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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

FOTO: O mais novo voluntário da Legião Francesa de Voluntários contra o Bolchevismo

"Na frente soviética: chefes da legião francesa posicionados no leste. Aos 15 anos, Léon M. é o soldado mais jovem da Legião. Ele nasceu em Tbilissi."
Propagandakompanien der Wehrmacht - Heer und Luftwaffe (Bild 101 I), dezembro de 1941.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 18 de dezembro de 2020.

Léon Merdjian tinha 15 anos, a idade limite para um combatente não ser considerado uma criança-soldado. Léon era um emigrado georgiano que chegou à França vindo de Tblisi com sua família antes do início da guerra; algumas fontes apontam para uma nobreza despossuída pelo regime soviético. A foto foi tirada perto de Golovbovo, Oblast de Pskov, Rússia, União Soviética em dezembro de 1941.

A Legião Francesa de Voluntários contra o Bolchevismo (Légion des volontaires français contre le bolchévisme, LVF) que serviu na Wehrmacht de 1941 a 1944. Sua designação oficial era 638º Regimento de Infantaria (Infanterie-Regiment 638). A LVF lutou na Batalha de Moscou (outubro de 1941 a fevereiro de 1942), sofrendo pesadas baixas. Pela maior parte da sua história, a LVF lutou em operações anti-partisan (Bandenbekämpfung, "Combate a Bandidos"). Ao todo, 5.800 homens serviram na LVF.

A unidade foi dissolvida em setembro de 1944, com seus efetivos sendo incorporados nas Waffen-SS, na Waffen-Grenadier-Brigade der SS "Charlemagne" (depois 33. Waffen-Grenadier-Division der SS "Charlemagne" (französische Nr. 1)).

Vídeo recomendado:

Bibliografia recomendada:

For Europe:
The French Volunteers of the Waffen-SS.
Robert Forbes.

Leitura recomendada:

FOTO: Soldados Soviéticos nas ruínas do Reichstag2 de dezembro de 2020.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

GALERIA: Com os Tirailleurs Marroquinos na Operação Aspic na região de Phu My

Na região de Phu My, atiradores de elite da 2/1er RTM exibem uma bandeira Viêt-Minh encontrada durante a Operação "Aspic" realizada contra o Tieu Doan 300 e a Cong An ("segurança" Viêt-Minh) de Voung Tan.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 14 de outubro de 2020.

Operação Aspic (Áspide, víbora-áspide) com o 2/1er RTM e o 22e RIC  na região de Phu My, julha-agosto de 1951, na Cochinchina (sul do Vietnã).

A operação visava reduzir os depósitos de segurança de Voung Tan (Cabo Saint-Jacques) e os acantonamentos do TD 300 (Tiêû Doàn, batalhão Viêt-Minh) localizados ao longo da RC 15 (Route Coloniale 15/ Estrada Colonial 15). Fotos de Coutard Raoul para o ECPAD, focando exclusivamente nos tirailleurs (atiradores).

O TD 300 estava operando com elementos da temida Cong An, a "segurança" Viêt-Minh, era a formação responsável pela repressão política do Estado-subterrâneo Viêt-Minh, encarregada do aprisionamento e assassinato de potenciais adversários do futuro regime. A varredura francesa encontrou e libertou tais adversários políticos nas famosas "cages à tigres" (jaulas de tigre) do Viêt-Minh.

Dois destacamentos do 22º RIC (Régiment d’Infanterie Coloniale/ Regimento de Infantaria Colonial) e o comando Long Thanh chegaram ao local por terra; o 2/1er RTM (2e Bataillon de Marche du 1er Régiment de Tirailleurs Marocains/ 2º Batalhão de Marcha do 1º Regimento de Tirailleurs Marroquinos) foi trazido pela Marinha anfíbia.

Destruição por fogo da infraestrutura deserta do Tieu Doan 300 do Viêt-minh por tirailleurs marroquinos do 2/1er RTM.

Um tirailleur (atirador) do 2/1er RTM armado com uma carabina US M1 durante a Operação "Aspic".

Um sargento do 2/1er RTM aguarda ordem para retomar a progressão. Este quadro está armado com uma submetralhadora MAT 49 e equipado com um porta-carregador de lona, de confecção local.

O atirador de um fuzil-metralhador Châtellerault 24/29 e um dos seus companheiros do 2/1er RTM em Voung Tan.

Na região de Phu My, o capitão-médico do 2/1er RTM cuida de um "Tu Vé" (guerrilheiro Viêt-Minh) feito prisioneiro durante a Operação "Aspic", Voung Tan.

Soldados do 2/1er RTM preparam café no bivaque.

Soldados de 2/1er RTM colocaram um morteiro 60mm em bateria em direção a um destacamento Viêt-Minh, tentando desacelerar sua ação contra Voung Tan.

Padiola carregada por soldados do 2/1er RTM com um prisioneiro da temida Cong An, a "segurança" Viêt-Minh, em Voung Tan, durante a Operação "Aspic". Esta formação é responsável por aprisionar ou assassinar potenciais adversários do futuro regime. Vários presos políticos também foram libertados das "jaulas de tigre" pelos atiradores de elite durante esta operação.

Bibliografia recomendada:

Street Without Joy:
The French Debacle in Indochina.
Bernard B. Fall.

Leitura recomendada:

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Carros de combate principais T-72B1MS no Laos

Carros de combate T-72B1MS "Águia Branca" do Exército Popular do Laos durante a parada militar, em Vientiene, de celebração dos 70 anos da criação das Forças Armadas do Laos, 20 de janeiro de 2019.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 22 de setembro de 2020.

O Laos primeiro exibiu seus novos carros de combate principais T-72B1MS "Águia Branca" no 70º aniversário do Exército Popular Laociano, em 20 de janeiro de 2019. No mesmo dia, o chefe da Direção-Geral de Cooperação Militar Internacional da Rússia, Aleksandr Klimovsky, afirmou que Moscou abriu um escritório militar no Laos durante o desfile na capital do país, Vientiane. A parada militar também exibiu os novos veículos de transporte BRDM-2M.

O interesse do Laos pelos T-72 foi primeiro demonstrado quando suas equipes operaram o novo carro de combate no Biatlo de Tanques 2018, e que, junto dos vietnamitas, iniciaram conversações com a indústria russa. Em dezembro de 2018, o ministro da Defesa do Laos, Tenente-General Sengnuan Xayalat, disse à emissora russa Zvezda (Estrela) que o Exército Popular receberia armamentos e plataformas de fabricação russa, incluindo “novos tanques T-72” e aeronaves Yak-130. Tudo isso fazia parte da nova modernização das forças laocianas, que operavam antigos T-55 e até mesmo 10 veteranos T-34/85 em serviço, com mais 20 em estoque.

Em janeiro de 2019, o Laos entregou à Rússia seus 30 carros de combate T-34/85 como parte desta modernização. Seu estado era lastimável, inclusive com ninhos de pássaros em alguns deles. Estes T-34 veteranos, que foram fabricados na antiga Tchecoslováquia nos anos 1950, viajaram 4,500km por terra do Vietnã e por mar até Vladvostok, de onde foram transportados por ferrovia para Moscou. Sendo reformados por técnicos e engenheiros, eles serão exibidos em desfiles e museus, e usados em filmes. (O blog tratou desse assunto aqui.)

Os T-34 com os cocares do Exército Popular Laociano embarcados em trens com destino a Moscou, janeiro de 2019.

O T-72B1MS "Águia Branca"(Ob'yekt 184-1MS) é o T-72B1 modernizado pela empresa Oboronprom (agora parte da Rostec), apresentado pela primeira vez no International Forum Engineering Technologies 2012, pintado de branco, daí o apelido não-oficial de "Águia Branca". As propriedades mecânicas do tanque são as mesmas do T-72B1 normal, com o mesmo motor, canhão, blindagem e pacote Kontakt-1 (K-1) ERA. No entanto, a eletrônica é fortemente atualizada, incluindo uma câmera frontal e traseira para o motorista, display digital do motorista, sistema de navegação GPS/GLONASS, visão panorâmica térmica de terceira geração "Olho de Águia" para o comandante do tanque montado no lado esquerdo traseiro da torre, mira térmica do artilheiro PN-72U Sosna-U, sistema de rastreamento de alvo, sistema de gerenciamento de chassis e metralhadora AA 12,7mm controlada remotamente. Atualmente em serviço nas forças armadas do Laos, Uruguai e Nicarágua, sendo a Sérvia também um possível cliente.

Primeiro lote embarcado em caminhões e entregue ao exército laociano em 23 de dezembro de 2018.

T-72B1MS "Águia Branca" no International Forum Engineering Technologies 2012, 29 de junho de 2012.

Um segundo lote foi entregue em 26 de novembro de 2019, com algumas fotos mostrando o desembarque do navio no porto vietnamita de Tien Sa, para serem enviados em caminhões especiais por rodovia ao Laos - que não possui saída para o mar. Os 30 T-72B1MS laocianos equiparam um batalhão de carros de combate, o que representa um aumento de poder de combate impressionante no contexto laociano, chegando em três lotes de 10 tanques cada. Saindo de uma força blindada de 30 T-55 e 30 T-34/85 para uma de 30 T-72 e 30 T-55.

Com um preço estimado de apenas US$ 1,5-2 milhões por veículo, o T-72B1MS provou ser uma escolha sábia para o Exército Popular Laociano no contexto do seu orçamento de defesa.



No final de janeiro de 2020, o Laos recebeu da Rússia um terceiro lote de carros T-72B1MS “Águia Branca” e de veículos blindados de reconhecimento 4x4 BRDM-2M. Enquanto isso, o Aeroporto de Thongkaihin, atualizado, localizado na província de Xiang Khuang, foi melhorado com a assistência de especialistas russos e concluído a tempo para as celebrações do aniversário.

As entregas teriam sido feitas como parte das comemorações do 71º aniversário das Forças Armadas Populares Laocianas, com o chefe da Direção-Geral de Cooperação Militar Internacional da Rússia, o Tenente-General Alexander Kshimovsky, liderando a delegação da Rússia. Isso faz parte dos esforços entre a Rússia e o Laos para melhorar seus laços de defesa de longa data.

Essa amizade percorreu um longo caminho, no entanto, com o Laos sendo um bastião anti-comunista até 1975. A primeira unidade militar moderna inteiramente laociana foi formada pelos franceses em 1941 e ficou conhecida como o Primeiro Batalhão de Chasseurs Laotiens (infantaria leve), sendo usado para segurança interna e não entrou em ação até depois da invasão japonesa de 9 de março de 1945, quando o Japão ocupou o Laos. A unidade então foi para as montanhas, suprida e comandada por agentes da França Livre, que haviam recebido treinamento especial de selva em bases na Índia e haviam saltado de pára-quedas no Laos a partir de dezembro de 1944 com o objetivo de criar uma rede de resistência. 

Enquanto isso, aproveitando a ausência temporária da autoridade francesa nas cidades, o governo Lao Issara, nacionalista e não-comunista liderado pelo príncipe Phetsarath Ratanavongsa, armou-se para defender a independência do Laos que reivindicou em nome do povo durante o vácuo de poder causado pela derrota do Japão. Em sua maior parte, os componentes efetivos das forças armadas de Lao Issara consistiam de residentes vietnamitas das cidades do Laos, que receberam armas dadas pelas tropas japonesas que se rendiam - vendidas pelos soldados nacionalistas chineses que ocuparam o norte do Laos em 1945 Acordos da Conferência de Potsdam - ou saqueados de arsenais franceses. Na Batalha de Thakhek (Khammouane) em março de 1946, o Lao Issara usou morteiros e metralhadoras leves contra veículos blindados e aviões franceses em uma batalha que decidiu a questão da soberania no Laos em favor da França; com os líderes do movimento Lao Issara se exilando em Bangkok entre 1946 e 1949, tentando adquirir armas para uma revanche.

O exército laociano nasceu em sua forma moderna como o Exército Real Laociano, em 20 de janeiro de 1949, como parte da União Francesa. Os esforços franceses para treinar e expandir o Exército Real Laociano continuaram durante a Primeira Guerra da Indochina (1946–54), época em que o Laos tinha um exército permanente de 15.000 soldados.

Em 1953, o reino do Laos tornou-se independente de fato e os franceses escolheram originalmente Dien Bien Phu como o local de um grande ponto forte porque bloqueava uma rota principal de invasão ao Laos, que eles sentiram que deveriam defender a todo custo para preservar sua credibilidade com o rei de Louangfrabang, que havia buscado a proteção da França.

O Exército Real Laociano lutaria contra o movimento comunista Pathet Lao até 1975, quando os Estados Unidos abandonaram a Indochina para os comunistas. Em combates na primavera de 1975, o Pathet Lao finalmente quebrou a resistência dos Hmong de Vang Pao, bloqueando o entroncamento rodoviário que ligava Vientiane, Louangphrabang e a Planície dos Jarros. Assistidos por dois batalhões de tropas do Pathet Lao, que haviam voado para Vientiane e Louangphrabang em aviões soviéticos e chineses para neutralizar essas cidades sob o acordo de cessar-fogo, os comunistas organizaram manifestações para apoiar suas demandas políticas e militares, levando à final tomada de poder nas cidades que o governo real ainda mantinha, proclamando a República Popular do Laos.

Os novos T-72 seguindo os antigos T-55.

Servindo um dos países comunistas menos desenvolvidos do mundo, as Forças Armadas Populares Laocianas são pequenas, mal-financiadas e sem recursos eficazes. O foco da sua missão é a segurança interna e de fronteira, principalmente na repressão interna de dissidentes e grupos de oposição laocianos.

Isso inclui o esmagamento brutal das manifestações pacíficas do Movimento de Estudantes da Democracia do Laos em 1999 em Vientiane, e no combate a grupos insurgentes étnicos Hmong e outros grupos de pessoas do laocianas e hmong que se opõem ao governo de partido único marxista Pathet Lao e ao apoio que recebe da República Socialista do Vietnã. 

Atualmente o Laos faz uma aliança tríplice com o Vietnã e a Rússia, participando de exercícios conjuntos e nos jogos militares na Rússia, como o Biatlo de Tanques.

Bibliografia recomendada:

T-72 Main Battle Tank 1974-93,
Steven J. Zaloga.

TANKS: 100 Years of Evolution,
Richard Ogorkiewicz.

Leitura recomendada:

Rússia restaura tanques T-34 soviéticos recuperados no Laos1º de março de 2020.

Tanked Up: Carros de combate principais na Ásia12 de agosto de 2020.

Viva Laos Vegas - O Sudeste Asiático está germinando enclaves chineses13 de maio de 2020.

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GALERIA: Bawouans em combate no Laos28 de março de 2020.

"Tanque!!": A presença duradoura dos carros de combate na Ásia, 6 de setembro de 2020.

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FOTO: T-90 de concreto, 14 de setembro de 2020.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

COMENTÁRIO: Os intelectuais são o poder

Mikhail Andreyevich Suslov, o "ideólogo do Kremlin".

Por Éder Fonseca, Warfare Blog, 13 de setembro de 2020.

Os intelectuais são o poder, e ninguém personificou melhor essa verdade que Mikhail Andreyevich Suslov, o "ideólogo do Kremlin" que ingressou no Partido Comunista da União Soviética (doravante denominado PCUS) em 1921 e atingiu o topo da hierarquia deste em 1946 - para só sair de lá em 1982, no caixão.

Suslov é um caso único de resiliência no ambiente político soviético, provavelmente o mais brutal da história da humanidade. Ele assistiu ao desfecho da Guerra Civil que consolidaria o poder bolchevique e à luta de poder pela sucessão de Lênin, sobreviveu à grande fome de 1932, aos expurgos de Stalin, à Grande Guerra Patriótica (2ª Guerra na denominação soviética) e conseguiu ser apadrinhado por líderes tão díspares como Stalin, Kruschev e Brejnev, superando a todos em longevidade.

Mais do que qualquer outro líder soviético, talvez incluindo Lênin e Stalin, Mikhail Suslov personificou a URSS, num caso de identidade tão umbilical que boa parte do apogeu e declínio daquele império podem ser associados à sua trajetória pessoal e traços de personalidade.

No entanto, ele era discreto em seu próprio país e um quase desconhecido no Ocidente. Apenas especialistas conseguiam identificar aquela figura obscura, quase sempre vestida de terno preto e óculos que aparecia nas fotografias do Politburo.

Suslov (segundo da esquerda na primeira fila) na abertura do 9º Congresso do Partido da Unidade Socialista, o governo da Alemanha Oriental, 18 de maio de 1976.

Dedicado em tempo integral à militância partidária a partir de 1931, Suslov caiu nas graças de Stalin após participar de expurgos bem sucedidos nos Montes Urais e na Ucrânia durante aquela década. Ascende rapidamente na hierarquia até chegar ao Comitê Central em 1941. Em 1944, o PCUS acusa o soviete lituano de "não combater com suficiente zelo os nacionalistas e burgueses na Lituânia". Stalin nomeia Suslov como o chefe da repressão soviética que produz, até 1946, um saldo de 100.000 vítimas políticas, entre execuções, prisões e deportações em massa para gulags na Sibéria. Problem given, problem solved.

Pelo "excelente" trabalho, Stalin premiou o ideólogo com a chefia do importantíssimo Departamento de Agitação e Propaganda (Agitprop) do Comitê Central do PCUS, a Ordem de Lênin e o título de Herói do Trabalho Socialista, destinado geralmente apenas a membros do Presidium. Como diretor do departamento de Agitprop, supervisionava absolutamente TUDO que era divulgado pelo partido e era o seu porta-voz oficial para assuntos doutrinários e políticos.

Rebelião na Hungria, 1956.

Em 1952, é nomeado um dos 11 membros do Politburo, o órgão máximo da URSS. Mesmo sendo um dos quadros mais próximos de Stalin, mantém seu prestígio sob a liderança de Kruschev, pois apoiara o golpe que acabou com o assassinato do odioso Lavrenti Beria. Teve influência decisiva na repressão ao levante húngaro de 1956, tornando-se amigo do embaixador soviético em Budapeste - ninguém menos que Iuri Andropov. Sua relação com o novo presidente soviético se deterioraria ao longo dos anos, por discordar da política de 'desestalinização' e de aproximação com o ocidente. Suslov também culpou Kruschev pela piora nas relações com a China comunista.

Ajudou, então, a articular o golpe bem sucedido que colocaria Brejnev na presidência, chegando ao apogeu de seu poder e influência. É descrito como o "número 2" da hierarquia, mas na prática é o número 1. Leonid Brejnev não gostava de se ocupar com assuntos de grande complexidade, e por isso Suslov foi ocupando espaços privativos do presidente. Participa de todas as decisões importantes, quando não as toma diretamente.

O Secretário Geral do PCUS, Leonid Brezhnev, e o Secretário do Comitê Central do PCUS, Mikhail Suslov, preparam-se para depositar uma coroa de flores no Monumento a Lênin, 1967.

O problema é que ele envelhece, e as estruturas de poder soviéticas envelhecem junto. No final dos anos 1970, quando Suslov já caminhava para se tornar um octogenário, a alta burocracia soviética era na verdade uma gerontocracia. Ele e Brejnev morrem em 1982, e até 1985 mais três membros do Politburo e Secretários-Gerais - Andropov, Chernenko e Gromyko - baixam à sepultura. Sua vontade férrea na defesa de um modelo estalinista a todo custo levam o bloco soviético ao empobrecimento e a disputas infrutíferas com o ocidente, as quais desgastariam o controle do Partido sobre as demais repúblicas.

A União Soviética envelheceu na mesma medida que Mikhail Suslov, sua personificação quase-anônima. Gorbachov foi uma injeção de juventude e novas idéias que veio tarde demais para mudar o destino daquele poder já decrépito. A morte formal da URSS se deu em 1991, mas não seria exagero afirmar que, em certo sentido, a 'morte espiritual' daquele império socialista se deu em 25 de janeiro de 1982.

Tumba de Mikhail Suslov na Necrópole da Parede do Kremlin.

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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

FOTO: Entre dois leões na Síria

Spetsnaz russo em um prédio público sírio.
Atrás dele os retratos do atual ditador Bashar al-Assad e seu pai, Hafez al-Assad.
Assad significa "Leão" em árabe.

A placa diz:

"O fracasso consistente em atingir objetivos ao longo da vida resulta em derrotismo, baixa auto-estima ou depressão. A Revolução Industrial e suas consequências foram um desastre para a raça humana. O sistema industrial-tecnológico pode sobreviver ou ele pode entrar em colapso." 

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VÍDEO: Emboscada noturna das Spetsnaz na Síria27 de fevereiro de 2020.

GALERIA: Exercício conjunto de fuzileiros navais russos e sírios em Tartus18 de fevereiro de 2020.

GALERIA: Spetsnaz russos em Palmira, 2017,18 de fevereiro de 2020.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

FOTO: Contra-terrorismo clássico

Operadores do GEO espanhol durante uma operação contra-terrorista contra os GRAPO, em 18 de janeiro de 1985.

Por Filipe do A. MonteiroWarfare Blog, 3 de setembro de 2020.

O Grupo Especial de Operaciones (GEO) capturou cerca de 20 terroristas nessa operação.

Os Grupos de Resistência Anti-fascista Primeiro de Outubro (Grupos de Resistencia Antifascista Primero de Octubre, GRAPO) foram um grupo clandestino marxista-leninista espanhol com o objetivo de formar um estado republicano espanhol. Além do anti-capitalismo, ele era anti-imperialista, opondo-se fortemente à adesão da Espanha à OTAN.

Até o momento, a última ação violenta infligida pelos GRAPO data de 2006. Depois de ter sido bastante ativo no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, atualmente o número cada vez menor de seus militantes, a falta de qualquer apoio social e a ação policial permitiu que as autoridades espanholas reivindicassem um número de vezes a dissolução dos GRAPO depois que os poucos militantes restantes do bando foram capturados. De acordo com a polícia espanhola, os GRAPO foi dissolvido depois que seis de seus militantes foram presos em junho de 2007, mas, formalmente, o grupo não anunciou sua dissolução e os GRAPO permanece incluído na lista da União Europeia de pessoas e organizações terroristas.

Símbolo dos GRAPO.

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quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Os amantes cruéis da humanidade

Uma viúva em luto chorando sobre um saco plástico contendo os restos mortais do marido, em fevereiro de 1968. Ele foi morto durante o massacre de Hue, quando as forças viet congs ocuparam a cidade durante a Ofensiva do Tet; ele encontrado em uma vala comum nos arredores da cidade. (Larry Burrows/ LIFE Magazine)

Por Paul Johnson, Wall Street Journal, 5 de janeiro de 1987.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 28 de setembro de 2018.

[Nota: Datas entre colchetes não estão no original.]

Nos últimos 200 anos, a influência dos intelectuais cresceu de forma constante. Ele sempre esteve lá, é claro, pois em suas encarnações anteriores, como sacerdotes, escribas e adivinhos, os intelectuais reivindicaram guiar a sociedade desde o começo. Desde o tempo de Voltaire [1694–1778] e Rousseau [1712–78], o intelectual secular preencheu a posição deixada pelo declínio do clérigo, e está se mostrando mais arrogante, permanente e acima de tudo mais perigoso que sua versão clerical.

Foi Percy Bysshe Shelley quem, em seu tratado de 1821 “Em Defesa da Poesia”, articulou pela primeira vez o que eu poderia chamar de Direito Divino dos Intelectuais. “Poetas”, escreveu ele, “são os legisladores não reconhecidos do mundo”. Essa alegação é agora tomada como garantida pelo grande corpo amorfo que se vê como “os intelectuais” ou “a intelligentsia”. A influência prática dos intelectuais se expandiu enormemente desde então. Como Lionel Trilling [1905–75] coloca, “o intelecto se associou ao poder como talvez nunca antes na história, e agora é reconhecido como um tipo de poder”.

Socialismo: por que matar e essencial?


Eu acredito que a porção reflexiva da humanidade é dividida em dois grupos: aqueles que estão interessados nas pessoas e se preocupam com elas; e aqueles que estão interessados em ideias. O primeiro grupo forma os pragmatistas e tende a fazer os melhores estadistas. O segundo são os intelectuais; e se o seu apego às ideias é apaixonado, e não apenas apaixonado, mas programático, é quase certo que abusem de qualquer poder que adquiram. Pois, em vez de permitir que suas ideias de governo emerjam das pessoas, moldadas pela observação de como as pessoas realmente se comportam e o que realmente desejam, os intelectuais invertem o processo, deduzindo suas ideias primeiro do princípio e tentando impô-las a homens e mulheres vivos.

Quase todos os intelectuais professam amar a humanidade e trabalhar por sua melhoria e felicidade. Mas é a ideia de humanidade que eles amam, em vez dos indivíduos que a compõem. Eles amam a humanidade-em-geral, ao invés de homens e mulheres em particular. Amando a humanidade como uma ideia, eles podem então produzir soluções como ideias. Aí reside o perigo, pois quando as pessoas entram em conflito com a solução-como-ideia, elas são primeiro ignoradas ou descartadas como não-representativas; e então, quando as pessoas continuam a obstruir a ideia, elas são tratadas com crescente hostilidade e categorizadas como inimigas da humanidade-em-geral. Assim, o caminho é aberto para o que W.H. Auden [1907–1973], um típico intelectual cabeça-dura de seus dias, chamou com aprovação de “o assassinato necessário”. “A liquidação de inimigos de classe”, para usar a expressão leninista, e “a solução final”, como dizem os nazistas, são o ponto terminal do processo intelectual.

José "Pepe Caliente" Rodriguez, ex-cabo do exército de Fulgêncio Batista, recebe os últimos ritos do padre Domingo Lorenzo no castelo de San Severino, em Matanzas, 17 de janeiro de 1959.

A insensibilidade às necessidades e opiniões de outras pessoas é, de fato, uma característica daqueles apaixonadamente preocupados com ideias. Pois seu principal foco de atenção é, naturalmente, a evolução dessas ideias em suas próprias cabeças; eles se tornam, no sentido pleno, egocêntricos. A indiferença ou hostilidade do intelectual não se dirige apenas àqueles que não se encaixam em seus esquemas para a humanidade-em-geral, mas também àqueles em seu próprio círculo que, por uma razão ou outra, se recusam a desempenhar seus papéis atribuídos na sua vida.

O Explorador Hábil

Quanto mais estudo as vidas dos principais intelectuais, mais percebo a devastação de um flagelo comum e debilitante, que chamo de crueldade das ideias. A ascensão do novo intelectual secular produziu alguns espécimes notáveis.

Shelley (1792–1822) foi o protótipo, no que diz respeito aos países anglo-saxões, do moderno intelectual progressista ocidental. Ele cunhou a noção do direito dos intelectuais de influenciar eventos públicos. O poeta, e por extensão a classe intelectual como um todo, era o verdadeiro legislador, porque tinha uma pureza em sua devoção a idéias, não aberta aos homens do mundo, o barro comum: Ele era desinteressado. Mas Shelley exibiu, em sua própria vida, o que pode ser visto como uma falha característica dos intelectuais progressistas: a incapacidade de igualar sua benevolência geral a seu comportamento particular. Seu tratamento em relação a praticamente todo ser humano sobre o qual ele era capaz de exercer algum poder emocional ou físico era, pelos padrões do barro comum que ele desprezava, atroz. Qualquer mariposa que chegasse perto de sua feroz chama era chamuscada. Sua primeira esposa, Harriet, e sua amante, Fay Godwin, cometeram suicídio quando ele as abandonou. Em suas cartas, ele denunciou suas ações por lhe causar aflição e inconveniência. Parece que ele estava prestes a abandonar sua segunda esposa, Mary (a autora de “Frankenstein”), quando sua morte por afogamento acabou com seu poder de machucar. Seus filhos com Harriet foram feitos guardas da corte. Ele os apagou completamente de sua mente, e eles nunca receberam uma única palavra de seu pai. Outra filha, uma bastarda, morreu em um hospital em Nápoles, onde ele a abandonou.

Shelley foi particularmente hábil em explorar mulheres e criados. Ele arruinou a vida de uma professora, Elizabeth Hitchener, seduzindo-a tanto para a sua cama quanto para seus esquemas políticos, meteu-a em problemas com a polícia, pegou emprestado 100 libras de suas economias (que nunca foram pagas) e depois a abandonou, denunciando a sua visão estreita e egoísmo. Ele deixou um rastro de outras vítimas, a maioria proprietárias humildes e comerciantes. Ele sempre teve criados, mas poucos foram pagos.

As depredações de Shelley nunca abalaram sua soberba confiança no que ele chamou de “minha integridade testada e inalterável”. Críticas, não obstante bem documentadas, tornavam-no frio: “Eu rapidamente recuperei a indiferença”, escreveu ele, “que a opinião de qualquer coisa ou de qualquer pessoa que não seja a nossa consciência merece.” Explicando a um amigo por que ele estava abandonando sua esposa e fugindo com outra mulher, ele escreveu: “Estou profundamente convencido de que, assim habilitado, [eu] me tornarei um amigo mais constante, um amante mais útil da humanidade, um defensor mais ardente da verdade e da virtude.”

Karl Marx.

Karl Marx (1818–1883) foi outro exemplo de um homem que se convenceu de que era seu dever colocar ideias na frente das pessoas. Daí a sua implacável e muitas vezes irrefletida crueldade para com aqueles que o rodeavam tornou-se uma espécie de longínquo presságio da crueldade em massa que as suas ideias promoveriam quando finalmente se tornassem o modelo da política estatal soviética. Seu pai, que tinha medo dele, detectou a falha fatal: “Em seu coração”, ele escreveu a seu filho, “o egoísmo é predominante". Marx era particularmente odioso com sua mãe, que o repreendeu por sua imprevidência financeira e tentativas incessantes de cobrar dinheiro. Que pena, ela observou, que ele não tentou adquirir capital em vez de escrever sobre ele.

Havia uma enorme lacuna entre as ideias igualitárias de Marx e o modo como ele realmente se comportava. De uma forma ou de outra ele herdou somas consideráveis de dinheiro. Ele nunca teve menos de dois criados. Ele tinha horror ao que chamou de “uma configuração puramente proletária”. Ele fez sua esposa mandar cartões de visitas em que ela foi descrita como “née Baronesse Westphalen”. Ele não deixou suas três filhas se formarem em nenhuma profissão ou aprenderem qualquer coisa, exceto tocar piano. Ele manteve as aparências, empenhando a prata e até mesmo os vestidos de sua esposa. Ele seduziu a criada de sua esposa, com quem teve um filho, e então obrigou Friedrich Engels a assumir a paternidade. A filha de Marx, Eleanor, uma vez soltou um cri de coeur [grito do coração] em uma carta: “Não é maravilhoso, quando você chega a olhar as coisas diretamente no rosto, quão raramente parecemos praticar todas as coisas boas que pregamos — para os outros?” Mais tarde ela cometeu suicídio.

Marx, Engels e as filhas de Marx.

Toda a vida de Marx foi um exercício de exploração emocional ou financeira — de sua esposa, de suas filhas, de seus amigos. Estudar a vida de Marx nos leva a pensar que as raízes da infelicidade humana, e especialmente a miséria causada pela exploração, não estão na exploração por categorias ou classes — mas na exploração de um-para-um por indivíduos egoístas. Tampouco essa indiferença para com os outros é uma mera falha humana em um grande homem público. É central para o trabalho de Marx. Ele não estava realmente interessado em seres humanos reais, como eles se sentiam ou o que eles queriam. Ele nunca conheceu um membro do proletariado, exceto do outro lado da tribuna do orador em uma reunião pública. Ele nunca fez uma visita a uma fábrica de verdade, rejeitando as ofertas de Engels para organizar uma. Ele nunca procurou encontrar ou interrogar um capitalista, com a exceção solitária de um tio na Holanda. Da primeira à última, sua fonte de informações eram livros, especialmente os livros de relatórios governamentais.

Um bom homem, mas…

Vladimir Ilyich Ulianov "Lênin".

Não é por acaso, penso eu, que Lenin [1870–1924] nunca pôs os pés em uma fábrica até se tornar o ditador soviético, e nunca, até onde sabemos, teve qualquer contato real com os trabalhadores cujas vidas ele reivindicou o direito de transformar. Ele, também, era um socialista de biblioteca. Stalin tampouco procurou o operário ou o camponês para descobrir o que ele realmente queria; ele também era um grande devorador de colunas estatísticas. Que massa de fatos esses monstros ingeriram antes de irem devorar carne humana! Pode-se dizer que o caminho para o Gulag é pavimentado com teses de doutorado não-escritas.

Muitos, é claro, lamentaram a maneira como o marxismo reflete a indiferença de seu fundador em relação às pessoas como seres humanos vivos e emocionais. Se apenas, diz-se, Marx fosse capaz de ler Sigmund Freud! Mas se examinarmos a vida de Freud, encontramos a mesma dicotomia: uma lacuna intransponível entre teoria e prática, entre ideias e pessoas. Agora Freud (1856–1939), ao contrário de Shelley e Marx, era em muitos aspectos um homem bom — até mesmo um homem heróico.

Minorias étnicas sendo executadas pela NKVD em um Gulag na Sibéria.
(Desenho de Danzig Baldaev/ Drawings from the Gulag)

Mas este, também, foi outro caso de um homem que nunca permitiu que suas ideias penetrassem em seus relacionamentos pessoais ou melhorassem suas relações com as pessoas. Ao contrário de Marx, ele não olhou para os livros de relatórios; ele olhou em sua própria mente, e lá encontrou infinitas razões para a justiça. Freud foi o macho patriarcal dominante durante toda a sua vida. Sua esposa era pouco mais que sua criada, até mesmo espalhava a pasta de dente em sua escova de dentes, como um valete à moda antiga. Ele nunca discutiu seu trabalho ou teorias com ela, e nunca a encorajou a aplicar seu trabalho na criação de seus filhos. Nem ele mesmo o fez. Ele enviou seus filhos ao médico da família para aprender os fatos da vida. Sua grande família girava inteiramente em torno de suas próprias necessidades e hábitos. Quando um visitante levantou uma questão freudiana, a esposa de Freud respondeu enfaticamente: “Não discutimos nada disso aqui”.

Houve uma distensão de exploração, tanto em sua vida familiar e ainda mais em seu tratamento dado aos seus seguidores . Homens como Adler [1870–1937] e Jung [1875–1961] foram acusados de “traição” e repudiados como “hereges”. Pior, ele escreveu sobre sua “insanidade moral”. Ele não podia acreditar que alguém que uma vez esteve sob sua influência e depois se afastou poderia ser totalmente são. Ele achava que heresiarcas como Jung precisavam, na realidade, de tratamento psiquiátrico.

Fotografia mostrando prisioneiros de um campo de trabalho forçado soviético - Gulag - construindo o Canal do Mar Báltico, em 1933.
Milhares morreram no processo, de fome e problemas de saúde.

Intelectuais progressistas modernos são igualmente frustrados por aqueles que não compartilham suas ideias. Eu tenho lido um livro de Robert L. Heilbroner chamado “A Natureza e a Lógica do Capitalismo”. Não há evidência de que o autor, mais do que Marx, realmente saiba alguma coisa sobre os capitalistas ou o que os motiva. Heilbroner simplesmente assume que o capitalismo é principalmente sobre o exercício do poder sobre as pessoas. Isso parece-me um completo absurdo. Inclino-me para a crença contrária do Dr. Samuel Johnson [1709–84] quando ele observou: “Senhor, um homem raramente é tão inocentemente empregado como quando está recebendo dinheiro”. A opinião de Johnson foi compartilhada por John Maynard Keynes [1883–1946]. “É melhor”, escreveu ele, “que um homem deva tiranizar sobre sua conta bancária do que sobre outros seres humanos”.

Johnson e Keynes estavam entre os muitos intelectuais que não sucumbiram ao desejo de intimidar os outros, um desejo que também pode afetar os intelectuais sobre o que a maioria chamaria de direita. Por exemplo, Ayn Rand [1905–82], a romancista-filósofa que defendeu a dignidade do homem e o direito do indivíduo de ser livre do controle por outros, humilhou e dominou muitos que vieram a conhecê-la em particular.

Mas há boas razões pelas quais a maioria dos intelectuais compartilha um terreno comum com os socialistas. Keynes chega ao cerne da questão, pois a avareza é muito menos perigosa do que a vontade do poder, especialmente o poder sobre as pessoas. Não é a formulação de ideias, por mais mal orientada que seja, mas o desejo de impô-las aos outros que é o pecado mortal do intelectual. É por isso que eles se inclinam pelo temperamento de tal forma para a esquerda. Pois o capitalismo simplesmente ocorre, se ninguém fizer nada para detê-lo. É o socialismo que deve ser construído e, como regra, imposto à força, proporcionando assim um papel muito maior para os intelectuais em sua gênese.

Sepulturas em massa no ossuário de Choeung Ek, no Camboja.

O intelectual progressista hospeda habitualmente as visões de Walter Mitty de exercer poder. Freud, por exemplo, costumava descrever-se como um pretenso conquistador (era a palavra que usava), empunhando a caneta em vez da espada e mudando a história através de exércitos de seguidores em vez de soldados. Precisamente, talvez, porque levam vidas sedentárias, os intelectuais têm uma curiosa paixão pela violência, pelo menos no abstrato.

Aplausos das poltronas

Cemitério do Gulag de Vorkuta.

No século XX, baseando-se nas fundações do século XIX, o apetite pela violência na busca e realização de ideias tornou-se o pecado original do intelectual. Considere, por exemplo, a repetida expressão de admiração dos intelectuais por homens de ação implacáveis e sua longa sucessão de heróis violentos: Stalin, Mao Tsé-tung, Castro, Ho Chi Minh. Intelectuais ocasionalmente questionam a quantidade de abates, o grande número de “assassinatos necessários”; eles quase sempre aceitaram o princípio de que as utopias socialistas devem, se necessário, ser erguidas em bases violentas. Lembro-me bem de meu antigo editor, Kingsley Martin, escrever no New Statesman, por meio de uma gentil reprimenda a Mao Tsé-tung, que acabara de massacrar três milhões de pessoas: “Era realmente necessário que o presidente matasse tantos?” Isso provocou uma carta de seu velho amigo liberal Leonard Woolf. O Sr. Martin poderia gentilmente informar os leitores, ele questionou, “o número máximo de mortes que ele consideraria apropriado?

Enquanto os homens de violência da poltrona no Ocidente aplaudiam e toleravam, intelectuais de outros lugares participavam e muitas vezes dirigiam os grandes massacres dos tempos modernos. Muitos ajudaram a criar a Cheka, a progenitora da atual KGB. Os intelectuais eram proeminentes em todos os estágios dos eventos que levaram ao holocausto nazista. Os acontecimentos no Camboja na década de 1970, em que entre um quinto e um terço da nação morreram de fome ou foram assassinados, foram inteiramente obra de um grupo de intelectuais, que na maior parte eram alunos e admiradores de Jean- Paul Sartre [1905–1980] — “Filhos de Sartre”, como eu os chamo.

Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre (auto-proclamado "humanista") assistem à cerimônia do 6º aniversário da Fundação da China Comunista em Pequim, em 1º de outubro de 1955, na praça Tiananmen (Praça da Paz Celestial).

Onde quer que os homens e os regimes busquem impor ideias às pessoas, onde quer que o processo desumano da engenharia social seja colocado em ação — cavando carne e sangue ao redor como se fosse solo ou concreto — lá você encontrará intelectuais em abundância. Intimidar as pessoas é a atividade característica de todas as formas de socialismo, seja o socialismo soviético, ou o nacional-socialismo alemão, ou, por exemplo, a forma peculiar do socialismo étnico, conhecido como apartheid, que encontramos na África do Sul; esse conjunto sinistro de ideias, vale notar, era totalmente invenção de intelectuais reunidos no departamento de psicologia social da Universidade de Stellenbosch. Outras ideologias totalitárias africanas são igualmente trabalho de intelectuais locais, geralmente sociólogos.

Então, uma das lições do nosso século é: cuidado com os intelectuais. Não apenas devem ser mantidos longe das alavancas do poder, mas também devem ser objetos de suspeita peculiar quando procuram oferecer conselhos coletivos. Cuidado com comissões, conferências, ligas de intelectuais! Pois os intelectuais, longe de serem pessoas altamente individualistas e não-conformistas, são de fato ultra-conformistas dentro dos círculos formados por aqueles cuja aprovação eles buscam e valorizam. É isso que os torna, em massa, tão perigosos, porque lhes permite criar climas culturais, que muitas vezes geram cursos de ação irracionais, violentos e trágicos.

Lembre-se sempre que as pessoas devem sempre vir antes das ideias e não o contrário.

Fuzilamento de prisioneiro em Cuba


O Sr. Johnson é autor do livro “Uma História dos Judeus” (Harper & Row). Este texto é baseado em uma palestra realizada no Instituto de Estudos Contemporâneos.

Bibliografia recomendada:

O Livro Negro do Comunismo:
Crimes, terror e repressão.

Leitura recomendada: