segunda-feira, 27 de abril de 2020

Sobre os méritos do M4 e EF88 (e mais) | PARTE 1


Por Solomon Birch, The Cove, 13 de julho de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 27 de abril de 2020.

Esses artigos começaram originalmente como um trabalho acadêmico destinado ao Australian Army Journal que documentava, com alguns detalhes, o desenvolvimento dos fuzis F88, M4 e aqueles parecidos com o M4 a partir de 1988 em diante. Seu objetivo era comparar os fuzis e a história detalhada, mas, apesar de interessante se você é do tipo de pessoa que gosta de assistir Ian McCollum do Forgottenweapons.com, ele foi realmente lançado para o público errado.

Ian "Gun Jesus" McCollum é um ícone do mundo das armas na internet.

O objetivo desta série de cinco artigos é fornecer um recurso sucinto e acessível aos membros do Exército Australiano que se envolvem em conversas sobre os méritos relativos do EF88 e M4, a fim de melhorar a qualidade da discussão sobre armas portáteis. O método deste artigo é descrever o contexto do desenvolvimento do projeto de ambos os fuzis, dissipar os equívocos comuns na área e tentar entender o fenômeno social da preferência de algum soldado pelo M4 FOW ao invés do F88 FOW. Ao fazer isso, vários documentos foram desclassificados ou agrupados e disponibilizados ao público para ajudar a melhorar a base factual da discussão sobre o tópico. Em resumo, todas as armas em discussão são muito boas e têm uma variedade de pontos fortes e fracos sutis que tendem a ser exagerados na discussão geral.


Ao pesquisar e escrever esses artigos, o autor chegou à conclusão de que o EF88 é um fuzil substancialmente melhor que o M4A1 na maioria dos casos de uso comum para um fuzil de serviço, porque geralmente é mais preciso, mais confiável, mais letal e mais fácil de manter, mas que o M4A1 é melhor em alguns casos de uso de nicho, porque é mais leve, mais ergonômico, lida melhor na maioria das vezes e é mais comumente usado em todo o mundo, resultando em um melhor mercado de reposição de peças para ele.

Solomon Birch é um oficial de logística que atualmente está destacado no CIOG e está em processo de transferência para as reservas. O autor gostaria de agradecer a Chris Masters, Darren Christopher, Mark Richards, Ten-Cel. Mathew Brookes, Ten-Cel. Cameron Fraser e Major Yong Yi, bem como ao grande número de indivíduos anônimos por sua assistência na coleta de informações para esses artigos. Finalmente, se alguém souber a localização de um F88-S sobrevivente, ele poderia por favor chamar a atenção da Unidade de História do Exército Australiano, pois atualmente não há exemplares.

Esta série de artigos está sendo publicada em cinco partes:

Hoje: Artigo 1 | Contexto e História Antiga - O M16 e o Steyr AUG.

Ter, 16 de julho: Artigo 2 | A História do Meio - O M4A1 e o F88SA1/2.

Qua, 17 de julho: Artigo 3 | A História Tardia: Os subprodutos do EF88 e M4.

Qui, 18 de julho: Artigo 4 | O Fator Humano Parte 1: A razão pela qual esses artigos existem: Por que há um grupo de soldados regulares que gostam do M4 e odeiam o F88.

Sexta-feira, 19 de julho: Artigo 5 | O Fator Humano Parte 2: As Forças Especiais lançam uma longa sombra.

Artigo 1 - Contexto e história antiga

M16 experimental no Vietnã.

