terça-feira, 15 de setembro de 2020

A influência iraniana na América Latina

Soldados do Exército da República Islâmica do Irã marchando em frente aos comandantes de mais alto escalão das Forças Armadas da República Islâmica do Irã durante o desfile da Semana da Defesa Sagrada, 22 de setembro de 2011. (Reza Dehshiri)

Pelo Sergeant Major Jorge A. Rivera, Army University Press, 19 de julho de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 15 de setembro de 2020.

“Este artigo foi influenciado pelo Livro de Trabalho de Metodologia de Avaliação de Vulnerabilidade do Asymmetric Warfare Group (Grupo de Guerra Assimétrica) e o livro Iran's Strategic Penetration of Latin America (A Penetração Estratégica do Irã na América Latina), editado por Joseph Humire e Alan Berman.”

- Sgt. Maj. Jorge A. Rivera, NCO Journal.

Quando os líderes e planejadores do Exército dos EUA enfrentam problemas mal-estruturados em ambientes operacionais ambíguos e complexos, eles usam um processo denominado Metodologia de Projeto do Exército (Army Design Methodology, ADM). De acordo com a Publicação de Técnicas do Exército 5-0.1: Metodologia de Projeto do Exército:

"A metodologia de projeto do Exército é uma metodologia para aplicar o pensamento crítico e criativo para compreender, visualizar e descrever problemas e abordagens desconhecidos para resolvê-los (ADP 5-0). Ao definir primeiro um ambiente operacional e os problemas associados, o ADM permite que os comandantes e os estados-maiores pensem a situação em profundidade." (Departamento do Exército, 2015, p. 1-3)

Enquadrando o Ambiente Operacional

A análise do ambiente operacional se concentrará no TBA (Tri-Border Area, Tríplice Fronteira), onde o alcance do Irã é o mais significativo. Esta região consiste na Argentina, Paraguai e Brasil.

A Área da Tríplice Fronteira (TBA). À esquerda está o Paraguai. À direita está o Brasil. E no fundo está a Argentina. Foto tirada em 6 de janeiro de 2011. (Phillip Capper/NCO Journal)

Variáveis Políticas

O TBA, com suas fronteiras abertas e infraestrutura de conexão, tornou-se um leito quente do comércio ilícito (Neumann & Page, 2018). A BBC News relata: "A área atrai turistas de todo o mundo, que viajam para ver as cachoeiras e a exuberante floresta tropical. Mas também tem a reputação de ser um centro de contrabando e tráfico de drogas em grande escala" ("Tesoureiro do Hezbollah Barakat preso", 2018, parágrafo 6). Também deve ser observado que o Hezbollah, de acordo com o jornalista Ian Talley do The Wall Street Journal, é uma "milícia libanesa apoiada pelo Irã designada como um grupo terrorista pelos EUA" (Talley, 2018, parágrafo 1). Matthew Levitt (ex-funcionário do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e especialista no Hezbollah) em sua entrevista ao The Washington Institute disse que as ações do Irã e do Hezbollah estão no radar dos EUA desde 1994 com o atentado à bomba de um importante centro comunitário judaico na Argentina chamado Associação Mútua Israelita-Argentina (Asociación Mutual Israelita Argentina, AMIA) (Levitt, 2016). E em 15 de outubro de 2018, o Departamento de Justiça dos EUA designou o Hezbollah como uma das principais organizações criminosas transnacionais ("Sessões do Procurador-Geral", 2018).

Paraguai

A corrupção sistêmica e o estado de direito limitado no Paraguai permitem que os cartéis de drogas mantenham o poder irrestrito. O Paraguai é frequentemente descrito como um paraíso fiscal, que é definido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Organisation de coopération et de développement économiques, OCDE) como tendo "Nenhum ou apenas impostos nominais; falta de troca efetiva de informações; falta de transparência na operação do legislativo, jurídico ou disposições administrativas"(Glossário de Termos Fiscais, sd, parágrafo 27). Ser um paraíso fiscal torna o Paraguai muito lucrativo para os cartéis de drogas que fazem lavagem de dinheiro (Ottolenghi, 2019). De acordo com o Projeto Contra-Extremismo (Counter Extremism Project), o Hezbollah arrecada cerca de 200 milhões de dólares por ano através do TBA e os transfere/lava através do Paraguai por causa de suas leis tributárias suaves. ("Paraguai", sd)

Brasil

Também localizado na TBA, e como o Paraguai, o governo brasileiro luta contra a influência do Hezbollah. No Business Insider, o jornalista investigativo brasileiro Leonardo Coutinho informou o Comitê de Relações Exteriores da Câmara e disse: "Investigações oficiais conduzidas por autoridades argentinas, americanas e brasileiras revelaram como o Brasil figura na intrincada rede criada para exportar a revolução islâmica do Irã para o ocidente"(Lopez, 2015, para. 8).

O New York Times informa que em maio de 2013, o promotor argentino assassinado Alberto Nisman divulgou uma acusação "delineando como o Irã havia penetrado não apenas na Argentina, mas também no Brasil, Uruguai, Chile, Guiana, Paraguai, Trinidad e Tobago e Suriname, e como usou mesquitas, organizações de serviço social e suas próprias embaixadas para radicalizar e recrutar terroristas"(Dubowitz & Dershowitz, 2017, para. 12).

Argentina

Como os outros dois países da TBA, os sistemas político, judicial e econômico da Argentina promovem vulnerabilidades ao financiamento do terrorismo por meio da corrupção institucionalizada, evasão fiscal e lavagem de dinheiro. De acordo com o The New York Times, até a ex-presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, esteve envolvida em negociações duvidosas durante seus dois mandatos presidenciais e atualmente está sendo julgada por aceitar subornos de empresas de construção em troca de contratos governamentais lucrativos (Londoño & Politi, 2019 ; Misculin, 2019).

