sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Exército indiano comprará mais 72.000 fuzis de assalto SIG 716 dos EUA


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 5 de novembro de 2020.

A Índia havia adquirido o lote anterior dos fuzis sob o programa de aquisição acelerada (FTP), mais um dos programas de compras de emergência indianos.

Em meio à disputa em andamento com a China sobre a questão da fronteira, o Exército Indiano vai fazer outra encomenda de 72.000 fuzis de assalto SIG 716 dos Estados Unidos. A encomenda do segundo lote de fuzis viria depois do primeiro lote de 72 mil fuzis, já entregue ao Exército para uso pelas tropas do Comando Norte e outras áreas operacionais.

"Vamos fazer um pedido de mais 72.000 desses fuzis sob os poderes financeiros concedidos às Forças Armadas", disseram fontes do Ministério da Defesa indiano à agência de notícias ANI.

O SIG 716 G2 Patrol é um fuzil de assalto aprimorado com cano de 16 polegadas, guarda-mão M-LOK e coronha telescópica de 6 posições. As armas estão sendo fornecidas ao Exército Indiano pelas instalações da SIG Sauer em New Hampsire, EUA. O modelo G2 Patrol é calibrado em 7,62x51 mm OTAN.

Soldados indianos no estande com os novos fuzis SIG 716 G2 Patrol.

O Exército Indiano recebeu o primeiro lote de fuzis de assalto SIG Sauer para impulsionar suas operações de contraterrorismo. A Índia havia adquirido os fuzis sob o programa de aquisição acelerada (fast-track procurement, FTP). Os novos fuzis substituirão os fuzis existentes do Sistema de Armas Leves (Indian Small Arms System, INSAS) da Índia, calibrados em 5,56x45mm, e usados pelas forças indianas e fabricados localmente pelo Ordnance Factories Board.

De acordo com o plano, os 144.000 fuzis importados devem ser usados pelas tropas nas operações de contra-terrorismo e nas funções de linha de frente na Linha de Controle (Line of Control, LoC), as forças restantes seriam supridos com os fuzis AK-203, os quais serão produzidos em conjunto pela Índia e pela Rússia na fábrica de munições Amethi. O trabalho no projeto ainda não começou devido a vários problemas processuais enfrentados pelas duas partes.

Indian Small Arms System (INSAS).

O Exército Indiano  vem tentando substituir seus fuzis INSAS por muitos anos, mas as tentativas falharam devido a uma multitude de problemas, geralmente baixo controle de qualidade na produção indiana e falta de recursos para importações.

O Exército Indiano desejava inicialmente 800 mil fuzis, reduzindo a encomenda para 250 mil fuzis em 2018 - apenas um terço de sua necessidade total - devido a restrições orçamentárias e à necessidade de acelerar as entregas. Com forças armadas contando 1,3 milhão de militares, a encomenda de 800 mil fuzis teria custado US$ 2,5 bilhões. Recentemente, o Ministério da Defesa fez um pedido de 16.000 metralhadoras leves Negev de Israel para mitigar a escassez dessas armas, um problema que já se arrasta por um bom tempo.

Índia e China estão em uma posição de impasse no leste de Ladakh, já que o exército chinês (PLA) desdobrou mais de 20.000 soldados na região desde a primeira semana de maio, gerando tensão e choques entre os dois países.

Fuzis "Made in India"

Soldados indianos com fuzis AK-47 romenos em Srinagar.

Em 2017, o Exército Indiano rejeitou os fuzis de assalto Trichy 7,62x39 mm, uma cópia da família AK e produzido localmente, que deveriam substituir os fuzis AK-47 e INSAS. As autoridades disseram que as armas eram de baixa qualidade e apresentavam várias falhas e travamentos, além de um poder de fogo ineficaz.

Este foi o segundo ano consecutivo em que o Exército rejeita um armamento fabricado na Índia. Em 2016, as forças armadas recusaram o uso de armas Excalibur 5,56 mm fabricadas localmente - outra variedade de fuzis de assalto - depois de não cumprirem os padrões exigidos.
Fuzil de assalto Trichy 7,62x39mm.

As armas, construídas pela Fábrica de Fuzis de Ishapore foram rejeitadas pelo Exército depois que falharam miseravelmente nos testes de tiro em julho de 2017. Havia um “número excessivo de falhas” nas armas e foi necessário um “redesenho completo do carregador” para considerá-las seguras para uso pelo Exército, disseram as autoridades. O Exército também observou “flashes e assinatura sonora excessivos” nos fuzis durante os testes. As autoridades disseram que os fuzis apresentavam várias falhas e travamentos que chegaram a mais de 20 vezes o padrão máximo permitido.

O Conselho de Fábricas de Munição (Ordnance Factory Board, OFB), um monopólio da indústria indiana sob o DRDO (Defence Research and Development Organisation, Organização de Pesquisa e Desenvolvimento de Defesa),  vem produzindo armas leves de baixa qualidade há décadas; e mesmo se mostrando incapaz de suprir a demanda de munição. Isto forçou o ministério da defesa indiano a realizar compras de emergência de fuzis e munições de fabricante estrangeiros, onerando sobremaneira o orçamento da defesa.

A adoção do INSAS em 1990 foi uma decisão problemática e, longe de solucionar a padronização indiana, apenas aumentou a diversidade de material (aumentando a dor de cabeça dos intendentes). Ainda usando os obsoletos fuzis Lee-Enfield ferrolhados quase até o século XXI, a Índia teve que adquirir 100.000 fuzis AKM de 7,62x39 mm da Rússia, Hungria, Romênia e Israel de 1990 a 1992 como compras de emergência enquanto a produção local tropeçava, e as entregas dos novos fuzis INSAS apenas começaram em 1997.

INSAS.

O batismo de fogo do INSAS na Guerra de Kargil (1999) não apresentou bons resultados. Os fuzis foram usados nas altas elevações do Himalaia e houve reclamações de engripamento, carregadores rachando devido ao frio e o fuzil entrando no modo automático quando colocado no modo de rajadas de três tiros. Havia também um problema de óleo espirrando no olho do operador. Também foram relatados alguns feridos durante treinamentos de tiro. Uma nova versão foi adotada em 2001 mas pouca coisa mudou.

Segundo o livro Military Industry and Regional Defense Policy: India, Iraq and Israel, de Timothy D. Hoyt (2006):

"No início dos anos 80, o DRDO assumiu o compromisso de desenvolver uma nova série de armas portáteis de 5,56 mm para as forças armadas indianas chamada INSAS. Tanto a Heckler & Koch da Alemanha quanto a Steyr da Áustria se ofereceram para suprir as necessidades imediatas da Índia e transferir tecnologia no valor de US$ 4,5 milhões gratuitamente. Essas ofertas foram recusadas e o DRDO passou a década seguinte, e aproximadamente 2 bilhões (cerca de US$ 100 milhões em 1990), reinventando uma família de armas portáteis baseada fortemente nas tecnologias Steyr e H&K. Enquanto isso, a Índia importou fuzis AK-47 de antigos países do Pacto de Varsóvia para atender aos requisitos. O INSAS finalmente entrou em serviço no final dos anos 90."

No mesmo período, a polícia e demais forças paramilitares indianas compraram 100 mil fuzis AK búlgaros (vários modelos AR-M). Um AK-47 búlgaro com seu distinto acabamento de plástico preto custava apenas 22.000 rúpias indianas em 2011. Isto era significativamente mais barato do que o AK russo feito em Izhmash e 5.000 rúpias a menos do que o fuzil INSAS. O fabricante búlgaro Arsenal executava três turnos por dia para atender à encomenda de emergência indiana.

Em novembro de 2014, o CRPF solicitou a retirada do INSAS como seu fuzil padrão devido a problemas de confiabilidade. O diretor-geral da CRPF, Dilip Trivedi, disse que o INSAS emperrava com mais frequência em comparação ao AK-47 e o X-95; com a substituição ocorrendo em abril de 2015. No início de 2017, foi anunciado que os fuzis INSAS seriam retirados de serviço e substituídos por fuzis calibrados em 7,62x51 mm OTAN.

Comando policial Pradesh com um AK-47 búlgaro.

O Exército Indiano ainda conta com um estoque de 450 mil fuzis AK de várias procedências. Aquisições de modernos fuzis bullpup também foram feitas com modelos Steyr AUG, Tavor TAR-21 e FN F2000. Tentativas de produzir o TAR-21 localmente foram anunciadas em 2016, com a IMI declarando que estava estabelecendo uma joint venture 49:51 com o Punj Lloyd para fabricar componentes de fuzis na Índia.

O SIG 716 na Índia

Soldados indianos armados com os fuzis SIG 716 em exercício conjunto com os franceses.

O novo fuzil de projeto alemão e fabricação americana é conhecido por sua qualidade e uma boa aquisição apesar dos problemas de aquisições de emergência originadas pelo mau planejamento indiano. Devido à urgência a compra foi "da prateleira" e teve que abandonar a iniciativa "Make in India" de fabricação local, enquanto evita a maldição tradicional de compras gradativas e "tapa buraco" provisórias do passado.

Com o primeiro lote de 10.000 fuzis SIG 716 entregue ao Comando Norte do Exército Indiano dezembro de 2019, seguido pelo segundo lote encomendado em julho de 2020 mas acelerados em setembro devido às tensões com a China, o novo fuzil é um excelente substituto ao problemático INSAS.

“A importância global deste contrato para a SIG Sauer é de longo alcance com base no tamanho, localização e força econômica da Índia no mercado global”, disse Ron Cohen, presidente e CEO da SIG Sauer, Inc. “Estamos muito orgulhosos, e honrados que o SIG 716 foi escolhido para uso pelas forças de combate do Exército Indiano, e estamos ansiosos para desenvolver uma forte parceria com o Ministério da Defesa da Índia.”

“Esta foi a primeira grande aquisição de armas de fogo do governo indiano em décadas, e a missão explícita para esta licitação era modernizar os soldados de infantaria do Exército Indiano com o melhor fuzil disponível”, disse Cohen em fevereiro passado. “Concorremos em um concurso público com fabricantes de armas portáteis de todo o mundo. O fuzil SIG 716 passou por um processo abrangente e exaustivo de testes e avaliação, onde superou a concorrência e foi escolhido por atender a todos os critérios, como o melhor fuzil para modernizar o Exército Indiano.”

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FOTO: Gendarmaria na Costa do Marfim

Gendarmes franceses disparando o FAMAS em treinamento de tiro de resposta em Abidjan, na Costa do Marfim, em 25 de março de 2006.

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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Ataque de Villejuif: Sid Ahmed Ghlam condenado à prisão perpétua

 

Sid Ahmed Ghlam em seu julgamento, 5 de outubro de 2020. (Benoit Peyrucq/ AFP)

Por Aude Bariéty, Le Figaro - Société, 5 de novembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 5 de novembro de 2020.

O jovem de 29 anos foi considerado culpado pelo assassinato de Aurélie Châtelain, 32, em 19 de abril de 2015.

Após um mês de audiência, aplauso do fim do julgamento de Sid Ahmed Ghlam. O argelino de 29 anos, que compareceu perante o tribunal especial de Paris por um ataque fracassado a uma igreja em Villejuif (Val-de-Marne) e pelo assassinato de Aurélie Châtelain, foi finalmente condenado na quinta-feira, 5 de novembro, à prisão perpétua, acompanhada de uma sentença de segurança de 22 anos e da proibição definitiva de permanência em território francês.

Em 2 de novembro, os advogados gerais haviam solicitado a prisão perpétua contra o jovem. O advogado deste último, Gilles-Jean Portejoie, pediu a absolvição dois dias depois.

“Esta condenação não é nem mesmo uma satisfação; é o mínimo”, reagiu pelo Figaro, Gérard Chemla, advogado da Federação Nacional das Vítimas de Ataques e Acidentes Coletivos (Fédération nationale des victimes d'attentats et d'accidents collectifs, Fenvac). "Estamos perante um terrorista determinado que matou uma jovem e que poderia ter causado uma carnificina, porque tinha um verdadeiro".

Sid Ahmed Ghlam durante a reconstrução dos fatos em 20 de março de 2016 em Villejuif. (Fred Dugit/ LP)

Arrependimentos

Na manhã de hoje, em suas últimas palavras, o acusado expressou pesar, sem tomar conhecimento dos fatos, segundo a AFP. “Lamento amargamente minha carreira. [...] vou me sentir culpado a vida toda”, declarou notavelmente.

Aurélie Châtelain, professora de fitness de 32 anos, foi morta a tiros em seu carro, em um estacionamento em Villejuif, no domingo, 19 de abril de 2015. O DNA de Sid Ahmed Ghlam foi encontrado no veículo e na arma do crime, descoberta em sua posse.

Nove outras pessoas - incluindo duas por omissão - estavam sendo julgadas ao lado do argelino. Nesta quinta-feira, eles receberam sentenças que variam de cinco anos de prisão, incluindo três anos de reclusão à prisão perpétua.


Post Script: Atentado à faca em Villejuif em 2020

Em 3 de janeiro de 2020, em Villejuif, Val-de-Marne, um homem matou uma pessoa e feriu outras duas com uma faca antes de ser morto a tiros pela polícia.

Às duas da tarde, um homem em um parque em Villejuif gritou "Allahu Akbar" e tentou esfaquear um homem, mas parou porque o homem disse que era muçulmano e fez uma oração. Em seguida, o agressor atacou três outras pessoas, matando um homem e ferindo gravemente sua esposa na garganta. Uma segunda mulher, que estava correndo na área, também recebeu várias facadas nas costas. O agressor então tentou esfaquear o zelador e um sem-teto, mas eles escaparam sem ferimentos.

O ataque ocorreu fora de um supermercado e os alvos foram escolhidos ao acaso. Foi relatado que o agressor usava uma djellaba (um roupão magrebino), e estava descalço. Ele gritou "Allahu akbar" quando da chegada da polícia da Brigada Anti-Criminalidade (Brigade Anticriminalité, BAC). Eles atiraram nele uma vez; ao se levantar, colocando a mão no bolso, foi novamente alvejado com um fuzil de assalto, pois suspeitou-se que estava usando um cinto de explosivos; isso acabou por não ser o caso.

Um polonês-francês de 56 anos foi morto enquanto defendia sua esposa, que ficou ferida durante o ataque junto com uma mulher de 30 anos que estava correndo no parque.

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Laços de extrema-direita: unidade das forças especiais alemãs escapa da dissolução... por enquanto

 


Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex360, 5 de novembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 5 de novembro de 2020.

O Kommando Spezialkräfte (KSK) "permanece em liberdade condicional", o diário "Frankfurter Allgemeine Zeitung" (FAZ) comentou recentemente sobre os resultados de um relatório de investigação preliminar sobre a alegada infiltração pela extrema-direita desta unidade de forças especiais da Bundeswehr, criada em 1996.


Como um lembrete, em maio passado, um suboficial do KSK então na mira do Militärischen Abschirmdienstes (MAD, Contra-espionagem militar) por suas simpatias para com o movimento extremista dos "cidadãos do Reich", foi preso por ter escondido em sua casa armas, munições e explosivos. Além disso, a 2ª Companhia desta unidade foi criticada por ter organizado uma festa em que foi realizada uma competição de arremesso de cabeça de porco. Além disso, alguns de seus membros teriam feito a saudação nazista, que é ilegal em todo o Reno. Para piorar, também foi alegado que um estoque de 62kg de explosivos havia desaparecido, junto com 48.000 munições diversas.

Quando ela acabara de apresentar um projeto de lei com o objetivo de excluir o mais rapidamente das fileiras do Bundeswehr os militares que demonstravam proximidade com ideias extremistas, a ministra da Defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, decidiu desferir um golpe, em Junho, ao anunciar uma série de medidas com efeito imediato e ao deixar pairar a possibilidade de uma “reorganização mais ampla” do KSK, ou seja, a da sua dissolução. Tudo dependeria, então, das conclusões de um relatório a ser apresentado a ela em outubro deste ano.

"Cada soldado KSK tem que decidir se quer ser parte da solução ou do problema. Sem um novo começo, o KSK não terá futuro na Bundeswehr", advertiu a ministra alemã.

Entre as medidas anunciadas por esta última, a mais emblemática foi a dissolução da 2ª Companhia de Combate do KSK. Além disso, trata-se de peneirar os comandos, verificar seus antecedentes e suas orientações políticas. Por fim, todos os exercícios internacionais dos quais esta unidade participaria foram cancelados.


A longo prazo, tratava-se de promover a mobilidade do pessoal do KSK com outras unidades da Bundeswehr. No total, foi elaborado um catálogo com cerca de sessenta medidas.

Mais de quatro meses após os anúncios, as investigações do General Eberhard Zorn, o chefe do Estado-Maior alemão, entregaram um relatório ao Bundestag (parlamento federal alemão). E, obviamente, o KSK deve, por enquanto, escapar da dissolução. Daí o comentário do FAZ.

Assim, no que se refere ao suposto desaparecimento de explosivos e munições (fato descrito como "perturbador" e "alarmante" por Kramp-Karrenbauer), poderia ser explicado por ... erros contábeis. Na verdade, de acordo com o General Zorn, os 62kg de explosivos perdidos nunca existiram. E das 48 mil munições supostamente perdidas, 29 mil acabaram sendo encontradas, sendo as demais, a priori, abandonadas ou “perdidas” em duas missões ao exterior por negligências que também serão “sancionadas”."


"Um inventário revelou que a maioria das diferenças entre os livros e os estoques reais do KSK pode ser explicada por erros contábeis", disse o relatório, citado pela Reuters. “Não há indícios de furto ou desfalque além do caso da prisão” do suboficial em maio passado, confirmado também pelo FAZ.

Quanto à companhia dissolvida, o General Zorn fala de uma "acumulação de incidentes inaceitáveis" ocorridos dentro dela. Os interrogatórios da MAD, relativos a cerca de quarenta soldados, continuam. “Somente aqueles que permanecerem firmes na Lei Básica poderão servir em outro lugar no KSK no futuro”, disse ele.

“Não há tolerância para o extremismo de direita dentro da Bundeswehr. Aqueles que atraem a atenção das autoridades e que comprovadamente têm tendências extremistas são dispensados. Isso é absolutamente justo e vital", comentou Eva Högl, Comissária do Bundeswehr para o Bundestag.


Além disso, Zorg também disse à Deutsche Welle que, de acordo com suas informações, “não houve nenhuma descoberta de estruturas de extrema-direita profundamente enraizadas dentro do Bundeswehr. No entanto, ela acrescentou, ainda é "muito cedo para tirar conclusões, já que cada caso individual precisa ser investigado" e "verificações mais rigorosas de antecedentes dos soldados do KSK são" necessárias" para "manter os extremistas de direita" fora desta unidade.

Sobre este ponto, o semanário Der Spiegel relata que os investigadores ainda não têm uma resposta definitiva à questão de se realmente havia uma rede de extrema direita dentro do KSK que pudesse "planejar atos de violência. Ou se alguns soldados da companhia dissolvida caíssem em um "esprit de corps incompreendido".

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FOTO: Polícia austríaca na rua após o ataque terrorista em Viena

 

Policiais austríacos, armados e equipados, em Viena durante a noite. O departamento de polícia de Viena pediu aos cidadãos que evitem sair à noite durante a investigação.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 5 de novembro de 2020.

A polícia austríaca anunciou na terça-feira (03/11) que um tiroteio em Viena foi executado por um extremista islâmico conhecido que havia passado um período na prisão. As autoridades estão investigando o motivo do ataque mortal, que deixou pelo menos quatro mortos e mais de 20 feridos. A polícia prendeu 14 pessoas que tinham ligações com o atirador de Viena, disse o ministro do Interior, Karl Nehammer.

"Isso mostra a abordagem resoluta e implacável de nossas autoridades policiais e judiciais na luta contra o terrorismo em nosso país", disse Nehammer à agência de notícias austríaca APA.

Não ficou claro do que as 14 pessoas suspeitas são acusadas mas, segundo a lei austríaca, a prisão preventiva é permitida se houver o risco dos suspeitos fugirem, suprimirem provas ou cometerem mais crimes.

Centenas de policiais foram posicionados em Viena para procurar suspeitos.

Em coordenação com as autoridades austríacas, a polícia suíça prendeu na terça-feira um suíço de 18 anos e um suíço de 24 anos na cidade de Winterthur em conexão com o tiroteio em Viena. O Ministério do Interior da Macedônia do Norte disse em um comunicado que três pessoas que estiveram envolvidas nos ataques com armas têm dupla cidadania austríaca e macedônia do Norte. Todos os três nasceram na Áustria, acrescentou o ministério, citando os três apenas pelas iniciais; geralmente, isto é um sinal de que são imigrantes de primeira geração, filhos de estrangeiros que receberam asilo.

Um terrorista, que estava armado com um fuzil de assalto e vestindo um colete suicida falso, foi morto a tiros pela polícia. Nehammer disse em uma entrevista coletiva na manhã de terça-feira que as investigações indicam que o homem era simpatizante do grupo extremista Estado Islâmico. Ele acrescentou que mais perpetradores podem estar à solta e pediu aos cidadãos que fiquem em casa, se possível.

Dois homens e duas mulheres foram confirmados como mortos. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse que um cidadão alemão estava entre as vítimas mortas. "Recebemos a triste confirmação de que um cidadão alemão estava entre as vítimas do ataque em Viena", disse Maas em Berlim.

As autoridades de saúde citadas pela agência de notícias austríaca APA também disseram que sete vítimas do ataque estavam em estado crítico e com risco de vida no hospital.

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Submissão.
Michel Houellebeq.

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Um professor francês foi decapitado por um terrorista muçulmano em plena rua, 16 de outubro de 2020.

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FOTO: Contra-terrorismo clássico3 de setembro de 2020.

VÍDEO: Atirando com o óculos de visão noturna panorâmica GPNVG-18


O GPNVG-18 é um óculos de visão noturna (OVN) com quatro tubos agrupados em dois binóculos que fornece visão panorâmica ao operador, aliviando a visão de túnel típica dos OVN. Segundo o vídeo, um GPNVG-18 custa 40 mil dólares.

Este OVN ficou famoso no mundo todo com a publicação do livro "No Easy Day" ("Não existe dia fácil", 2012), após a incursão dos SEALs que matou Osama bin Laden. Isto seguiu uma quase onipresença do quadrinóculo em filmes, séries, livros e vídeo games.



Livro "No Easy Day"


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Friday Night Lights: Como usar a visão noturna - para iniciantes8 de fevereiro de 2020.

A Viabilidade das Operações na Selva à Noite5 de outubro de 2020.


FOTO: Dragão moderno, 27 de abril de 2020.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

FOTO: O desfile dos tanques proibidos

Carros de combate T-72 dos rebeldes apoiados pela Rússia em Donetsk desfilam em celebração ao Dia da Vitória soviética sobre a Alemanha nazista em 1945, 9 de maio de 2018.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 4 de novembro de 2020.

A exibição de tal armamento pesado, em 2018, durante o conflito - então com quatro anos de duração - entre os rebeldes cripto-russos e as forças do governo viola os termos de um acordo de paz de 2015 que nenhum dos lados honrou. O acordo de paz exigia que ambas as partes retirassem morteiros, foguetes e outras armas de grande calibre das linhas de demarcação, uma das quais atravessa os arredores de Donetsk, a principal cidade da auto-declarada República Popular de Donetsk. O acordo, evidentemente, incluiria os T-72 desfilando.

Um repórter da AFP contou, na época, 45 peças de equipamento militar pesado, incluindo tanques, sistemas de artilharia e vários lançadores de foguetes. Muitos foram pintados com a estrela vermelha da União Soviética e uma fita de São Jorge com listras pretas e laranja, um dos novos símbolos russos pós-soviéticos.

"Todo o equipamento que participou do desfile foi adquirido como troféu", disse à AFP Alexander Voronin, o vice-chefe militar dos rebeldes, alegando que foi confiscado do exército ucraniano e depois restaurado. A alegação é uma completa piada. A Rússia de Putin vem fornecendo tanques T-72 a diversos aliados ao redor do mundo nos últimos. Da Venezuela banhada pelo Caribe às selvas do Laos.

T-72 venezuelano.

Na abertura do evento com a presença de cerca de 35.000, o líder separatista do Donetsk, Alexander Zakharchenko, disse que o povo da região "tem que defender suas terras com armas" e proteger "o mundo russo" dos nacionalistas ucranianos. "Hoje estamos de uniforme e para nós este não é mais um feriado para homenagear - agora é o nosso feriado", disse Akhra Avidzba, um rebelde de 32 anos.

Os residentes locais compareceram ao desfile com fitas de São Jorge pregadas em suas roupas e carregando bandeiras vermelhas e buquês de lilases. Alguns trouxeram crianças vestidas com uniformes estilizados da Segunda Guerra Mundial. Ao contrário dos desfiles anteriores em 2016 e 2017, ninguém parecia estar segurando bandeiras russas para manter a fantasia de guerra civil sem participação externa.

Além disso, forte propaganda comunista foi empregada durante a cerimônia. Esses desfiles estão associados à era soviética e foram revividos maciçamente sob o presidente Vladimir Putin na Rússia, enquanto foram proibidos na capital ucraniana desde o início do conflito. A fita de São Jorge também foi proibida pela Ucrânia como símbolo da agressão russa.


Do outro lado da linha de frente, em Kiev, cerca de 10.000 pessoas marcharam pelas ruas centrais carregando retratos de parentes mortos durante a guerra. A polícia de Kiev prendeu 14 participantes por usarem símbolos proibidos "do regime totalitário comunista", incluindo a fita de São Jorge -sob pena de uma multa.

"A União Soviética de Stalin nos primeiros dois anos da Segunda Guerra Mundial era uma aliada da Alemanha de Hitler", disse o presidente ucraniano Petro Poroshenko em um discurso na cerimônia de comemoração.

Parada militar do Donetsk de 2018 na íntegra


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GALERIA: Forças Especiais Belgas no KASOTC


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 4 de novembro de 2020.

Comandos belgas do Grupo de Forças Especiais (Special Forces Group, SFG) realizando treinamento de Combate Urbano Avançado no KASOTC, na Jordânia, em 5 de março de 2015.

O Centro de Treinamento de Operações Especiais Rei Abdullah II (King Abdullah II Special Operations Training Center, KASOTC), operacional em 19 de maio de 2009, seu lema é "Onde o treinamento avançado encontra a tecnologia avançada". O KASOTC sedia uma competição internacional anual de forças especiais: a Competição Anual de Guerreiros (Annual Warrior Competition).

A Warrior é uma competição anual orientada para o combate, baseada na capacidade física, trabalho em equipe, comunicação e precisão individual. Na sua última edição, em 2019, a Warrior contou com 46 equipes de 26 países, com a vitória da equipe 1 de Brunei, seguida pelos jordanianos, e a equipe 2 de Brunei em terceiro lugar.

O 12º Concurso Anual de Guerreiros, agendado entre 29 de março de 2020 e 2 de abril de 2020, foi adiado como medida de precaução para minimizar a propagação do coronavírus. A previsão era de 25 equipes estrangeiras, além de três da nação anfitriã, se comprometeriam com o evento deste ano. As nações cujas seleções eram esperadas incluíam: Bahrein, Brunei, Bulgária, Geórgia, Alemanha, Hungria, Iraque, Itália, Cazaquistão, Kuwait, Jordânia, Kosovo, Letônia, Líbano, Omã, Portugal, Catar, Romênia, Arábia Saudita, Eslováquia e Ucrânia.











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terça-feira, 3 de novembro de 2020

A ascensão, domínio e declínio da monarquia da Tailândia


Por Mark S. Cogan, Geopolitical Monitor, 20 de outubro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de novembro de 2020.

A recente turbulência política na Tailândia quebrou muitos dos tabus que cercam sua monarquia antes reverenciada. O movimento social liderado por jovens que exigiu a renúncia do primeiro-ministro da Tailândia, Prayut Chan-o-cha, também apresentou uma lista de reformas pedindo mudanças substantivas na monarquia, incluindo a revogação de suas leis draconianas de lesa majestade, as quais proíbem o insulto do monarca e têm sido usados como uma arma para silenciar dissidentes. As reformas também exigem mais transparência e responsabilidade, bem como proíbem o monarca de apoiar golpes políticos, o que é uma ocorrência frequente.

Soldados tailandeses patrulhando as ruas no golpe-de-estado de 22 de maio de 2014.

Em uma era em que as normas sociais estão mudando e as velhas instituições de poder estão lutando para manter a legitimidade pública, é importante avaliar como a Tailândia acabou nesse ponto. Como uma monarquia que se tornara uma instituição reverenciada - personificada por um jovem rei carismático, cuja imagem decorava as casas de milhões de tailandeses - se viu em uma crise de legitimidade em tão curto espaço de tempo? Para responder a esta pergunta crítica, é essencial rastrear a ascensão, domínio e o declínio precipitado da monarquia sob o rei Maha Vajiralongkorn.

A restauração da monarquia começou sob o marechal-de-campo Sarit Thanarat, formando uma aliança com Bhumibol Aduledej, construindo um modelo de legitimidade e prestígio para o jovem monarca. Revogando as medidas de reforma agrária de 1954 que enfraqueceram a monarquia sob o reinado anterior de Phibun Phibunsongkhram, Sarit promoveu um culto à personalidade em torno de Bhumibol, trazendo de volta as tradições e práticas reais, como a prostração. A Constituição de 1932, que relegou a dinastia Chakri de uma monarquia absoluta a uma constitucional, foi revogada e substituída por uma versão de 1959, que concedeu ao primeiro-ministro o poder de agir contra qualquer coisa que pudesse perturbar a paz ou minar a segurança do Estado, incluindo o poder de prender e executar qualquer pessoa que o governo considere uma ameaça. Leis draconianas foram implementadas e as atividades políticas reprimidas.

Tropas do Real Exército Siamês durante o golpe, 24 de junho de 1932.

Os militares e a monarquia estavam agora simbioticamente ligados, envoltos em um manto de anti-comunismo e se afastando cada vez mais dos ideais de uma geração atrás. A aliança militar-monárquica criou laços mais profundos com os Estados Unidos, que injetaram bilhões em melhorias de desenvolvimento e infraestrutura na Tailândia. O início dos anos 1960 deu início a uma era de ouro para a economia tailandesa, onde as exportações dispararam e famílias e empresas ricas foram protegidas da devastação da competição, enquanto os pobres foram instruídos a viver com humildade e simplicidade. Foi o início de uma economia que hoje coloca a Tailândia no topo da lista dos países com a pior desigualdade de riqueza.

O marechal-de-campo Sarit, que bebia muito, faleceu logo em 1963, mas seu breve mandato alterou o curso da monarquia e estabeleceu um sistema que a Tailândia passou a conhecer muito bem. Ele desenvolveu um sistema iliberal, com poder ilimitado para fazer mudanças constitucionais e institucionais, controlado por uma rede de monarquistas com tentáculos espalhados por setores da sociedade tailandesa. Ele foi imediatamente substituído por Thanom Kittikachorn, que naquela época não poderia se igualar à estatura de Sarit ou do Rei Bhumibol, que havia acumulado capital político e moral significativo.

A difícil gestão de Thanom como primeiro-ministro coincidiria com o anti-comunismo violento e o aumento do descontentamento popular. Citando a necessidade de suprimir a ameaça do comunismo, ele deu um golpe contra seu próprio governo e se tornou o chefe do seu próprio Conselho Executivo Nacional. A rebelião logo seguiria na forma de protestos liderados por estudantes, que se espalharam para o público em geral. O povo tailandês, assim como hoje, pediu um retorno a uma forma de governo mais democrática e um novo Parlamento. A revolta de 14 de outubro de 1973, que viu estudantes fugindo de uma resposta brutal do governo aos protestos, também viu a estatura do Rei Bhumibol aumentar ainda mais por meio de sua dissolução do regime de Thanom e sua icônica abertura dos portões do Palácio Chitralada para os estudantes que fugiam da repressão do governo.

Repressão militar durante a revolta popular de 14 de outubro de 1973.

A restauração do regime democrático na Tailândia não durou muito, já que o retorno de Thanom em 1976 como monge budista alarmara os alunos que trabalharam diligentemente e com grande custo para derrotá-lo. Os temores anti-comunistas da monarquia também levaram à disseminação de propaganda de direita e à formação de grupos paramilitares como os Village Scouts (Escoteiros das Vilas), que deveriam fornecer uma defesa cidadã contra as ameaças comunistas. No auge, em 1978, 2,5 milhões de tailandeses, ou 5% da população total, haviam concluído o treinamento necessário para se tornar escoteiros. A monarquia endossou e apoiou os escoteiros, que estiveram fortemente envolvidos no combate aos protestos pró-democracia de meados dos anos 1970. Seu envolvimento no massacre da Universidade Thammasat em 1976 não pode ser esquecido.

O rei Bhumibol, após os eventos de 1976, tornou-se o árbitro principal das crises políticas que duraram muito durante seu governo de mais de sete décadas. A Tailândia caiu em um padrão repetitivo de golpes e contra-golpes em 1977, 1981, 1985 e 1991, mas o monarca não interferiu em nenhum deles.

Coluna de tanques de soldados leais ao governo tailandês em frente à antiga casa do parlamento de Bangkok após a supressão do golpe, 9 de setembro de 1985. 

Isso mudou durante os sangrentos eventos do “Maio Negro” de 1992, que ocorreram depois que Suchinda Kraprayoon derrubou o governo de Chatichai Choonhavan. Formando o Conselho Nacional de Manutenção da Paz, Suchinda acabou se nomeando primeiro-ministro. Seguiram-se protestos públicos, liderados pelo general aposentado Chamlong Srimuang e Bangkok se aproximou do caos com feias demonstrações de violência. No entanto, foi o rei Bhumibol quem resolveu a disputa, chamando Chamlong e Suchinda diante de si em uma palestra pública na televisão. Suchinda renunciou e a crise foi evitada. O papel da monarquia como árbitro principal nas crises políticas foi mantido e a estatura e autoridade moral de Bhumibol foram mais uma vez confirmadas.

O momento que abalou uma nação: os generais rivais, Suchinda Kraprayoon (centro) e Chamlong Srimuang (esquerda), ajoelhando-se diante do rei Bhumibol após os distúrbios em 22 de maio de 1992.

Embora Bhumibol aprovasse os golpes que derrubaram as eras Thaksin e Yingluck Shinawatra na política tailandesa em 2006 e 2014, seu governo seria caracterizado principalmente como uma "monarquia em rede", onde o monarca governava por meio de uma série de representantes em vez de diretamente. O avanço da idade e o declínio da saúde fizeram com que Bhumibol logo se retirasse da vida pública até sua morte em outubro de 2016. Os anos de cultivo de uma imagem pública reverenciada e exaltada não foram imediatamente transferidos para Vajiralongkorn, que tem um estilo muito diferente de seu pai.

Em um curto espaço de tempo, Vajiralongkorn mudou-se para estabelecer o controle sobre bilhões de dólares dos ativos do Crown Property Bureau e assumiu o comando do 1º e 11º Regimentos de Infantaria, baseados em Bangkok. Ele adquiriu participações em grandes empresas tailandesas, como Siam Commercial Bank e Siam Cement, bem como em vastas extensões de terras. A legitimidade pública não pode ser transferida tão facilmente quanto um título real. Vajiralongkorn não cultivou a mesma imagem pública, em parte devido à sua preferência pelo governo direto e sua ausência pública da Tailândia, passando um tempo considerável na Alemanha.

A erosão da legitimidade pública não pode simplesmente ser atribuída a Vajiralongkorn, mas à aliança militar-monárquica como uma instituição conjunta. O povo tailandês se acostumou e frustrou-se com o padrão interminável de interferência nos assuntos políticos, especialmente durante os períodos de governo democrático. A derrubada de Thaksin em 2006 gerou protestos políticos e uma resposta violenta do Estado. A agitação política em 2014 foi outra justificativa para a intervenção militar, o que levou a respostas brutais do Estado à dissidência. As constituições democráticas foram substituídas por versões autoritárias, que favoreciam tanto os militares quanto a monarquia. A raiva pública cresceu quando o Future Forward Party (Partido para o Futuro Adiante), que atraiu muitos jovens seguidores, foi banido junto com seu jovem líder carismático, Thanathorn Juangroongruangkit.

Thanathorn Juangroongruangkit, líder do Future Forward Party. 

Com a atual impopularidade do governo Prayut e de Vajiralongkorn, pode ser facilmente interpretado erroneamente que os manifestantes querem acabar com a monarquia de uma vez, mas isso seria uma descaracterização grosseira. As ansiedades são impulsionadas pela percepção de que a Tailândia sob Vajiralongkorn poderia retornar à sua forma absoluta, como evidenciado por discursos de líderes dos protestos. Embora os desafios sejam raros com Bhumibol, eles estão sempre presentes e provavelmente permanecerão sob Vajiralongkorn, que precisará adaptar a instituição para se ajustar à dinâmica de mudança. Intervenções extra-constitucionais, personificadas por endossos reais de golpes militares, não serão mais toleradas. A legitimidade só pode ser restaurada por meio da transparência, responsabilidade e trabalho em conjunto com uma sociedade civil tailandesa democrática, e não contra ela. Já se foi o tempo em que formas extremas de nacionalismo tailandês, expressas como anti-comunismo ou a restauração da “felicidade”, podiam subjugar a sociedade civil tailandesa. Para sobreviver, a monarquia da Tailândia deve se adequar aos novos tempos.

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