segunda-feira, 21 de setembro de 2020

A tentativa da Turquia de retornar à glória da era otomana ameaça Israel e a região

O presidente turco Recep Tayyip Erdoğan.

Por Israel Kasnett, Israel Hayom, 14 de setembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 21 de setembro de 2020.

O presidente não é apenas um líder com uma ideologia islâmica, mas um jogador da realpolitik. A Turquia está no Iraque e na Síria e tem uma base militar no Catar e na Somália. Agora está ocupada na Líbia.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, tem grandes ambições. Ele quer levar seu país de volta ao que considera os dias de glória do Império Otomano, mas o líder que foi descrito como "combativo" e está no auge do poder desde 2002, parece estar conduzindo seu país pelo caminho errado enquanto ele anula o secularismo, apóia o islamismo radical, suprime reformas democráticas e adota uma abordagem de política externa vigorosa que visa afirmar a hegemonia turca na região.

De olho na base de apoio conservador e religioso de seu partido conforme sua popularidade cai em meio a uma crise econômica, Erdoğan recentemente converteu dois marcos históricos de Istambul que funcionam como museus - a Hagia Sophia e a Igreja de São Salvador em Chora - em mesquitas em uma tentativa de flexibilizar seus músculos islâmicos. E agora, com sua atenção voltada para a Grécia e a Líbia, Erdoğan parece estar em busca de domínio regional. A questão é como tudo isso fica em relação a Israel.

Gallia Lindenstrauss, pesquisadora sênior do Instituto de Estudos de Segurança Nacional, especializada em política externa turca, disse ao Jewish News Syndicate que as ações de Erdoğan são influenciadas pela "transformação do sistema internacional de um sistema unipolar para um multipolar."

O navio de pesquisa da Turquia, Oruc Reis, em vermelho e branco, é cercado por navios da marinha turca no Mar Mediterrâneo. (Ministério da Defesa turco via AP)

A percepção de que os Estados Unidos planejam reduzir significativamente sua presença militar no Oriente Médio - anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump esta semana - e os vácuos de poder que surgiram como uma das consequências das revoltas árabes "estão causando diversos atores, incluindo a Turquia, a agirem de forma mais assertiva”, afirmou.

Lindenstrauss observou que o comportamento belicoso da Turquia deriva de sua percepção de que "no atual contexto internacional, agir agressivamente não necessariamente acarreta grandes custos para as potências globais e, portanto, a tentação de agir dessa forma é maior", disse ela.

P: Com a identidade islâmica de Erdoğan e laços estreitos com a Irmandade Muçulmana, Qatar e Hamas, este triângulo parece perigoso para Israel. É uma ameaça real?

"Após a queda do [ex-presidente egípcio] Mohammed Morsi, a Turquia se tornou o líder do eixo da Irmandade Muçulmana no Oriente Médio", disse ela. "Este é um motivo de preocupação em Israel, e agora há uma maior consciência da atividade militar do Hamas em solo turco."

"Da mesma forma, há maior suspeita em relação às agências governamentais da Turquia e atividades de ONGs em Israel e nos territórios palestinos, e Israel está menos aberto às iniciativas turcas para ajudar os palestinos", disse Lindenstrauss. "O fato da Turquia ser vista como o líder do eixo da Irmandade Muçulmana é um problema ainda maior aos olhos dos pragmáticos estados sunitas com os quais Israel está cooperando".

Lindenstrauss sugeriu que uma das razões pelas quais Israel e os Emirados Árabes Unidos trabalharam em um acordo de normalização está relacionada às "crescentes preocupações do papel maior da Turquia na região".

"Uma fusão de nacionalismo e islamismo"

Efraim Inbar, presidente do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém, disse ao JNS que, como islâmico, Erdoğan "não tem grande amor pelos judeus e por Israel".

De acordo com Inbar, "Erdoğan acredita que a Turquia tem um grande destino e deve ser uma potência mundial. O fato dos EUA estarem reduzindo lentamente sua pegada no Oriente Médio aumenta ainda mais a liberdade de ação para a Turquia em assuntos regionais".

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, à esquerda, aperta a mão do presidente turco Recep Tayyip Erdoğan em 2012. (AP)

Ele observou que Erdoğan não é apenas um líder com uma ideologia islâmica, mas um jogador da realpolitik. A Turquia está no Iraque e na Síria e tem uma base militar no Catar e na Somália. Erdoğan tentou construir uma base no Sudão e agora está ocupada na Líbia. Como parte desse novo nacionalismo turco, ele está desafiando a fronteira com a Grécia, essencialmente buscando reverter o Tratado de Lausanne de 1923, que encerrou oficialmente o Império Otomano.

"Há uma fusão aqui de nacionalismo e islamismo entre o nacionalismo turco com suas raízes no Islã, o Califado e o Império Otomano", disse Inbar. "Há uma aliança clara entre a Turquia e o Qatar, que apóiam a Irmandade Muçulmana".

Ele também observou que a Turquia fornece passaportes aos membros do Hamas, o que lhes dá maior liberdade de movimento.

"Erdoğan é um político de muito sucesso, um bom orador e carismático", disse ele. "Ir atrás de Israel lhe dá votos e o torna popular no mundo muçulmano, que ele quer liderar, então Israel é um bom alvo para ele".

Apesar de todo o brandir de sabre de Erdoğan sobre Israel, no entanto, os negócios continuam como de costume, já que a maioria das exportações turcas para o mundo árabe são embarcadas pelo porto de Haifa.

"Erdoğan tem uma tendência pragmática", disse Inbar. "Ele não rompeu completamente as relações diplomáticas com Israel".

Mesmo assim, advertiu ele, Israel deve agir com cautela.

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