Para ilustrar melhor o clima político na Argentina, o Centro para Políticas de Segurança (Center for Security Policy) declara:

"O Irã tem enviado ajuda financeira abertamente a organizações muçulmanas para influenciar a sociedade argentina. Yussef Khalil, pessoa interessada no assassinato de Alberto Nisman, declarou que Mohsen Rabbani, o mentor do atentado à AMIA de 1994 em Buenos Aires, tem enviado dinheiro para a Argentina para continuar a disseminar o islamismo xiita iraniano - assim como a ideologia revolucionária islâmica." ("O papel da América Latina em armar o Irã", 2015, parágrafo 9)

Variáveis Militares

Uma bandeira do Hezbollah hasteada sobre uma peça de artilharia abandonada no terreno da antiga prisão ESL (Exército do Sul do Líbano), em 2 de janeiro de 2007. (Paul Keller)

Recentemente, as forças de segurança da Argentina, Brasil e Paraguai começaram a realizar esforços individuais e cooperativos para conter as atividades ilícitas do crime organizado e de grupos terroristas na TBA. Por exemplo, o Grupo de Ação Financeira da América Latina (GAFILAT) inclui as três nações da TBA, bem como todos os países latino-americanos, em um esforço para combater o financiamento do terrorismo e a lavagem de dinheiro ("Força-Tarefa de Ação Financeira da América Latina", sd).

Com a prisão em 2018 do financista do Hezbollah, Assad Ahmad Barakat, todos os três países da TBA mostraram que agora estão trabalhando juntos para limpar esta região. Promotores paraguaios ordenaram a prisão de Barakat, a Unidade de Inteligência Financeira da Argentina congelou os ativos de 14 libaneses ligados ao Hezbollah e a polícia brasileira realizou a prisão de Barakat (Ottolenghi, 2018; "Tesoureiro do Hezbollah", 2018).

Variáveis Econômicas

Edward Luttwak, do Grupo de Estudos de Segurança Nacional do Pentágono, afirma que a TBA é a base mais importante do Hezbollah fora do Líbano ("Hezbollah", 2018). Ilan Berman, vice-presidente sênior do Conselho de Política Externa Americana (American Foreign Policy Council) em DC e consultor da Agência Central de Inteligência (Central Intelligence Agency, CIA), escreve: "A América Latina há muito funciona como um teatro de apoio para o Irã e seus representantes, com dinheiro gerado por meio de atividades no mercado cinza e negro devolvidas para beneficiar o regime iraniano ou seus grupos afiliados”(Berman, 2014, pg. 4).

Em 2018, o presidente do Instituto Brasileiro de Ética na Concorrência (ETCO, organização fiscalizadora dos negócios e da ética), Edson Vismona, estimou que a TBA gere cerca de US$ 43 bilhões por ano por meios legais e ilegais, com grande parte disso indo para organizações criminosas e terroristas (Quiroga, 2018). O preocupante é que não é apenas o Hezbollah colhendo lucros e utilizando táticas de lavagem de dinheiro. Al-Qaeda, Hamas, o Estado Islâmico e outras organizações criminosas e terroristas também têm células na TBA (Brancoli, 2019).

Variáveis Sociais

Atualmente, estima-se que cerca de 90% dos árabes na TBA são descendentes de libaneses. Acredita-se que a população árabe cresceu na TBA em duas ondas. Primeiro na década de 1950 após a Guerra Árabe-Israelense, e então na década de 1980 durante a Guerra Civil Libanesa (Neumann & Page, 2018, pg. 56).

O autor e especialista em segurança global Joseph Humire explica "No nível tático, o Irã usa sua penetração cultural para obter acesso a indivíduos proeminentes dentro das comunidades islâmicas e indígenas em toda a região" (Humire, 2014, pg. 96).

Cultura e centros culturais são um nível de entrada lógico de uma perspectiva de base, guerra não-convencional e subversão. As redes construídas em centros culturais podem estabelecer empresas de fachada, redes de inteligência e apoio eleitoral (Humire, 2014).

Variáveis de Informação

Não há método melhor para penetrar na cultura e na sociedade do que o controle e a manipulação de informações (Departamento do Exército, 2018). O Irã investiu significativamente na divulgação pública em todo a TBA e lançou canais de televisão em espanhol e inglês.

A HispanTV é um meio de comunicação iraniano que lançou seu website em 2010 e seu sinal de TV em 2011. Sua missão é "Trabalhar sob o forte compromisso como meio de comunicação para promover a aproximação entre os povos do Irã, os hispano-americanos e aqueles do Oriente Médio, considerando também a necessidade de criar uma maior proximidade entre todos os povos da América Latina” (“Nós”, sd, parágrafo 3).

De acordo com a Liga Anti-Difamação (Anti-Defamation League, ADL), líder global na luta contra a retórica do ódio e crimes de ódio, "Aumentar sua influência na América Latina tem sido uma forte característica da política externa do governo iraniano na última década, e a HispanTV serve como um plataforma para divulgar as teorias da conspiração de Teerã, negação do Holocausto e anti-semitismo" ("A HispanTV do Irã", 2013, parágrafo 5). O artigo da ADL continua a documentar várias publicações anti-semitas que a HispanTV publicou e afirma que o YouTube desativou o recurso de transmissão ao vivo da HispanTV devido ao material anti-semita que estava transmitindo em 2013.