O M16 e o Steyr AUG

O M16 foi baseado no Armalite Rifle Model 15 (Fuzil Armalite Modelo 15, AR15). O AR15 foi baseado no AR10, projetado de 1953 a 1955. O AR15 foi projetado de 1957 a 1959 e foi adotado pela primeira vez no serviço militar americano em 1963. Tinha 39,5 polegadas (1m) de comprimento, um cano de 20 polegadas (50,8cm) e pesava 3,1kg descarregado. Destacou-se pelo uso de materiais da “era espacial” (principalmente alumínio, mas um pouco de plástico) e pela introdução de um cartucho de calibre intermediário, o M193 de 5,56x45mm, que alcançou letalidade aceitável devido à sua velocidade muito alta [i]. Ele cicla seu ferrolho enviando gás transportado do cano através de um tubo até o conjunto do ferrolho o qual o gás empurra diretamente (às vezes isso é chamado de "sistema de impingimento direto"). Houve sérios problemas com sua confiabilidade no início de sua vida útil no Vietnã, principalmente porque o tipo de propelente usado para a munição diferia daquele para o qual o fuzil foi projetado. No entanto, os problemas de confiabilidade foram amplamente resolvidos com alterações no projeto e peças aprimoradas [ii].

Comparação dos mecanismos.

O M16 e o M16A1 foram introduzidos pela primeira vez nas forças armadas americanas em 1963. Em 1983, o M16A2 foi introduzido com um novo cano que permitia o uso de munições mais pesadas e perfurantes e, finalmente, em 1996, foram introduzidos o M16A3 e o M16A4 com trilhos MIL-STD 1913 “Picatinny”, para que a óptica padronizada possa ser montada no sistema. Cada iteração também teve várias outras alterações menos pronunciadas que não são mencionadas. Cada versão subsequente pesava mais do que seus antecessores, mas todos mantinham o cano de 20 polegadas (50,8cm) e tinham o mesmo comprimento total.

O Steyr AUG começou a ser projetado por volta de 1973 e foi adotado pelas forças armadas austríacas em 1977. Tinha 31,1 polegadas (79cm) de comprimento, um cano de 20 polegadas (50,8cm) e pesava 3,6 kg descarregado. Ele possuía vários recursos dignos de nota, mas é conhecido principalmente por colocar as partes operacionais da arma atrás do gatilho (tornando-a um “bullpup”), incluindo muito plástico no projeto e uma mira óptica integral, quase todos inéditos para um fuzil de serviço na época. Ele alterna sua ação enviando gás transportado do cano para um pistão que percorre uma curta distância e atinge uma haste que se projeta do conjunto do ferrolho, pressionando-o para ciclar a ação (chamado de “sistema de pistão a gás de curso curto”). Foi submetido a várias pequenas modificações quando outras forças armadas o adotaram, por exemplo, a inclusão do bloqueio de tiro único para as aquisição do Exército Irlandês.

A partir de 1982, o Exército Australiano quis substituir seus Fuzis Auto-Carregáveis L1A1 (Self-Loading Rifle, SLR, o FAL imperial) por algo mais novo e calibrados em 5.56x45mm [iii]. Ele conduziu um Programa de Substituição de Armas Portáteis (Small Arms Replacement ProgramSARP), onde os testes finais em 1985 foram entre o Steyr AUG e o M16A2. O Steyr AUG venceu conclusivamente o M16A2 em quase todas as áreas [iv]. O M16 sofreu mais incidentes de tiro, suas peças quebraram com mais frequência, seus canos não atendiam às expectativas de vida útil do cano, eram muito menos precisos, muito mais difíceis de manter e foram reprovados na maioria dos testes de condições adversas. O Relatório de Avaliação da SARP (Volume Um) (Volume Dois) (Volume Três) contém o seguinte Comentário Geral da Equipe de Julgamento: “Sem exceção, incluindo os soldados atiradores, todos preferiram o Steyr em termos de tiro, desempenho, limpeza, manutenção e manuseio”, e a seguinte conclusão “A partir dos resultados da Avaliação de Engenharia, a EDE não hesita em afirmar que o Steyr é a arma significativamente melhor dentre os competidores [de armas individuais], em termos de satisfação dos aspectos de engenharia [dos requisitos do Exército], e é considerado adequado para introdução em serviço sem modificações." Ainda existem rumores de que o AUG foi selecionado porque a Colt não licenciaria a produção do M16A2 na Austrália - se isso for verdade [v], não parece ser a principal razão pela qual o AUG foi selecionado e a Colt licenciou a fabricação em outros países no período (por exemplo, Diemaco Canadá). Em 1988, a Força de Defesa Australiana adotou o Steyr AUG como o F88.

