvez do mundo inteiro. Hoje, aquela nação, a mais próspera do continente meio século atrás, morre de fome. Um terço da sua população foi obrigada a fugir para o exterior devido às perseguições e matanças de Mugabe; agora, são a miséria e a falta de trabalho que a impulsionam milhões de desventurados zimbabuanos a fugirem ao exterior para sobreviver.

    Fonte: site EL PAÍS

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  3. O regresso à Grécia.

    A África é o berço daquele que foi talvez o melhor estadista que a humanidade conheceu no último século – refiro-me ao sul-africano Nelson Mandela, graças a quem seu país é um dos que escapam à crise que assola tantos outros –, mas, logo depois do desaparecimento do sistema colonial, assim como na América Latina, em vez de estabelecer a democracia e desenvolver seus abundantes recursos, esse continente se encheu de ditadorezinhos ambiciosos e venais, além de assassinos – as exceções cabiam em uma mão –, que continuaram empobrecendo seus países a ponto de gerarem um êxodo gigantesco que, hoje, se tornou um problema para o mundo inteiro. A tragédia que o Zimbábue viveu com a tirania de Mugabe é um bom exemplo do que ocorreu com muitos países africanos que, depois de se libertarem de um sistema colonial saqueador e racista, abismaram-se em ditaduras de ladrões sanguinários.

    A história da África é tão triste como foi – e continua sendo em boa parte – a da América Latina

    Como outros sátrapas na história, Robert Mugabe, filho de um carpinteiro e uma catequista cristã, recebeu uma boa educação. Obrigado a se exilar por sua militância anticolonial, estudou, primeiro, em universidades da África do Sul e logo depois em Gana, onde também lecionou. Declarava-se então discípulo do africanista Kwame Nkrumah, mas, durante os anos da ação anticolonialista contra o regime racista de Ian Smith (o Zimbábue então se chamava Rodésia), encabeçou um movimento maoísta. Passou quase dez anos na cadeia e saiu dela transformado no político inescrupuloso, intrigante e ardiloso que foi marginalizando (e às vezes liquidando) os seus antigos companheiros da luta anticolonial, como Joshua Nkomo, que terminou alçando-se contra ele. A repressão que Mugabe levou a cabo foi terrível; além dos rebelados, estendeu-se às comunidades dos shonas e ndebeles, as quais praticamente exterminou. Entre 20.000 e 30.000 membros dessas comunidades pereceram naquela espantosa sangria.

    Segundo os acordos de Lancaster House, que deram a independência ao Zimbábue, o Governo de Mugabe se comprometeu a respeitar as terras de 5.000 agricultores zimbabuanos brancos que, embora fossem produto da rapina colonial, eram tecnicamente exemplares e asseguravam trabalho e grandes rendimentos ao país. Mas aqueles foram expropriados durante a pitoresca “reforma agrária” que Mugabe empreendeu no ano 2000 e que consistiu em distribuir aquelas prósperas empresas entre seus cupinchas e protegidos. Isto foi o princípio do desmoronamento da agricultura nacional que, após poucos anos, transformaria um dos países mais ricos da África em uma sociedade pobre e deprimida. O autocrata, apesar disso, não cessava em seus enlouquecidos dispêndios, nem tampouco os dissimulava. Encarregou uma firma chinesa de construir no centro de sua propriedade de 22 hectares, em Harare, um palacete versalhesco de 25 quartos que mobiliou com todo luxo e, em um de seus discursos mais difundidos, reconheceu que admirava Hitler e que não se importava em ser comparado a ele. Acreditava ter a cumplicidade assegurada de seu partido deixando que seus dirigentes roubassem, mas mesmo isso tinha um limite.

    Fonte: El Pais

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  4. Volta à barbárie... Logo depois do desaparecimento do sistema colonial, esse continente se encheu de ditadorezinhos ambiciosos

    Seus problemas com os membros de seu próprio partido começaram quando se empenhou em que sua jovem esposa, Grace, o substituísse no Governo. Isto o levou a uma confrontação com seu braço direito e homem para toda obra, Emmerson Mnangagwa, o atual presidente, que conspirou com os militares, e estes obrigaram Robert Mugabe a renunciar, embora sem levá-lo a juízo e, sobretudo, deixando intacta a sua fortuna. Há, portanto, poucas esperanças de que com a morte do sátrapa as coisas mudem em seu desventurado país. Seus cúmplices, que têm as mãos tão manchadas de sangue como as tinha ele, e que ao mesmo tempo em que enriqueciam arruinavam o Zimbábue, continuam no poder, de modo que o empobrecimento do país prosseguirá, e continuará contribuindo para a migração dos milhões de africanos que devem buscar na Europa o que sua pátria é incapaz de lhes dar.

    Talvez o mais absurdo desta morte tenha sido que quem o tirou do poder pela força, nada menos que o próprio Emmerson Mnangagwa, faça o anúncio de sua morte “com o maior dos pesares”. “Era um ícone da libertação”, proclamou, “um pan-africanista que dedicou sua vida à emancipação e empoderamento de seu povo. Sua contribuição à história da nossa nação e do continente nunca será esquecida”. E pouco depois anunciou que seu Governo decidiu nomear Robert Mugabe “herói nacional”.

    A história da África é tão triste como foi – e continua sendo em boa parte – a da América Latina. Nunca aprendemos que a democracia não consiste apenas em que haja independência de poderes e diversidade política, e sim em ter políticos honrados, que respeitem as leis e que não se aproveitem do poder para enriquecer e liquidar o adversário. Os Mandelas que chegamos a ter – houve vários, embora nenhum tivesse a repercussão mundial do sul-africano – foram aves de passagem e não chegaram a fazer escola. O pior não é que existam esses lixos humanos como um Robert Mugabe, mas sim que haja povos que votem neles e os elejam e reelejam e, como fez Mnangagwa com aquele, os transformem em “heróis nacionais”. Com pouquíssimas exceções, nem africanos nem latino-americanos temos remédio, pelo visto.

    Fonte: El Pais

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  5. Ken Flower, o chefe do serviço de inteligência rhodesiano era agente do MI6. isso foi revelado anos mais tarde. ele repassou aos ingleses os planos da operação quartzo.

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