A PressTV é outro canal de notícias de TV patrocinado pelo Irã. A PressTV entrega a mensagem iraniana sob o disfarce de diversidade e unidade para um público de língua inglesa. É fácil reconhecer que as culturas do Irã e da América Latina são bastante diferentes, mas "as sementes dessa relação intercultural improvável há muito foram plantadas quando Fidel Castro e Muammar Kadafi fundaram o Al-Mathada, um aparato de propaganda conjunto projetado para coordenar mensagens anti-americanas em ambos os hemisférios "(Perdue, 2014, pg. 13).

Estado Atual do Ambiente Operacional

Operadores especiais do exército brasileiro fazem fila para mostrar alguns de seus equipamentos e capacidades durante uma demonstração para representantes do Exército dos EUA em Goiânia, Brasil, 25 de julho de 2017. (Tenente-Coronel Carol McClelland/ Exército Sul dos EUA)

Há uma crescente população muçulmana, não apenas na TBA, mas em toda a América Latina. O Relatório de Liberdade Religiosa Internacional de 2015 do Departamento de Estado dos EUA estimou que quase três milhões de muçulmanos residiam na América Latina e no Caribe em 2015. Isso representa um aumento de 23% em um período de cinco anos (Mora, 2016). Isso significa que a população muçulmana continuará crescendo no futuro e a cultura latino-americana será influenciada pelo Oriente Médio.

"A penetração do Irã na América Latina é de importância estratégica para a República Islâmica, uma vez que tenta construir aliados diplomáticos, lavar dinheiro sancionado e posicionar seus Guardas Revolucionários e representantes terroristas para atacar alvos ocidentais" (Hirst, 2014, pg. 21).

Estado-Final Desejado do Ambiente Operacional

O estado-final desejado é aquele em que os Estados Unidos têm permissão para participar. Uma parceria cooperativa de segurança de fortes democracias regionais para garantir a segurança e estabilidade em toda a região é essencial para promover as condições necessárias para o crescimento econômico. Para enfrentar os principais desafios de pobreza e desigualdade, eficácia do governo, corrupção, crime e terrorismo, os Estados Unidos devem ajudar a formar uma força-tarefa conjunta na qual sejam usados vários departamentos de cada país. Isso exigirá uma "integração contínua de vários elementos do poder nacional - diplomacia, informação, economia, finanças, inteligência, aplicação da lei e forças armadas" (Mattis, 2018, pg. 4).

Enquadrando o Problema

“O enquadramento de problemas identifica aquelas questões que impedem o comando de atingir seu estado-final desejado” (Departamento do Exército, 2015, pg. 4-4).

O problema na América Latina é melhor enquadrado pelo ex-comandante do Comando Sul Americano (U.S. Southern Command), Almirante Kurt W. Tidd, em sua Declaração de Postura de 2017 perante o Comitê dos Serviços Armados do 115º Congresso do Senado:

"Os fluxos ilícitos de bens e pessoas, e a violência e corrupção que esses fluxos alimentam em casa e no exterior, são manifestações visíveis de ameaças complexas adaptativas em rede. As redes de ameaças transregionais e transnacionais são agora a principal ameaça à segurança e estabilidade regional. Estas redes operam sem restrições de limites legais e geográficos, sem restrições de moralidade e alimentadas por enormes lucros." (Tidd, 2017, pg. 5)

Para atingir os objetivos das forças amigas, é importante que os planejadores identifiquem as capacidades adversas críticas.

Financiando o Esforço

Tanto o Irã quanto seus representantes (Hezbollah) estão usando a TBA para lavar dinheiro, adquirir suporte, controlar a infraestrutura e contornar as sanções e leis internacionais.

Manter um Ambiente Permissivo

A corrupção tem sido a chave para os criminosos manterem um ambiente permissivo, mantendo os legisladores pagos e no poder. Proporciona liberdade de manobra a criminosos e terroristas.

Construir e Manter Relacionamentos

O Irã investiu pesadamente em diplomacia e operações de informação de uma abordagem de cima para baixo. O Hezbollah tem raízes profundas na comunidade libanesa dentro da TBA e em toda a região.

Enquadrando a Solução

Esta seção usa uma abordagem operacional para descrever, em termos gerais, as ações que o governo dos Estados Unidos deve tomar para transformar as condições atuais no estado final desejado de uma parceria que diminuirá a corrupção e as atividades ilegais na TBA.

Diplomática

Recentemente, todos os três países da TBA elegeram líderes que priorizaram o crime e a corrupção (Ottolenghi & Stein, 2018). O objetivo, então, é que os novos governos e os EUA trabalhem juntos para manter a pressão sobre o Hezbollah e suas atividades ilegais na TBA, a fim de secar um de seus principais centros globais de arrecadação de fundos. Isso mostrará à região que os EUA estão trabalhando com os países para garantir a estabilidade de longo prazo na região.

Informação

Uma abordagem seria trazer de volta a Agência de Informações dos EUA (U.S. Information Agency, USIA). Esta solução é apoiada em escala global por James Clapper, ex-Diretor de Inteligência Nacional, com o objetivo de combater a informação e desinformação dos nossos adversários (Muñoz, 2017). Se a USIA pudesse operar na América Latina, ela ganharia a capacidade de conter as mensagens do Irã, especialmente por meio de suas estações de TV. Isso pode ser feito secretamente ou abertamente através dos meios de comunicação. Esta solução pode permitir aos EUA a capacidade de combater as mensagens anti-americanas em nível de base.

Militar

A cooperação em segurança deve continuar a melhorar. A abordagem, no entanto, deve incluir uma campanha de mensagens que coloque a colaboração como prioridade e remova qualquer dúvida de presença forçada.