O F88 e as armas que ele substituiu.

Assim como o M16 no início do serviço americano, o F88 encontrou alguns problemas iniciais que foram corrigidos por melhorias nos métodos de controle de qualidade e produção em Lithgow. Quando o projeto foi introduzido, certos elementos do projeto foram alterados, por exemplo, uma alteração nos materiais e no desenho da mola de operação principal e, enquanto as alterações individuais pareciam estar dentro da tolerância, ocorreram alguns empilhamentos da tolerância que reduziram a confiabilidade do projeto da arma para níveis abaixo daqueles vistos nos testes [vi]. Em todos os casos, os problemas foram resolvidos com modificações nas peças e melhor controle de qualidade. No entanto, danos iniciais à reputação já haviam sido infligidos à arma em algumas partes do Exército (particularmente nas forças especiais, que haviam recebido alguns dos primeiros lotes do F88). Esse dano à reputação foi exacerbado pelo uso da arma em situações que estavam fora dos requisitos do usuário estipulados pelo Exército e para os quais a arma nunca foi projetada e nunca testada, por exemplo, para inserção por submarino e nas operações de desembarque em praias nas quais a arma de fogo sofreria travamento hidrostática (uma limitação comum a quase todas as armas de fogo automáticas, até certo ponto, quando disparadas com água nas peças móveis, e notadamente o porquê da arma preferida por muitos operadores especiais para esses casos é um revólver de ação dupla) [vii][viii]. Falando com os primeiros usuários do F88 no Exército, parece que ele foi substancialmente preferido em relação ao L1A1 SLR e M16 que ele substituiu devido ao seu peso leve, comprimento curto, melhor confiabilidade e características de manuseio mais fáceis, mas houve algumas dúvidas iniciais devido ao desenho e materiais não convencionais combinados com os problemas iniciais de controle de qualidade.

Notas finais:

[i] United States Continental Army Command, “Study of the Military Characteristics for a Rifle of High Velocity and Small Caliber [sic]” ATDEV-3 474/6, datado em 21 de março de 1957 (NÃO-CLASSIFICADO).

[ii] Weapon Systems Analysis Directorate, Office of the Chief of Staff [US] Army, “Report of the M16 Rifle Review Panel” datado em 1º de Junho de 1968, desclassificado em 09 de abril de 1984 (NÃO-CLASSIFICADO), D25-D30.

[iii] Australian Army Engineering Development Establishment, “The Engineering Evaluation on the Individual Weapons for the Small Arms Replacement Project” datado em agosto de 1985, desclassificado em 25 de junho de 2019 por SO1 Lethality Soldier Combat Systems Program, Army Headquarters (NÃO-CLASSIFICADO), Vol 1, p17.

[iv] Australian Army Engineering Development Establishment, “The Engineering Evaluation on the Individual Weapons for the Small Arms Replacement Project” datado em agosto de 1985 desclassificado em 25 de junho de 2019 SO1 Lethality Soldier Combat Systems Program, Army Headquarters (NÃO-CLASSIFICADO), Anexo A ao Vol 1.

[v] Não foi possível encontrar fontes primárias e secundárias que confirmem esse boato, no entanto, várias fontes de segunda-mão disseram que foram informadas diretamente por personalidades relacionadas ao projeto de que este era o caso.

[vi] Entrevista com o Engenheiro-Chefe de Armas Portáteis (Chief Engineer Small Arms, CASG) e Capitão Birch, 06 de março de 2019.

[vii] Entrevista com o Engenheiro-Chefe de Armas Portáteis (Chief Engineer Small Arms, CASG) e Capitão Birch, 27 de fevereiro de 2019.

[viii] Entrevista com Solomon Birch e Chris Masters datada em 13 de fevereiro de 2019.

