Soldados franceses alertas em uma trincheira, usando máscaras de gás, em 1917. (Colorização de Julius Jääskelãinen) |
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 20 de agosto de 2020.
Hoje 103 anos atrás, em 20 de agosto de 1917, a Segunda Batalha de Verdun começou na Frente Ocidental, uma ofensiva francesa limitada ocorrida no campo de batalha sagrado onde foi travada a Batalha de Verdun de 1916.
Em agosto de 1917, os exércitos britânico e francês lutavam na Batalha de Passchendaele, na lama do Flandres; o pesadelo que inspirou Tolkien. Para evitar que as tropas alemãs fossem transferidas para o inferno do Flandres e para melhorar as posições defensivas, os franceses planejaram uma ofensiva em escala limitada em Verdun.
Após os motins franceses de 1917, o moral do exército francês também estava baixo, por isso esperava-se que uma vitória ofensiva - especialmente em Verdun - restaurasse o moral.
Para a preparação da ofensiva, os franceses construíram cerca de 34km de estradas para artilharia e suprimentos e atribuíram a seus soldados objetivos limitados e realistas. Apesar de não haver possibilidade de surpresa, dado que os alemães frequentemente bombardeavam as posições francesas no período antes da ofensiva. Inclusive, em junho de 1917, os alemães também lançaram um ataque violento partindo da Côte 304; interrompendo os preparativos franceses.
Em 11 de agosto de 1917, os franceses começaram um bombardeio de artilharia impressionante de 10 dias sobre as posições alemãs em Verdun, com 2.880 canhões disparando 3 milhões de projéteis, dos quais 1/3 eram de canhões pesados dos grupos e baterias dos 73e, 74e, 77e e 78e RALGP (régiment d'artillerie lourde à grande puissance, regimento de artilharia pesada de grande potência). Além das esquadrilhas 210 e 213, equipadas com 10 Breguet 14 A.2 e 5 Letord 1 cada.
Em 20 de agosto de 1917, 10 Divisões de Infantaria francesas atacaram em Verdun em uma frente de 24km nas margens direita e esquerda do rio Meuse, sob o comando do General Adolphe Guillaumat.
Margem Esquerda:
- 13º Corpo: 25e DI, 26e DI;
- 16º Corpo: 31e DI, 32e DI;
- Divisão Marroquina (incluindo o Regimento de Marcha da Legião Estrangeira, RMLE).
Margem Direita:
- 15º Corpo: 126e DI, 123e DI.
- 32º Corpo: 40e DI, 42e DI, 165e DI.
A força do General Guillaumat foi oposta por 4 divisões entre Avocourt e o rio Meuse, 5 divisões entre o rio Meuse e Étain, 5 divisões reserva e 400 baterias alemãs.
A artilharia e infantaria francesas cooperaram bem enquanto avançavam rapidamente e capturavam todos os objetivos do primeiro dia, mesmo a colina do Homem Morto (Mort-Homme) que foi palco de sangrentos combates em 1916. Porém, a Côte 304 ainda permanecia em mãos alemãs.
Os franceses continuaram sua ofensiva em 21 de agosto, capturando mais aldeias e fazendo muitos prisioneiros alemães. Depois de ferrenha resistência inimiga, os franceses cercaram e capturaram a Côte 304 em 24 de agosto. Repelindo diversos contra-ataques, terminando o dia 24 com a elevação firmemente em mãos francesas.
Um avanço custoso no dia 26 tomou o Bois des Fosses e o Bois de Beaumont. Em setembro, após a ocupação do Bois des Caurières, o Exército Francês voltou às antigas linhas de 1916. As tentativas alemãs no início de outubro de retomar essas posições provaram-se infrutíferas.
Na Segunda Batalha de Verdun, os franceses sofreram cerca de 14.000 baixas, incluindo 4.470 mortos ou desaparecidos, mas obtiveram grande sucesso - capturando todos os seus objetivos. Os franceses também capturaram cerca de 10.500 prisioneiros alemães, além de 30 canhões e 250 metralhadoras. Outras perdas alemãs são desconhecidas mas estimadas em 22 mil mortos, feridos e desaparecidos.
A vitória demonstrou a validade dos nossos sistemas de cooperação de combate na nova guerra industrial moderna, como disse o General Guy François:
"A operação de 20 de agosto de 1917 em Verdun permanece, com o ataque a Malmaison realizado dois meses depois, um dos símbolos mais completos de ataques locais com objetivos limitados. Os detratores do QG do General Pétain certamente poderiam objetar que tal estratégia traria a ruína do país no curto prazo, já que este único ataque absorveu 120.000 toneladas de projéteis em 7 dias correspondendo ao disparo de 4 milhões de projéteis cobrindo 6 toneladas de aço a cada metro da frente, a um preço de 700 milhões de francos na época!"
La Légion Étrangère au combat 1914-1918. |
A bravura da infantaria, lutando em grupos de combate articulados de armas combinadas, também foi notada, como os bretões do 81e Régiment d'Infanterie (81e RI) capturando a elevação do Mort-Homme; combatividade presente em todas as outras divisões empregadas que tomaram as várias elevações, bosques e túneis diante delas.
“Em 20 de agosto de 1917, sob as ordens do Tenente-Coronel Rollet, o Regimento de Marcha da Legião Estrangeira capturou a aldeia de Cumières e seus bosques, com tal ardor que superou o objetivo final que lhe fora atribuído. Em seguida, assumiu o controle da Côte de l'Oie e Regnéville".
- Decreto de 27 de setembro de 1917 atribuindo a Cruz de Cavaleiro da Legião de Honra à bandeira do Regimento de Marcha da Legião Estrangeira.
Bibliografia recomendada:
Pyrrhic Victory: French strategy and operations in the Great War. Brigadier General Robert A. Doughty. |
A invenção da Guerra Moderna 1871-1918. Tenente-Coronel Michel Goya. |
Leitura recomendada:
O impacto decisivo da inteligência militar francesa na ofensiva alemã de Marneschutz-Reims, 25 de janeiro de 2020.
PINTURA: Ataque à baioneta, 1915, 23 de fevereiro de 2020.
A metralhadora leve Chauchat: não é realmente uma das piores armas de todos os tempos, 11 de fevereiro de 2020.
A Herança Tática da Primeira Guerra Mundial I: O Combate da Infantaria, 27 de março de 2020.
Patton na lama de Argonne, 27 de março de 2020.