Econômica

Em vez de se opor a alianças alternativas ao Acordo de Livre Comércio da América do Norte (North American Free Trade Agreement) ou Área de Livre Comércio das Américas (Free Trade Area of the Americas), alianças como Mercosul, ALBA e Aliança do Pacífico deveriam ser validadas. De acordo com o Conselho de Relações Exteriores, “as economias do Mercosul recentemente sinalizaram uma disposição para se abrir a outros mercados” (Felter, Renwick, & Chatzky, 2019, parágrafo 3). Essa pode ser a abertura que os EUA precisam não apenas unificar economicamente a TBA, mas a América Latina como um todo.

Conclusão

Está amplamente documentado que o Irã se infiltrou na América do Sul, especialmente em toda a TBA. Os EUA estão tomando medidas para combater o narco-terrorismo em toda a região, mas é imperativo que Paraguai, Argentina e Brasil trabalhem juntos para estabelecer uma solução de longo prazo para seus problemas de corrupção e crime.

O Sgt. Maj. Jorge A. Rivera é o praça conselheiro mais antigo para a Diretoria de Engenharia dentro da equipe do 1º Corpo do Exército dos EUA na Base Conjunta Lewis-McChord, Washington. Ele é graduado pela Universidade do Texas em El Paso.

Bibliografia recomendada:

A Guerra Irregular Moderna:
Em políticas de defesa e como fenômeno militar.
General Friedrich August von der Heydte.

Guerra Irregular:
Terrorismo, guerrilha e movimento de resistência ao longo da história.
Major FE Alessandro Visacro.

A Obsessão Antiamericana:
Causas e Inconseqüências.
Jean-François Revel,
da Academia Francesa.

Leitura recomendada:

O desafio estratégico do Irã e da Venezuela com as sanções, 13 de setembro de 2020.

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O M60 Patton dos EUA é um matador confiável, mas sua velha blindagem é vulnerável

Carros M-60A3 próximos a Giessen, na Alemanha, 22 de janeiro de 1985.

Por Sébastien Roblin, The National Interest, 6 de setembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 15 de setembro de 2020.

Até que ponto você pode ensopar um tanque da década de 1960?

O M60 Patton foi o esteio da frota de tanques americana nas décadas de 1960 e 1970, antes de ser substituído pelo tanque M1 Abrams atualmente em serviço. No entanto, mais de cinco mil Pattons permanecem em serviço nos exércitos de dezenove países. No início deste ano, a Raytheon revelou sua atualização do Pacote de Extensão de Vida Útil (Service-Life Extension Package, SLEP), apresentando um novo motor, sistema de controle de fogo e canhão de 120mm.

Carros M60A3 das 5ª e 20ª Brigadas Blindadas na fronteira com a Síria, abrindo fogo contra posições dos YPG, 2016.

Este M60 SLEP está competindo com uma atualização de três níveis pré-existente oferecida pela Israeli Military Industries para seu M60 Sabra. Sabras no serviço turco, denominado M60T, estão ativos no campo de batalha do norte da Síria hoje, enquanto Pattons de modelo mais antigo estão lutando em ambos os lados da guerra no Iêmen.

Os novos Pattons são mais rápidos e mortais - mas eles são durões o suficiente para o campo de batalha moderno?

O Tanque de batalha da Guerra Fria da América

M60A3 nas ruas de Langgöns, na Alemanha, durante a REFORGER '85.

O M60 traça sua ancestralidade desde o tanque pesado M26 Pershing, algumas dezenas dos quais entraram em ação no final da Segunda Guerra Mundial. O Pershing evoluiu para uma série de tanques Patton armados com canhões de 90 mm, incluindo o M46, M47 e M48. O M60, lançado em 1960, foi o último: um lutador robusto de perfil alto projetado para superar o onipresente tanque soviético T-54 em virtude de sua blindagem mais pesada e longo canhão M68 de 105mm.

Os M60 de 50 toneladas foram desdobrados na Europa, caso a Terceira Guerra Mundial estourasse, e não viram ação na Guerra do Vietnã, exceto por algumas variantes de construção de pontes e engenharia. Em vez disso, os tanques M48 enfrentaram os PT-76 e T-54 norte-vietnamitas em um pequeno número de confrontos, e até lutaram contra tanques de fabricação sueca na República Dominicana.

Um tanque M60 israelense destruído entre os destroços de outro blindado após um contra-ataque israelense no Sinai durante a Guerra do Yom Kippur, 1973.

Foi no Oriente Médio que o M60 Patton mostrou pela primeira vez seu valor. Durante a Guerra do Yom Kippur, os M60 israelenses cavalgaram ao resgate da Sétima e da 188ª Brigadas Blindadas nas Colinas de Golã*, quebrando a espinha de um ataque sírio com mais de 3 mil tanques. No entanto, na frente sul, os mísseis anti-carro AT-3 devastaram os M60 contra-atacando a cabeça de ponte egípcia no canal de Suez. O perfil alto do Patton tornava-o um alvo fácil, enquanto seu sistema hidráulico montado frontalmente era propenso a explodir em chamas quando a blindagem era penetrada. No entanto, os israelenses gostavam tanto do Patton que o mantiveram em serviço até 2014, transformando-o em várias gerações de tanques Mag'ach.

*Nota do Tradutor: Os blindados dessas duas brigadas eram, na verdade, Centurions Sho't e Shermans M50/51, por serem mais adaptados para o terreno montanhoso. Os Pattons lutaram apenas no Sinai.

O Patton passou por algumas atualizações ao longo de sua vida útil. A variante vanguardista M60A2 “Starship” usava um canhão de 155mm que podia disparar mísseis anti-carro Shillelagh; foi rapidamente eliminado devido a limitações técnicas incapacitantes. A versão final, o M60A3 TTS, veio com sistemas de controle de fogo aprimorados e mira térmica que o tornou um combatente noturno eficaz. Alguns Pattons do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA foram até equipados com blindagens reativas-explosivas.