Solomon Birch é um oficial do RACT (Royal Australian Corps of Transport, Real Corpo de Transporte Australiano) atualmente postado na Ala de Transporte Rodoviário da Escola de Transporte do Exército (Road Transport Wing, Army School of Transport). As postagens anteriores incluem o 1 Sig Regt, 1 CSSB e 1 CER.

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VÍDEO: O documentário "Planeta dos Humanos" faz com que o esquerdista Michael Moore caia em desgraça no tribunal ecológico


Por muitos anos um favorito da esquerda internacional, o ativista de populismo esquerdista Michael Moore recentemente caiu em desgraça por desviar da narrativa da militância ecológica: o seu novo documentário "Planet of the Humans" (Planeta dos Humanos), mirando questionar a má liderança na "luta contra a mudança climática" (não era aquecimento global?) mas que acaba refutando a narrativa ecologista mostrando que, longe de um futuro distópico de poluição, o capitalismo está na verdade limpando cada vez mais o meio ambiente. 

Uma coisa que realmente incomoda o "movimento" ambientalista é o fato que Terra ficou mais verde nos últimos anos. O ex-ecologista Wesley J. Smith escreveu no livro The War on Humans (A Guerra contra os Humanos, 2014), o ambientalismo tornou-se cada vez mais anti-humano, tanto em suas políticas propostas - como as que reduziriam a vitalidade econômica e impediriam a prosperidade humana - quanto em seu objetivo de reduzir a população humana.

Em mais um exemplo do agravamento extremista dos militantes ecológicos, Moore foi imediatamente repudiado e forçado a se pronunciar - "sempre fui um ecologista a minha vida toda". Não contentes, os militantes agora exigem que o documentário, publicado abertamente no Youtube, seja retirado, em mais nova afronta à liberdade de expressão e demonstração de afetação ditatorial do movimento ambientalista; cada dia mais extremista e anti-humano.

O documentário pode ser visto na sua integralidade abaixo:


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VÍDEO - FUZIL SIG MCX VIRTUS


FOTO: Dragão moderno

Dragão paraquedista do 13e RDP (13ème Régiment de Dragons Parachutistes), unidade de forças especiais de reconhecimento em profundidade do Exército Francês.

O operador, um Maréchal des logis (sargento de cavalaria, OR-5) do regimento dos "Dragões da Imperatriz", está equipado com o recém-adquirido HK416, que foi dotado de miras telescópica EOTech 3x Magnifier e holográfica Su-231/PEQ (553 HWS). O operador pode dobrar a mira telescópica para o lado durante um engajamento mais próximo ou levantá-la para aumentar o alcance da visão holográfica. Na massa massa de mira ele colocou um sistema designador laser Steiner DBAL, que lhe permite ver onde estiver mirando com o óculos de visão noturna, um OB70 Lucie. Seu camuflado é o antigo padrão francês Camouflage Centrale Europe.

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FOTO: Patrulha noturna no Timor Leste1º de março de 2020.

domingo, 26 de abril de 2020

GALERIA: A 4ª Divisão Blindada "Cavaleiros do Egito"


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de abril de 2020.

A 4ª Divisão Blindada "Cavaleiros do Egito" foi a primeira divisão de tanques do Exército Egípcio, criada em 1956 por Nasser, e equipada com os blindados T-34/85 e SU-100 soviéticos fornecidos através da "Conexão Tcheca". A 4ª era considerada a melhor unidade do exército egípcio, e o seu deslocamento do Delta do Nilo para o Sinai, cruzando o Canal de Suez, alertou Israel sobre a intenção do Egito de entrar em guerra e assim Tel Aviv iniciou o ataque preventivo de 1967.

O histórico de batalha dos "Cavaleiros do Egito" é típica dos árabes no século XX: destruída durante as retiradas do Sinai em 1956 e em 1967, cercada e derrotada pelos israelenses no Egito africano, à oeste do Canal de Suez, na Guerra do Yom Kippur em 1973.


Nasser afirmou que o Egito perdeu 80% do seu material militar terrestre na Guerra dos Seis Dias (1967) e equipou suas unidades blindadas com os mais modernos T-55 e T-62, que viram serviço no Yom Kippur. Em 1987 a 4ª Divisão Blindada recebeu os primeiros M60A3 americanos, que viram serviço limitado na Guerra do Golfo como parte do avanço da Coalizão em direção ao Kuwait, em 1991.

Atualmente, os "Cavaleiros do Egito" são equipados com carros de combate M1A1 Abrams, obuses auto-propulsados M109A5, lançadores múltiplos de foguetes Sakr-45 e blindados de transporte M113; equipando duas brigadas blindadas, uma mecanizada, e vários batalhões de apoio de comunicações, engenharia, reconhecimento e demais funções de apoio - somando mais de 12.500 homens. Seu lema é "Fé, Força, Vitória".


Das 4 divisões blindadas egípcias atuais, 3 usam o M1A1 Abrams e a outra usa o M-60A3. Os velhos blindados soviéticos T-55 e T-62 são usados no apoio às formações de infantaria. Recentemente o Egito recebeu blindados T-90 russos, fazendo assim com que o Egito, assim como o Iraque, opere os Abrams americanos e os T-90 russos ao mesmo tempo.


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Mausers FN e a luta por Israel23 de abril de 2020.

GALERIA: Mini-Canhão de Assalto Improvisado

Tankette Renault UE carregando um canhão anti-carro PaK 36 de 37mm.
(Colorização RC Universe)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de abril de 2020.

Com a queda da França, em junho de 1940, a Alemanha nazista capturou 3.000 tankettes Renault UE e UE2, que foram usados em várias funções de apoio na função de rebocador de canhões anti-carro (chamado "Infanterie UE-Schlepper 630(f)" no serviço alemão) e na sua função original de transportador de munição (chamado "Munitionsschlepper Renault UE(f)" no serviço alemão). 


Durante a guerra o Renault UE foi usado em outras funções tanto pelos Aliados quanto pelo Eixo, seja como rebocador de combustível em unidades blindadas, auto-metralhadora (Gepanzerte-MG-Träger Renault UE(f)), transporte de tropas (Mannschaftstransportwagen Renault UE(f)), limpador de neve (Schneeschleuder auf Renault UE(f) e Schneefräser auf Renault UE(f)), reconhecimento, e comunicação (Fernmeldekabel-Kraftwagen Renault UE(f) e Kleiner Funk- und Beobachtungspanzer auf Infanterie-Schlepper UE(f)e, como pode ser visto nestas imagens, como um canhão de assalto improvisado: o Selbstfahrlafette für 3.7 cm Pak36 auf Renault UE(f), dos quais 700 foram montados em 1941.

Esses caça-tanques improvisados serviram primordialmente na Operação Barbarossa, a invasão da URSS em 1941. Alguns sobreviveram até 1944.



O EF88 versus o M4/AR-15: uma perspectiva de um operador especial

EF88 Austeyr, a versão australiana do Steyr AUG.

Por WO1 W*, Australian Strategic Policy Institute, 25 de setembro de 2015.

Tradução Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de abril de 2020.

*Pseudônimo, WO1 é a abreviatura da graduação Warrant Officer 1, sem equivalente no Brasil.

Sou um Warrant Officer superior que teve a sorte de servir em uma unidade das Forças Especiais australianas por mais de 25 anos, incluindo mais de 13 anos em funções de combate e, mais recentemente, como chefe do programa de treinamento de combate e armas de fogo da minha unidade. Estou escrevendo isso porque discordo respeitosamente da recente avaliação de John Coyne de que o EF88 (a designação do fuzil no serviço do Exército Australiano, não "F90" que se refere à versão de exportação da Thales) "parece fazer todo o sentido", quando comparado com o M4/AR-15.

