Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex360, 19 de setembro de 2020.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 19 de setembro de 2020.
Em outubro de 2019, e após anunciar a retirada das forças americanas no nordeste da Síria, que deu rédea solta à Turquia para lançar uma ofensiva contra as milícias curdas sírias [YPG], ainda parceiras da coalizão anti-jihadista liderado pelos Estados Unidos, o presidente americano, Donald Trump, havia indicado que iria interditar o acesso dos campos de petróleo e gás das províncias de Hasaké e Deir ez-Zor ao Estado Islâmico [EI ou Daesh] bem como às forças governamentais sírias e russas.
Para Washington, manter o controle dos locais de exploração de petróleo e gás deve, portanto, possibilitar o fornecimento de uma "fonte essencial de financiamento para as Forças Democráticas da Síria [SDF, para a qual a YPG fornece o grosso das tropas, nota] a fim de capacitá-los a "guardar os campos de prisioneiros do EI” e continuar a conduzir suas operações.
As tropas americanas estão, portanto, se redesdobrando em torno dos locais petrolíferos, as posições que haviam abandonado não demorariam a ser recuperadas pelas forças russas e sírias. E isto para poder realizar patrulhas conjuntas com os seus homólogos turcos, no âmbito de um acordo celebrado entre Ancara e Moscou para pôr termo à ofensiva lançada pela Turquia e os seus auxiliares no nordeste da Síria.
E, atualmente, esta situação está gerando tensões e incidentes entre as forças americanas e russas, as primeiras bloqueando o acesso das últimas aos locais petrolíferos nas províncias de Hasaké e Deir ez-Zor. O mais recente [o menos conhecido] data de 24 ou 25 de agosto, quando um encontro entre veículos blindados americanos e russos degenerou em um rodeio à moda “Mad Max”. E cada um culpou o outro por isso.
Mad Max in SyriaUS forces appear to block the path of a Russian patrol (Typhoon-K, Tigr-M MRAPs, BTR-82A ; etc) supported by Mi-8 AMTSh and Mi-35M helos.Likely US "wounded" during the collision between a US MaxxPro MRAP and a Russian Typhoon-Kpic.twitter.com/g4Jv6J8HHw— Harry Boone (@towersight) August 27, 2020
Embora Washington tenha anunciado recentemente uma redução significativa no tamanho de suas tropas no Iraque, o US Centcom, o comando militar americana para o Oriente Médio e Ásia Central, disse em 18 de setembro que enviaria para a Síria, à partir do Kuwait, vários veículos blindados M2A2 Bradley [geralmente equipados com um canhão de 25 mm e mísseis antitanque TOW, nota] bem como um radar Sentinel [usado para defesa aérea] e outros equipamento [não-especificado]. Além disso, ele também relatou um aumento nas patrulhas aéreas na área.
Duas razões - uma oficial, outra não-oficial - foram dadas para este movimento, que envolve cerca de 100 militares. O primeiro, apresentado pelo porta-voz da Operação Inherent Resolve, Coronel Wayne Marotto, evoca o ressurgimento da ameaça personificada pelo Daesh.
The @coalition continues to support our partners bringing the fight to Daesh. Positioning M2A2 Bradley's in North East Syria provides force protection support to the continuing mission to #DefeatDaesh. pic.twitter.com/HM14QCGqgG
— OIR Spokesman Col. Wayne Marotto (@OIRSpox) September 18, 2020
“Apesar da sua derrota territorial, da erosão da sua liderança e da refutação da sua ideologia, o EI ainda representa uma ameaça. A menos que a pressão sobre esta organização seja mantida, seu ressurgimento é uma grande probabilidade ”, explicou o Coronel Marotto.
Soldados turcos em Idlib, na Síria, fevereiro de 2020. |
O porta-voz do US Centcom, Capitão Bill Urban, disse que o fortalecimento dessa postura visa principalmente "defender as forças da coalizão nesta área e garantir que continuem sua missão anti-Daesh sem interferência". Ele acrescentou: "Os Estados Unidos não procuram entrar em conflito com qualquer outra nação na Síria, mas defenderão as forças da coalizão se necessário".
Um funcionário norte-americano citado pela NBC News indicou que esses reforços também são um "sinal claro enviado à Rússia para respeitar os acordos de resolução de conflitos na região e se abster de atos não-profissionais e perigosos na região nordeste da Síria".
Bibliografia recomendada:
Estado Islâmico: Desvendando o Exército do Terror. Michael Weiss e Hassan Hassan. |
Leitura recomendada:
Síria: Os "ISIS Hunters", esses soldados do regime de Damasco treinados pela Rússia, 8 de setembro de 2020.
O perigo de abandonar nossos parceiros, 5 de junho de 2020.
Síria: forças americanas bloqueiam comboios russos que se dirigem para os campos de petróleo na zona curda, 6 de fevereiro de 2020.
General russo foi morto em ataque com IED na Síria, 3 de setembro de 2020.
FOTO: Entre dois leões na Síria, 4 de setembro de 2020.
GALERIA: Os fuzis AK-74M da Síria, 29 de agosto de 2020.
FOTO: Posto defensivo das Spetsnaz do GRU na Síria, 27 de julho de 2020.
GALERIA: Uso operacional do VSK-94 pelas Forças Armadas Árabes Sírias, 14 de julho de 2020.
VÍDEO: Emboscada noturna das Spetsnaz na Síria, 27 de fevereiro de 2020.
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