No entanto, na década de 1980, a União Soviética exportou um grande número de tanques T-72, que se igualavam ou superavam o Patton em blindagem e poder de fogo. Enquanto isso, os Estados Unidos introduziram o tanque M1 Abrams, que se revelou um decisivo salto tecnológico tanto em poder de fogo (uma vez que recebeu um canhão de 120mm) quanto em proteção, graças à sua blindagem composta.

Carros de Combate M60A1 RISE Passive da Companhia B, 8º Batalhão de Tanques da 2ª Divisão de Fuzileiros Navais avançando no Kuwait na manhã de 23 de fevereiro de 1991, navegando por um campo minado.
A unidade eventualmente entrou em contato com as trincheiras iraquianas, casamatas e tanques T-55 em posição "hull-down".

Os últimos M60 americanos foram operados pelo Corpo de Fuzileiros Navais e, finalmente, viram combate pesado na Guerra do Golfo de 1991 no Kuwait, destruindo cerca de 100 tanques iraquianos pela perda de um único Patton. No entanto, isso refletiu o treinamento e as táticas desiguais dos lados opostos mais do que qualquer outra coisa, e logo depois o Patton foi retirado de serviço nos Estados Unidos.

No entanto, os M60 continuam sendo o tanque de batalha principal em serviço mais numeroso em muitos países hoje, incluindo Egito (1.700), Turquia (932), Taiwan (450), Arábia Saudita (450), Marrocos (427), Tailândia (178) e Bahrein (180).

Soldados egípcios em frente dum tanque de batalha principal M60 da 3ª Brigada Blindada, 4ª Divisão Blindada "Cavaleiros do Egito", durante uma demonstração para dignitários visitantes, durante a Operação Escudo do Deserto, 1º de dezembro de 1990.

O que foi aprimorado nos M60 SLEP e Sabra?

A atualização SLEP da Raytheon se concentra em maior poder de fogo e mobilidade.

Tanque M60 SLEP com blindagem de ripas na torre.

Primeiro, ele substitui o antigo canhão M68 pelo potente canhão M256 de 120mm usado no tanque Abrams. Isso transformará o Patton de um tanque que lutaria contra um T-72 da década de 1980 em um que pode penetrar a maioria dos tanques modernos. Além disso, para realmente acertar o alvo, o M60 SLEP tem um novo sistema de mira digital retirado do M1A1D para substituir a tecnologia obsoleta do Patton. Os computadores modernos de mira tornaram viável a pontaria de tanques em movimento, então essa é uma grande vantagem. Finalmente, o sistema hidráulico de rotação da torre foi substituído por um elétrico, aumentando a velocidade de rotação e reduzindo o problema de “explodir em chamas” ao ser atingido.

Em segundo lugar, a Raytheon substituiu o motor a diesel de 750 cavalos por um novo motor de 950 cavalos. Isso é bom, porque o M60 básico se arrasta a 30 milhas por hora (48km/h), enquanto velocidades máximas acima de 40 milhas por hora (64km/h) são típicas para tanques ocidentais modernos.

Agora, o protótipo filmado no vídeo promocional da Raytheon também tem muitos recursos que eles não anunciam: blindagem de ripas, que pode ser eficaz para desviar ogivas de carga oca em rojões, painéis de blindagem adicionais e uma unidade de energia auxiliar e ventiladores de refrigeração na parte traseira. Parece que esses não são recursos padrão da atualização SLEP.

Para efeito de comparação, a atualização do Sabra II israelense também possui um canhão de 120mm de desempenho comparável emparelhado com um novo computador de mira, bem como um motor superior de mil cavalos de potência que aumenta a velocidade para 34 milhas por hora. Ao contrário do SLEP, o Sabra também reforçou a blindagem, dando à torre um formato angular. Isso inclui o acréscimo de blindagem reativa-explosiva - isto é, tijolos de explosivos que detonam prematuramente mísseis e projéteis - bem como placas de blindagem aplicadas.

Um tanque Mag’ach 7C semelhante equipado com blindagem de aplique supostamente sobreviveu a dezoito ataques de mísseis AT-3 Sagger do Hezbollah sem ser penetrado. No entanto, o Sagger remonta à década de 1960 e os mísseis atuais têm um poder de penetração muito maior.

Quão úteis são essas atualizações?

Os motores mais potentes ajudarão o Patton a acompanhar outras unidades mecanizadas no campo de batalha. No entanto, mesmo com a atualização, a relação potência/peso do M60 não é estelar.

Com o canhão de 120mm e o novo sistema de controle de fogo, o M60 pode acertar e destruir a maioria dos tanques em uso hoje em médio e longo alcance. Os operadores do M60 provavelmente não terão os avançados cartuchos de urânio empobrecido M829E3 e E4 projetados para contornar os mais sofisticados sistemas de blindagem reativa, mas poucos tanques operacionais se beneficiam deles até agora. Portanto, o M60 SLEP pode ser um caçador de tanques decente.

No entanto, a maioria dos tanques no campo de batalha atualmente não está lutando contra outros tanques. Eles estão trocando tiros com a infantaria insurgente - um número crescente dos quais está carregando mísseis guiados anti-carro de longo alcance modernos como o Kornet, bem como rojões de curto alcance mais difundidos. As melhores dessas armas provaram ser eficazes mesmo contra tanques modernos como o M1 e o Merkava.

T-72B1 venezuelano com blindagem de aplique.

O Patton é consideravelmente mais vulnerável que o M1 ou Merkava - e até mesmo que o mais antigo T-72! A antiquada blindagem frontal de aço fundido do Patton é avaliada como equivalente a 253mm de Blindagem Enrijecida Laminada (Rolled Hardened Armor, RHA), a medida padrão da eficácia da blindagem de tanques. Os tanques modernos usam blindagem composta que é drasticamente mais eficaz para o mesmo peso, especialmente contra ogivas de carga oca. Um M1A2 moderno é avaliado como equivalente a cerca de 800mm versos de granadas de tanques e 1300mm versos rojões de carga oca.

Soldado russo disparando um ATGM Kornet na região de Moscou, 2017.

Em contraste, os projéteis sabot de 120mm dos anos 90 podiam perfurar o equivalente a cerca de 700mm RHA, e o míssil anti-carro AT-17 Kornet pode penetrar 1300mm.

O Patton também é mais fácil de acertar por causa do seu perfil alto, e mais propenso a explodir em chamas quando penetrado porque a munição do canhão principal não é guardada separadamente, como no Abrams.

O M60 SLEP não apresenta blindagem aprimorada. O Sabra atualizado tem - e já sabemos como os Pattons blindados se saíram contra os mísseis guiados antitanque graças à Turquia.

Em 21 de abril deste ano, um M60T turco em Bashiqueh, Iraque, foi atingido por um míssil anti-carro Kornet de carga tandem do ISIS, danificando o veículo, mas não a tripulação. No entanto, o tanque parece ter sido colocado fora de operação.

Em agosto deste ano, os M60A3 e M60T turcos cruzaram a fronteira em apoio aos rebeldes aliados como parte da Operação Escudo do Eufrates, primeiro expulsando o ISIS da cidade de Jarablus sem luta e depois atacando as milícias curdas. Os combatentes curdos nocautearam vários M60 com mísseis de longo alcance, causando as primeiras baixas turcas na intervenção.

M60 turco destruído por um ATGM Kornet nas cercanias de Mosul, no Iraque, 2016.

Os tanques turcos M60T Sabra eventualmente redirecionaram seu poder de fogo contra cidades controladas pelo ISIS - e infelizmente, foram sujeitos a uma série de ataques bem-sucedidos por mísseis Kornet. Nos vídeos postados online, dois dos três Pattons destruídos explodiram em chamas.

No segundo incidente, apenas um dos tripulantes sobreviveu. Até agora, acredita-se que pelo menos onze Pattons turcos foram destruídos na Síria.

A situação é ainda pior no Iêmen, onde os Pattons são operados tanto por unidades do Exército que apoiam os rebeldes Houthi quanto pela Arábia Saudita. Mais de 22 Pattons destruídos foram registrados no conflito.

Tenha em mente que mesmo os Sabras com blindagem superior estão sofrendo perdas, e a atualização SLEP não apresenta melhorias de capacidade de sobrevivência além da remoção do sistema hidráulico da torre. A proteção da blindagem do Patton provaria ser ainda mais inadequada contra os Sabot perfurantes disparados de canhões de tanque, que são mais difíceis de se proteger.

Carros M60 Patton turcos na cidade de Qirata, na Síria.

A Raytheon está oferecendo uma atualização para o Patton que o torna um matador (de tanques), mas não um sobrevivente. No entanto, a tendência na guerra moderna favorece fortemente manter os próprios soldados vivos. Mesmo o novo tanque T-14 da Rússia, com sua torre não-tripulada e sistemas defensivos sofisticados, reflete essa prioridade.

O Patton pode seguir em frente com segurança e contribuir com seu pesado poder de fogo para o campo de batalha - mas em uma era em que minimizar as baixas e negar vitórias de propaganda para o outro lado é importante, sua antiquada proteção blindada permanecerá uma deficiência.

Sobre o autor:

Sébastien Roblin é mestre em Resolução de Conflitos pela Universidade de Georgetown e atuou como instrutor universitário do Corpo de Paz na China. Ele também trabalhou em educação, edição e reassentamento de refugiados na França e nos Estados Unidos. Atualmente, ele escreve sobre segurança e história militar para o site War Is Boring.

Bibliografia recomendada:

BATTLEGROUND:
The Greatest Tank Duels in History,
Steven J. Zaloga.

TANKS:
100 Years of Evolution,
Richard Ogorkiewicz.

Leitura recomendada:

Modernização dos tanques de batalha M60T do exército turco completos com sistema de proteção ativo incluído, 14 de julho de 2020.

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Leclerc operacional com mais blindagem no Exército dos Emirados Árabes Unidos11 de junho de 2020.

GALERIA: A 4ª Divisão Blindada "Cavaleiros do Egito"26 de abril de 2020.

As forças de tanques da Rússia tiveram um despertar muito rude na Síria7 de fevereiro de 2020.

A Aliança dos EUA com a OTAN precisa mudar

Por Daniel L. Davis, The National Interest, 9 de setembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 14 de setembro de 2020.

“O primeiro passo neste processo deve ser a transição dos Estados Unidos de ser a linha de frente da defesa dos países da OTAN para um papel de apoio. As democracias europeias na década de 1950 eram pobres e destituídas. Chega. A Alemanha, por exemplo, tem a quarta maior economia do mundo. É mais do que financeiramente capaz de fornecer o grosso de sua própria segurança. As tropas americanas, enquanto isso, devem ser realocadas em bases nacionais, onde possam se concentrar na defesa das fronteiras e dos interesses globais da América."

Trinta anos após o fim da Guerra Fria, a OTAN enfrenta uma ameaça de natureza potencialmente existencial. Não, não é uma suposta invasão russa da Europa Ocidental. É a possibilidade de uma guerra fratricida entre seus próprios membros, Grécia e Turquia. Antes que o impensável aconteça, os Estados Unidos deveriam reavaliar o futuro da OTAN e seu papel nele.

A Turquia e a Grécia têm um relacionamento antagônico há muito tempo. Desde que se tornaram membros da OTAN em 1952, eles estiveram duas vezes à beira da guerra um contra o outro. A primeira foi em 1974, quando uma junta militar grega ameaçou juntar todo o Chipre ao continente grego e forças militares turcas invadiram a parte norte da ilha. Um tenso impasse ocorreu e a ilha foi dividida desde então.

Navios de guerra da Grécia, Itália, Chipre e França participam de um exercício militar conjunto que foi realizado de 26 a 28 de agosto, ao sul da Turquia, no mar Mediterrâneo oriental, em 31 de agosto de 2020.

O segundo foi em 1996, por causa de uma disputa no Mar Egeu. A disputa aparentemente trivial que começou sobre uma operação de resgate de um navio grego que encalhou na costa turca quase se transformou em uma guerra total entre os dois sobre reivindicações conflitantes de soberania.

O conflito foi evitado, mas as tensões e emoções nunca esfriaram totalmente. Com a descoberta de grandes depósitos de gás natural em todo o Mediterrâneo Oriental, no entanto, as apostas de qual país é soberano sobre essas rochas assumiram uma urgência consideravelmente maior. A Turquia está assumindo uma postura muito mais dura, elevando seus interesses nacionais acima dos interesses comuns da OTAN.

O vice-presidente turco, Fuat Oktay, disse em uma entrevista que se a tentativa da Grécia de "expandir suas águas territoriais não for causa de guerra, então o que é?" Ancara está batendo de frente com mais do que apenas a Grécia, no entanto.

As relações entre a Turquia e a França continuam a se desgastar com o descontentamento de Paris em relação ao envolvimento cada vez maior de Ancara contra os interesses franceses na Líbia. O ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, alertou que a Grécia e a Turquia estão se aproximando “cada vez mais do abismo” e que, se os dois não resolverem suas disputas, em algum momento uma “faísca, por menor que seja, pode levar a um desastre.”

Enquanto isso, como Nick Squires escreveu no Christian Science Monitor, “a França e os Emirados Árabes Unidos enviaram aeronaves e navios de guerra para apoiar a Grécia, enquanto Chipre, Israel e Egito também têm interesse na prospecção de hidrocarbonetos no Mediterrâneo oriental”. Se você está pensando que isso não soa como as ações de aliados próximos, você está correto. O que parece, entretanto, é uma evidência crescente de uma aliança que não se ajustou com o tempo.

O mundo da Guerra Fria que existia em 1952, quando a Turquia e a Grécia entraram na OTAN, era aquele em que um grupo de nações relativamente livres colocava de lado suas diferenças para o bem coletivo de todas para equilibrar o poder da União Soviética. Esse mundo acabou com a dissolução da URSS.

Fuzileiros navais turcos durante um exercício conjunto da OTAN, anos 80.

Em vez de reconhecer as mudanças nas condições globais e ajustar a OTAN de acordo, o Ocidente se agarrou ao passado e tentou levar o status quo a um futuro estático. Se não agirmos rapidamente, então nossa relutância em reconhecer a realidade pode nos custar muito mais do que apenas a perda de uma estrutura de aliança.

Todos os presidentes, de Truman a Trump, queixaram-se compreensivelmente de que os membros europeus da OTAN não pagam o suficiente por sua própria segurança, o que impõe um grande fardo aos Estados Unidos. Mas a questão não é mais apenas fazer os europeus “pagarem mais”, mas como o potencial para uma guerra fratricida entre a Turquia e a Grécia está se revelando, precisamos de grandes reformas e mudanças.

O primeiro passo neste processo deve ser a transição dos Estados Unidos de uma linha de frente de defesa dos países da OTAN para um papel de apoio. As democracias europeias na década de 1950 eram pobres e destituídas. Não mais. A Alemanha, por exemplo, tem a quarta maior economia do mundo. É mais do que financeiramente capaz de fornecer a maior parte de sua própria segurança. As tropas dos EUA, enquanto isso, devem ser realocadas em bases domésticas, onde podem se concentrar na defesa das fronteiras e dos interesses globais da América.

Desfile militar da OTAN na Lituânia, 24 de março de 2020.

Qualquer sistema de aliança militar em que os Estados Unidos entrarem (ou permanecerem dentro) deve incluir benefícios recíprocos para ambos os países e resultar no fortalecimento das defesas dos EUA. Não deve ser uma via de mão única onde os Estados Unidos fornecem a maioria dos benefícios a outras terras e arcam com a maioria dos riscos de uma nova guerra - especialmente uma em que seus interesses não estariam em risco.

Os formuladores de políticas americanos, por muitas décadas, não estiveram dispostos a sequer considerar o ajuste da estrutura da OTAN. Se o país não tomar a ação racional para fazê-lo agora, entretanto, o custo pode ser a autodestruição da aliança quando seus membros começarem a atirar uns nos outros, forçando os demais a tomarem partido. Esse seria o pior momento para abordar o assunto e muito pior para os interesses dos EUA. Agora é a hora de agir, enquanto ainda é tempo de evitar o desastre.

Daniel L. Davis é membro sênior da Defense Priorities (Prioridades de Defesa) e ex-tenente-coronel do Exército dos EUA que se aposentou em 2015, após 21 anos de serviço, incluindo quatro destacamentos de combate.

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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

FOTO: T-90 de concreto

O monumento ao T-90 foi erguido por militares no Vietnã.

Um monumento incomum em homenagem ao tanque principal de batalha T-90 foi construído por militares da 201ª Brigada Blindada do Exército Popular Vietnamita. Este monumento se tornou o primeiro monumento desse tipo no mundo. O que é mais exótico é que não foi colocado um tanque de verdade no monumento, mas uma cópia de cimento feita pelos tanquistas da unidade.


O Vietnã recebeu um total de 64 tanques T-90S/T-90SK recentemente.

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TANKS:
100 Years of Evolution.
Richard Ogorkiewicz.

Steel and Blood:
South Vietnamese Armor and the War for Southeast Asia.
Coronel Ha Mai.

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COMENTÁRIO: Os intelectuais são o poder

Mikhail Andreyevich Suslov, o "ideólogo do Kremlin".

Por Éder Fonseca, Warfare Blog, 13 de setembro de 2020.

Os intelectuais são o poder, e ninguém personificou melhor essa verdade que Mikhail Andreyevich Suslov, o "ideólogo do Kremlin" que ingressou no Partido Comunista da União Soviética (doravante denominado PCUS) em 1921 e atingiu o topo da hierarquia deste em 1946 - para só sair de lá em 1982, no caixão.

Suslov é um caso único de resiliência no ambiente político soviético, provavelmente o mais brutal da história da humanidade. Ele assistiu ao desfecho da Guerra Civil que consolidaria o poder bolchevique e à luta de poder pela sucessão de Lênin, sobreviveu à grande fome de 1932, aos expurgos de Stalin, à Grande Guerra Patriótica (2ª Guerra na denominação soviética) e conseguiu ser apadrinhado por líderes tão díspares como Stalin, Kruschev e Brejnev, superando a todos em longevidade.

Mais do que qualquer outro líder soviético, talvez incluindo Lênin e Stalin, Mikhail Suslov personificou a URSS, num caso de identidade tão umbilical que boa parte do apogeu e declínio daquele império podem ser associados à sua trajetória pessoal e traços de personalidade.

No entanto, ele era discreto em seu próprio país e um quase desconhecido no Ocidente. Apenas especialistas conseguiam identificar aquela figura obscura, quase sempre vestida de terno preto e óculos que aparecia nas fotografias do Politburo.

Suslov (segundo da esquerda na primeira fila) na abertura do 9º Congresso do Partido da Unidade Socialista, o governo da Alemanha Oriental, 18 de maio de 1976.

Dedicado em tempo integral à militância partidária a partir de 1931, Suslov caiu nas graças de Stalin após participar de expurgos bem sucedidos nos Montes Urais e na Ucrânia durante aquela década. Ascende rapidamente na hierarquia até chegar ao Comitê Central em 1941. Em 1944, o PCUS acusa o soviete lituano de "não combater com suficiente zelo os nacionalistas e burgueses na Lituânia". Stalin nomeia Suslov como o chefe da repressão soviética que produz, até 1946, um saldo de 100.000 vítimas políticas, entre execuções, prisões e deportações em massa para gulags na Sibéria. Problem given, problem solved.

Pelo "excelente" trabalho, Stalin premiou o ideólogo com a chefia do importantíssimo Departamento de Agitação e Propaganda (Agitprop) do Comitê Central do PCUS, a Ordem de Lênin e o título de Herói do Trabalho Socialista, destinado geralmente apenas a membros do Presidium. Como diretor do departamento de Agitprop, supervisionava absolutamente TUDO que era divulgado pelo partido e era o seu porta-voz oficial para assuntos doutrinários e políticos.

Rebelião na Hungria, 1956.

Em 1952, é nomeado um dos 11 membros do Politburo, o órgão máximo da URSS. Mesmo sendo um dos quadros mais próximos de Stalin, mantém seu prestígio sob a liderança de Kruschev, pois apoiara o golpe que acabou com o assassinato do odioso Lavrenti Beria. Teve influência decisiva na repressão ao levante húngaro de 1956, tornando-se amigo do embaixador soviético em Budapeste - ninguém menos que Iuri Andropov. Sua relação com o novo presidente soviético se deterioraria ao longo dos anos, por discordar da política de 'desestalinização' e de aproximação com o ocidente. Suslov também culpou Kruschev pela piora nas relações com a China comunista.

Ajudou, então, a articular o golpe bem sucedido que colocaria Brejnev na presidência, chegando ao apogeu de seu poder e influência. É descrito como o "número 2" da hierarquia, mas na prática é o número 1. Leonid Brejnev não gostava de se ocupar com assuntos de grande complexidade, e por isso Suslov foi ocupando espaços privativos do presidente. Participa de todas as decisões importantes, quando não as toma diretamente.

O Secretário Geral do PCUS, Leonid Brezhnev, e o Secretário do Comitê Central do PCUS, Mikhail Suslov, preparam-se para depositar uma coroa de flores no Monumento a Lênin, 1967.

O problema é que ele envelhece, e as estruturas de poder soviéticas envelhecem junto. No final dos anos 1970, quando Suslov já caminhava para se tornar um octogenário, a alta burocracia soviética era na verdade uma gerontocracia. Ele e Brejnev morrem em 1982, e até 1985 mais três membros do Politburo e Secretários-Gerais - Andropov, Chernenko e Gromyko - baixam à sepultura. Sua vontade férrea na defesa de um modelo estalinista a todo custo levam o bloco soviético ao empobrecimento e a disputas infrutíferas com o ocidente, as quais desgastariam o controle do Partido sobre as demais repúblicas.

A União Soviética envelheceu na mesma medida que Mikhail Suslov, sua personificação quase-anônima. Gorbachov foi uma injeção de juventude e novas idéias que veio tarde demais para mudar o destino daquele poder já decrépito. A morte formal da URSS se deu em 1991, mas não seria exagero afirmar que, em certo sentido, a 'morte espiritual' daquele império socialista se deu em 25 de janeiro de 1982.

Tumba de Mikhail Suslov na Necrópole da Parede do Kremlin.

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