Tive a oportunidade de disparar o EF88 e, embora seja uma melhoria sobre o atual Steyr, definitivamente não é uma boa arma de combate. O Steyr tem muitos aspectos que são menos do que desejáveis - alguns discutirei abaixo -, mas reconheço que, para a maioria da Força de Defesa Australiana, é adequado para defesa pessoal. No entanto, para nossos soldados de combate (não apenas Forças Especiais), poderíamos fazer muito, muito melhor.

EF88/F90 da Thales com o cano de 40cm.

Como John, também não estou defendendo nenhum sistema de armas em particular, mas dizer que a plataforma AR está chegando ao fim do serviço é impreciso. O setor em torno da plataforma baseada no AR é um gigante de vários bilhões de dólares e o nível de inovação e refinamento que continua a entrar nessa plataforma é sem precedentes. Apenas um exemplo será suficiente: A Sig Sauer lançou recentemente seu fuzil MCX, uma arma excepcional que está na vanguarda do desenho dos fuzis de combate, mas ainda é baseado no projeto AR-15 original de Eugene Stoner.

Por outro lado, além dos nossos próprios esforços com o EF88, não há investimento significativo no desenvolvimento da plataforma Steyr, e a lista de países que estão abandonando esta arma e escolhendo armas baseadas no AR cresce mais a cada dia, Nova Zelândia e Malásia para nomear dois. Acredito que, onde pudermos, devemos produzir ou fabricar itens militares na Austrália - mas não à custa da capacidade do soldado. Se dermos o passo positivo da diversificação, tenho certeza de que a Austrália poderá produzir mais de um fuzil de assalto e possivelmente criar mais empregos. Dessa forma, poderíamos fornecer aos nossos soldados de combate - Infantaria e Forças Especiais - um melhor sistema de armas de combate.


O que antes se pensava ser a melhor maneira de fazer negócios - idéias refletidas na artigo do John - não está, em muitos aspectos, em consonância com o treinamento atual em tiro de combate. Nosso treinamento atual, baseado nas lições das operações de combate recentes, expõe uma série de deficiências significativas no projeto do Steyr. Mencionarei apenas três: coronha/soleira de comprimento fixo, o desenho bullpup e pouca capacidade de disparar instintivamente de forma eficaz. (Não tenho espaço para cobrir a alavanca de manejo, gatilho, altura da visada, falta de um carregador de soltura rápida e a trava de segurança.)

Minha função atual me permite realizar treinamento com soldados de todo o exército e um grande problema é a soleira de comprimento fixo, que afeta soldados menores ou mais altos que a altura média. É difícil para eles obter um alívio ocular correto (mesmo com o novo trilho Picatinny estendido usado no EF88), o posicionamento correto da arma no ombro também é difícil e a posição da empunhadura frontal é abaixo do ideal, o que leva à aplicação ineficaz do fogo.

EF88/F90 da Thales com o cano de 50cm e um lança-granadas Madritsch Weapon Technology ML40AUS 40x46.

Outro problema com o Steyr é que ele é um sistema bullpup. Embora isso resulte em um menor comprimento total da arma, essa vantagem cria uma série de problemas. Por um lado, a colocação do carregador na traseira do Steyr significa que, ao contrário do M4 que empregamos nas forças especiais, os soldados devem olhar para baixo ao realizar exercícios de incidente de tiro. Isso é problemático, pois envolve uma perda de consciência situacional do espaço de batalha - uma preocupação muito mais significativa do que a preocupação de John sobre a necessidade de apertar dispositivo de assistência de avanço (forward assist device, FAD) no M4/AR-15 ao abordar um incidente de tiro.

Finalmente, para o soldado de combate moderno de hoje, é fundamental ter a capacidade de se esconder o máximo possível, enquanto ainda é capaz de ripostar um tiro eficaz ao inimigo. É realmente muito simples treinar tiros instintivos se a arma é capaz de fazer isso com eficiência - o que o Steyr, incluindo o novo EF88, não é. Após menos de um dia de treinamento com o M4, nossos soldados disparam o LF6 (sistema australiano de treinamento de tiro) tanto de forma mirada quanto em tiro instintivo e todos os soldados podem conseguir isso em duas ou três tentativas.

Em resumo, existem sistemas de armas de combate mais adequados do que o Steyr disponível para nossos soldados de combate, armas que proporcionarão maior letalidade e capacidade de sobrevivência. Onde vidas estão em risco, a Defesa deve manter a integridade e o foco na aptidão acima de tudo.

O WO1 W serve com as Forças Especiais do Exército Australiano. O autor forneceu seus detalhes à equipe editorial do The Strategist. A equipe reteve seu nome de acordo com a política das Forças Especiais. Imagem cortesia do Departamento de Defesa.

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LAPA FA Modelo 03 Brasileiro9 de setembro de 2019.

O FAMAS no mercado de exportação4 de novembro de 2019.

GALERIA: O FAMAS em Vanuatu22 de abril de 2020.


Helicóptero Gazelle de mercenários sul-africanos foi abatido em Moçambique

Helicóptero Gazelle como aquele usado pelos mercenários sul-africanos.

Por Patrick Kenyette, Military Africa, 10 de abril de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 26 de abril de 2020.

Vários relatórios de Moçambique indicam que um dos helicópteros Gazelle dos contratados militares sul-africanos, desdobrados contra jihadistas no norte de Moçambique, foi abatido nesta manhã [10 de abril].

O helicóptero Gazelle foi atacado com tiros de armas portáteis, que aparentemente danificaram a caixa de engrenagens do helicóptero, forçando-o a pousar. A tripulação foi extraída com segurança, no entanto, ainda não há informações sobre o status do helicóptero.

Um artilheiro de porta com um canhão de 20mm.
(Joseph Hanlon)

O helicóptero Gazelle, pertencente aos contratados militares privados sul-africanos, e as aeronaves da Força Aérea de Moçambique, realizaram vários ataques aéreos importantes contra extremistas islâmicos há muito tempo.

Por exemplo, no início deste mês, Joseph Hanlon publicou uma fotografia mostrando um dos helicópteros Gazelle supostamente usados em um ataque. A fotografia mostra um artilheiro de porta operando um canhão de 20mm montado na porta da aeronave.

Mercenários em Moçambique

Como Moçambique está envolvido em uma emergente guerra contra-terrorista, as forças de segurança estatais - as Forças de Defesa e Segurança (FDS) - se mostraram incapazes de lidar com os levemente armados terroristas no norte.

O presidente de Moçambique, Maputo, iniciou uma busca por alternativas militares. Inicialmente, a empresa de segurança privada Lancaster Six Group (L6G) de Erik Prince, sediada em Dubai, estava em concorrência com a companhia militar privada (private military company, PMC) Wagner da Rússia e com a sul-africana de Eeben Barlow, Specialized Tasks, Training, Equipment and Protection International (STTEP), por contratos de segurança em Cabo Delgado, com Prince prometendo eliminar os terroristas em três meses em troca de uma parcela das receitas de petróleo e gás natural.

Embora, de acordo com o Daily Maverick, Wagner havia saído de Moçambique em março após fracassar em sua missão e tenha sido substituído pela companhia de segurança privada da África do Sul Dyck Advisory Group (DAG), com sede na África do Sul e de propriedade do ex-coronel das forças armadas zimbabuanas, Lionel Dyck, que acredita-se estar perto do presidente zimbabuano Emmerson Mnangagwa.

O Dyck Advisory Group (DAG) opera três helicópteros na costa norte de Cabo Delgado - um helicóptero de ataque Gazelle, um Bell UH I "Huey" e um Bell 406 Long Ranger - e um Diamond DA42 de asa fixa. Eles somaram outro Gazelle e a um transportador de pessoal de asa fixa Cessna Caravan, o qual havia chegado a Pemba.

Patrick Kenyette é jornalista e fotógrafo freelancer e colaborador regular do blog African Military.

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GALERIA: O Renault R 35 em serviço na Romênia

Renault R 35 no Museu Nacional Militar Rei Ferdinando em Bucareste, capital da Romênia.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de abril de 2020.

No total 1.540 unidades do R 35 foram produzidas na França, incluindo variantes, entre 1936 e 1940. Em 1938, a Romênia entrou em negociações com a França para a produção do R 35 sob licença. O esforço de mobilização francês encerrou a idéia quando ela já se encontrava em situação avançada e, em agosto e setembro de 1939, os romenos compraram 40 blindados R 35 como medida paliativa. Esses tanques serviram como o carro de combate principal do recém-formado 2º Regimento Blindado do Exército Real Romeno, sendo designados em serviço como "Carul de Luptă R35".

2º Regimento Blindado do Exército Real romeno com os R 35 e caminhões Laffly S15.

No final de setembro de 1939, mais 34 carros R 35 saídos da fábrica foram transferidos para os romenos quando o 21º Batalhão de Tanques Leves polonês (Batalion Czołgów Lekkich, BCL) cruzou a fronteira fugindo dos alemães. Com 74 tanques, o 2º Regimento Blindado foi expandido em dois batalhões.

Carros de combate Carul de Luptă R35 em desfile após sua invasão bem-sucedida de Odessa, 1941.

Os romenos usaram o R 35 na União Soviética, e, após a Batalha de Stalingrado, decidiram que os R 35 exigiam uma melhora significativa de sua capacidade anti-tanque.

Inicialmente, a torre de um R 35 do 2º Regimento Blindado da 1ª Divisão Blindada foi trocada pela torre de um T-26 soviético capturado. Em última análise, no início de 1943, foi decidido manter a blindagem mais espessa da torre francesa. Assim, a arma de 45mm do T-26 foi adotada como substituta da arma original de 37mm. A arma soviética foi anexada à torre francesa com a ajuda de uma extensão que continha o mecanismo de recuo da peça de 45mm. A desvantagem disso foi que, após essas modificações, não havia mais espaço suficiente na torre para manter a metralhadora coaxial, que foi então removida.

Blindado Vânătorul de Care R35, o Renault R35 com uma canhão soviético de 45mm.

Os tanques modernizados foram adotados como destruidores de tanques sob a designação "Vânătorul de Care R35", com trinta R 35 convertidos até junho de 1944 pela fábrica de Leonida em Bucareste. As armas soviéticas de 45mm foram retiradas dos tanques T-26 e BT-7 capturados. Essas unidades foram reformadas no Arsenal do Exército em Târgoviște enquanto as novas sustentações dos canhões, contendo o mecanismo de recuo, foram feitas na Oficina Concordia em Ploiești. Estes veículos serviram até o final da guerra.

Soldado soviético posando com um Vânătorul de Care R35 armado com o canhão do T-26. A Romênia trocou de lado em 1944, com os soviéticos pressionando suas fronteiras. 

Uma quantidade significativa das peças originais feitas na França, tanto dos tanques R 35 originais quanto dos convertidos, foi substituída por peças produzidas na Romênia em 1941-1942. As fábricas romenas produziram engrenagens de acionamento, eixos de acionamento, lagartas, novas rodas de metal e cabeças de cilindro. As rodas foram projetadas localmente para serem dez vezes mais duráveis. Adicionado a estes foram os suportes para os canhões de 45mm, adicionados como extensões de torre, que continham o mecanismo de recuo. Assim, o R 35 convertido romeno tinha partes significativas fabricadas na Romênia em seu chassis, transmissão e torre.

Vânătorul de Care R35 destruído na Ferrovia de Znojmo, 1945.

Outro ângulo do mesmo blindado, mostrando a situação difícil de defasagem onde os tanquistas romenos operavam em 1945.

Havia sessenta tanques R 35 no inventário romeno em 19 de julho de 1944, dos quais trinta haviam sido rearmados com canhões de 45mm.

Bibliografia 
recomendada:

Third Axis Fourth Ally: Romanian Armed Forces in the European War, 1941-1945 (1995), de Mark Axworthy, Cornel Scafeș e Cristian Craciunoiu.

Leitura recomendada: