terça-feira, 24 de novembro de 2020

PINTURA: Assalto anfíbio soviético nas Ilhas Curilas

"Desembarque nas Ilhas Curilas", pintura do artista russo A.I. Plotnov, 1948.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 24 de novembro de 2020.

Pintura mostrando os fuzileiros navais soviéticos, em seus tradicionais uniformes escuros, assaltando as praias de Shimushu e avançando morro acima contra a resistência japonesa.

Um batalhão de fuzileiros navais russos, com cerca de mil homens, desembarcou na Ilha Shimushu em 18 de agosto de 1945 (três dias depois do anúncio de rendição pelos japoneses) como ponta-de-lança de uma força de 8 mil homens de duas divisões de infantaria reforçadas do Exército Vermelho, como parte dos desembarques nas Ilhas Curilas. Os soviéticos sofreram pesadas baixas diante de um contra-ataque blindado do 11º Regimento de Carros de Combate japonês do Coronel Sueo Ikeda, munido inicialmente de 30 blindados de vários tipos (o regimento possuía 20 carros médios Tipo 97 Shinhoto Chi-Ha (modernizados), 19 carros médios Tipo 97 Chi-Ha e 25 carros leves Tipo 95 Ha-Go), enquanto eles ainda tinham apenas uma companhia desembarcada.

Os soviéticos sofreram baixas iniciais na praia porque ainda não haviam desembarcado os canhões anti-carro; um erro na organização da Força-Tarefa Anfíbia (ForTarAnf) por parte dos soviéticos, que baseavam suas manobras ofensivas no poder de fogo da artilharia. Esse procedimento funcionava perfeitamente nas grandes ofensivas terrestres contra os alemães e depois contra o exército Kwantung na Manchúria, mas não foi adaptado propriamente no desembarque anfíbio, onde a força inicial de desembarque é desprovida desse apoio de fogo - tendo de criar sua força de combate já no desembarque do mar-para-a-terra, que constitui-se da sua linha de partida.

Eventualmente os fuzileiros soviéticos derrotaram o contra-ataque e assaltaram as elevações observando a cabeça-de-praia. O suboficial de primeira classe da infantaria naval soviética Nikolai Aleksandrovich Vilkov e o marinheiro de primeira classe Piotr Ivanovich Ilyichev foram mortos enquanto silenciavam ninhos de metralhadora japoneses em Shumshu em 18 de agosto de 1945, eles foram condecorado postumamente como Heróis da União Soviética.

"A façanha de N.A. Vilkov e P.I. Ilyichev", óleo sobre tela. Heróis póstumos da União Soviética, existem estátuas e bustos de ambos espalhados por cidades russas.

Os demais 8.500 da 91ª Divisão de Infantaria japonesa, com 77 tanques, se engajou em um combate encarniçado de duas horas contra os 8.821 soviéticos. Foi a única batalha da operação onde as baixas soviéticas ultrapassaram as japonesas. Um cessar-fogo foi acordado em 20 de agosto e a ilha Shimushu (ou Shumshu) foi entregue aos soviéticos, mas o choque da resistência japonesa convenceu o alto-comando soviético que Moscou não possuía grandes capacidades anfíbias, e isso cancelou os planos de outros desembarques contra o Japão. Essa foi a última batalha da Segunda Guerra Mundial.

As ilhas foram tomadas, mas os japoneses deram um "soco no nariz" dos soviéticos e o plano de assalto anfíbio contra Hokkaido foi abandonado, pois o almirantado soviético concluiu que suas capacidades anfíbias eram insuficientes. O Japão até hoje reclama a devolução das Ilhas Curilas, e mesmo o tratado nipo-soviético de 1956 não mencionou a soberania soviética sobre as Curilas.

Vídeo recomendado:


Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Caça F-35A faz o primeiro lançamento de uma bomba nuclear de teste B-61-12

Por Carlos Junior
Em 25 de agosto de 2020, um caça de 5º geração F-35A Lightining II da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) fez o primeiro lançamento da nova bomba nuclear B-61-12 durante uma demonstração de lançamento em voo supersônico. A arma foi lançada de dentro do compartimento interno do avião em um local de testes no Estado de Nevada e demonstrando a capacidade de ataque nuclear em configuração stealth e em velocidade supersônica do F-35A. A bomba B-61-12 possui uma ogiva de 50 quilotons (a bomba que explodiu em Hiroshima tinha 15 quilotons) e uma margem de erro de 30 metros, o que representa uma melhoria muito importante sobre as bombas de queda livre anteriores cuja margem de erro circular estava em trono de 150 metros.

FOTO: Chineses do Kuomintang na Birmânia

Tropas do KMT pertencentes às Forças X ou Y, equipadas pelos americanos e britânicos para lutarem na Birmânia, 1944. As tarjetas brancas contém o nome, data de engajamento e a unidade dos soldados, conforme a prática chinesa do período.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 23 de novembro de 2020.

Soldados chineses do Exército Nacional Revolucionário (NRA), do Kuomintang (KMT) de Chigan Kai-shek, dirigem-se ao Cerco de Bhamo em tanques leves M3A3 Stuart de fabricação americana, perto de Bhamo, Estado de Kachin, na Birmânia (Mianmar), em novembro de 1944.

Os dois tanquistas guardando a passagem com submetralhadoras Thompson estão vestindo o macacão de mecânico HBT e o capacete de fibra americanos, típico das tropas blindadas. É provável que eles estejam usando sandálias de palha, como era comum aos chineses - e confortável no calor tropical da Birmânia.


Os soldados são de uma das forças criadas para lutarem na Birmânia, Força X e Força Y (de Yunnan), e treinadas na Índia e Yunnan (uma província ocidental chinesa), e eram as melhores unidades de elite chinesas na guerra. Quando retornaram à China, as unidades das Forças X e Y eram melhor vestidas e melhor disciplinadas, sendo frequentemente confundidas pelos civis chineses por forças estrangeiras e não chinesas. O 1º Novo Exército do KMT era conhecido como "O Primeiro/Melhor Exército sob o Céu", e era considerado a melhor unidade em todo o KMT.

A força blindada chinesa lutando na Birmânia foi equipada com carros de combate leves M3A3 Stuart, carros de combate médios M4A4 Sherman, carros blindados sobre roda de reconhecimento White e transportes sobre lagartas Universal Carrier (Bren Carrier). Seu equipamento e uniforme era um misto de material britânico e americano. As unidades blindadas chinesas da força expedicionária na Birmânia recrutaram em províncias diferentes e foram um dos poucos exemplos de soldados chineses de regiões diferentes lutando juntos.

Bibliografia recomendada:

China's Wars: Rousing the Dragon 1894-1949,
Philip Jowett.

Leitura recomendada:

domingo, 22 de novembro de 2020

Guerras e terrorismo: não se deve errar o alvo

Um soldado francês da Operação Barkhane, em 2016. (Pascal Guyot/ AFP)

Escrito em conjunto, BibliObs, 21 de novembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 22 de novembro de 2020.

EM RESPOSTA À TRIBUNA: A França está sob ataque pelo que é, não pelo que faz, explica aqui um coletivo de sete pesquisadores, em resposta à coluna que publicamos na semana passada.

Por afetar a vida e a morte de nossos concidadãos, o terrorismo exige um debate que diga respeito à toda a comunidade nacional. É para esse debate que o fórum coletivo que surgiu no site "L’Obs" em 14 de novembro tenta contribuir, intitulado "Guerras e terrorismo: sair da negação". Os autores [da Tribuna] defendem uma tese no mínimo simplista: franceses, europeus, ocidentais, seriam os grandes responsáveis pelo que lhes acontece, pois são suas intervenções militares que provocariam, no Oriente Médio, reações violentas, radicalização e enfim atos de terrorismo.

É surpreendente que os autores, em sua maioria não-especialistas no assunto, afirmem certezas tão rústicas em um campo tão contestado cientificamente. Porque, se o debate é plenamente legítimo, também exige ser informado, racional e ansioso por restaurar a complexidade das situações políticas.

Controle de planejamento de ataques

Vamos primeiro acabar com a falsa equivalência moral proposta pelos autores entre assassinatos deliberados de civis de um lado, erros ou "danos colaterais" dos bombardeios, do outro: é tão difundida quanto falsa. Esses danos às vezes são significativos, e só podemos lamentar que qualquer guerra seja acompanhada por vítimas civis.

Em alguns casos, como a Rússia está fazendo na Síria com o apoio do regime de Bashar al-Assad, as populações são alvejadas deliberadamente e cidades inteiras são esmagadas sob tapetes de bombas, na vã esperança de quebrar sua resistência. Se existe "terrorismo aéreo", como parecem pensar os autores da tribuna, é desse lado.

 Mas não é isso que a França está fazendo. Apenas os combatentes e aqueles que participam diretamente das hostilidades são visados. Como tal, o processo de planejamento de ataques é monitorado e sujeito a uma avaliação precisa do risco de danos às populações, hospitais, edifícios religiosos, etc. Nesse sentido, a vantagem militar esperada de um bombardeio é estritamente pesada em relação às perdas civis potenciais que resultariam, conforme prescrito pelo Direito Internacional Humanitário. Se, apesar dessas precauções, crimes de guerra fossem cometidos, a França não deixaria de processar os perpetradores. Caso contrário, a responsabilidade criminal de soldados e oficiais franceses poderia ser levada ao Tribunal Penal Internacional - uma jurisdição que a França, ao contrário de outros, aceitou. Portanto, seremos perdoados se lembrarmos o óbvio: usar a força em um conflito armado, que é complexo por definição, não é ser bombeiro nem incendiário piromaníaco, muito menos os dois.

Vamos então à tese principal da tribuna.

Atingido, mesmo sem intervenção nos países em questão

Historicamente, quando a França foi atingida pelo terrorismo de origem do Oriente Médio, geralmente não houve intervenção nos países em questão: pensamos no terrorismo palestino nos anos 1970, iraniano nos anos 1980, argelino nos anos 1990... O mesmo vale para vários projetos frustrados, como o que visava o mercado de Natal em Estrasburgo em 2000. Para Mohamed Merah, foi a ocupação israelense que "justificou" o assassinato de crianças judias (2012). Quanto aos ataques a "Charlie Hebdo" e o Hyper Cacher (2015), eles nada tiveram a ver com nossos engajamentos militares. O padre Hamel (2016), Xavier Jugelé (2017), as vítimas da estação ferroviária Saint-Charles (2017), ou Samuel Paty (2020), também não foram mortos em nome de uma suposta vingança por Operações exteriores francesas.

O mesmo vale para nossos vizinhos. Os atentados cometidos na Alemanha (2016, 2020) e nos Países Baixos [Holanda] (2018, 2019) seriam devido ao intervencionismo em todos os azimutes de Berlim e de Haia? Os de Estocolmo (2017), Helsinque (2017) e Viena (2020) teriam sido causados pelos bombardeios maciços dos exércitos sueco, finlandês e austríaco? É difícil reconhecer em nossos pacíficos vizinhos os “países cruzados” estigmatizados pelos jihadistas... São, por outro lado, democracias liberais, às vezes atacadas exatamente por isso, por seus valores, conforme ilustrado em particular pelo assassinato de Theo van Gogh em Haia em 2004, depois de dirigir um curta-metragem denunciando a submissão das mulheres no Islã. Além disso, muitas tentativas - em outras palavras, ataques fracassados - têm como alvo Estados que raramente intervêm fora de suas fronteiras, exceto para operações de manutenção da paz; pensamos na Irlanda, Suíça, Finlândia...

Finalmente, devemos novamente e sempre lembrar que mais de 80% das vítimas do jihadismo são muçulmanos porque a grande maioria dos ataques ocorre em países onde o Islã é majoritário. Estas populações ficariam tranquilas ao saber que o risco de terrorismo está ligado ao intervencionismo militar do seu governo... Infelizmente para elas, não é o caso, como compreenderam às suas custas as famílias dos 50 civis moçambicanos, principalmente adolescentes, que foram decapitados e esquartejados no início deste mês (artigo).

Na outra direção, a equação é igualmente duvidosa.

Reversão de causalidade

É claro que podemos discutir a eficácia das intervenções militares nas quais a França participa, mas no estado atual do nosso conhecimento científico, não há evidências tangíveis de que o uso da força armada em um teatro externo gere ou exacerbe o terrorismo jihadista, que recordamos é um fenômeno globalizado, do qual a França, infelizmente, não é a única vítima. Em geral, esses processos de entrada na violência terrorista são por definição complexos: torná-los uma reação apaixonada à dominação das potências ocidentais constitui, na melhor das hipóteses, uma forma de ingenuidade, na pior, uma forma de condescendência. Esses movimentos não esperaram que as intervenções francesas se organizassem e agissem determinando sua própria agenda.

Fazer dessas intervenções uma das principais causas do terrorismo é reverter a causalidade.

Não teria havido nenhuma intervenção significativa do Ocidente no Afeganistão ou na Síria sem a ascensão da Al-Qaeda e do Daesh. A principal operação estrangeira atualmente liderada pela França, apoiada por vários outros países, incluindo muitos atores regionais, está ajudando a proteger uma população 90% sunita dos abusos de grupos terroristas armados. A intervenção no Mali, Estado-membro da Organização da Conferência Islâmica, foi iniciada a pedido do seu governo, em plena conformidade com o direito internacional. Não apenas é duvidoso que as intervenções militares irão gerar um "novo" terrorismo, mas, neste caso, elas pretendem acabar com as franquias islâmicas cujos crimes atingem principalmente as comunidades muçulmanas locais.

Também é errar sobre as condições para o desenvolvimento de redes jihadistas.

O nascimento dos principais movimentos jihadistas como Al-Qaeda e Daesh foi principalmente devido à dinâmica regional e conflitos dentro do Islã político. Assim, a Al-Qaeda não é o produto inevitável das intervenções ocidentais: é a presença americana na Arábia Saudita que era intolerável para Osama bin Laden, muito mais do que as intervenções militares dos Estados Unidos. O mesmo vale para o Daesh. É claro que existe um nexo causal entre a invasão do Iraque - que, convém lembrar, a França se opôs - e seu surgimento, mas sua afirmação no cenário internacional não foi escrita. Porque sem a dissolução do exército iraquiano e do Partido Baath, e sem os dez anos de governo sectário do primeiro-ministro xiita Nouri Al-Maliki, o crescimento surpreendente desta organização não teria ocorrido. E uma das principais fontes de terroristas na Síria foi Bashar al-Assad, que não hesitou em libertar milhares de jihadistas das prisões de Damasco para atiçar a guerra civil. Lembremos, além disso, que os regimes autoritários da região não estão alheios ao surgimento do terrorismo dentro deles: na ausência de qualquer fôlego democrático, favorecem o surgimento das formas mais radicais de protesto e facilitam a passagem à violência.

Reivindicação de oportunidade

As ligações causais diretas entre as intervenções militares e as ações terroristas são raras, frequentemente indiretas e tênues e, na maioria das vezes, oportunistas.

Os ataques justificados por campanhas militares ocidentais - como as de Londres em 2004 ou Madrid em 2005 - são mais a exceção do que a regra. Acima de tudo, essa "justificativa" pode ser uma exigência de expediente, com a função de aumentar a divergência sobre a legitimidade de uma operação militar. Na demanda por um ataque, o discurso de "vingança" contra os "descrentes" pode de fato constituir um elemento de propaganda de grupos jihadistas com o objetivo de alimentar divisões nas sociedades democráticas.

No comunicado de imprensa reivindicando o ataque do Bataclan, tratava-se, portanto, de uma ligação com nossas ações no Iraque e na Síria, o Daesh alegando ter agido porque a França teria "se gabado (...) de atingir os muçulmanos na terra do Califado com seus aviões”. No entanto, esta foi apenas uma justificativa entre muitas. Sobretudo, ao insistir no fato de que Paris é "a capital das abominações e da perversão", que os espectadores do Bataclan estiveram em "uma festa de perversidade", que a França foi golpeada porque "ousou insultar nossos Profeta”, o comunicado de imprensa mostrou que a França foi antes de mais nada visada por seus valores, os de uma democracia liberal protegendo a liberdade de expressãoFinalmente, o Daesh estava tentando nos aprisionar em uma escolha diabólica: a de nos submeter à sua lei mortal ou, ao contrário, de provocar uma intervenção no terreno para fechar sobre nós uma "armadilha afegã".

Em outras palavras, esse discurso de "vingança" pode ser um elemento de propaganda de grupos jihadistas com o objetivo de alimentar divisões nas sociedades democráticas. É importante não cair na armadilha.

Supervisão parlamentar insuficiente, mas não inexistente

Por fim, dizer que na França, o Parlamento "só precisa ficar em silêncio" é um exagero grosseiro. A França certamente não tem a mesma tradição parlamentar de alguns de seus vizinhos e aliados, e é isso que lhe permite agir rapidamente quando necessário, em resposta ao pedido das autoridades do Mali em 2013, por exemplo. No entanto, desde a reforma constitucional de 2008, existe um procedimento de informação e acompanhamento do Parlamento sobre estas intervenções militares: o governo tem a obrigação de informar o mais tardar três dias após o início da operação e deve especificar os objetivos perseguidos. Além disso, a autorização parlamentar é necessária se a intervenção exceder quatro meses. Nos últimos doze anos, a Assembléia Nacional falou sete vezes - para não falar dos muitos relatórios parlamentares publicados sobre questões de defesa. Pode-se considerar que esse controle parlamentar é insuficiente, mas também não é inexistente.

Nosso país é um objetivo prioritário para os movimentos jihadistas porque é o lar da maior população muçulmana da Europa e porque incorpora valores republicanos e democráticos que eles odeiam. Os jihadistas são, em primeiro lugar, os inimigos do modelo liberal. A França é bem atacada pelo que é, não pelo que faz. A cessação das operações militares estrangeiras não mudaria este desejo de destruir regimes que permitiram a emancipação social, política e econômica, embora imperfeita, das sociedades ocidentais. Se o terrorismo jihadista reage a alguma coisa, é muito mais ao legado do Iluminismo do que a intervenções militares que constituem uma forma - imperfeita e insuficiente - de reduzir a ameaça.

É necessária introspecção sobre a relevância de nossas escolhas estratégicas. Todos podem fazer sua parte. Mas é importante fazer isso sem ignorar os fatos mais básicos, com lucidez e sem preconceitos motivados por vieses ideológicos.

Autores:

  • Delphine Deschaux-Dutard (mestre de conferências da Universidade de Grenoble Alpes),
  • Julian Fernandez (professor da Universidade de Paris 2),
  • Beatrice Heuser (professora da Universidade de Glasgow),
  • Jean-Vincent Holeindre (professor da universidade Paris 2),
  • Jean-Baptiste Jeangène Vilmer (diretor do Instituto de Pesquisa Estratégica da Escola Militar),
  • Jenny Raflik Grenouilleau (professora da Universidade de Nantes),
  • Bruno Tertrais (vice-diretor da Fundação para a Pesquisa Estratégica).

Bibliografia recomendada:

Estado Islâmico:
Desvendando o Exército do Terror.
Michael Weiss e Hassan Hassan.

Submissão.
Michel Houellebecq.

O Mundo Muçulmano.
Peter Demant.

Leitura recomendada:


A Turquia recorre a empresas sul-coreanas para salvar a produção do seu tanque Altay

 

Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex 360, 21 de novembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 21 de novembro de 2020.

Em 2015, a Rádio e Televisão Turca (TRT) foi inflexível que o carro de combate "Altay" seria o "mais moderno do mundo". Então, três anos depois, o governo turco anunciou que sua produção seria confiada ao grupo BMC, às custas da Otokar, que, no entanto, tinha garantido o seu desenvolvimento. Além disso, foi assinado um pedido de um primeiro lote de 250 unidades, com primeiras entregas previstas para 2020. Além disso, o Catar manifestou a intenção de adquirir cerca de 100 unidades.

Tendo que exibir uma massa de combate de 65 toneladas e estar equipado com um canhão MKEK de 120 mm de alma lisa, tratou-se então de equipar o Altay com uma blindagem reativa, uma unidade optrônica telescópica YAMGOZ para vigilância 360º, um sistema de detecção de início de tiro e um kit de detecção laser.

Só que um tanque pode se apresentar como o mais moderno do mundo, se não tiver motor, ele é tão útil quanto um vaso de flores. E é exatamente isso que falta ao Altay.

Por um tempo, a Turquia considerou uma colaboração com o Japão para desenvolver um motor de tanque, com o grupo Mitsubishi Heavy Industries sendo abordado para formar uma joint venture com um parceiro industrial turco para esse fim. Mas esse projeto não se concretizou. Por fim, dois grupos alemães foram convocados: MTU para um motor turbo-diesel de 1.500 cavalos e Renk para a transmissão. E para sua blindagem composta baseada em carboneto de boro, os fabricantes franceses foram abordados.

Soldados turcos assistem a um tanque Leopard 2A4 disparar contra posições duma milícia curda em Ras al-Ain, no norte da Síria, em 28 de outubro de 2019.

Só que a política seguida nos últimos meses pelo presidente Erdogan tornou a produção de tanques Altay mais complicada. Na verdade, a Alemanha decidiu embargar todos os sistemas que podem ser usados pelas forças turcas no norte da Síria. O que, portanto, envolve motores MTU e transmissões HSWL 295 TM da Renk. E, devido às suas relações execráveis com a França, a Turquia deve encontrar outros fornecedores para a blindagem.

"Este programa enfrenta atrasos significativos devido ao acesso malsucedido a componentes importantes como o motor, a transmissão e a blindagem", admitiu um oficial turco ao Defense News. “Não posso dar uma data para o início da produção em série. Tudo o que sei é que estamos tentando fazer as coisas", acrescentou.

De fato, já que não há como abandonar um programa tão emblemático, Ancara está procurando outros parceiros. E como o Altay é inspirado no tanque sul-coreano K2 Black Panther (Pantera Negra), a solução mais lógica é recorrer a Seul e, mais especificamente, à Hyundai Rotem. Além disso, as relações entre as duas capitais são boas, a indústria turca, por exemplo, fabricou sob licença os obuses K9 Thunder do Grupo Samsung.

Disparo de um K2 Black Panther (Pantera Negra) sul-coreano, outubro de 2020.

Em qualquer caso, de acordo com o Defense News, a BMC está em negociações com dois subcontratantes da Hyundai Rotem, incluindo a Doosan para os motores e a S&T Dynamics para os sistemas de transmissão. "Esperamos que essas discussões resolvam os problemas", disse Altay, uma fonte da indústria turca à revista americana. A priori, a situação poderá estabilizar-se dentro de alguns meses, ou seja, quando se chegar a um terreno comum em termos de licenças.

No entanto, essa solução não é ideal. Muito simplesmente porque a transmissão dos primeiros tanques K2 Pantera Negra entregues às forças sul-coreanas não se mostrou à altura da tarefa. Tanto que, para os lotes seguintes, foi finalmente substituído por um modelo fornecido pela… Renk.

Enquanto isso, o Ministério da Defesa turco não tem escolha a não ser modernizar os tanques atualmente em serviço. Recentemente, a proteção do Leopard 2A4 foi reforçada [o que aumentou sua massa em 7 toneladas]. E o M60 Patton, projetado nas décadas de 1950/60, cada um recebeu um kit de proteção ativa “PULAT”, desenvolvido pela Aselsan.

Bibliografia recomendada:

TANKS:
100 Years of Evolution,
Richard Ogorkiewicz.

Leitura recomendada:

A luta da Turquia na Síria mostrou falhas nos tanques alemães Leopard 226 de janeiro de 2020.

Modernização dos tanques de batalha M60T do exército turco completos com sistema de proteção ativo incluído14 de julho de 2020.

O M60 Patton dos EUA é um matador confiável, mas sua velha blindagem é vulnerável15 de setembro de 2020.

Ministro da Síria chama Turquia de principal patrocinador do terrorismo na região28 de setembro de 2020.

FOTO: A Pantera Negra rugindo20 de outubro de 2020.

VÍDEO: Visão panorâmica do K2 Black Panther em ação9 de novembro de 2020.

sábado, 21 de novembro de 2020

VÍDEO: Ascensão da Stasi na Alemanha Oriental

 

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

VÍDEO: A vida na Alemanha Oriental 1945-198923 de outubro de 2020.

PINTURA: A Cavalaria Aérea americana em Ia Drang

"A Batalha do Vale de Ia Drang, 1965. Forças americanas na zona de lançamento X-Ray", por Balázs Petheő (2019).

Bibliografia recomendada:

Vietnam Airmobile Warfare Tactics.
Gordon L. Rottman e Adam Hook.

Leitura recomendada:

FOTO: Pacificadores russos no Nagorno-Karabakh

Soldados russos próximos a uma igreja apostólica armênia na região de Dadivank, novembro de 2020.

A Rússia desdobrou 2 mil soldados no Nagorno-Karabakh em 2020, após a guerra entre a Armênia e o Azerbaijão. Fotografados estão soldados armados com fuzis AK-74M e transportes blindados BTR.



Bibliografia recomendada:

The Modern Russian Army 1992-2016.
Mark Galeotti e Johnny Shumate.

Leitura recomendada:


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

FOTO: Salto livre da Companhia Esclarecedora 17 do Exército Suíço


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 20 de novembro de 2020.

Instrutores da Fernspähkompanie 17 (Companhia de Esclarecedores Remotos 17) do Exército Suíço preparando-se para um salto em Locarno, 1996. A Fernspähkompanie 17 é uma unidade seleta de reconhecimento especial do Exército Suíço, que mantém um esqueleto de unidade, com 5 instrutores profissionais, e trabalha em conjunto com clubes civis de paraquedismo da Confederação Suíça. Os operadores são conscritos e reservistas. O nome atual da unidade é Fallschirmaufklärer Kompanie 17 (Companhia de Esclarecedores Paraquedistas 17).

O avião usado no salto é um Pilatus da Esquadrilha de Transporte Aéreo 7, enquanto os paraquedistas estão equipados com o capacete de salto Guénau e o pára-quedas MT1-XX, padrão para a unidade na época para os saltos livres, com o pára-quedas T-10 utilizado nos saltos automáticos.

As fotos foram tiradas pelo falecido Yves Debay; famoso militar, mercenário, escritor e correspondente-de-guerra morto na Síria em 2013.


Bibliografia recomendada:

World Special Forces Insignia.
Gordon L. Rottman.

A ilustração B5 representa um paraquedista da Fernspähkompanie 17 com o capacete Guénau.

Leitura recomendada:

FOTO: Salto noturno na chuva, 26 de setembro de 2020.

FOTO: General paraquedista, 2 de outubro de 2020.


O primeiro salto da América do Sul13 de janeiro de 2020.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Austrália admite que membros de suas forças especiais cometeram abusos no Afeganistão

Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex 360, 19 de novembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 19 de novembro de 2020.

Demorou quatro anos para o Ministério da Defesa australiano admitir que comandos de suas forças especiais cometeram abusos durante seu engajamento no Afeganistão, precisamente entre 2006 e 2013.

Na verdade, na sequência de um relatório sobre as forças especiais escrito pela socióloga Samantha Crompvoets e a publicação dos "Arquivos Afegãos" ("Afghan Files") pelo canal público ABC em 2017, o que levou a dois jornalistas a serem suspeitos de terem tido em suas mãos informações confidenciais, uma investigação sobre as ações das Forças Especiais australianas foi iniciada sob a liderança do general da reserva Paul Brereton, também juiz do Tribunal de Apelação de Nova Gales do Sul.

Este último acaba de tirar suas conclusões em um volumoso relatório [.pdf], cuja parte pública foi amplamente redigida. Mas o fato é que esta investigação, que exigiu o exame de 20.000 documentos, 25.000 imagens e o interrogatório de 423 testemunhas sob juramento, é devastadora.

De acordo com este relatório, membros das forças especiais australianas são responsáveis ​​pela morte de 39 civis afegãos em 23 incidentes separados. “Nenhuma das mortes ocorreu no calor da batalha: todas ocorreram em circunstâncias que [...] poderiam ser qualificadas por um júri como crimes de guerra” e “todas as vítimas eram não-combatentes ou prisioneiros ”, diz ele.

O documento enfatiza práticas chocantes, como a conhecida como “sangramento” ("blooding"), que consiste em ordenar a jovens soldados subalternos que atirem em prisioneiros em uma espécie de rito de iniciação. Outra era colocar munição ou equipamento não utilizado pelas forças australianas perto dos cadáveres de civis para sugerir que eles haviam sido mortos por serem um "alvo legítimo".

Um total de 25 comandos australianos estiveram envolvidos nesses casos. E alguns ainda estão em serviço.

Em 19 de novembro [de 2020], o General Angus Campbell, Chefe do Estado-Maior das Forças Australianas, se desculpou por tal comportamento.

"Ao povo do Afeganistão, em nome da Força de Defesa Australiana, peço desculpas sinceramente e de todo o coração por qualquer ato repreensível dos soldados australianos", disse o general Campbell.

“Algumas patrulhas desrespeitaram a lei, regras foram quebradas, histórias inventadas, mentiras contadas e prisioneiros mortos”, ele então admitiu, antes de acusar os responsáveis por tais atos de terem lançado uma "mancha" em sua unidade.

“Este vergonhoso número de mortos inclui supostos casos em que novos membros da patrulha foram forçados a atirar em um prisioneiro para efetuar sua primeira morte, em uma prática terrível conhecida como 'sangramento'”, deplorou ainda o General Campbell.

“Ao povo australiano, lamento sinceramente todos estes atos condenáveis cometidos por membros das forças de defesa australianas”, insistiu, antes de frisar que a maioria dos comandos “não optou por seguir esta rota ilegal".

"Estou muito preocupado com a ocorrência desses problemas", disse o General Campbell. “Eles são extremamente prejudiciais para uma organização e para o futuro de uma organização como a Força de Defesa Australiana". Ele acrescentou: "Deixo todas as opções sobre a mesa e quero resolver os problemas caso a caso".

Isso significa que não está excluído que ação penal será movida contra os comandos para os quais evidências suficientes foram reunidas para qualificar suas ações. Eles são 19 neste caso.

No entanto, o relatório do General Brereton insiste no fato de que esses abusos são consequência de uma "cultura de guerreiros egocêntricos" no seio da unidade em questão, neste caso o 2º Esquadrão SAS (Serviço Aéreo Especial), com superiores "considerados por seus subordinados como semideuses", o que complicou ainda mais a investigação, sendo a omerta (a lei do silêncio da máfia) a regra.

Portanto, o relatório argumenta que o problema decorre de um "foco mal colocado no prestígio" que distraiu os comandos dos valores tradicionais das forças especiais australianas. Além disso, desdobramentos repetidos por um período prolongado apenas promoveram essa tendência. Tendência observada em outras unidades especiais, principalmente nos Estados Unidos, conforme destacado em relatório divulgado em janeiro pelo Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos (USSOCOM).

Enquanto aguarda as consequências jurídicas deste caso, o General Campbell anunciou a dissolução do 2º Esquadrão SAS, que será substituído por uma nova unidade, com outro nome e uma cultura de comando diferente.

Por sua vez, o primeiro-ministro australiano Scott Morrison disse ao presidente afegão Ashraf Ghani sobre sua "profunda tristeza pela má conduta de certas tropas australianas no Afeganistão" e garantiu que as investigações seriam conduzidas para fazer justiça.

Bibliografia recomendada:



Leitura recomendada:

COMENTÁRIO: As Forças Especiais ainda são especiais?6 de setembro de 2020.