sexta-feira, 23 de abril de 2021

Um cão do Comando Kieffer foi condecorado postumamente com a maior homenagem da Grã-Bretanha para animais


Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex360, 23 de abril de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 23 de abril de 2021.

Criada em 1943 por iniciativa de Maria Dickin, fundadora do Dispensário do Povo para Animais Doentes (People’s Dispensary for Sick AnimalsPDSA) durante a Primeira Guerra Mundial, a Medalha Dickin é a mais alta condecoração militar britânica concedida aos animais por suas ações em combate. Até o momento, já foi concedida 72 vezes, o último a recebê-la sendo Kuno, um pastor Malinois que se destacou durante um ataque noturno no Afeganistão contra combatentes da Al-Qaeda pelo Special Boat Service (SBS), a unidade de forças especiais da Marinha Real britânica.

Em 23 de abril, Leuk, outro pastor Malinois que serviu na divisão K9 do comando naval Kieffer (forças especiais da marinha francesa), receberá, postumamente, esta distinção britânica por seus "atos" que "sem dúvida salvaram as vidas de membros de sua unidade em várias ocasiões” no Sahel, disse Jan McLoughlin, diretor-geral do PDSA.

Nascido em 2013, Leuk, apelidado de "Lucky Leuk", foi treinado por dois anos antes de ser confiado ao Mestre "Forest", um suboficial do Comando Kieffer.

Em abril de 2019, ele expulsou jihadistas escondidos na vegetação densa. “Naquela altura, estávamos tão perto do inimigo que não havia mais apoio possível. O inimigo claramente nos avistou. Assim, apesar de todos os meios tecnológicos de que dispomos, o único que realmente nos pôde fornecer informações foi Leuk", testemunha o mestre "Forest" num vídeo carregado online pelo PDSA. E fez melhor do que isso porque, apesar do fogo, permitiu que sua unidade se aproximasse dos terroristas e "neutralizasse a ameaça".


Em outra missão, Leuk "atacou ferozmente o inimigo que estava armado e graças a isso posso falar com vocês hoje", testemunhou o Mestre "Forest". Infelizmente, um mês depois, a sorte o abandonaria: ele foi morto por um jihadista. No vídeo, durante seu repatriamento para a França, seus restos mortais são vistos, cobertos com a bandeira tricolor e saudados por uma guarda de honra.

Antes de Leuk, o cão Diesel, morto no ataque do RAID contra terroristas envolvidos nos ataques de 13 de novembro de 2015, foi premiado com a Medalha Dickin.

Observe que, na França, a Société Centrale Canine entregará seus “Troféus de cães heróis" ("Trophées des chiens héros") no dia 21 de setembro. “O objetivo deste evento nacional é destacar a ajuda e o apoio que os cães prestam ao ser humano em muitas áreas, e homenageá-los publicamente pelo trabalho que realizam diariamente ao nosso lado”, especifica.

Em 2019, o cão Ice, do Comando Paraquedista Aéreo nº 10 (Commando Parachutiste de l’Air n°10, CPA 10) foi agraciado com a medalha "cão de intervenção" pela sua atitude "excepcional" no Mali.

Ice, do CPA 10, com a medalha "cão de intervenção" ("chien d’intervention").

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:


O Leclerc na Jordânia

O rei Abdullah II posando com os Leclerc durante o exercício Cidadela de Saladino, 19 de outubro de 2020.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 23 de abril de 2021.

O Reino da Jordânia é o mais novo operador dos carros franceses Leclerc e fez a sua primeira manobra com os novos tanque no exercício Qaleatan Salah al-Diyn (Cidadela de Saladino/Salad al-Din), com a presença de sua majestade real Abdullah II bin Al-Hussein, em 19 de outubro de 2020.

O MBT Leclerc leva o nome do General Philippe Leclerc de Hauteclocque, conquistador do forte de Kufra e libertador de Paris e Estrasburgo na Segunda Guerra Mundial. Seu novo nome no Exército Jordaniano é Zayed.

O rei Abdullah II inspecionando a torre de um Leclerc, 19 de outubro de 2020.

Os carros Leclerc jordanianos durante o exercício, 19 de outubro de 2020.

Conforme noticiado pela primeira vez pelo blog Blablachars em 15 de setembro de 2020, a Jordânia recebeu uma doação de 80 carros de combate principais Leclerc do seu "primo rico", os Emirados Árabes Unidos. Esse número de tanques permitiu ao Reino Haxemita, sediado em Amã, equipar dois dos seus quatro batalhões de tanques no Comando Central do exército jordaniano. Com um efetivo estimado de 13-15 mil homens, o Comando Central Jordaniano é uma grande unidade de armas combinadas contendo duas brigadas blindadas:
  • 40ª Brigada Blindada "Rei Hussein" 
    • 2º Batalhão de Tanques Real
    • 4º Batalhão de Tanques "Príncipe Ali Bin Al Hussein"
  • 60ª Brigada Blindada "Príncipe Hassan"
    • 3º Batalhão de Tanques Real
    • 5º Batalhão de Tanques Real
Essas duas brigadas foram transferidas da antiga 3ª Divisão Blindada "Rei Abdullah II", criada em 1969 e dissolvida na reorganização de 2018. Todas essas unidades estão equipadas com tanques mais antigos, como o Tariq (Centurion), o M60A1, o Al-Khalid (Chieftain) ou o Al-Hussein (Challenger 1).

Insígnia de ombro do Comando Central jordaniano.

Organograma do Comando Central jordaniano.
O Comando Central controla unidades regionais do Mar Morto ao Rio Zarqa ao norte de Salt. O atual chefe do Comando Central é o Brigadeiro-General Adnan Ahmed Al-Raqqad.

Pelo menos quatro tanques Leclerc podem ser vistos em ação no exercício, ao lado de obuseiros M109, tanques M60 Patton, sistemas de artilharia WM-120 MRLS de fabricação chinesa e veículos ZSU-23 -4 Shilka de origem soviética.

Em paz com Israel, porém, a Jordânia continua confrontada com um ambiente instável com a Síria e o Iraque, países com muitos tanques, alguns deles de última geração como o T-90. A abordagem dos Emirados Árabes Unidos certamente favorecida pelas relações entre os líderes dos dois países também se beneficiou da normalização das relações entre Jerusalém e Abu Dhabi, empreendida durante vários meses e materializada pelo recente acordo entre os dois países.

“Pela primeira vez, o tanque Leclerc [Zayed] foi usado no exercício. Entrou em serviço este ano [de 2020], graças às relações fraternas e estratégicas entre a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos, como complemento qualitativo das armas e equipamentos usados ​​pelas Forças Armadas”, explicou o Ministério da Defesa da Jordânia, em nota publicada em 19 de outubro por ocasião da chegada do Rei Abdullah II ao campo de manobras.

 Teoricamente, tal transferência, cujos detalhes são desconhecidos, teve que receber o consentimento da França. Isso não deveria ser um problema, dadas as boas relações entre Paris e Amã. O fortalecimento das relações de defesa entre os dois países foi inclusive recentemente mencionado em relatório do Senado, devido ao estabelecimento na Jordânia da base aérea H5, utilizada pela força francesa Chammal para suas operações no Levante contra o Estado Islâmico.

Recorde-se que os Emirados Árabes Unidos foram os únicos clientes de exportação do Leclerc, com uma encomenda de 388 unidades, completadas por 46 tanques de recuperação DNG/DCL, assinada em 1992 pela GIAT Industries (Nexter Systems), sob a égide de Pierre Joxe, então Ministro da Defesa, por uma quantia de 21 bilhões de francos (3 bilhões de euros); tornando-se o maior operador do Leclerc.

As forças terrestres emiráticas receberam seu primeiro Leclerc em uma versão tropicalizada em 1994. Desde então, eles engajaram entre 70 e 80 exemplares no Iêmen, onde causaram uma impressão tão boa que, segundo Stéphane Mayer, CEO da Nexter, algumas autoridades do Oriente Médio expressaram interesse em obtê-lo. E um boato sobre uma possível encomenda saudita - importante - circulava na época (porém, para atender a essa demanda, teria sido necessário relançar as cadeias produtivas).

Bibliografia recomendada:

TANKS:
100 Years of Evolution,
Richard Ogorkiewicz.

Leitura recomendada:

Por que o Leclerc continuará sendo um dos melhores tanques do mundo6 de abril de 2021.

FOTO: Assalto em avião no KASOTC4 de janeiro de 2021.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

70 anos atrás, o batismo de fogo na Coréia para o Corpo de Voluntários Belga-Luxemburguês


Por Pierre Brassart, À l'Avant-Garde, 22 de abril de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 22 de abril de 2021.

O batalhão belga-luxemburguês se destacou em três grandes batalhas: Imjin, Haktang-Ni e Chatkol.

A guerra havia estourado quase um ano antes, em 25 de junho de 1950, com a invasão da Coréia do Sul pelos exércitos norte-coreanos. Seul é tomada três dias depois. A ONU reage, o exército americano se desdobra e assume a liderança da coalizão com o apoio da ONU. A Bélgica decide em 25 de agosto de 1950 enviar uma força expedicionária que só pode ser composta por voluntários (a Constituição impede o envio de milicianos). Mais de 2.000 candidatos se apresentaram. Em 18 de setembro de 1950, começaram as primeiras sessões de treinamento para oficiais e suboficiais. No início de outubro, cerca de 700 voluntários se foram para Bourg-Léopold para formar o batalhão que recebeu o nome oficial de Corpo de Voluntários para a Coréia. Um pelotão luxemburguês se juntará ao batalhão logo depois.

Jipe com metralhadora do batalhão belga-luxemburguês na Coréia. (Coleção do padre Vander Goten)

Em 18 de dezembro de 1950, o batalhão deixou a Bélgica a bordo do mítico Kamina e chegou à Coréia em 31 de janeiro de 1951. Em 20 de abril, o batalhão posicionou-se no rio Imjin, a cerca de trinta quilômetros de Seul. Ele foi então vinculado a uma brigada britânica. Apenas dois dias depois, em 22 de abril, no início da noite, uma patrulha belga entrou em combate com o inimigo a dois quilômetros das posições do batalhão. O inimigo parece estar tentando se infiltrar. Às 3h da manhã, um primeiro ataque frontal foi lançado pelos chineses, mas falhou. As várias companhias do batalhão caem sob ataque. Uma seção enviada para reconhecimento é emboscada e 6 homens são capturados (seus corpos serão encontrados em maio, quando as posições chinesas serão reconquistadas). Na manhã do dia 23, um pelotão de tanques americanos foi enviado como reforço para permitir que as tropas belgas recuassem pra novas posições.

O dia 24 de abril foi relativamente calmo para os soldados, principalmente se comparado ao de seus camaradas britânicos que sofreram pesadas perdas, principalmente o 1º Batalhão do Regimento de Gloucestershire (Glosters) que, isolado em uma colina, viu 56 de seus homens serem mortos e mais de 500 foram feitos prisioneiros. Em 25 de abril, o alto comando ordenou que toda a brigada fosse retirada para uma nova posição defensiva. No final da batalha, o batalhão belga deplora doze mortos e trinta feridos.


As tropas aliadas, que somavam mais ou menos 4.000 homens, enfrentaram três divisões chinesas, totalizando quase 24.000 soldados. Estavam, portanto, lutando 1 contra 6. O assalto ao rio Imjin fazia parte da ofensiva de primavera planejada pelo exército chinês que, entre outras coisas, tinha o objetivo de retomar Seul e expulsar as forças da ONU da península. A resistência no rio Imjin impediu um avanço da linha de frente chinesa e permitiu que as forças da ONU se organizassem para estabelecer uma nova linha de defesa e conterem a ofensiva chinesa.

Apenas 3.171 belgas e 78 luxemburgueses lutaram na Coréia até 1953, onde quase cem morreram e 478 ficaram feridos. O interesse neste conflito permanece limitado na Bélgica. Somente em 1996 os veteranos desta guerra obtiveram o reconhecimento nacional do Ministro da Defesa.

Jipes belgas na Coréia.
(Coleção do padre Vander Goten)

Bibliografia recomendada:

Bérets Bruns en Corée 1950-1953.
General A. Crahay.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Pela primeira vez, o Exército Francês está experimentando mulas-robô em uma operação estrangeira

Teste da mula-robô Robopex GACI com o 1º Regimento de Tirailleurs antes do desdobramento na Operação Barkhane, 20 de outubro de 2020.

Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex360, 20 de abril de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 20 de abril de 2021.

Em outubro de 2020, ficou implícito que o 1º Regimento de Tirailleurs (1er Régiment de Tirailleurs, 1er RTir) seria a primeira unidade do Exército a usar robôs "mulas" durante uma operação externa, neste caso, no Mali, onde formaria o espinha dorsal do Grupamento Tático do Deserto (Groupement tactique Désert, GTD) "Lamy". Em qualquer caso, ele havia se preparado para isso antes de sua "projeção" no Sahel. Porque, afinal, e por um motivo que não foi especificado, não foi esse o caso.

Com efeito, neste 20 de abril, o Exército indicou que "quatro mulas drones terrestres" tinham acabado de chegar "à plataforma operacional do deserto de Gao" (plateforme opérationnnelle désert de Gao, PfOD), para serem objeto de um experimento no seio do GTD "Bison", armado pelo 126º Regimento de Infantaria (126e Régiment d’Infanterie, 126e RI) e reforçado pelo 2º Regimento de Infantaria de Tropas Navais (2e Régiment d’Infanterie de Marine, 2e RIMa), o Regimento de Infantaria de Tanques de Tropas Navais (Régiment d’Infanterie Chars de Marine, RICM), o 6º Regimento de Engenheiros (6e Régiment du Génie, 6e RG) e o 11º Regimento de Artilharia de Fuzileiros Navais (11e Régiment d’Artillerie de Marine, 11e RAMa).

"Esta é a primeira vez que o exército francês experimenta drones terrestres em operações ao ar livre", disse o chefe de batalhão Jean-Charles, líder da equipe do projeto "Battle Lab Terre".

O fato de um robô mula ser desdobrado em Gao não é sem precedentes, no entanto. O destacamento de infantaria da Estônia usou o THeMis da Milrem Robotics lá por vários meses. E o feedback tem sido muito positivo, a máquina percorreu 1.200km em mais de 330 horas de operação, em condições muito difíceis (terreno abrasivo, temperaturas de + 50ºC).

O modelo que será utilizado pelo GTD Bison é o Robopex GACI, um robô oferecido pela SME GACI Rugged Systems, associada à israelense Roboteam. Esta escolha, que surpreendeu em relação a outros possíveis candidatos, rendeu-se a críticas. E Emmanuel Chiva, diretor da Agência de Inovação em Defesa (Agence de l’Innovation de la Défense, AID), teve que se explicar.


“Lançamos um concurso europeu para adquirir um robô e testá-lo em operação. A PME que venceu a competição não é israelense, mas 100% francesa. Ela se ofereceu para montar componentes mecânicos e eletrônicos de origem israelense na França, da mesma forma que uma empresa usa componentes de origem chinesa para montar um computador. Portanto, não se pode dizer que temos um robô israelense”, argumentou Chiva, observando que o custo foi decisivo, já que se tratava, então, de experimentar um conceito.

O Robopex é capaz de transportar 750kg de carga por oito horas, a uma velocidade de 8km/hora. Isto deverá permitir “reduzir o cansaço físico dos combatentes, libertando-os de parte dos seus equipamentos ou das suas bagagens”, espera o “Battle Lab Earth”. Trata-se de solicitar as quatro unidades destacadas para missões logísticas e de assegurar a ligação entre dois grupos distantes. “Suas câmeras a bordo permitem que o operador controle remotamente o robô fora da vista usando feedback de vídeo de seu controle remoto”, diz ele.

O desafio é ver se essas mulas-robô atendem às necessidades da força Barkhane em um teatro "tão exigente" quanto o Sahel. Mais será conhecido até o final do mandato do GTD Bison, em três meses.

Bibliografia recomendada:

Conquêtes (1): Islandia

Leitura recomendada:

GALERIA: Mulas ou Blindados?, 12 de abril de 2021.


FOTO: Robô exterminador, 28 de fevereiro de 2021.

O presidente do Chade, Idriss Deby, morreu em combate na linha de frente

O presidente do Chade, Idriss Deby, chega a uma cúpula na cidade de Pau, no sul da França, em 13 de janeiro de 2020. (Regis Duvignau / AFP)

Da France 24, 20 de abril de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 20 de abril de 2021.

Os rebeldes juram continuar lutando.


O presidente do Chade, Idriss Deby Itno, morreu no campo de batalha após três décadas no poder, anunciou o Exército chadiano na televisão estatal na terça-feira. Os rebeldes que lançaram a ofensiva contra o regime rejeitaram o governo de transição liderado por um dos filhos de Deby e prometeram prosseguir na ofensiva.

“Rejeitamos categoricamente a transição”, disse Kingabe Ogouzeimi de Tapol, porta-voz da Frente para Mudança e Concórdia no Chade (Front pour l’alternance et la concorde au Tchad, FACT) na terça-feira, 20 de abril. “Pretendemos prosseguir na ofensiva.” Um funeral de estado para Déby será realizado na sexta-feira, disse a presidência. O anúncio surpreendente sobre a morte do presidente veio poucas horas depois que as autoridades eleitorais declararam Déby, 68, o vencedor da eleição presidencial de 11 de abril, abrindo caminho para que ele permanecesse no poder por mais seis anos. Déby "acabou de dar o último suspiro na defesa da nação soberana no campo de batalha" no fim de semana, disse o porta-voz do Exército, general Azem Bermandoa Agouna, em um comunicado lido na televisão estatal. O exército disse que um conselho militar liderado pelo filho de 37 anos do falecido presidente, Mahamat Idriss Déby Itno, um general de quatro estrelas, iria substituí-lo.

A campanha de Déby disse na segunda-feira que ele estava indo para a linha de frente para se juntar às tropas que lutam contra "terroristas".

O general de quatro estrelas Mahamat Idriss Déby Itno, 37, filho do assassinado presidente chadiano Idriss Déby, visto aqui em N'djamena em 11 de abril de 2021, substituirá seu pai como chefe de um conselho militar, anunciou o exército em 20 de abril, 2021. (Marco Longari / AFP)

As circunstâncias da morte de Déby não puderam ser confirmadas de forma independente imediatamente devido à localização remota. Não se sabia por que o presidente teria visitado a área ou participado de confrontos contínuos com os rebeldes que se opunham ao seu governo. Rebeldes baseados na fronteira norte da Líbia atacaram um posto fronteiriço no dia das eleições e avançaram centenas de quilômetros ao sul através do deserto.

"Um amigo corajoso", diz a França

A França nesta terça-feira prestou homenagem a Déby como um “amigo corajoso” e “grande soldado”, enquanto exortava a estabilidade e uma transição pacífica no país africano após sua morte chocante. “O Chade está perdendo um grande soldado e um presidente que trabalhou incansavelmente pela segurança do país e pela estabilidade da região por três décadas”, disse o gabinete do presidente Emmanuel Macron em comunicado, saudando Déby como um “amigo corajoso” da França.

A declaração também enfatizou a insistência da França na "estabilidade e integridade territorial" do Chade enquanto enfrenta um impulso das forças rebeldes em direção à sua capital, N’Djamena. A ministra da Defesa, Florence Parly, elogiou Déby como um “aliado essencial na luta contra o terrorismo no Sahel”, ao mesmo tempo em que enfatizou que a luta contra os insurgentes jihadistas “não vai parar”.

Um dos líderes mais antigos da África

Déby chegou ao poder em uma rebelião em 1990 e é um dos líderes mais antigos da África. Embora governasse o Chade com punho de ferro, ele foi um aliado importante na campanha anti-jihadista do Ocidente na conturbada região do Sahel.


Na segunda-feira, o Exército chadiano reivindicou uma “grande vitória” na batalha contra os rebeldes da vizinha Líbia, dizendo que havia matado 300 combatentes, com a perda de cinco soldados de suas próprias fileiras durante oito dias de combate. Déby era filho de um pastor do grupo étnico Zaghawa que seguiu o caminho clássico para o poder através do exército e apreciava a cultura militar.

Sua última vitória eleitoral - com quase 80% dos votos - nunca foi posta em dúvida, com uma oposição dividida, pedidos de boicote e uma campanha em que as manifestações foram proibidas ou dispersadas. Déby havia feito campanha com a promessa de trazer paz e segurança à região, mas suas promessas foram prejudicadas pela incursão rebelde. O governo buscou na segunda-feira assegurar aos moradores preocupados que a ofensiva havia acabado.

Houve pânico em algumas áreas de N’Djamena na segunda-feira depois que tanques foram posicionados ao longo das estradas principais da cidade, relatou um jornalista da AFP. Os tanques foram posteriormente retirados de um perímetro em torno do gabinete do presidente, que está sob forte segurança durante os tempos normais. “O estabelecimento de um desdobramento de segurança em certas áreas da capital parece ter sido mal interpretado”, disse o porta-voz do governo Cherif Mahamat Zene no Twitter na segunda-feira. “Não existe uma ameaça particular a temer”.

No entanto, a embaixada dos Estados Unidos em N’Djamena ordenou no sábado que funcionários não essenciais deixassem o país, alertando sobre uma possível violência na capital. A Grã-Bretanha também pediu que seus cidadãos partissem. A embaixada da França disse em um comunicado aos seus cidadãos no Chade que o desdobramento foi uma precaução e não havia nenhuma ameaça específica para a capital.

"Depois de Déby, a inundação"


"Esperar que as coisas fiquem bagunçadas"

Douglas Yates, professor de Estudos Africanos na American Graduate School em Paris, disse à FRANÇA 24 que a morte de Deby foi uma surpresa total. “Dois dias atrás, a embaixada dos EUA noticiou que eles estavam evacuando o pessoal porque havia rebeldes marchando na capital e, francamente, o pensamento era '(Déby) vai derrotá-los', porque ele derrotou sistematicamente todas as tentativas de golpe até agora . ”

Yates disse que embora Déby dificilmente fosse conhecido como um grande democrata, “ele era um verdadeiro soldado e, de certa forma, esta foi uma morte digna para ele. Morrer envolvido na batalha foi melhor para ele do que morrer em sua cama de Covid.”

O professor disse que grande parte da inquietação do Chade vem do próprio povo de Déby no leste, com o descontentamento crescendo por Déby não distribuir riqueza do petróleo de forma suficiente para eles. "Francamente, provavelmente não há riqueza suficiente do petróleo para todos, mas basicamente havia pessoas que estavam infelizes, que sentiam que não estavam recebendo sua parte e isso tem sido um padrão repetido nas tentativas de golpe."


“Ele esteve no poder por tanto tempo, eliminando quaisquer rivais e aprisionando sua oposição democrática. O que você tem [agora] é um grande número de pessoas que gostariam de ser o presidente do Chade, em vez de um líder unificado da oposição ”.

“Como Napoleão disse: ‘Depois de mim, o dilúvio’. E certamente depois de Idriss Déby, o dilúvio.”

“Uma coisa é certa, a França acaba de perder um de seus principais aliados na região.”

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:


Golpe no Mali: Barkhane à prova?, 13 de setembro de 2020.


FOTO: Irmandade paraquedista

Paraquedista americano carregando um companheiro durante a Operação Varsity, 24 de março de 1945. (Robert Capa)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 20 de abril de 2021.

A Operação Varsity, ocorrida em 24 de março de 1945, foi uma operação bem-sucedida de forças aerotransportadas aliadas que ocorreu no final da Segunda Guerra Mundial durante as operações de cruzamento do Reno. O lançamento envolveu mais de 16.000 paraquedistas e vários milhares de aeronaves, sendo a maior operação aerotransportada da história a ser realizada em um único dia e em um único local.

O componente aerotransportado da Operação Market Garden foi uma operação maior, mas as zonas de lançamento foram divididas em três áreas distintas e espalhadas por vários dias. A Operação Varsity foi conduzida em um único dia e local e, como tal, é a maior operação aerotransportada da história. O lançamento foi executado pela 6º Divisão Aerotransportada britânica lançando 7.200 homens e pela 17ª Divisão Aerotransportada americana  lançando 9.650 homens. A famoso fotógrafo Robert Capa imortalizou a operação saltando com os paraquedistas americanos.

Robert Capa em ordem de salto em 24 de março de 1945.

Bibliografia recomendada:

Até Berlim:
As Batalhas de um Comandante Pára-quedista 1943/1946.
General James M. Gavin (2 volumes).

Leitura recomendada:

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Grupo russo Kalashnikov assinou acordo para fabricação do fuzil AK-103 na Arábia Saudita


Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex360, 20 de fevereiro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 19 de abril de 2021.

Ao assinar o Pacto de Quincy em 1945, os Estados Unidos se comprometeram a garantir a proteção da Arábia Saudita em troca de petróleo. No entanto, durante os anos de Obama, às vezes Washington parecia se distanciar desse acordo, adotando uma atitude mais flexível em relação ao Irã, inimigo jurado de Riad. Na época, o objetivo era chegar a um acordo sobre o programa nuclear iraniano.

Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita se aproximou da Rússia, notavelmente assinando ordens de equipamento militar, incluindo sistemas de artilharia TOS-1A “Solntsepek”, um lançador de foguetes múltiplo montado em um chassi de tanque T-72 e usando munição termobárica e incendiária.


Em seguida, com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, os Estados Unidos voltaram aos fundamentos de sua política externa, com a assinatura de vários contratos importantes de armas, uma linha mais dura em relação ao Irã. E o envio de tropas para solo saudita durante as tensões de 2019.

No entanto, as relações entre Washington e Riad mudarão novamente. Durante a campanha eleitoral, o novo presidente americano, Joe Biden, prometeu fazer da Arábia Saudita um "Estado pária".

Mas desde que entrou na Casa Branca, Biden teve que revisar seu discurso. Agora se fala em "recalibrar" as relações com o reino saudita, que recebeu apoio de Washington depois dos recentes ataques reivindicados pelos rebeldes Houthi (apoiados por Teerã).

Apesar de suas relações com os Estados Unidos serem complicadas, a Arábia Saudita pretende melhorar suas relações com a Rússia, especialmente no campo da indústria de armamentos. E isso se materializará com o estabelecimento de uma fábrica de fuzis de assalto AK-103 pelo grupo Kalashnikov no reino. O anúncio foi confirmado ao jornal Kommersant por Denis Manturov, Ministro da Indústria e Comércio da Rússia.

“Quanto ao contrato para a execução da primeira fase do estabelecimento de uma produção conjunta de fuzis Kalashnikov, foi assinado pelas partes e está sujeito a procedimentos de homologação interestadual, após o que entrará em vigor”, declarou o Ministro russo, às vésperas da abertura da feira de armas IDEX-2021, em Abu Dhabi.

Forças especiais sauditas no Iêmen armadas com fuzis AK-103.

Essa produção na Arábia Saudita de fuzis de assalto AK-103 foi objeto de um memorando de entendimento assinado em 2017. E segundo o diretor-geral da Kalashnokov, Dmitri Tarasov, a negociação poderia ter sido concluída muito antes não fosse a pandemia da Covid-19. E garante que seu grupo está "absolutamente pronto" para trabalhar com os sauditas.

De forma mais ampla, em termos de indústria militar, Riad tem grandes ambições, com um plano de investimentos de mais de US$ 20 bilhões nos próximos dez anos, com o objetivo de poder cobrir 50% das necessidades das forças armadas locais.

"O governo colocou em prática um plano pelo qual investiremos mais de US$ 10 bilhões na indústria militar na Arábia Saudita na próxima década e montantes iguais em pesquisa e desenvolvimento", disse Ahmed bin Abdulaziz Al-Ohali, o governador da Autoridade Geral para Indústrias Militares (GAMI), de acordo com a Reuters.

De calibre 7,62x39mm e com desenho agora antigo, o fuzil AK-103 já está em uso, a priori, pelas forças especiais sauditas.

Bibliografia recomendada:

The AK-47: Kalashnikov-series assault rifles.
Gordon L. Rottman.

Leitura recomendada:



GALERIA: Desfile do 14 de julho de 1950 em Saigon

O General Carpentier condecora a bandeira do 5e BCCP com a Croix de Guerre des TOE. Ao lado do porta-bandeira está o Comandante Romain-Desfossés, nascido em Hanói, no Tonquim, em 1908.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 19 de abril de 2021.

Desfile do 14 de julho em Saigon, capital da Cochinchina, parte da então Indochina Francesa. O desfile deu ênfase à condecoração da bandeira do 5e BCCP (5e Bataillon colonial de commandos parachutistes/ 5º Batalhão Colonial de Comandos de Pára-quedistas) pelo General Carpentier na presença de seu líder, o Major Romain- Desfossés (apelidado de "Gaulois des Pitons" por seus homens).

O General Marcel Carpentier foi um instrutor na missão francesa no Exército Brasileiro como capitão em 1930, e o General Souto Malan lhe faz uma homenagem no prefácio do seu livro Missão Militar Francesa de Instrução Junto ao Exército Brasileiro.

O 5e BCCP foi criado com seus quadros vindo principalmente do SAS B, chamado de Groupement Ponchardier, uma unidade comando formada com a organização do SAS. Em 22 de julho de 1950, o 5e BCCP foi dissolvido quando embarcou de volta para a metrópole. O batalhão foi recriado em Quimper em 15 de outubro de 1950. Embarcou no Athos II em 10 de julho de 1951 e tornou-se oficialmente o 5º BPC em 3 de agosto em sua chegada a Saigon.

Três paraquedistas do 5e BCCP condecorados com a Médaille Militaire (Medalha Militar) na cerimônia.

Os generais Carpentier e Chanson condecoram vários soldados e civis e depois assistem ao desfile de tropas: Guarda Republicana, Gendarmaria, Tirailleurs senegaleses, marroquinos e tunisianos, Legião Estrangeira (13e DBLE), infantaria colonial (43e RIC) e um destacamento de paraquedistas liderado pelo Tenente-Colonel Château-Jobert "Conan", veterano do SAS francês na Segunda Guerra Mundial e que saltaria em Suez em 1956.

O desfile motorizado contou com caminhões meia-lagarta, carros blindados Panhard e blindados anfíbios "Crab" (Weasel M29) de um GA (Grupo Anfíbio) do 1er REC (1er Régiment Étranger de Cavalerie/ 1º Regimento de Cavalaria Estrangeira). O desfile é sobrevoado por três aviões de transporte de tropas, com um "Tucano" (Junker 52) flanqueado por dois C47 Dakota. A população de Saigon reuniu-se no percurso, ao longo de uma avenida enfeitada com as cores franco-vietnamitas.

A multidão reuniu-se para assistir ao desfile de 14 de julho de 1950. As ruas de Saigon são em grande parte enfeitadas com as cores francesas e vietnamitas para a ocasião.

Um destacamento da gendarmaria colonial.

Soldados do BMTS (Bataillon de Marche de Tirailleurs Sénégalais/ Batalhão de Marcha de Tirailleurs Senegalês).

Guarda-bandeira do 43e RIC.

Tenente-Coronel Château-Jobert (codinome "Conan", seu nome de guerra dentro do "Special Air Service French Squadron" durante a Segunda Guerra Mundial) comandando o 2e DBCCP (2e Demi-Brigade Coloniale de Commandos Parachutistes, ex-Demi-Brigade "Special Air Service") à frente de um destacamento de seus paraquedistas durante o desfile.

Bibliografia recomendada:

Histoire des Parachutistes Français:
La guerre para de 1939 à 1979.
Henri Le Mire.

Leitura recomendada: