segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Os Lobos de Zhurihe: a OPFOR da China amadurece

Por Gary Li, The Jamestown Foundation, 20 de fevereiro de 2015.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 9 de novembro de 2020.

Entre 31 de maio e 28 de julho de 2014, o Exército de Libertação do Povo Chinês (PLA) iniciou o exercício anual em grande escala com o codinome "Stride 2014". Os exercícios Stride (Passo Largo) têm ocorrido regularmente, concentrando-se principalmente no rápido desdobramento de grandes formações de campanha em território desconhecido e na realização de exercícios de confronto. A versão de 2014, no entanto, era diferente em sua escala, composição das unidades, intensidade e natureza do oponente que as unidades enfrentavam. Nada menos que sete das principais brigadas, de sete diferentes grupos de exércitos (GA) do PLA, foram enviados para a Base de Treinamento de Zhurihe, na Mongólia Interior, sob a Região Militar de Pequim. Durante os seis exercícios de confrontação que se seguiram, apenas um resultou na vitória das “Forças Vermelhas” (REDFOR) visitantes, e a um custo elevado. A surra recebida pela REDFOR na verdade reflete uma nova era no treinamento do PLA que está intimamente ligada à unidade que os ensinou a lição, a primeira brigada de forças oponentes dedicada da China (Opposing ForcesOPFOR*).[1] [2]

Distintivo da "1ª Brigada OPFOR da China", Lobos de Zhurihe.

[1] Os exercícios OPFOR são uma prática militar comum em todo o mundo, incluindo os Estados Unidos. As REDFOR são as unidades normais do PLA e a “Blue Force" OPFOR são unidades especiais destinadas a atuar como unidades inimigas para fins de treinamento. Para referência, os Estados Unidos usam “Red Teams” como inimigo. O Centro Nacional de Treinamento em Irwin, Califórnia, é a casa do OPFOR dos EUA desde 1980, onde unidades que simulam um regimento soviético foram responsáveis por colocar unidades mecanizadas dos EUA à prova durante a Guerra Fria. Hoje, também se especializou em unidades de treinamento para operações de contra-insurgência.

[2] As unidades específicas dos GA foram identificadas por meio de pesquisas de código aberto.

Sniper francês da FORAD (Force Adverse/ Figurativo Inimigo) no Centro de Treinamento de Combate em Zona Urbana (Centre d'entraînement au combat en zone urbaine, CENZUB), em Sissonne, na França.

*Nota do Tradutor: Na Marinha do Brasil, a OPFOR é chamada de "Figurativo Inimigo" (FINGIM). O acrônimo lembra "fingimento". No Exército Brasileiro usam o termo ForOp, "Força Oponente".

Participantes e resultados do exercício “Stride 2014”

Segmento do Exercício

Região Militar (MR)

Unidade do Exército

Resultado

vs

OPFOR

A

Nanquim

12º Grupo de Exército (GA), 2ª Brigada Blindada

Perdeu

B

Guangzhou

41º GA, 122ª Brigada Mecanizada

Perdeu

C

Jinan

20º GA, 58ª Brigada Leve Mecanizada

Perdeu

D

Shenyang

16º GA, 68ª Brigada Mecanizada

Venceu/

Empatou

E

Chengdu

14º GA, 18ª Brigada Blindada

Perdeu

F

Lanzhou

47º GA, 55ª Brigada Motorizada

Perdeu

N/A*

Pequim

27º Grupo do Exército (GA), 7ª Brigada Blindada

N/A


* Não participou do “Stride 2014”, mas possivelmente foi usado como unidade de teste antes dos exercícios principais.

As forças visitantes estavam sob ataques simulados desde o momento em que chegaram às áreas de concentração e, em seguida, foram colocadas sob ataque químico, biológico e nuclear (QBN) contínuo, bem como ataque aéreo durante os exercícios (Xinhua Net, 24 de junho de 2014). A OPFOR possuía domínio total nas arenas aéreas e de artilharia, bem como vantagem tática devido ao reconhecimento avançado ser negado às unidades visitantes. A maioria das unidades perdeu 30–50 por cento de suas forças no momento em que entrou em contato com a OPFOR, e algumas perderam até 70% quando o seu segmento de exercício terminou. Nunca antes o PLA havia feito tal teste por um oponente assim, e o experimento de Zhurihe enviou ondas de choque por todo o corpo de oficiais.

O nascimento da “Força Azul”

Tropas do PLA lançam um assalto a uma réplica do Edifício Presidencial de Taiwan na base de treinamento de Zhurihe, na Mongólia Interior. (SCMP Pictures)

A Base de Treinamento de Zhurihe, no deserto da Mongólia Interior, tem sido um importante campo de treinamento para as tropas blindadas da China desde 1957. No entanto, foi somente a partir de 2007 que ela evoluiu de um simples campo de tiro para um centro de treinamento de armas combinadas. Este foi um tempo surpreendentemente longo, pois o PLA está perfeitamente ciente do seu atraso desde a Guerra do Golfo de 1991, após a qual a velocidade da modernização militar aumentou drasticamente. As unidades anteriores da OPFOR estavam em grande parte em rotações muito curtas e imitavam as formações soviéticas, que foram os principais adversários terrestres durante a Guerra Fria. Apesar da desintegração da União Soviética em 1991, isto permaneceu praticamente inalterado até os anos 2000. Essa transformação recebeu um impulso extra desde que o presidente e comandante-em-chefe chinês Xi Jinping chegou ao poder em 2012, quando ele decidiu implementar reformas dentro do PLA a fim de obter uma força de combate que "pode lutar e vencer batalhas" (PLA Daily, 21 de fevereiro de 2013).

A misteriosa "Força Azul" - como o PLA chama sua OPFOR - é na verdade a 195ª brigada de infantaria mecanizada, comandada por Xia Minglong, sob a RM de Pequim (anteriormente a 1ª Divisão Blindada, 65º GA, uma das primeiras unidades pioneiras em "guerra informatizada"). Esta unidade parece ter sido retreinada durante 2013 e ativada em janeiro de 2014. Em março de 2014, a Comissão Militar Central (CMC) sob o presidente Xi emitiu a diretiva "Recomendações sobre a Melhoria do Realismo dos Exercícios Militares" (Xinhua, 20 de março de 2014), e a 195ª brigada seria o "amolador". O “Stride 2014”, portanto, foi pessoalmente aprovado por Xi de acordo com os novos “Regulamentos de Treinamento de Base Transregional de 2014-2017” (Liao Wang Dong Fang, 6 de agosto de 2014).

Transporte Tipo 63 dos Lobos de Zhurihe, OPFOR.

Embora a unidade seja amplamente equipada com equipamentos obsoletos, como tanques de batalha principais Tipo 59 (MBT) e veículos blindados de transporte de pessoal (VBTP) Tipo 63, seus pontos fortes estão, na verdade, em sua integração profunda de armas combinadas. Também por meio do emprego em larga escala de sistemas de engajamento de laser semelhantes ao Sistema de Engajamento de Laser Integrado Múltiplo (Multiple Integrated Laser Engagement System, MILES) usado pelas forças armadas dos EUA, a unidade provavelmente simulou carros M1 e veículos de combate de infantaria Bradley. Isso nunca é implicitamente reconhecido pela mídia oficial, mas as evidências de código aberto parecem sugerir que a unidade às vezes utiliza doutrina semelhante àquelas das Equipes de Combate de Brigada dos EUA (Brigade Combat Teams, CBT), o que significa que a 195ª provou ser um oponente letal (China Military Net, 16 de junho de 2014).

A 195ª é comandada pelo Coronel Sênior Xia Minglong*, que foi vice-chefe de treinamento da RM de Pequim até assumir o comando da brigada OPFOR em janeiro de 2014 (Ministério da Defesa Nacional, 4 de fevereiro). De acordo com entrevistas à mídia, Xia já estava ciente de que sua nova brigada enfrentaria o melhor do PLA no final do ano. A brigada só concluiu sua reorganização em abril de 2014, apenas 20 dias antes da primeira “Força Vermelha” chegar a Zhurihe. Claramente, ele descreveu os tipos de treinamento anteriores como "excessivamente formais, com pouco resultado... embora muitos comandantes queiram colocar o treinamento em uma base mais realista, havia pouco em suas mentes sobre como isso deveria ser alcançado - em grande parte devido à falta de experiência em combate ao longo de muitos anos” (Liao Wang Dong Fang, 6 de agosto de 2014).

*NT: O atual comandante é o Coronel Sênior Man Guangzhi.


Antes do estabelecimento da brigada OPFOR, as forças opostas eram sempre compostas por unidades rotativas com pouca experiência na função. Isso se deve a questões políticas e também doutrinárias. Se uma unidade OPFOR derrotar uma unidade visitante de alto nível, então há uma chance de que os altos generais desta se ofendam, algo que dentro de um exército como o PLA - com sua intrincada rede de patrocínio e lealdades pessoais - pode provar desastroso para a carreira de alguém. Portanto, institucionalmente, houve pouco incentivo para os oficiais da OPFOR tentarem derrotar as forças visitantes (Sina Military, 8 de agosto de 2014).

A composição das “Forças Vermelhas” visitantes foi também diferente em 2014, com destaque para as “brigadas combinadas”, nomeadamente brigadas com vários outros armas de serviço adstritas. Em essência, o PLA estava testando a eficácia das reformas de "brigadização" conduzidas no início de 2000, quando as divisões foram transformadas em brigadas mecanizadas altamente móveis. Os resultados do “Stride 2014” parecem sugerir que ainda há muitas melhorias a serem feitas.

A natureza dos exercícios era muito diferente das manobras anteriores do tamanho de uma brigada. Isso variava do doutrinário - sem mais confrontos planejados, ao mundano - sem grandes faixas vermelhas e bandeiras nos veículos. Tudo foi feito para criar “condições de guerra mais realistas” (PLA Daily, 31 de dezembro de 2014). A mudança mais significativa, porém, foi “permitir” que a OPFOR vencesse. O papel das OPFOR anteriores e temporárias era atrasar e obstruir as “Forças Vermelhas”, mas não derrotá-las. Assim, um comandante de brigada vermelha poderia anteriormente emitir comandos que resultavam em grandes perdas sem temer a derrota. No entanto, as dolorosas derrotas infligidas às "Forças Vermelhas" no "Stride 2014" não foram apenas destacadas como uma grande lição dos exercícios, mas também alegremente citadas repetidamente pela cobertura da mídia oficial do PLA (Xinhua, 22 de junho de 2014).

O resultado

O objetivo dos exercícios “Stride 2014” foi significativo. Estrategicamente, eles foram projetados para sacudir o PLA do seu senso de complacência em tempos de paz e para enfrentar sua responsabilidade primária de lutar e vencer guerras. Operacionalmente, eles removeram o cobertor de segurança de operar em ambientes familiares e forçaram as unidades a lutar em locais que não eram de sua escolha contra um inimigo que lutava de forma diferente. Taticamente, as unidades descobriram as dificuldades de operar seus equipamentos sob ataque constante e interferência eletrônica, obrigando os oficiais de todos os níveis a improvisarem seus ataques. Politicamente, e possivelmente o objetivo mais importante, tem sido a remoção do fator de aversão ao risco nos exercícios. Não foram permitidas recriminações contra a brigada OPFOR e foram encorajados relatórios de derrotas (PLA Daily, 11 de novembro de 2014).

Um dos outros problemas-chave identificados durante os exercícios foi o uso adequado de novos equipamentos. Várias das formações que foram derrotadas pela OPFOR possuíam o hardware mais avançado dentro do PLA, incluindo os MBT Tipo 99 e Tipo 96, bem como os IFV Tipo 04. Quase todas as formações possuíam artilharia altamente móvel, orgânica, mecanizada ou montada em caminhão. Em essência, eles representaram os frutos de duas décadas de atualizações de hardware para as forças terrestres destinadas a lutar em uma guerra totalmente mecanizada. No entanto, isso não os salvou da derrota. A única unidade que obteve vitória/empate foi equipada com os MBT Tipo 99 mais avançados, mas foi um batalhão improvisado liderado por um capitão (todos os comandantes de alto escalão tendo sido "mortos") que "venceu" a luta (Guancha, 8 de julho de 2014).


O principal organizador do "Stride 2014", o Coronel Sênior Yang Baoyou, professor da Escola de Comando de Shijiazhuang (o equivalente do PLA a West Point), disse à Xinhua posteriormente que o experimento de Zhurihe pretendia expor as deficiências das unidades de combate em um nível fundamental , algumas das quais incluem “habilidades de comando fracas, colaboração ineficiente entre unidades, incapacidade de utilizar novos equipamentos em seu benefício”, entre outros problemas. Yang aponta que tudo isso se deve em grande parte a um regime anterior de “programas de treinamento incompreensíveis, de baixo padrão e de baixo objetivo” (Modern Express, 8 de agosto de 2014). É claro que o motivo da escolha das unidades - uma brigada de cada região militar - foi para que as lições aprendidas pudessem ser levadas de volta às suas respectivas regiões e ninguém pode dizer que eles poderiam ter feito melhor.

O Futuro da OPFOR de Zhurihe

Não eram apenas as unidades do exército regular que seriam lançadas contra a 195ª em 2014. Ao longo do ano, nada menos que 20 exercícios foram realizados em Zhurihe, incluindo a anual Organização de Cooperação de Xangai (Shanghai Cooperation OrganizationSCO) “Missão de Paz 2014” em Agosto, e até a visita de uma das duas Brigadas de Fuzileiros Navais do PLA (China Youth Daily, 13 de fevereiro de 2014). Tradicionalmente com base no sul, a brigada foi lançada contra a recém-ativada 195ª em fevereiro de 2014 e voltou para uma revanche em 2015 (Guangcha, 5 de fevereiro). É evidente que o PLA faz questão de testar todas as suas formações fora das suas zonas de conforto. De acordo com a conta do Weibo do PLA Daily em 5 de fevereiro de 2015, dez brigadas de todas as sete RM descerão sobre Zhurihe para enfrentar a OPFOR para o exercício "Stride" de 2015. A diferença neste ano será que cada batalha será dividida em três rodadas, talvez para permitir que as “Forças Vermelhas” avaliem suas deficiências e tentem superá-las.

Coluna de carros de combate Tipo 96 da Equipe Azul usando o distintivo de unidade dos "Lobos de Zhurihe".

O comandante da OPFOR também não é complacente com as realizações da sua brigada em 2014 e destacou suas preocupações com os dois principais gargalos para o desenvolvimento contínuo da brigada, ou seja, retenção de pessoal e equipamentos avançados. Em relação ao primeiro, o Coronel Xia afirmou que é difícil encontrar os oficiais certos, versados na “doutrina de combate estrangeira”, e mantê-los. Em termos deste último, apesar de simular o mais avançado em termos de MBT ocidentais, os envelhecidos Tipo 59 da brigada OPFOR* exigirão substituições no futuro (Liao Wang Dong Fang, 6 de agosto de 2014).

*NT: Em abril de 2017, a brigada foi redesignada como 195ª Brigada Pesada de Armas Combinadas (em chinês: 重型 合成 第 195 旅).

É altamente improvável que o PLA permita que as qualidades de combate da OPFOR sejam corroídas pelos problemas habituais do PLA de retenção de pessoal e reações políticas. Está claro por conta do “Stride 2014” que essa formação incorporou tudo o que o presidente Xi pediu durante seu mandato. No entanto, esse modelo provavelmente será permeado até o nível de RM, e OPFOR regionais também serão criadas para treinar outras forças locais. Considerando o tamanho e distribuição do PLA, esta localização do “modelo Zhurihe” ajudaria muito a moderar as qualidades de combate das formações terrestres.

No entanto, ainda restam dúvidas sobre se o novo regime de treinamento, com toda a ênfase no realismo, reflete um espectro amplo o suficiente para os tipos de ameaças que o PLA pode ter que enfrentar no futuro. É incerto se todos os engajamentos futuros envolverão ataques QBN em grande escala, por exemplo; e a falta de treinamento de contra-insurgência também é gritante. A OPFOR demonstrou em Zhurihe que a era da guerra mecanizada em grande escala pode estar chegando ao fim, mas o que vai substituí-la ainda não foi respondido entre os planejadores do PLA.

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FOTO: Prisioneiros americanos no rio Yalu

 

Soldado chinês do "Exército Popular de Voluntários" escoltando prisioneiros americanos após a campanha do rio Yalu, dezembro de 1950.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 9 de novembro de 2020.

Pyongyang, capital da Coréia do Norte, foi capturada pelas forças da ONU em 19 de outubro de 1950. No mesmo dia, o Exército Popular de Voluntários (PVA) cruzou formalmente o rio Yalu (rio Amarelo) sob estrito sigilo.

O ataque inicial chinês começou em 25 de outubro de 1950, sob o comando de Peng Dehuai com 270.000 soldados do PVA. O ataque pegou as tropas da ONU de surpresa e, com grande habilidade e notável capacidade de camuflagem, escondeu sua força numérica antes e após o primeiro confronto com a ONU. Após esses combates iniciais, os chineses retiraram-se para as montanhas. As forças da ONU interpretaram esta retirada como uma demonstração de fraqueza, raciocinando que esse ataque inicial era tudo o que as forças chinesas eram capazes de empreender.

Em 25 de novembro de 1950, na Segunda Fase Ofensiva (ou campanha), o PVA atacou novamente ao longo de toda a frente coreana. No oeste, na Batalha do Rio Ch'ongch'on, o PVA ultrapassou várias divisões da ONU e desferiu um golpe extremamente pesado no flanco das forças restantes da ONU, dizimando a 2ª Divisão de Infantaria no processo. A retirada resultante da ONU da Coréia do Norte foi a mais longa retirada de uma unidade americana na história. No leste, na Batalha do Reservatório de Chosin, a Força-Tarefa Faith - uma unidade de 3.000 homens da 7ª Divisão de Infantaria - foi cercada pelas 80ª e 81ª Divisões do PVA. A Força-Tarefa Faith conseguiu infligir pesadas baixas às divisões chinesas, mas no final foi destruída com 2.000 homens mortos ou capturados, e perdendo todos os veículos e a maioria dos outros equipamentos. A destruição da Força-Tarefa Faith foi considerada pelo PVA como seu maior sucesso em toda a Guerra da Coréia.

A 1ª Divisão de Fuzileiros Navais se saiu melhor; embora cercados e forçados a recuar, eles infligiram pesadas baixas ao PVA, que cometeu seis divisões tentando destruir os fuzileiros navais americanos. Embora o PVA tenha sido capaz de recapturar grande parte da Coréia do Norte durante a Campanha da Segunda Fase, 40% do PVA se tornou "combat ineffective" (incapacitado para combate) - uma perda da qual eles não puderam se recuperar até o início da Ofensiva de Primavera chinesa, em abril de 1951.

As forças da ONU no nordeste da Coréia se retiraram para formar um perímetro defensivo em torno da cidade portuária de Hungnam, onde uma evacuação foi realizada no final de dezembro de 1950. Aproximadamente 100.000 militares e material da ONU, além de outros 100.000 civis norte-coreanos, foram evacuados em uma variedade de navios mercantes e de transporte militar. Durante o desesperado recuo, o comandante do Oitavo Exército americano, General Walton Walker, morreu em um acidente de jipe em 23 de dezembro de 1950. Ele foi substituído pelo Tenente General Matthew Ridgway, que liderou tropas aerotransportadas na Segunda Guerra Mundial.

As forças do PVA usaram ataques rápidos nos flancos e na retaguarda, além da infiltração atrás das linhas da ONU para dar a aparência de vastas hordas. Isso, é claro, foi aumentado pela tática chinesa de maximizar suas forças para o ataque, garantindo uma grande superioridade numérica local sobre seu oponente. As vitórias iniciais do PVA foram um grande estímulo para o moral do PVA e a primeira vitória chinesa sobre o Ocidente nos tempos modernos desde o Cerco do Forte Zeelandia (1661-1662).

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A Guerra da Coréia: Nem Vencedores, Nem Vencidos.
Stanley Sandler.

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domingo, 8 de novembro de 2020

A Venezuela está comprando petróleo iraniano com aviões cheios de ouro


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de novembro de 2020.

O Irã recebeu ouro da Venezuela pelas cargas de combustível que Teerã enviou ao país latino-americano, disse um comandante do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) no fim de semana, conforme noticiado pelo Middle East Monitor em setembro.

Cinco meses depois que as autoridades iranianas negaram o recebimento do pagamento pelo combustível enviado para a Venezuela, o mais alto assessor do líder supremo Ali Khamenei confirmou, em 27 de setembro, que o Irã recebeu ouro pelos carregamentos. Em 30 de abril desse ano, o representante especial dos EUA para a Venezuela, Elliott Abrams afirmou que “Os aviões que estão vindo do Irã e trazendo coisas para a indústria do petróleo estão voltando com os pagamentos por essas coisas: ouro”.

Notícias da época do relatório de Abrams afirmavam que havia uma ponte aérea entre o Irã e a Venezuela já em abril, quando as linhas aéreas iranianas Mahan realizaram vários vôos. A Mahan Air está sob sanções dos Estados Unidos por transportar armas e ser usada pela Guarda Revolucionária em suas operações no exterior. O Ministério das Relações Exteriores do Irã e outras autoridades rejeitaram os comentários de Abrams na época, dizendo que o objetivo de tais acusações era "exercer mais pressão" sobre o Irã.

Sem dinheiro e desesperado por ajuda para sustentar sua indústria de petróleo, a Venezuela está saqueando seus cofres de ouro e entregando toneladas de barras para seu exótico aliado, o Irã. De acordo com o Major General Yahya Safavi do IRGC, o Irã transportou o ouro da Venezuela para Teerã por meio de aviões a fim de "prevenir qualquer acidente durante o trânsito".

O Irã tem uma relação estreita com o governo venezuelano anti-EUA desde os dias do presidente Hugo Chávez, em meados dos anos 2000.

General Yahya Rahim-Safavi, IRGC.

Aviões no lugar de navios

Depois que o Irã entregou condensado à Venezuela por meio de um navio-tanque com bandeira do Irã, o mesmo navio-tanque carregou petróleo bruto venezuelano em um terminal no país latino-americano, informou a Bloomberg em setembro de 2020, citando um relatório de embarque. Irã e Venezuela também trocaram recentemente petróleo bruto, desafiando as sanções dos EUA.

Além de ajudar com os serviços de petróleo, o Irã declarou estar pronto para ajudar a Venezuela a lidar com sua severa escassez de gasolina e no início deste ano conseguiu enviar cargas de combustível para o país latino-americano, que detém as maiores reservas de petróleo do mundo.

A Guarda Costeira dos Estados Unidos interceptou e apreendeu quatro desses carregamentos de gasolina com destino à Venezuela em agosto. Isso forçou a mudança do modal de transporte marítimo para o aéreo. A transportadora Mahan Air, com sede em Teerã, já vôou com mais de meia dúzia de jatos para o país sul-americano apenas na última semana de abril.

A maioria entregou aditivos para gasolina, peças e técnicos para ajudar a consertar uma refinaria importante ao longo da costa noroeste da Venezuela. Enquanto isso, Mahan enviou outros aviões para o aeroporto internacional fora de Caracas, onde são carregados com as barras de ouro para serem levados de volta a Teerã, disseram fontes internas que pediram anonimato porque não estão autorizadas a falar publicamente sobre as transações.

Com grande parte do pessoal do banco central isolado em casa, o transporte das barras de ouro em carros blindados para serem levados ao aeroporto foi discreto e conduzido por funcionários e oficiais de segurança fortemente armados à partir dos cofres localizados no centro de Caracas.

Só na última semana de abril a Venezuela carregou 9 toneladas de ouro, no valor de cerca de US$ 500 milhões, em aviões para o Irã, em troca da ajuda iraniana para consertar refinarias em ruínas na Venezuela, disseram fontes internas à Bloomberg.

Com o colapso dos preços do petróleo, o ouro em Caracas é agora uma fonte ainda mais importante de riqueza para a Venezuela, que caiu na pobreza extrema sob o governo socialista de Maduro. Embora o país tenha cerca de 70 toneladas de ouro em seus cofres, vendê-lo está cada vez mais difícil, conforme noticiou o Bloomberg em sua seção de economia.

Depois de uma breve - e rara trégua - a moeda da Venezuela está mais uma vez em queda livre e a inflação recomeçou a subir, com a taxa anual subindo para cerca de 3.500%. Uma quarentena estrita para combater a pandemia do coronavírus está começando a apresentar rachaduras e o risco de maior agitação social está crescendo enquanto a Venezuela tenta freneticamente garantir comida e combustível.

Uma aliança, no mínimo, exótica

Comandos venezuelanos ativação do Comando Geral de Operações Especiais "General em Chefe Félix Antonio Velásquez" como parte da Operación Soberanía Bolivariana 2017; uma operação de defesa contra "a agressão imperialista" dos Estados Unidos.

As duas nações - ambas párias nos círculos internacionais - estão trabalhando juntas ainda mais enquanto tentam resistir às duras sanções dos EUA e ao colapso do preço do petróleo causado pelo coronavírus, sua principal fonte de receita. Para o Irã, os acordos fornecem uma nova fonte de receita. Para a Venezuela, eles garantem que seu fornecimento de gasolina não acabe totalmente.

Quando o antecessor de Maduro, o falecido Hugo Chávez, estava no poder, ele e o então líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad fecharam acordos em uma variedade de projetos de energia, agrícolas e financeiros. Eles até abriram uma fábrica conjunta de montagem de automóveis a oeste de Caracas. O Irã também está ajudando a Venezuela na prevenção de ataques cibernéticos, disse o oficial militar iraniano. Irã e Venezuela, ambos sob sanções dos Estados Unidos que visam cortar suas exportações de petróleo, aumentaram a cooperação nos últimos anos.

O conselheiro de Khamenei também disse: “Hoje os venezuelanos são comunistas, mas se mantiveram firmes contra os americanos, então vamos ajudá-los”. Rahim-Safavi também revelou que Teerã está ajudando Caracas com softwares, “estabelecendo forças de mobilização popular” e “prevenindo ataques cibernéticos”. Ele acrescentou que “qualquer país muçulmano ou não-muçulmano que precisar de ajuda [contra os americanos], nós ajudaremos, mas eles terão que pagar por isso”.

Spetsnaz russo em um prédio público sírio.
Atrás dele os retratos do atual ditador Bashar al-Assad e seu pai, Hafez al-Assad.

Continuando seus comentários, o general do IRGC disse: “Recebemos dólares em dinheiro por cada assistência que prestamos ao Iraque. Com a Síria temos um acordo e recebemos certas coisas. Claro, os russos se beneficiam mais com a Síria do que nós.”

O Irã luta na Síria quase desde o início da guerra civil do país em 2011. Teerã mobilizou dezenas de milhares de forças de fachada que equipa, alimenta e paga. Algumas estimativas dizem que mais de US$ 15 bilhões foram gastos para apoiar o homem forte sírio Bashar al-Assad.

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Jack Ryan Is Lying About Venezuela
Jack Ryan está mentindo sobre a Venezuela


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A Obsessão Antiamericana:
Causas e Inconseqüências.
Jean-François Revel,
da Academia Francesa.

Leitura recomendada:

O desafio estratégico do Irã e da Venezuela com as sanções13 de setembro de 2020.

A influência iraniana na América Latina15 de setembro de 2020.

O papel da América Latina em armar o Irã16 de setembro de 2020.

Poderia haver uma reinicialização da Guerra Fria na América Latina?4 de janeiro de 2020.

GALERIA: Ativação do Comando de Operações Especiais venezuelano30 de agosto de 2020.

Um olhar mais profundo sobre a interferência militar dos EUA na Venezuela, 4 de abril de 2020.

FOTO: O jovem cadete Hugo Chavez27 de março de 2020.

GALERIA: O T-72 polonês em direção à Lituânia

Tanques T-72 poloneses sendo transportados por via férrea para a Lituânia em 28 de outubro de 2020.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de novembro de 2020.

De 28 de outubro até 6 de novembro, as tropas do 21BSP (21 Brygada Strzelców Podhalańskich/ 21ª Brigada de Fuzileiros Podhale) treinaram como parte da segunda fase do exercício Brilliant Jump 20, um exercício organizado pelo Comando de Operações Conjuntas da OTAN em Brunssum, na Lituânia.

O exercício Brilliant Jump 20 testou a logística da OTAN e sua capacidade de responder e movimentar a Força-Tarefa Conjunta de Prontidão Muito Alta (Very High Readiness Joint Task Force, VJTF) rapidamente em caso de crise. A Matriz do Corpo Multinacional Nordeste (HQ MNC NE) era responsável por realizar a Recepção, Colocação e Movimento Adiante (Reception, Staging and Onward MovementRSOM) das unidades que chegavam.

O planejamento do exercício, que entrou em sua fase final em 28 de outubro, teve início em meados de 2019. Realizado sob a égide do Comando da Força Conjunta Aliada Brunssum, o exercício Brilliant Jump foi projetado para demonstrar a prontidão e mobilidade da VJTF. Foram enviados para a Lituânia 2.500 soldados e 600 veículos usando recursos aéreos, terrestres e marítimos enviados da República Tcheca, Polônia e Espanha. 

O modal ferroviário é o melhor sistema de transporte terrestre que existe. Isto é particularmente verdadeiro em relação ao transporte de blindados.

O exercício Brilliant Jump 20 consiste em duas partes: uma fase marítima conduzida de 28 de setembro a 2 de outubro na costa do Reino Unido; seguida por uma fase de desdobramento terrestre de 28 de outubro a 6 de novembro na Lituânia.

"Nossos exercícios aproveitam as oportunidades para a OTAN e as nações aliadas aprimorarem suas habilidades de combate, concentrando-se em capacidades de ponta", disse o Vice-Almirante Keith Blount, comandante do Comando Marítimo da OTAN. "O exercício Brilliant Jump 20 mostra que continuamos preparados para operações em paz , crise e conflito e que estamos sempre prontos para desdobrar nossas forças onde for necessário, de forma rápida e eficaz.”

Transferir milhares de soldados de um lugar para outro é uma tarefa imensa e complicada. "Todo o processo RSOM é subdividido em várias atividades", indica o Ten-Cel Rene Srock da Divisão MNC NE J4. A coordenação de todos os esforços foi assegurada pelas Unidades de Integração de Forças da OTAN localizadas na Polônia e na Lituânia. Eles forneceram a ligação para seus respectivos ambientes militares e civis. Desta forma, o Comando RSOM em Szczecin teve a tão necessária Consciência Situacional para focar o apoio das Nações Receptoras Anfitriãs (Host Receiving Nations), ajustar os Planos de Movimento e apoiar a segurança para as diferentes fases e locais do RSOM.

"O maior desafio é mover as forças de acordo com os regulamentos de tempo de paz entre o tráfego civil normal. Todos os movimentos devem ser meticulosamente coordenados em tempo hábil", disse COL Miroslav Heger, Chefe RSOM MNC NE.

Independentemente de onde o RSOM é conduzido, os principais provedores de serviços são as Nações Receptoras Anfitriãs com suas capacidades militares e civis. Portanto, a execução bem-sucedida do processo RSOM é uma boa ilustração da coesão, interoperabilidade e prontidão da OTAN para reagir rapidamente em uma emergência.

Os T-72 poloneses estão sendo modernizados atualmente com visão noturna e térmica passiva, e sistemas de comunicação digital. Uma boa direção antes de substituí-los por MBTs modernos.

Os trens fornecem a maior capacidade de carga em todos os modais terrestres.

Este ano, o núcleo da "ponta de lança" da OTAN foi formado pela 21ª Brigada de Fuzileiros Podhale polonesa, com as unidades terrestres participantes incluindo um quartel-general de brigada, um batalhão de ponta-de-lança, forças especiais e o quartel-general da força-tarefa QBN da Polônia, um batalhão mecanizado da República Tcheca, uma companhia mecanizada da Lituânia e um batalhão de infantaria da Espanha.

Após a conclusão do Brilliant Jump 20, as unidades VJTF participarão do exercício liderado pela Lituânia, Iron Wolf (Lobo de Ferro), antes de serem transferidas de volta para suas bases.

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

FOTO: IS-3 no Egito de Nasser

Carro de combate pesado IS-3 egípcio desfilando no Cairo na década de 1960.
As lagartas fizeram um estrago na avenida.

O Egito era o maior aliado árabe da União Soviética desde os anos 1950, e recebeu grandes quantidades de material soviético até a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Durante o início dos anos 1950, todos os IS-3s foram modernizados como modelos IS-3M. O Exército egípcio adquiriu cerca de 100 tanques IS-3M da União Soviética, que entraram em combate na Guerra dos Seis Dias (1967) na frente do Sinai.

Os tanques IS-3 foram incluídos em um regimento na 7ª Divisão de Infantaria egípcia, que assumiu posições defensivas ao longo da linha Khan Yunis-Rafah. Outros 60 tanques foram incorporados em outro regimento na 125ª Brigada de Tanques, 6ª Divisão Mecanizada, que foi desdobrada perto de Al Kuntillah. Os tanques IS-3 eram lentos e desajeitados demais para a guerra moderna de movimento executada pelos israelenses, disparavam muito devagar e seus motores quebravam rapidamente no deserto do Sinai. O fato dos egípcios não manobrarem, apenas servindo como casamatas móveis, sem qualquer iniciativa de pequenas unidades, apenas jogou à favor das colunas móveis israelenses.

A infantaria israelense e os paraquedistas tiveram considerável dificuldade com o IS-3M devido à sua blindagem espessa, que evitou os ataques das armas anti-carro normalmente orgânicas à infantaria, como a bazuca. Mesmo o projétil de 90mm perfurante disparado pelo canhão principal dos tanques Patton M48 das Forças de Defesa de Israel (IDF) não conseguiam penetrar a blindagem frontal dos IS-3 em distâncias normais de combate. Houve uma série de engajamentos entre os M48A2 Patton da 7ª Brigada Blindada das IDF e os IS-3 apoiando posições egípcias em Rafah, nas quais vários M48A2 foram destruídos durante o combate.

IS-3 destruído no Sinai em 1967, mostrando penetração no flanco da couraça, ao lado de um T-55.

No entanto, em um confronto entre um batalhão de IS-3 e M48A3 com canhões de 90mm, sete IS-3 foram destruídos. A baixa cadência de tiro, baixo desempenho do motor (o motor não era adequado para operações em clima quente) e controle de fogo rudimentar dos IS-3 provaram ser uma desvantagem significativa, e cerca de 73 IS-3 foram perdidos na guerra de 67.

A maioria dos tanques IS-3 egípcios foi retirada de serviço, com apenas um regimento de IS-3 mantido em serviço até a guerra de outubro de 1973. As IDF fizeram experiências com alguns tanques IS-3 capturados, mas os considerou inadequados para a guerra blindada movimento rápido característica do deserto; aqueles que não foram descartados foram transformados em posições defensivas estacionárias de casamatas na área do rio Jordão.

Tanque pesado IS-3 egípcio capturado no Museu Yad la-Shiryon, Israel.

Bibliografia recomendada:

Soviet T-10: Heavy tanks and variants.
James Kinnear e Stephen L. Sewell.

IS-2 Heavy Tank 1944-1973.
Steven J. Zaloga.

Arabs at War:
Military Effectiveness, 1948-1991.
Kenneth M. Pollack.

Leitura recomendada:


sábado, 7 de novembro de 2020

Chefe do estado-maior indiano não descarta "conflito maior" com a China sobre Ladakh

Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex 360, 7 de novembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 7 de novembro de 2020.

Na região montanhosa de Ladakh, considerada estratégica e atravessada pela Linha de Controle Real (Line of Actual ControlLAC), cuja rota é objeto de uma disputa entre Nova Délhi e Pequim, forças indianas e chinesas se enfrentam desde o mês de maio, ainda mais num ambiente que não é dos mais hospitaleiros. Nos últimos meses, os dois países intensificaram a construção de infraestrutura ali, contribuindo para a situação atual, cada um acusando o outro de buscar melhorar o fluxo de tropas na fronteira.

Assim, tudo começou com uma incursão de 250 soldados chineses na área do lago Pangong Tso, parte do Ladakh indiano reivindicado por Pequim.

Este face-a-face degenerou de fato em junho, no vale de Galwan, com confrontos violentos que resultaram em cerca de quarenta mortes entre soldados indianos (e, sem dúvida, cerca de trinta no lado chinês, sem Pequim ter feito uma avaliação oficial).

Desde então, enquanto cada campo fortalece suas posições, o Exército de Libertação do Povo (PLA) tem estado particularmente ativo. Na verdade, foi relatado que desdobrou equipamento militar recente lá, como o tanque leve Tipo 15 que entrou em serviço em 2018, estabeleceu novas bases aéreas e enviou para Kashgar bombardeiros estratégicos H6 com mísseis de cruzeiro KD-63, suscetíveis de ameaçar os principais centros de decisão indianos.

Ao mesmo tempo, as negociações diplomáticas com o objetivo de acabar com essas tensões estão falhando uma após a outra, com Nova Délhi pedindo um retorno às posições pré-crise. Uma nova reunião - a oitava - ocorreu no dia 6 de novembro de 2020, em Chushul, localidade do distrito de Leh, capital de Ladakh.

No entanto, no mesmo dia, o General Bipin Rawat, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Indianas, descreveu a situação em Ladakh como ainda tensa e que o Exército de Libertação do Povo enfrenta "as consequências imprevistas" da sua "desventura" em Ladakh, que lhe valeu a "resposta firme das forças de defesa indianas". Ele insistiu: "Nossa postura é ambígua: não aceitaremos nenhuma alteração na LAC".

Mas o General Rawat foi ainda mais longe. Embora, disse ele, a "perspectiva de um conflito em grande escala seja improvável", em contraste, confrontos de fronteira, violações da LAC e ações militares táticas "não provocadas" (entenda-se: manobras e movimentos de tropas) provavelmente "se transformarão em um conflito maior". Em todo caso, esse risco não pode ser descartado, insistiu ele durante um evento online organizado pelo National Defense College (Escola Superior de Defesa Nacional).

Tal desenvolvimento poderia resultar em combates em outros pontos da fronteira sino-indiana, como no planalto de Doklam, também objeto de uma disputa entre os dois países, e onde suas respectivas forças se encararam face-a-face tenso em 2017. Isso também pode significar ações em outras áreas de conflito, como o ciberespaço ou espaço, ou mesmo no campo econômico.

Como um lembrete, Índia e China são duas potências nucleares com uma doutrina "sem empregar primeiro". Além disso, Pequim é um aliado próximo de Islamabad, o que pode ter consequências caso a situação em Ladakh piore ainda mais.

Enquanto isso, o general Rawat também enfatizou a necessidade da Índia se tornar auto-suficiente em suprimentos militares (atmanirbhar). “Conforme a Índia se afirma, os desafios de segurança aumentarão proporcionalmente. Devemos nos afastar da constante ameaça de sanções ou da dependência de outras nações para nossas necessidades militares e investir nas capacidades nacionais [...] para ter independência estratégica e poder militar decisivo para responder aos desafios atuais e emergentes”, disse ele.

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O T-14 Armata para a Índia?, 13 de setembro de 2020.

Exército indiano comprará mais 72.000 fuzis de assalto SIG 716 dos EUA, 6 de novembro de 2020.


FOTO: Iraquianos se rendendo a sauditas no Kuwait

Tropas iraquianas emergem de um bunker fortemente protegido para se renderem a soldados sauditas, armados com fuzis HK G3, durante a Operação Tempestade no Deserto no sudeste do Kuwait, 1991. (Laurent Rebours/AP)

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FOTO: Um burro na Tempestade do Deserto

Um sentinela francês da Divisão Daguet acompanha um beduíno, que cavalga em um burro, através do posto de comando divisionário no Iraque, março de 1991.
(Yann Le-Jamtel/ECPAD)

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