sexta-feira, 2 de outubro de 2020

GALERIA: Blindados Anfíbios do 1er REC na Indochina

Veículo anfíbio LVT-4 "Alligator" (versão obuseiro) do GA 2 do 1er REC em um estacionamento durante a Operação Auvergne.
A torre tem a granada de sete flamas da Legião Estrangeira Francesa.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 2 de outubro de 2020.

O 2º Grupamento Anfíbio (2e Groupement Amphibie, GA 2), formado por esquadrões do 1er REC (1er Régiment Étranger de Cavalerie/ 1º Regimento Estrangeiro de Cavalaria) equipados com veículos anfíbios Weasel M29 "Crabes" (Caranguejos) e LVT-4 "Alligator" (Jacaré). Estes blindados foram fotografados por René Adrian para o ECPAD durante a Operação Auvergne, a evacuação do delta do Tonquim em junho de 1954.

Fazendo uso da técnica de ação anfíbia agressiva com esses blindados, originalmente projetados apenas para o transporte, iniciada pelos 1er e 2e REC, o GA 2 liderou uma série de operações no setor de Nam-Dinh, servindo como suporte para os GM (Grupos Móveis) operando no triângulo de Nam-Dinh, Ninh-Binh e Phu-Ly, ultrapassando terreno pantanoso quase intransponível. Reparos e manutenção constantes eram necessários em todos os veículos anfíbios usados ​​durante essas operações neste tipo de terreno inclemente, o que foi feito mesmo com recursos limitados.

Veículo anfíbio Weasel M29 "Crabe" do GA 2 do 1er REC no mirante durante a Operação Auvergne. Ele tem um caranguejo na proa, o símbolo dos grupos anfíbios.

Uma tripulação do Weasel M29 "Crab" do GA 2 1er REC na areia pronta para partir em uma nova missão durante a Operação Auvergne. Um desses veículos, com o mesmo distintivo do 1er REC está preservado no Museu de Blindados de Saumur.

Um esquadrão do GA 2 formado por esquadrões 1er REC equipados com veículos anfíbios LVT-4 "Alligator" retornando a Nam-Dinh durante a Operação Auvergne. Os sargentos do esquadrão usam o "képi" (quepe) preto, enquanto os legionários usam o famoso "képi blanc" (quepe branco) e os supletivos vietnamitas a boina branca.

Um veículo anfíbio LVT-4 "Alligator" (versão obuseiro) do GA 2 do 1er REC sai do rio para chegar a um estacionamento durante a Operação Auvergne.

Bibliografia recomendada:

Leitura recomendada:

O que um romance de 1963 nos diz sobre o Exército Francês, Comando da Missão, e o romance da Guerra da Indochina12 de janeiro de 2020.

GALERIA: Largagem paraquedista em Quang-Tri durante a Operação Camargue2 de outubro de 2020.

GALERIA: Bawouans em combate no Laos28 de março de 2020.

GALERIA: Operação Chaumière em Tay Ninh com o 1er BPVN16 de junho de 2020.

GALERIA: Operação de limpeza com blindados em Tu Vu25 de abril de 2020.

GALERIA: Largagem paraquedista em Quang-Tri durante a Operação Camargue

Um corneteiro paraquedista do 1er RCP, recém-lançado, na região costeira de Quang-Tri, toca o "reunir" com a corneta.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 2 de outubro de 2020.

A Operação "Camargue", realizada de 28 a 30 de julho de 1953 em Anam (Vietnã Central), na região costeira entre Hue e Quang-Tri, pretendia retomar o controle dessa região para conter uma ofensiva preparada pelos Viet-Minh. Esta operação foi realizada com a participação de tropas aerotransportadas entre as quais o II/1er RCP (2e Bataillon du 1er Régiment de Chasseurs Parachutistes/ 2º Batalhão do 1º Regimento de Caçadores Paraquedistas), blindados do 1er REC (1er Régiment Étranger de Cavalerie/ 1º Regimento de Cavalaria Estrangeira) entre os quais os blindados especializados do 7e GEA (7e Groupe d’Escadrons Amphibies/ 7º Grupo de Esquadrões Anfíbios) bem como o Grupamento D do GM 7 (7e Groupe Mobile/ 7º Grupo Móvel) e com o auxílio de embarcações da Marinha. Fotos de Corcuff Paul para o ECPAD.

Paras do II/1er RCP do Major de Bréchignac.

A operação contou com dez regimentos de infantaria, dois batalhões aerotransportados, a maior parte de três regimentos blindados, um esquadrão de blindados anfíbios e um trem blindado, quatro batalhões de artilharia, trinta e quatro aeronaves de transporte, seis aeronaves de reconhecimento e vinte e dois bombardeiros de caça e cerca de doze navios da Marinha, incluindo três EDVP - essa força não era inferior em tamanho a algumas das usadas em operações de desembarque na Segunda Guerra Mundial no Pacífico.

Os franceses dividiram suas forças em quatro "groupes mobiles" (grupos móveis, unidades mecanizadas de armas combinadas): de A a D, comandados pelo General Leblanc. A Operação Camargue seria um dos campos de testes finais para o uso de blindados pelos franceses durante a guerra. Devendo desembarcar na praia alinhados com o centro da Rota Colonial 1A. Enquanto isso, o Grupo B avançaria sobre a terra do oeste da praia voltada para o nordeste.

Paras avançando na areia, um rádio-operador está em evidência.

O Grupo A
Enquanto isso, o Grupo B avançaria por terra do oeste da praia voltada para o nordeste. Este grupo consistia do 6º Spahis marroquinos do Grupo Móvel Anamita, 2º Grupo Anfíbio, um pelotão de tanques do 1er REC e duas companhias de infantaria da base militar de Quang-Tri.

O Grupo C avançaria do sudoeste para a parte de trás de Van Trinh através dos pântanos e consistia no 9º Tabor Marroquino, 27º Batalhão de Infantaria Vietnamita, 2º Batalhão do 4º Regimento de Atiradores Marroquinos, 1 Comando, um pelotão de tanques M24 Chaffe dos Spahis marroquinos, um pelotão de barcos-patrulha blindados e um pelotão de EDVP.

Atraídos por estampidos de tiros, os paras se posicionam próximos a uma vila.

Os paraquedistas foram lançados às 14:00h do dia 28 para selar o bolsão mantido pelos marroquinos que já haviam entrado em contato com o Regimento 95 do Viet-Minh. Este regimento sofreu perdas mas conseguiu se evadir e se reconstituir. Em 1954 foi ordenado para o Norte e, em 1962, iniciou emboscadas contra o governo sul-vietnamita.

Paras marchando seguindo um canal. O terreno difícil facilitou a evasão do regimento Viet-Minh.

Bibliografia recomendada:

Street Without Joy:
The French Debacle in Indochina.
Bernard B. Fall.

Leitura recomendada:

FOTO: Motociclistas de um Regimento Blindado

Motociclistas de um regimento de couraceiros (régiment de cuirassiers, carros de combate) do exército francês usando uma motocicleta "Gnôme et Rhône AX2" com carro lateral.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 2 de outubro de 2020.

Os esquadrões motociclistas eram os olhos e ouvidos das divisões, especialmente das blindadas, e atuaram em ações retardadoras durante a retirada após o fracasso do Plano Dyle em 1940.

Data e local dessa foto são desconhecidos, o que impossibilita indicar quais regimento e divisão controlavam esses motociclistas.

Bibliografia recomendada:

A Estranha Derrota.
Marc Bloch.

Leitura recomendada:

GALERIA: O Corpo Expedicionário Britânico na França, 26 de setembro de 2020.

FOTO: GI com um fuzil de assalto StG-446 de julho de 2020.

Análise alemã sobre o carros de combate aliados8 de agosto de 2020.

A submetralhadora MAS-385 de julho de 2020.

A metralhadora leve Chauchat: não é realmente uma das piores armas de todos os tempos11 de fevereiro de 2020.

GALERIA: Mini-Canhão de Assalto Improvisado26 de abril de 2020.

GALERIA: O Renault R 35 em serviço na Romênia26 de abril de 2020.

FOTO: Soldado grego sobre um tankette italiano7 de abril de 2020.

FOTO: Legionários em La Valbonne30 de março de 2020.

FOTO Sentinela romeno em clima invernal16 de março de 2020.

FOTO: General paraquedista

O general de duas estrelas, Dan McNeill, armado e equipado, e pronto para o salto, abril de 2000.

O Major-General Dan Kelly McNeill, comandante da 82ª Divisão Paraquedista "All American", pronto para saltar à testa dos seus homens durante um exercício de largagem em Fort Polk, na Louisiana, Estados Unidos, em abril de 2000.

Bibliografia recomendada:

82nd Airborne.
Fred Pushies.

AIRBORNE:
A Guided Tour of an Airborne Task Force.
Tom Clancy.

Leitura recomendada:

FOTO: Manobra na Alemanha ocupada

 

Soldados franceses na Operação Cirrus, a segunda parte de uma manobra de outono das forças armadas da OTAN em Moerfelden, Hesse, na região do Reno-Palatinado, na Alemanha ocidental, 1950. (Foto de Heinz-Jürgen Göttert)

Bibliografia recomendada:

Leitura recomendada:

FOTO: 48º aniversário do GSG-9, 26 de setembro de 2020.

FOTO: Comandos camuflados no inverno, 21 de setembro de 2020.

FOTO: Fuga de Berlim Oriental2 de setembro de 2020.

A submetralhadora MAS-385 de julho de 2020.

FOTO: O Exército Federal da Áustria, 11 de agosto de 2020.

Exército dos EUA usa porto francês como novo ponto de partida para missão na Europa14 de julho de 2020.


VÍDEO: Alemanha Ano Zero, 19 de maio de 2020.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Com a série de espiões "Teerã", os israelenses alcançam um inimigo

Esta imagem divulgada pela Apple TV+ mostra Niv Sultan como Tamar Rabinyan em uma cena de "Teerã".
(Apple TV+ via AP)

Por Mark Kennedy, Associated Press, 25 de setembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 1º de outubro de 2020.

NOVA YORK (AP) - As coisas não são como parecem na nova série da Apple TV+, “Teerã” - como deveriam ser em um thriller de espionagem.

A série começa com um vôo comercial da Jordânia para a Índia que é repentinamente desviado para o Irã. Alguns passageiros a bordo têm segredos. Esses segredos logo terão jatos de guerra levantando vôo e uma caçada humana oculta lançada.

Trailer

Tão audaciosa quanto a premissa, “Teerã” é igualmente ousada: uma produção israelense que oferece aos telespectadores uma visão simpática do Irã - um dos maiores inimigos de Israel - sem que ninguém da produção coloque os pés na República Islâmica.

“O núcleo do programa é lidar com a questão da identidade, nacionalidade, imigração e raízes familiares”, disse Moshe Zonder, de Tel Aviv, o co-criador e co-escritor do programa. “Ele pergunta como nos conectamos a eles e nossa obrigação para com eles e como podemos nos livrar deles? Isso é relevante para todos no globo”.

“Teerã” é centrado em uma agente-hacker de computador que realiza sua primeira missão na capital do Irã, que também é o lugar de seu nascimento. Quando a missão dá errado, o agente tem que sobreviver por sua própria perspicácia.

Com vários dos mesmos atores e apresentando uma espiã lidando com intrigas do Oriente Médio e da Ásia Central em seu centro, alguns espectadores podem ver semelhanças com a temporada recém-concluída de “Homeland”.

A atriz brasileira Morena Baccarin, na série Homeland, ao lado do ator Damian Lewis, famoso pelo papel do Major Dick Winters na série Band of Brothers.

“Não há um inimigo claro. Não se trata de um lado contra o outro. É realmente sobre as pessoas”, disse Niv Sultan, de Tel Aviv, uma atriz israelense que interpreta a heroína espiã de“ Teerã". “Pela primeira vez, mostramos um ponto de vista diferente deste conflito”.

O cenário da série definitivamente não é o que parece. Seções da capital grega, Atenas, representaram Teerã, depois que a co-criadora Dana Eden visitou o país europeu em férias com a família e ficou impressionada com as semelhanças visuais entre as duas cidades. Os israelenses são proibidos de visitar o Irã.

Transformar Atenas em Teerã significou substituir postes de luz, placas de carros e placas de rua, bem como adicionar vendedores de rua e placas de fachada. O aeroporto de Atenas foi usado para imitar o de Teerã e, em uma cena, um enorme mural do tamanho de um prédio retrata um aiatolá, um acréscimo graças aos efeitos especiais de computador.

Esta imagem divulgada pela Apple TV+ mostra Navid Negahban como Masoud Tabrizi em uma cena de "Teerã".
(Apple TV+ via AP)

Por meses antes das filmagens, Sultan mergulhou-se nas artes marciais israelenses Krav Maga e nas aulas intensivas de Farsi. Ela inicialmente abordou a atribuição do idioma com confiança, pensando que sua formação ajudaria.

“Eu pensei: 'Tudo bem. Sem problema'. Meu pai fala marroquino, que é árabe. Eu estava tipo, ‘Tudo bem, marroquino, farsi - provavelmente será parecido’. Não! Não tem nada a ver com hebraico e nem com árabe. A pronúncia é tão, tão difícil para um falante de hebraico”.

Zonder - que atuou como redator principal na primeira temporada de “Fauda”, a série de ação inovadora sobre o conflito israelense-palestino - passou anos pesquisando e escrevendo “Teerã”.

As duas séries compartilham uma tentativa de humanizar os inimigos. Em "Fauda", Zonder mostrou como um líder do Hamas com sangue israelense nas mãos também era um homem de família, assim como faz com o principal oficial de segurança iraniano perseguindo a heroína em "Teerã".

Zonder disse que voltou aos seus dias como jornalista investigativo, quando se sentava com os líderes do Hamas e da OLP e os entrevistava para entender seus pontos de vista.

“Eu sempre quero cruzar fronteiras - física e mentalmente - a fim de encontrar aquele que me disseram durante toda a minha vida é meu inimigo”, disse ele.

Esta imagem divulgada pela Apple TV+ mostra Shaun Toub como Faraz Kamali em uma cena de "Teerã". (Apple TV+ via AP)

Embora hoje o Irã e Israel sejam inimigos mortais, a série revela sua história compartilhada e o respeito que israelenses e iranianos tinham pelas culturas uns dos outros antes da Revolução Islâmica.

“É um país incrível. Eles têm uma natureza incrível, vistas e comida. Com sorte, algum dia, eu poderia visitar o Irã e Teerã”, disse Sultan. “Mas, por agora, estou me concentrando na possibilidade de que talvez nossa série abra os corações das pessoas e talvez abra um pouco de diálogo entre israelenses e iranianos”.

Embora a intenção possa ter sido construir pontes, a recepção do regime iraniano à série foi fria. O jornal Kayhan, alinhado ao governo, chamou a série de uma “produção anti-iraniana” que revela a agenda “pró-Ocidente e promíscua” de ativistas anti-Irã.

Ainda assim, isso não impediu os cineastas de esperarem que alguns no Irã encontrem uma maneira de ver o show e ficarem tocados com o que os israelenses estão alcançando.

“Embora não seja um documentário, é muito importante para nós que as pessoas do Irã vejam o show e pelo menos alguns deles sintam que alguns dos personagens são representativos”, disse Zonder.

Bibliografia recomendada:

Os Iranianos.
Samy Adgbirni.

Leitura recomendada:

O papel da América Latina em armar o Irã16 de setembro de 2020.

A influência iraniana na América Latina15 de setembro de 2020.

O desafio estratégico do Irã e da Venezuela com as sanções13 de setembro de 2020.

COMENTÁRIO: 36 anos depois, a Guerra Irã-Iraque ainda é relevante24 de maio de 2020.

PERFIL: Abu Azrael, "O Anjo da Morte"18 de fevereiro de 2020.

O regime do Irã planeja destruir a tumba de Ester e Mordechai?21 de fevereiro de 2020.

Israel provavelmente enfrentará guerra em 2020, alerta think tank1º de março de 2020.

GALERIA: A Uzi iraniana3 de março de 2020.

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

LIVRO: Batalha Histórica de Quifangondo, de Serguei Kolomnin


Por Pedro A. Marangoni, Arquivos de P.A. Marangoni, 1º de janeiro de 2019.

Ao pesquisar cuidadosamente os eventos da Batalha de Quifangondo, o historiador militar russo Serguei Kolomnin preenche quase em definitivo as lacunas existentes nesse momento ímpar na criação de um estado em tempos modernos. Digo “quase”, pois as dificuldades são imensas para romper com as vaidades e interesses pessoais nos relatos desse acontecimento, que hoje tem mais heróis que combatentes na época. Cubanos que insistem em viver ainda hoje num mundo irreal que só sobrevive na propaganda que encobre a pobreza atroz trazida pelo comunismo ingenuamente levado ao pé da letra - como na paupérrima Coreia do Norte - exageram seu papel bem no anacrônico estilo stalinista; sul-africanos fantasiam e criam uma “retirada heroica” para encobrir sua vergonhosa deserção em pleno combate; zairenses ficam calados para evitar perguntas constrangedoras e querem esquecer suas desaventuras vergonhosas em Angola; angolanos de ambos os lados relatam verdadeiros contos infantis que me fazem lembrar o nosso herói militar brasileiro Duque de Caxias “com as granadas explodindo nas patas de seu cavalo e com a espada desembainhada, gritando: siga-me quem for brasileiro!” Criança, eu lastimava pelo cavalo... As histórias destinadas à formação artificial de um orgulho nacional são geralmente assim forjadas, não resistem a um estudo mais crítico. Tarefa difícil e inútil tanto no Brasil, formado com “tribos” tupis, tapuias, guaranis, italianas, portuguesas, alemãs, japonesas, como nos países africanos, artificialmente construídos pelos países colonizadores e que juntam no mesmo balaio etnias várias, incompatíveis em hábitos, tradições, fisicamente diferentes, algumas inimigas inconciliáveis…

O Panhard 90 do Tenente Paes, pronto para descer ao Panguila, com a flamula onde se lia "Ouso!". O tenente morreu quando o seu blindado foi destruído, o único Panhard 90 perdido pelo ELNA.

Portanto, que tal sermos honestos e racionalmente, deixar de lado as grandes e heroicas historietas de nacionalismo puro, empunhando bandeiras ao vento e destroçando o inimigo? Quifangondo, batalha de vital importância para o futuro politico de Angola, foi o improviso da pressa de um lado contra a confortável posição geográfica dos defensores do outro lado, que pelos números do próprio MPLA só morreram uma meia dúzia, no máximo. Provavelmente no mesmo dia deve ter morrido mais gente atropelada em Luanda no caótico trânsito provocado pelos carros abandonados pelos portugueses em fuga para a Europa e guiados por africanos sem experiência…

Esquemática da Batalha de Quifangondo, 10 de novembro de 1975.
(Pedro A. Marangoni/ A Opção pela Espada)

No livro “Batalha Histórica de Quifangondo”, Serguei Kolomnin busca com eficiência os detalhes, confronta os relatos dos participantes, procurando ser imparcial (mesmo chamando de “internacionalismo puro” o puro intervencionismo soviético e de seus afilhados cubanos). Desfaz com seu trabalho injustiças históricas, como a insistência angolana de menosprezar e mesmo encobrir a decisiva ajuda soviética de última hora para se valorizar e até, usando as próprias definições da Convenção Internacional contra o Recrutamento, Utilização, Financiamento e Treino de Mercenários, corrige a acusação de mercenários, usada por muitos, ao idealista grupo do Coronel Santos e Castro e do Major Alves Cardoso, do qual fiz, honrosamente, parte. Ambos oficiais eram angolanos de nascimento, respectivamente Lobito e Nova Lisboa; Angola ainda era uma província portuguesa, o que justificava a nossa presença nos combates; muitos dos portugueses também eram africanos que jamais haviam posto o pé na Europa e o único que poderia ser considerado um estrangeiro, (mas menos que os cubanos, zairenses, soviéticos) era eu, nascido no Brasil mas com dupla cidadania portuguesa. Nenhum pagamento fora prometido no recrutamento e sim a paga maior: ajudar na construção de um novo país com nossos valores ocidentais. Por isso, sermos confundidos com os aventureiros de língua inglesa que só apareceram no final do conflito sempre nos incomodou. Por isso, devemos agradecer ao nosso antigo inimigo, autor dessa obra, pela honestidade e profissionalismo. Cita também meu relato sobre a deserção sul africana com seus obuses 140 que poderiam nos ter dado a vitória, mas que hoje, em livros e textos, procuram justificar com mentiras patéticas, afirmando que o Coronel Santos e Castro é que os abandonou sem proteção, sendo que sempre, até o final do combate, estivemos alguns quilômetros à frente da bateria de obuses. Transformaram a vergonhosa fuga em uma epopeia digna da 1ª Guerra Mundial, com os obuses sendo rebocados em estradas enlameadas, sem ninguém entre eles e o inimigo, sendo que só percorreram asfalto até Ambriz! E o General Ben Roos também somou-se à lista de "heróis"...

Morro dos Asfaltos.
Da esquerda pra direita: Paiva, Lopes, Daniel, Marangoni (boina vermelha), Nelson, Morteirete (gorro sul-africano), Simões Comprido e o Capitão Valdemar (loiro, camisa preta). No centro, Coronel Santos e Castro (camisa preta e suíças).

Mas o facto principal, linha mestra dessa obra, é o papel indiscutível dos BM-21 russos na batalha. Num ousado esforço de pilotos soviéticos, esse equipamento foi transportado por milhares de milhas e colocado pronto para a ação no momento decisivo. E o resultado principal, insisto, foi o psicológico. O maciço bombardeamento, concentrado em nossas posições, criou o pânico na tropa africana, que sendo de fracos valores ideológicos, sem noção profunda de nacionalidade, aterrorizada, só pensou em salvar a própria pele e evitar a todo custo repetir a experiência. Devo lembrar que nós, os Comandos Especiais de Santos e Castro e Alves Cardoso, ao conquistar com facilidade o norte de Angola para a FNLA, fomos várias vezes alvejados pelos 122 através de lançadores individuais, o que não nos causava a mínima preocupação ou danos maiores. O que se viu depois de Quifangondo foi a desmotivação total do ELNA, um caminhar em direção à fronteira do Zaire, enquanto eu comandava um pequeno grupo atrás de pontes destruídas, procurando ser a pedra no caminho dos cubanos, retardando-lhes o fácil avanço.

Em Ambriz, prontos para a partida.
Da esquerda pra direita: Tenente Paes (morto), Simões (ferido), Remédios (ferido), Marangoni (boina vermelha debaixo do braço) e Lopes (desaparecido).

Mas notei um certo desconforto do General Xavier, angolano, que efetivamente participou do combate, em posição vulnerável na linha de frente e merece nosso respeito. O relato de sua atuação na batalha, no manejo do canhão 76, coincide com as informações repassadas pelo condutor da Panhard 90 atingida, que conseguiu escapar e posteriormente fez parte de minha tripulação até o final da guerra no norte. Mas acredito que o general não apreciou a falta de colorido nacionalista angolano no livro do aliado Kolomnim! Também não concordou com minha opinião sobre a ineficiência do 122 como arma de resultados físicos, no terreno, e demostra bons conhecimentos sobre o míssil que empregou muitas vezes. Mas perguntaria eu, até com certo humor, ao general: quem pode opinar com mais precisão sobre o efeito de uma pedrada? O garoto que atira ou aquele que a recebe na cabeça? O senhor é o atirador, mas eu sou o alvo! Pelas contas cubanas, foram cerca de 700 mísseis, pela CIA, milhares. Todos concentrados na baixada do Panguila, cujo centro era a ponte, meu ponto de ação. Eu estava lá, não dentro de um abrigo, mas cruzando a ponte, correndo, rastejando, resgatando colegas feridos, avançando, retrocedendo, passando informações, e estou aqui, sem maiores arranhões, resmungando acerca de ineficiência do 122 em causar maiores baixas físicas… Se nossas baixas aparentemente aceitas por ambos os lados foram de aproximadamente 350 homens e usando os números cubanos, teremos o uso de 2 mísseis para cada inimigo atingido, inimigo esse que estava em campo aberto, sem qualquer abrigo! Mantenho minha opinião admitindo porém se não fosse o desmoralizante efeito em Quifangondo, provavelmente Angola hoje estaria, no mínimo, dividida em Angola do Norte e Angola do Sul, tal qual aconteceu com Coreia e Vietnam.

Mas os estrondos dos mísseis 122, na Batalha de Quifangondo, atingiram mortalmente a alma dos nossos combatentes...

Corrigindo sutilmente a história angolana... Na medalha comemorativa dos 40 anos da Batalha de Quifangondo, a União dos Veteranos de Angola, de Moscou, "reconstrói" o monumento erigido no local com mais precisão e justiça: entre os heróis a serem lembrados foi colocado o BM-21!

Bibliografia recomendada:

A Opção Pela Espada:
Os comandos especiais na linha de frente em defesa do Mundo Ocidental.
Pedro Marangoni.

Leitura recomendada:

Mercenários dificilmente são máquinas de matar6 de fevereiro de 2020.

FOTO: Carro de Combate T-34/85 cubano modificado com um canhão D-304 de agosto de 2020.




terça-feira, 29 de setembro de 2020

BOEING B-52H STRATOFORTRESS. O vovô ainda está em forma!

B-52H
FICHA TÉCNICA
Velocidade de cruzeiro: Mach 0,69 (850 km/h)
Velocidade máxima: Mach 0,86 (1061 km/h)
Alcance: 14190 km.
Teto de serviço: 15150 m.
Propulsão: 8 motores turbofan Pratt & Whitney TF33-P-3/103 com 7711 kg de empuxo cada
DIMENSÕES
Comprimento: 48,5 m
Envergadura: 56,4 m
Altura: 12,4 m
Peso: 83250 kg (vazio) e 219600 kg (com máxima carga)
ARMAMENTO
31500 kg em armamento podendo ser as bombas guiadas por GPS GBU-30/31/32/37 JDAM, Bomba nuclear B-61, Bomba AGM-158 JASSM, Bomba de fragmentação CBU 87/89/97/103/104/105 e todas as bombas convencionais da família MK, mísseis de cruzeiro estratégicos AGM-86B  (nuclear), Mísseis anti navio AGM-84 Harpoon, e mísseis AGM-142A Have Nap.

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior
O tenso período da história humana conhecido como “Guerra Fria”, teve alguns protagonistas que acabaram dando um “rosto” para esta fase. Caças F-4 Phanton, MIGs-21, cruzadores da classe Kirov e os bombardeiros Tupolev Tu-95 Bear. Porém, do lado norte americano, nenhum outro sistema de armas leva tão bem a “cara” da guerra fria como o poderoso e imponente bombardeiro estratégico Boeing B-52 Stratofortress. Com suas asas enflechadas com uma envergadura gigantesca (56,4 metros), a maior em um avião de combate do mundo; seus 8 motores fumacentos e seu jeito desengonçado de decolar, o B-52 representou o poderio nuclear dos Estados Unidos durante toda a guerra fria. Mas o que mais chama a atenção é que, com seus 59 anos, ele continua em plena forma.
Mesmo tendo sido projetado para lançar bombas atômicas e mísseis de cruzeiro com ogivas nucleares sobre a União Soviética, a missão que o B-52 mais executou foi o de arrasar alvos sobre o Vietnam, Iraque e Afeganistão com bombas convencionais de queda livre e lançamento de mísseis de cruzeiro com ogivas convencionais.
Muitos modelos de aeronaves que objetivaram substituir o velho “Buff” (Big Ugly Fat Fellow) ou “cara feio grande e gordo” como o B-52 foi, carinhosamente, apelidado pela sua tripulação, foram entrando e saindo de operação, simplesmente por não serem capazes de cumprir, do mesmo jeito, as missões do velho B-52. A atual previsão sobre o futuro deste avião é a de que ele continue em operação até 2045, quando o projeto fará 90 anos. Se isto ocorrer, ele será o mais longevo avião de combate da história.
O protótipo XB-52 fez o primeiro voo em abril de 1952 e o B-52 é, ainda , uma peça fundamental para a capacidade de dissuasão norte americana! 
O modelo do B-52 em uso é a versão “H”, que entrou em serviço em outubro de 1962 e recebeu inúmeras melhorias no decorrer destes anos para adapta-lo aos novos desafios do moderno campo de batalha. Uma destas melhorias em relação aos modelos iniciais foi a troca dos motores fumacentos da família Pratt & Whitney J-57 pelos mais eficientes motores Pratt & Whitney TF-33 que proporcionaram maior autonomia por causa de seu menor consumo de combustível e maior potência, além de produzirem menos fumaça, que dava uma visibilidade indesejada para os B-52. Cada um destes motores (são 8) entrega uma potência de 7600 kgf ao B-52 e seu alcance de translado chega a incríveis 14190 km, ou seja, este bombardeiro pode voar até um alvo a qualquer lugar do planeta.
A versão atual do B-52H recebeu inúmeros aperfeiçoamentos e essas melhorias seguem em uma constante implantação.
A suíte de sensores e de guerra eletrônica instalada no B-52H é uma das mais completas dentre todos os aviões de combate da USAF (Força Aérea dos Estados Unidos). Logo a frente da aeronave, sob a fuselagem na altura da cabine, existe duas protuberâncias abriga o sistema AN/ASQ-151 EVS. O sistema possui um sensor infravermelho (FLIR) AN/ AAQ-6 desenvolvido pela Raytheon e por uma câmera de TV fabricada pela Northrop Grumman AN/ AVQ-22 que é usada para apoio em vôos de baixa altitude, um regime de voo que os B-52 precisaram se adaptar para poderem sobreviver a evolução dos sistemas de defesa antiaérea de alta altitude que os soviéticos haviam desenvolvido nos anos 60. O radar usado pelo B-52 é o Northrop Grumman APQ-166 que deverá ser substituído a partir de 2022 por um novo modelo que está sendo desenvolvido pela Raytheon e que terá varredura eletrônica ativa (AESA), mais capaz. O radar APQ-166 permite o seguimento de terreno para apoiar a navegação em vôos de baixa altitude, capacidade esta que será ampliada com a chegada do novo radar.
No campo da guerra eletrônica, o B-52H está equipado com um sofisticado sistema AN/ALQ-172(V)2 que faz a identificação dos sinais de radar inimigos e executa a interferência ativa para anular a efetividade destes sensores. Outros sistemas de guerra eletrônica instalados no B-52H são os detectores de radar AN/ALR-46 e o gerenciador de interferência (jammer) AN/ALQ-155 multibanda que presta uma cobertura de proteção eletrônica em volta de toda a aeronave. 
Existe um sistema que, eu, particularmente, acho interessante na suíte de guerra eletrônica do B-52H que é um gerador de alvos falsos AN/ALQ-122, desenvolvido pela Motorola, muito conhecido fabricante de celulares e rádios, com o objetivo de criar alerta falsos para os radares inimigos com o fim de ludibria-los. Para completar esta sofisticada capacidade de guerra eletrônica, um sistema de interferência AN/ALT-32 e um sistema de alerta de radar de cauda AN/ALQ-153 foram instalados.
Nesta foto, as setas amarelas apontam para as duas protuberâncias abaixo da parte da frente da fuselagem onde são posicionados os sensores do sistema AN/ASQ-151 EVS.
Durante meu trabalho de pesquisas para a produção das informações contidas no WARFARE, eu nunca tinha visto uma aeronave que não fosse dedicada para a especifica função de guerra eletrônica, ter um sistema de guerra eletrônica tão completo quando o do B-52H. Esta capacidade permitiu, inclusive, que o modelo fosse usado com o objetivo de atrapalhar as redes de radares inimigas em apoio a um ataque de outras aeronaves táticas, embora esta missão não seja sua especialidade.
O B-52 Stratofortress já é uma lenda vina na história da aviação militar mundial.
A capacidade de transporte de armamento do B-52H compreende 31500 kg de bombas e mísseis. As bombas podem ser de queda livre como a MK-82, MK-83 e MK-84, bombas guiadas por satélite como as da família JDAM, WCMD (bombas de fragmentação guiadas) e SDB, que permitem serem lançadas de maiores distancias e com muito melhor precisão que as bombas burras. Os mísseis de cruzeiro correspondem a outra parte do armamento deste poderoso bombardeiro. O míssil de cruzeiro Boeing AGM-86B, com alcance de até 2400 km etem guiagem feita por sistema TERCON que é um computador com dados sobre o relevo do caminho a ser percorrido até o alvo que permite um voo em baixa altitude seguindo o contorno deste relevo e dificultando ao máximo a detecção do míssil pelos radares de defesa aérea. Esta versão é armada com uma ogiva nuclear W-80-1 com cerca de 200 Kt de potencia. Para se ter um parâmetro do que representa esses “200 Kt”, basta observar que a bomba que explodiu a cidade de Hiroshima tinha cerca de 18 Kt de potência.
O míssil ar superfície israelense Popeye, chamado AGM-142 Have Nap, segundo a nomenclatura da USAF, é outra poderosa arma stand off (lançada longe do alcance das defesa inimigas) que o B-52H está qualificado a empregar. O AGM-142 é um grande míssil projetado para destruir alvos reforçados de grande porte. Para conseguir este efeito, o AGM-142 transporta uma pesada ogiva de 340 Kg fragmentada ou uma ogiva penetradora de 360 kg, para destruir bunkers. Seu sistema de guiagem é inercial e com o uso de um sensor infravermelho ou TV, dependendo da versão, na fase terminal do ataque. Seu alcance é de 80 km.
A modernização dos sistemas de armas do B-52H permitindo o emprego de bombas convencionais guiadas por GPS, como a GBU-31 JDAM de 907 sendo lançada nesta foto.
O B-52H pode, ainda, ser armado com bomba a nuclear de queda livre B-61 que, dependendo da versão, pode ter uma potência que varia de 0,3 a 350 Kt. Outra bomba nuclear que ele transporta é a B-83 cuja potência pode chegar até 1,2 megatons.Por ultimo, o B-52H pode ser muito bem usado em missões de interdição naval armado com minas navais ou até 8 mísseis antinavio AGM-84 Harpoon, guiados por radar ativo e com alcance de 130 km.
No segunde semestre de 2020, alguns bombardeiros B-52H estveram se exercitando em voos de longa duração pela Europa e Asia, onde eram escoltados por caças de forças aliadas. Aqui, um B-52H escoltado por dois caças F-15J Eagle da força aérea japonesa.
O dado a respeito dos muitos modelos de aeronaves foram projetadas visando substituir o velho BUFF, e acabaram sendo aposentadas antes dele, e isto, aparentemente, ocorrerá novamente, uma vez que quando o B-52 estiver chegando ao final de sua vida operacional, em 2045, o B-1B Lancer já deverá estar aposentado há mais de 10 anos. O uso de bombardeiros pesados está fadado à extinção graças ao incrível aumento da capacidade dos sistemas de defesa antiaérea, da capacidade dos aviões de interceptação e dos custos altíssimos de se desenvolver um avião desse tipo. O B-52 devera ser um dos últimos aviões convencionais de bombardeiro a estar em serviço.
Com a capacidade de reabastecimento em voo, o B-52H pode permanecer em voo por mais tempo do que as capacidades fisiológicas de sua tripulação.

Uma foto interessantíssima por mostrar um B-52H ao lado de dois bombardeiros estratégicos russos Tupolev Tu-95H Bear.